Luísa
Rogério – Rede Angola, opinião
O
petróleo baixou. As taxas de câmbio dispararam. Os bancos comerciais decretaram
restrições para o levantamento de divisas. Os cartões de débito e de crédito
ganharam estatuto de tesouro. E os dólares desapareceram do mercado. As
kinguilas, ex-rainhas do câmbio, gradualmente aposentadas, regressaram em força. Viajar para o
exterior passou a significar dores de cabeça a mais. Ter ou não dinheiro deixou
de ser a questão. O grande desafio é poder converte-lo em moeda estrangeira.
São sinais da anunciada crise que só está a começar.
Diante
da situação, seria legítimo perguntar pelo paradeiro das reservas cambiais do
país que se congratulava por ter uma das mais altas taxas de crescimento do
mundo. Por enquanto, essa conversa de grande porte fica, como tantas outras,
adiada. Ao que tudo indica, até melhor explicação, o tão propalado crescimento
era consequência directa da alta do petróleo no mercado internacional. Dizem os
especialistas que as mais sólidas economias do mundo já foram abaladas por
crises. No nosso caso, ė necessário, antes de mais, explicar a origem e a
dimensão que a crise pode atingir.
As
“conversas difíceis” precisam de ser devidamente descodificadas para o
entendimento comum. Por enquanto vale tentar compreender a realidade e
encara-la. A leitura imediata indica que, em tempo de crise a palavra de ordem
é poupar. Poupar sempre. Se estivéssemos noutro período, lá no “glorioso” tempo
do partido único, poupar passaria a ser, inquestionavelmente, um dever
revolucionário. Mas estamos em tempo de crise numa economia de mercado que
alguns preferem chamar capitalismo selvagem.
A
corrida ao redor dos bancos na semana finda foi freada pelo pertinente, embora
tardio, comunicado do BNA. O défice de informação oficial e o nível de
especulação em torno das medidas para lidar com os efeitos da crise trouxeram
uma evidência. Deveria haver outra maneira de lidar com a dita. A escassez ou
ineficácia de planos de comunicação geraram nervos e reações a mais.
Multiplicam-se os comunicados. Depois dos bancos, a companhia aérea portuguesa
teria anunciado restrições para a venda de bilhetes de passagem a partir de
Angola. Em condições normais a concorrência deveria estar já a fazer contas,
mas como estamos em crise, vamos esperar por novos desenvolvimentos.
Haverá
algures um gabinete de gestão de crises? Os comentadores e economistas de
plantão, os tais que nos fizeram acreditar que a solidez da nossa economia em
crescimento jamais seria abalada, desapareceram. Este é o momento ideal para
virem a público aquietar almas inquietas, quanto mais não seja para venderem
ilusões que sempre terão o mérito de evitar sofrimentos antecipados. Em tempo
de austeridade grandes ideias são susceptíveis de gerar altos rendimentos.
A
nossa condição de petróleo-dependentes terá dado vazão a diversas teorias de
conspiração. Uma das mais sugestivas dá conta que forças do mal oriundas do
grande império, aquele que antigamente chamávamos imperialismo sem receio,
mancomunado com o seu fiel aliado no mundo árabe, o finado rei da Arábia
Saudita, teria engendrado quase tudo com a finalidade de enfraquecer a Rússia e
o Irão, estremecer a Venezuela de Maduro e claro, atingir-nos! Porque não
gostamos de lamber botas. Do grande capital só queremos mesmo as folhas verdes,
como um amigo namibiano denomina as verbas norte-americanas.
Alguém
se terá esquecido que da falta de informação ao caos vai um passo curtíssimo.
Urge implementar estratégias e planos comunicacionais. Crise é a palavra do
momento. Uma crise económica com a incontornável componente social. Prevê-se o
fecho de dezenas de empresas públicas e privadas. Como consequência, cerca de
sete mil cidadãos poderão aumentar a legião de desempregados. Reformas
compulsivas, arrepio aos direitos trabalhistas e demais constrangimentos podem
abalar gravemente o movimento sindical nacional este ano.
No
meio das incertezas mil que rodeiam o futuro imediato dos angolanos, um dado é
tão certo quanto a recessão económica. Nos próximos tempos os angolanos comuns
vão aprender, por experiência própria, a decifrar o significado do termo
economia. Nada mais do que a arte de gerir a escassez. O ganho, sabemos todos,
está no poupar. Assim, devido a queda do petróleo no mercado internacional,
começo por poupar o precioso tempo que, tal como o petróleo, um dia também vai
acabar.
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