sábado, 22 de novembro de 2014

Angola - CASO FRESCURA: JUSTIÇA IGNORA MASSACRE DE JOVENS




As lágrimas ainda escorrem sobre os rostos daqueles angolanos que, no prenúncio da noite do dia 23 de Julho de 2008, viram os entes queridos mortos por sete agentes da Polícia Nacional; as feridas jamais irão sarar, face à ignorância das instituições de Justiça deste martirizado País, onde os autóctones sem costas largas são vistos como simples farrapos

Fongani Bolongongo – Folha 8 Digital, 15 novembro 2014

Qual seria o desfecho judicial, se dentre os oito jovens assassina­dos, supos­tamente, por sete agentes da Polícia Nacional, no largo da Frescura, Mus­seque Mota, distrito do Sambizanga, município de Luanda, no dia 23 de Julho de 2008, estivesse o filho de um dos juízes do Tri­bunal Supremo, do minis­tro do Interior ou Defesa? Questionou o parente de uma das vítimas da fúria sanguinária dos supostos efectivos do órgão de Se­gurança.

A sociedade está chocada, principalmente os fami­liares porque o órgão res­ponsável pela justiça na valorosa Pátria de Ngola Kilwanji Kya Samba (An­gola) “ignora” o assassinato de oito jovens do Largo da Frescura, Musseque Mota, ao mandar em liberdade os sete agentes da Polícia Na­cional, antes condenados a 24 anos de cadeia no julga­mento da primeira instân­cia (Tribunal Provincial de Luanda “Dona Ana Joaqui­na”). Que dor!

Os parentes atentos dos falecidos Dadão, Lito, Terenso, Mano Velho, Santinho (era acólito na Paróquia de São Paulo), Jo­nhson, André e Nandinho, já suspeitavam qual seria a decisão do Tribunal Su­premo porque demorava se pronunciar a respeito do recurso interposto por David Mendes, advogado da “família-vítima”, a res­peito da compensação que na visão do jurisconsulto referenciado era irrisória, face às perdas Humanas.

Apesar da morosidade do pronunciamento do Tribu­nal Supremo (órgão de jus­tiça de segunda instância), alguns familiares dos oitos mancebos, vítimas da ac­ção criminal dos alegados agentes da Polícia Nacio­nal, organismo do Estado, responsável pela Seguran­ça, Ordem e Tranquilidade Pública, acreditavam num parecer favorável dos juí­zes daquele organismo da alta magistratura angolana pela natureza da ilicitude penal.

Quando tudo apontava para a alteração do valor da compensação ditada pelo Tribunal Provincial de Luanda aquando do jul­gamento na primeira ins­tância, a favor dos paren­tes dos jovens autóctones mortos no largo da Frescu­ra, Sambizanga, o contrário veio a acontecer, o Tribu­nal Supremo despenalizou os alegados agentes do cri­me, antes condenados a 24 anos de prisão maior, sob pretexto de falta de provas incriminatórias. Absurdo!

“Somos leigos em maté­rias do Direito, mas bur­ros nunca! Será que todo o esforço evidenciado pela Polícia Nacional, dos Ser­viços de Investigação e do juiz do Tribunal Provin­cial de Luanda “Dona Ana Joaquina” foi inválido? Os métodos utilizados para se chegar aos sete agentes foram ilícitos? Indagou um dos parentes de Mano Ve­lho que ensopado de lágri­mas bravada com o rosto virado para o céu, talvez a procura do Senhor.

A dor amarfanha a alma dos parentes dos oito jo­vens mortos sem comete­rem crime. Na Paróquia de São Paulo, alguns acólitos ainda se lembram do caris­ma religioso de Santinho quando em vida serviu o Templo do Senhor Jeová, o criador do Céu e da Terra. Hoje, nada consola a ma­goa de uma mãe que per­deu o filho do nada e ver os culpados a circularem pelas artérias de Luanda, como se nenhum crime ti­vessem cometido.

Dadão, Lito, Terenso, Mano Velho, Santinho, Jo­nhson, André e Nandinho que a vossa alma continue a descansar em paz, o jul­gamento dos vossos assas­sinos há-de chegar, quer seja na terra, assim como no céu.


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