Condenado
a mil chibatadas por exercer liberdade de expressão, Raif Badawi não é vítima
de terroristas, mas de Estado parceiro do Ocidente. Devemos protestar, como no
caso "Charlie", opina Rainer Sollich, da DW.
Angela
Merkel repetidamente ressaltou que o islã e os muçulmanos não devem ser vistos
como suspeitos a priori, mas também enfatizou que "liberdade e tolerância
religiosa não significam que, em caso de dúvida, a sharia esteja acima da
Constituição".
Caso
ela não fosse a chanceler federal alemã e sim uma cidadã da Arábia Saudita,
provavelmente seria passível de penalidades draconianas. Assim como Raif
Badawi. O blogueiro foi condenado em seu país a mil chicotadas e a severas pena
de prisão e multa, por supostamente "insultar" o islã.
Na realidade, o veredicto é um insulto ao islã e danifica sua reputação. Pois o suposto "crime" de Badawi se reduz à expressão de uma opinião que encontra adeptos não só no Ocidente, mas também em muitos países muçulmanos. Badawi tinha questionado a falta da separação entre Estado e religião em seu país. E ele ainda "ousou" se referir ao islã como equivalente ao cristianismo, judaísmo e à liberdade religiosa.
Na realidade, o veredicto é um insulto ao islã e danifica sua reputação. Pois o suposto "crime" de Badawi se reduz à expressão de uma opinião que encontra adeptos não só no Ocidente, mas também em muitos países muçulmanos. Badawi tinha questionado a falta da separação entre Estado e religião em seu país. E ele ainda "ousou" se referir ao islã como equivalente ao cristianismo, judaísmo e à liberdade religiosa.
Quando
Badawi recebeu suas primeiras 50 chibatadas na sexta-feira (09/01), a notícia
não teve destaque em muitos meios de comunicação ocidentais. Todos olhavam para
Paris, todos condenaram o terror e defendiam a liberdade de expressão, todos
afirmavam "somos Charlie".
Ninguém
organizou protestos em massa por Badawi, embora ele, como os cartunistas
assassinados, não tenha feito nada mais do que exercer seu direito à liberdade
de expressão. Apenas alguns ativistas de direitos humanos e políticos de esquerda
afirmaram "não sou apenas Charlie, também sou Raif!"
A
solidariedade do mundo árabe também, até agora, deixou a desejar. Embora
existam alguns apoiadores do blogueiro, lá, a maioria dos intelectuais e
ativistas se ocupa com a questão do Charlie Hebdo e das caricaturas
de Maomé.
E,
também neste caso, é necessário o clamor público – especialmente no Ocidente.
Badawi não está sendo torturado por militantes terroristas e sim, oficialmente,
pela Justiça de um suposto país "parceiro" do Ocidente; por um Estado
em que, além de açoitamentos, decapitações são parte das medidas punitivas
comuns.
O
fato de tal regime ser considerado um parceiro pleno na luta internacional
contra o terrorismo é prova de total cinismo. Não é a corrupta família real
saudita que merece nosso apoio, e sim ativistas como Raif Badawi.
Rainer
Sollich (md) – Deutsche Welle, opinião
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