A
intromissão direta de Armando Guebuza, Presidente de Moçambique, na exploração
dos recursos naturais do país está a causar insatisfação dentro do partido do
poder, FRELIMO, sobretudo numa altura de mudança de líder.
Em
Moçambique, num artigo publicado no jornal Savana, o jornalista Marcelo Mosse
dá sinais de que o Presidente cessante Armando Guebuza está a tentar acelerar a
adjudicação da exploração de 15 blocos petrolíferos para ter uma palavra a
dizer sobre o tema antes do final do seu mandato.
Já
em relação ao negócio do gás natural liquefeito em Moçambique, o Presidente
tinha sido a figura central ao anuir a exploração da Base Logística de Pemba a
um consórcio liderado pela nigeriana Orlean Investments, no qual a filha
Valentina tem uma participação.
A
DW África entrevistou o jornalista Marcelo Mosse no âmbito da sua investigação
sobre o tema.
DW
África: Qual é a intenção de Armando Guebuza ao tentar aceleração o processo de
exploração de 15 novos blocos de pesquisa de petróleo em Moçambique?
Marcelo
Mosse (MM): Contrariamente àquilo que é a prática neste tipo de concursos,
a duração deste, entre o lançamento e a submissão de propostas, é muito curta,
é de três meses. É de 23 de outubro a 20 de janeiro. Isto coincide com o
período em que
Armando Guebuza vai deixar o poder. Não é necessariamente
verdade que até 20 de janeiro seja feita uma adjudicação. O que vai acontecer é
que até 20 de janeiro, todos os concorrentes devem apresentar propostas.
DW:
Mas o que é que o Presidente Armando Guebuza quer em concreto?
MM: Ele
está a tentar ter uma palavra final nos negócios do Estado quando ele está de
saída. Há aqui um debate sobre até que ponto ele deveria ou não deixar este
tipo de decisões para o seu sucessor.
DW:
Qual é a posição da FRELIMO sobre este assunto?
MM: De
acordo com as minhas fontes há um mal-estar.
Tenho
falado com várias pessoas, até dentro do partido FRELIMO, e há uma insatisfação
em relação à imposição de um prazo tão curto.
DW:
É legal fazer adjudicações diretas ou manter este tipo de envolvimento em
Moçambique? Não há legislação sobre isso?
MM: O
processo de adjudicação deste concurso não termina em janeiro. Há todo o
envolvimento do Instituto Nacional de Petróleo, que é o organismo regulador. O
país tem regras de transparência até um certo nível, não quer dizer que o
Presidente da República não tenha o seu espaço de influência. Este concurso de
15 blocos de petróleo vai prosseguir até alguns meses depois da tomada de posse
do novo Presidente.
DW:
O que vai fazer Armando Guebuza depois do seu mandato? Vai continuar envolvido
nos negócios do Estado em 2015?
MM: Os
próximos meses vão ser cruciais para saber qual será o poder real do futuro
ex-presidente Guebuza num contexto em que teremos um novo Presidente da
República…
Mas
ele continuará como presidente do partido, o que é um centro de poder
importante em
Moçambique. A questão é perceber se ele continuará a ter
influência sobre o novo Presidente. Essa transição vai ser muito mais complexa
do que a transição de Chissano para Guebuza, porque como se sabe há uma
perceção em Moçambique de que Armando Guebuza tem mão em muitos negócios e,
obviamente, haverá aqui uma tentativa de manter a mão em alguns negócios, que
são representados pela filha.
Nuno
de Noronha – Deutsche Welle
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