Diogo
Vaz Pinto – jornal i
O
partido de Patrice Trovoada regressa ao poder em São Tomé , agora com
maioria absoluta. Os adversários já reconheceram a derrota nas legislativas
A
Acção Democrática Independente (ADI) assegurou ontem uma vitória histórica nas
eleições legislativas em São
Tomé e Príncipe, tornando-se o primeiro partido em 23 anos de
democracia no arquipélago a alcançar a maioria absoluta. O partido liderado por
Patrice Trovoada conquistou pelo menos 32 dos 55 assentos na Assembleia
Nacional, e fê-lo ao cabo de uma campanha em que uma constelação de partidos
procurou dividir o voto e impedir a formação, já eleita em 2010 para formar
governo, de dominar o parlamento. Depois de ter visto o seu mandato
interrompido em 2012 na sequência de uma moção de censura, o ADI sai mais forte
da crise, com o povo são-tomense a penalizar fortemente os partidos que
integraram o governo de "iniciativa presidencial" e, necessariamente,
o próprio presidente da República, Manuel Pinto da Costa.
Patrice
Trovoada, que abandonara a ex-colónia portuguesa depois da queda do seu
governo, regressou ao país quase dois anos depois, denunciou repetidamente a
"perseguição política" que estava a ser movida pelas autoridades
são-tomenses aos dirigentes, militantes e apoiantes do ADI, tendo acusado Pinto
da Costa de "tendências golpistas", violando a Constituição, ao
procurar "manobrar os partidos da oposição" para assumir a direcção
dos poderes executivos do Estado. Durante a campanha Trovoada mostrou-se
"escandalizado" com a dimensão da compra de votos, avisando que nas
horas que precederam a abertura das urnas uma soma de 2 milhões de dólares foi
levantada para pagar o "banho", algo que representaria um acréscimo
"sem precedentes" numa prática comum em STP, e adiantou que os
valores que estavam a ser distribuídos eram o equivalente a um salário da
função pública. Aparentemente, o dinheiro circulou mas no fim os são-tomenses
não deixaram de votar "em consciência". Foi o próprio Pinto da Costa
quem, no discurso da véspera transmitido pela televisão nacional, frisou que
"a eleição é acompanhada de processos e de possíveis benefícios pessoais
que se desvanecem no dia seguinte", congratulando-se porque apesar disso
"o povo são-tomense tem maturidade suficiente para fazer as suas escolhas
em consciência".
Nas
ruas da capital o ambiente era de festa, com os camiões e carrinhas a servirem
novamente de palco ambulante para as manifestações de júbilo dos militantes e
apoiantes da ADI. Uma banda de música animava as hostes, que ao longo do dia se
dispersavam pela capital e voltavam novamente a reunir-se à frente da sede do
partido, a alguns metros da embaixada portuguesa.
O
ambiente pacífico que marcou toda a campanha impôs-se e pareciam ultrapassados
os pequenos incidentes e controvérsias que se registaram nos últimos dias, com
o resultado das eleições a confirmar a tendência para a qual apontavam já as
sondagens. O resultado expressa o desejo do país de ter pela primeira vez um
governo que cumpra até ao fim o mandato para o qual foi legitimado. O
presidente do MLSTP, Jorge Amado, deu os parabéns a Trovoada enquanto a vitória
era noticiada pelos órgãos de informação internacionais. Algo mais hesitantes,
os media são- -tomenses, a Rádio Nacional e a TVS, pareciam alheados
do feito alcançado pela ADI.
Segundo
o jornal online são-tomense "Téla Nón", só em um distrito - Caué, no
Sul da ilha de São Tomé - o segundo partido mais votado, o MLSTP, ultrapassou a
ADI no apuramento de mandatos.
No
discurso que fez na noite de domingo quando as projecções oficiais confirmavam
já a vitória por maioria absoluta, Trovoada congratulou-se por o resultado
devolver o país a "um clima político mais apaziguado", que garante
"os consensos necessários ao bem-estar dos são-tomenses". O líder
falou na esperança de que este "abra uma página de estabilidade política
pela qual toda a gente anseia e que é indispensável para a construção de um
futuro melhor".
Trovoada
expressou por fim o seu desejo de "construir um melhor relacionamento
institucional" com o Presidente da República, desvalorizando as palavras
por este proferidas horas antes quanto às circunstâncias que trouxeram quatro
deputados portugueses ao país durante a campanha eleitoral. Mário Ruivo e João Portugal,
do PS, José Ribeiro e Castro, do CDS-PP, e Nuno Serra, do PSD, acompanharam
Trovoada no regresso a STP depois de terem assinado um manifesto de apoio à
democracia e pedindo eleições livres e justas no país. Após depositar o seu
voto no domingo, Pinto da Costa disse que se tratava de "uma autêntica
vergonha que eles tenham contribuído para tentar sujar o nome de STP, trazidos
por indivíduos que não representam as pretensões do povo são-tomense".
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