Rosa
Ramos – jornal i
Secretário
de Estado das Comunidades diz estar a "acompanhar" situações
relatadas por portugueses
Creches,
escolas e ateliês de tempos livres (ATL) luxemburgueses estarão a proibir o uso
do português nas suas instalações e as crianças que infringem são sujeitas a
castigos - que podem ir desde o afastamento dos colegas ao isolamento total.
"Foi-nos
dito que não podíamos falar português com os miúdos e que eles também não
podiam falar português entre eles, é uma regra da casa", denunciou à Lusa
uma funcionária portuguesa de uma creche em Esch-sur-Alzette, onde as línguas
autorizadas - os três idiomas oficiais do país, luxemburguês, francês e alemão
- estão indicadas, desde o início do ano, num painel. Na mesma creche terá sido
também instituído um sistema de punições. "Há o castigo de os separar para
não poderem falar entre eles ou o isolamento numa mesa em frente ao escritório
[dos funcionários]", conta a mesma funcionária, acrescentando que os
castigos são igualmente aplicados nas saídas em grupo: "Se vamos a caminho
do parque ou da escola, há o castigo dos cinco minutos sentados. A criança [que
falou português] tem de se sentar ou ficar quieta cinco minutos".
Mais
a sul, em Rodange, a interdição vigorará em infantários e até na escola
primária. Manuel Santos, pai de uma criança de sete anos, contou à Lusa que o
filho foi castigado com trabalhos de casa extra por ter falado português com um
colega durante uma visita escolar à capital para assistir a um concerto de
música clássica. "Falou na rua, não foi na sala de aulas", queixa-se
o emigrante. "É uma injustiça. Numa classe em que são quase todos
portugueses, é normal que falem a língua dos pais e só não reclamei porque
tenho quase a certeza que o miúdo ia ser prejudicado", queixa- -se Manuel
Santos.
O
secretário de Estado das Comunidades Portuguesas garante estar "a
acompanhar" as denúncias. Contactado ontem pelo i, José Cesário
explicou estar só a aguardar que a embaixada portuguesa no Luxemburgo confirme
a veracidade dos relatos para tomar uma posição: "É uma matéria delicada
e, a ser verdade, não podemos concordar e teremos de falar com o governo
luxemburguês, com o qual existe uma boa relação".
No
mês passado tinha já vindo a público, através da Rádio Latina, um outro caso de
um director de turma de um liceu luxemburguês que proibiu os alunos de falarem
português nas aulas, uma decisão apoiada pela ministra da Família do Luxemburgo
- que defende a aprendizagem das línguas oficiais "desde o ensino
precoce".
"Compreende-se
que assim seja nas salas de aulas, uma vez que o português não é língua
oficial", admite o secretário de Estado José Cesário, acrescentando porém
que a proibição não deverá ultrapassar a porta das salas de aulas. "Mesmo
que a intenção seja a melhor, de promover a integração das crianças",
defende. Já o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no
Luxemburgo, José Coimbra de Matos, considera que "proibir genericamente o
português nas aulas é uma forma de castração".
O
secretário de Estado das Comunidades recorda que o luxemburguês "é uma
língua muito difícil", o que explica a "elevada taxa de insucesso
escolar" das crianças portuguesas no Luxemburgo - país onde vivem
actualmente 100 mil portugueses (20% da população total). O português é, de
acordo com dados oficiais, a segunda língua materna mais falada nas escolas do
Luxemburgo, com 28,9% de falantes, a seguir ao luxemburguês, com 39,8%, mas à
frente dos outros dois idiomas oficiais do país: o francês (11,9% de falantes)
e o alemão (2%).
Foto:
Sofia Vaz
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