sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Timor é o pior na desigualdade de género mas vai ter novo “ferry” e tem novo livro




Timor-Leste é o pior país da CPLP no Índice Global de Desigualdade de Género

Londres, 27 nov (Lusa) - Timor-Leste é o país lusófono com maior taxa de desigualdade no Índice de Género e Instituições Sociais da OCDE divulgado hoje, enquanto Angola, Guiné-Bissau e Moçambique estão classificados como tendo um nível médio de discriminação.

O documento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) apresneta a prevalência de discriminação em instituições sociais e destaca a importância de normas sociais convencionais na defesa da igualdade de género.

Dos nove países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Timor-Leste está na 77.ª posição da tabela de 108 países do Índice [http://www.genderindex.org], Guiné-Bissau na 67.ª, Angola na 57.ª e Moçambique na 47.ª.

O Brasil é o país da CPLP com melhor classificação, no 20.º lugar, num índice cujo topo é ocupado em primeiro lugar pela Bélgica, seguida França, Eslovénia, Espanha, Sérvia, Argentina, Itália, Cuba, Trinidade e Tobago e República Checa.

A edição deste ano identifica e avalia discriminação baseada no género em leis, atitudes e práticas em 160 países, mas só produz uma tabela de 108 países devido à falta de informação comparativa sobre o tema em alguns países, como Portugal, Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe.

A CPLP integra atualmente nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

No geral, o relatório indica que os países fizeram progressos na redução da discriminação de género, mas que se mantêm diferenças e desafios em algumas áreas que afetam os direitos das mulheres em termos sócio-económicos, políticos e liberdade de violência.

Por exemplo, no Malaui, o número de casamentos prematuros de mulheres entre os 15 e 19 anos desceu de 36 para 26%, mas mantém uma taxa média de 16% nos países que não pertencem à OCDE, com destaque para o Níger, onde é de 60%.

Outro indicador do estudo mostra que as mulheres são também, em geral, quem mais tempo despende em trabalho não pago, como tarefas domésticas, do que os homens.

Esta diferença pode variar entre 1,3 mais vezes na Dinamarca (quatro horas de trabalho das mulheres contra três horas dos homens) e 10 vezes mais no Paquistão, onde os homens perdem menos de meia hora em tarefas domésticas comparando com uma média de cinco horas das mulheres.

BM // EL

Estaleiro português constrói 'ferry' de 377 passageiros para Timor-Leste

Luanda, 28 nov (Lusa) - A AtlanticEagle, concessionária dos antigos Estaleiros Navais do Mondego, na Figueira da Foz, vai arrancar em dezembro com a construção dum 'ferry' para 377 passageiros, encomendado pelo Governo de Timor-Leste, anunciou hoje à Lusa o administrador da empresa.

De acordo com Carlos Costa, a AtlanticEagle Shipbuilding emprega atualmente cerca de 60 trabalhadores e, além da reparação naval, arrancou há seis meses com a componente comercial da construção naval, sendo este o primeiro navio a construir nos novos estaleiros.

"A previsão é começar a construir ainda este ano. O projeto já temos, a entrega será no final do ano que vem. É um esforço [tempo de entrega] que para nós tem muito interesse, porque estamos vocacionados para a CPLP [Comunidades dos Países da Língua Portuguesa]", explicou o administrador da empresa, à margem de uma feira do setor da Pesca, que se realiza em Luanda, Angola, até domingo.

Embora sem adiantar valores do negócio, por envolver o Governo de Timor-Leste, Carlos Costa apontou que o navio, de 72 metros de comprimento, terá capacidade para transportar 377 passageiros e 22 viaturas, além de carga.

Servirá para ligar Díli, a ilha de Ataúro e o enclave de Oecussi, precisou o responsável da AtlanticEagle, garantindo que o contrato de fornecimento já foi assinado com o governo timorense.

O administrador garante ainda que a empresa está em conversações "adiantadas" para fornecer navios, entre outros países, à Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Guiné Conacri.

Além de embarcações de pesca, a prioridade passa por construir navios militares, de passageiros e de apoio a plataformas petrolíferas.

PVJ// APN
  
Livro "Timor - Paraíso Violentado" quer preservar memórias para as gerações futuras

Lisboa, 27 nov (Lusa) -- O livro "Timor--Paraíso Violentado", que será lançado na sexta-feira em Lisboa, é um relato autobiográfico que pretende preservar memórias dos acontecimentos vividos em Timor-Leste, antes e depois da invasão indonésia em 1975, disse hoje a autora.

"Não queria compactuar com os nossos ancestrais, que apesar de serem sábios, consideravam tudo sagrado e nada podia ser revelado. Este livro tem como objetivo preservar as minhas memórias, para as gerações futuras, sobre os acontecimentos vividos em Timor-Leste", declarou à Lusa Fátima Guterres.

A autora, no primeiro e segundo capítulos da obra, relata a sua infância e a vida social timorense durante o período da colonização portuguesa, antes da Revolução dos Cravos, que ocorreu em 1974.

A autora descreveu a sua infância e juventude felizes em Ermera, que fica no centro do país, localidade da qual a autora tem "boas lembranças". O pai de Fátima Guterres, que era enfermeiro, foi várias vezes deslocado para trabalhar em cidades no interior timorense.

"Tenho muito orgulho de ter vivido no interior de Timor, nas montanhas, mais próximo das tradições e das pessoas mais simples, humildes, mas que são mais sábias", sublinhou.

A revolução em Portugal levou a uma sucessão de eventos em Timor-Leste, que culminaram na declaração de independência do país, a 28 de novembro de 1975, e a posterior invasão da Indonésia neste mesmo ano.

A autora descreveu nas terceira e quarta partes do livro toda a sua vivência durante este período de transição e a invasão dos indonésios, que acabou por provocar a fuga das populações, incluindo a família de Fátima Guterres, para as montanhas, longe das cidades e das suas casas.

"Foi muito difícil porque tudo o que aprendemos na época dos portugueses ficou para trás, as nossas tradições também, tivemos que adotar a cultura indonésia e não podíamos falar o português. Embora, clandestinamente, falássemos e também praticássemos os nossos usos e costumes, mas sempre com medo", referiu a escritora.

Fátima envolveu-se com a organização de mulheres da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste), organização que na altura liderava o combate aos indonésios, factos descritos na quinta parte do livro.

"Posteriormente, o comando superior da luta decidiu que seria secretária do comando de operações, pois estava disposta a dar a minha vida pela causa e não revelar os segredos das operações (da Fretilin)", sublinhou.

Em 1979, Fátima Guterres viu o marido Artur, também seu companheiro na Fretilin, ser morto pelos indonésios, tendo sido presa nesta ocasião.

A autora relata, na sexta parte da obra, os episódios que viveu durante a sua prisão, que durou quatro meses, retratando a tortura e as humilhações sofridas nas mãos dos militares da Indonésia.

Do período da luta armada, da qual Fátima Guterres tem grande dificuldade em falar, disse guardar um "grande sofrimento pessoal e o sofrimento que era também visível no povo timorense".

Nos dois últimos capítulos, Fátima Guterres relatou como foi viver sob o domínio indonésio e o processo de exílio que a trouxe a Portugal, onde vive desde 1987, através da Cruz Vermelha.

Fátima Guterres voltou a Timor-Leste - que se tornou independente em 20 de maio de 2002 - somente em meados deste ano, quando foi lançar a sua obra no país.

O livro, com 430 páginas e editado pela Lidel, será lançado na sexta-feira, na Fundação Mário Soares, em Lisboa.

CSR // EL

*Título PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana