terça-feira, 14 de outubro de 2014

S. Tomé: Trovoada de regresso. Ex-primeiro-ministro volta ao poder com maioria absoluta



Diogo Vaz Pinto – jornal i

O partido de Patrice Trovoada regressa ao poder em São Tomé, agora com maioria absoluta. Os adversários já reconheceram a derrota nas legislativas

A Acção Democrática Independente (ADI) assegurou ontem uma vitória histórica nas eleições legislativas em São Tomé e Príncipe, tornando-se o primeiro partido em 23 anos de democracia no arquipélago a alcançar a maioria absoluta. O partido liderado por Patrice Trovoada conquistou pelo menos 32 dos 55 assentos na Assembleia Nacional, e fê-lo ao cabo de uma campanha em que uma constelação de partidos procurou dividir o voto e impedir a formação, já eleita em 2010 para formar governo, de dominar o parlamento. Depois de ter visto o seu mandato interrompido em 2012 na sequência de uma moção de censura, o ADI sai mais forte da crise, com o povo são-tomense a penalizar fortemente os partidos que integraram o governo de "iniciativa presidencial" e, necessariamente, o próprio presidente da República, Manuel Pinto da Costa.

Patrice Trovoada, que abandonara a ex-colónia portuguesa depois da queda do seu governo, regressou ao país quase dois anos depois, denunciou repetidamente a "perseguição política" que estava a ser movida pelas autoridades são-tomenses aos dirigentes, militantes e apoiantes do ADI, tendo acusado Pinto da Costa de "tendências golpistas", violando a Constituição, ao procurar "manobrar os partidos da oposição" para assumir a direcção dos poderes executivos do Estado. Durante a campanha Trovoada mostrou-se "escandalizado" com a dimensão da compra de votos, avisando que nas horas que precederam a abertura das urnas uma soma de 2 milhões de dólares foi levantada para pagar o "banho", algo que representaria um acréscimo "sem precedentes" numa prática comum em STP, e adiantou que os valores que estavam a ser distribuídos eram o equivalente a um salário da função pública. Aparentemente, o dinheiro circulou mas no fim os são-tomenses não deixaram de votar "em consciência". Foi o próprio Pinto da Costa quem, no discurso da véspera transmitido pela televisão nacional, frisou que "a eleição é acompanhada de processos e de possíveis benefícios pessoais que se desvanecem no dia seguinte", congratulando-se porque apesar disso "o povo são-tomense tem maturidade suficiente para fazer as suas escolhas em consciência".

Nas ruas da capital o ambiente era de festa, com os camiões e carrinhas a servirem novamente de palco ambulante para as manifestações de júbilo dos militantes e apoiantes da ADI. Uma banda de música animava as hostes, que ao longo do dia se dispersavam pela capital e voltavam novamente a reunir-se à frente da sede do partido, a alguns metros da embaixada portuguesa.

O ambiente pacífico que marcou toda a campanha impôs-se e pareciam ultrapassados os pequenos incidentes e controvérsias que se registaram nos últimos dias, com o resultado das eleições a confirmar a tendência para a qual apontavam já as sondagens. O resultado expressa o desejo do país de ter pela primeira vez um governo que cumpra até ao fim o mandato para o qual foi legitimado. O presidente do MLSTP, Jorge Amado, deu os parabéns a Trovoada enquanto a vitória era noticiada pelos órgãos de informação internacionais. Algo mais hesitantes, os media são- -tomenses, a Rádio Nacional e a TVS, pareciam alheados do feito alcançado pela ADI.

Segundo o jornal online são-tomense "Téla Nón", só em um distrito - Caué, no Sul da ilha de São Tomé - o segundo partido mais votado, o MLSTP, ultrapassou a ADI no apuramento de mandatos.

No discurso que fez na noite de domingo quando as projecções oficiais confirmavam já a vitória por maioria absoluta, Trovoada congratulou-se por o resultado devolver o país a "um clima político mais apaziguado", que garante "os consensos necessários ao bem-estar dos são-tomenses". O líder falou na esperança de que este "abra uma página de estabilidade política pela qual toda a gente anseia e que é indispensável para a construção de um futuro melhor".

Trovoada expressou por fim o seu desejo de "construir um melhor relacionamento institucional" com o Presidente da República, desvalorizando as palavras por este proferidas horas antes quanto às circunstâncias que trouxeram quatro deputados portugueses ao país durante a campanha eleitoral. Mário Ruivo e João Portugal, do PS, José Ribeiro e Castro, do CDS-PP, e Nuno Serra, do PSD, acompanharam Trovoada no regresso a STP depois de terem assinado um manifesto de apoio à democracia e pedindo eleições livres e justas no país. Após depositar o seu voto no domingo, Pinto da Costa disse que se tratava de "uma autêntica vergonha que eles tenham contribuído para tentar sujar o nome de STP, trazidos por indivíduos que não representam as pretensões do povo são-tomense".

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