Governo
escolheu dialogar em meio à guerra, mas chama resposta da guerrilha de atentado
à paz, dizem FARC
Vanessa
Martina Silva, São Paulo – Opera Mundi
“Não
há um dia sem que o governo, o presidente não façam convocatórias à guerra e às
forças militares para exterminar os guerrilheiros", diz Calarcá
Desde
que a Frente 34 das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) capturou
o general Rubén Darío Alzate Mora, com a imediata suspensão unilateral dos
diálogos de paz por parte do governo colombiano, a insurgência voltou a
insistir na necessidade de um cessar-fogo bilateral, com o qual discorda o
presidente Juan Manuel Santos. Em entrevista exclusiva por Skype a Opera
Mundi, a partir de Havana, o porta-voz das FARC Marco León Calarcá destaca a
importância de, a partir da libertação do militar e de outros dois detidos,
prevista para este final de semana, redefinir alguns detalhes nas conversas
para que não volte a ocorrer uma ruptura nas negociações desenvolvidas há dois
anos em Havana.
Na
avaliação de Calarcá, toda a discussão em torno da captura de Alzate é complexa
porque, ao não aceitar firmar um cessar-fogo bilateral, “o governo colombiano
impôs que dialogássemos em meio ao confronto”, o que significa que, mesmo que
em Havana estejamos discutindo os passos para a implantação da paz, os embates entre a guerrilha e o Exército colombiano seguem no
país. “Não há um dia sem que o governo, o presidente ou o ministro da
Defesa não façam convocatórias à guerra e às forças militares para exterminar
os guerrilheiros e as guerrilheiras das FARC”, diz.
Santos
inclusive tem afirmado reiteradas vezes que “vamos negociar como se não houvesse terrorismo e vamos combater
terroristas como se não houvesse negociação de paz”.
Após
a detenção de Alzate Mora, o presidente questionou “o compromisso das FARC com a paz”. O
guerrilheiro, no entanto, defende que foi uma “ação válida”. "A questão é
que o tratamento dado à problemática não é o mesmo. Matar ou aprisionar um
guerrilheiro ou prender líderes de movimentos sociais não é problema [para o
governo]. Mas, por outro lado, as respostas da guerrilha são consideradas
atentados contra a paz”. “Quando nossos camaradas morrem em combate, são dados
como baixa e quando morrem militares ou policiais, eles são assassinados”,
lamenta o porta-voz das FARC.
As
condições nas quais o general responsável pelas operações do Exército em Chocó
foi capturado ainda precisam ser esclarecidas. Até mesmo o presidente do país
pediu, via Twitter, explicações ao ministro da Defesa a respeito do ocorrido.
A
notícia, difundida no domingo (16/10), pegou a todos de surpresa, inclusive a
mesa de diálogos em Havana. “Foi a primeira vez que capturamos um general, mas
a resposta das motivações para as ações dele é incompreensível”, diz o
guerrilheiro.
Alzate,
vestido de civil e desarmado, rompeu
todos os protocolos de segurança adotados em meio a uma guerra e
entrou em área de ação guerrilheira, onde foi capturado. A libertação dele, bem
como de uma advogada e um cabo que o acompanhavam, foi a condição utilizada
pelo presidente Santos para reativar os diálogos de paz. Os insurgentes, no
entanto, consideram que a confiança entre as partes foi rompida nesse caso e,
para que as negociações sejam retomadas, é preciso “recompor a confiança entre
as partes e gerar mecanismos para que ações como esta não voltem a acontecer”.
A
guerrilha tem sustentado que, uma vez que o cessar-fogo bilateral não foi
acordado, a mesa em Havana tem que funcionar independentemente dos
acontecimentos na Colômbia. “O governo não pode pretender se retirar da mesa e
depois voltar para dialogar com as FARC como se não tivesse acontecido nada. É
preciso recompor essa confiança, gerar mecanismos e ver o que acontece quando
se viola o acordo geral”, ressaltou Calarcá.
Para
ele, a decisão de Santos de suspender os diálogos foi “precipitada, arbitrária
e violadora dos acordos que tratamos”. A vontade de seguir adiante com o
processo de negociação para a paz ficou clara durante a entrevista a Opera
Mundi. “Vamos recompor a situação para podermos avançar no processo”, concluiu
Calarcá. Essa é também a sinalização dada pelo governo.
Em
declarações dadas na semana passada, Santos reconheceu que os Diálogos de
Havana avançaram “como nunca antes” para a solução do conflito e afirmou que quer “continuar com as negociações para terminar este absurdo
conflito que tem sangrado a Colômbia”.
Na
foto: Calarcá durante viodeochamada com Opera Mundi
*Título
PG
Leia
mais em Opera Mundi
Sem comentários:
Enviar um comentário