Rafael Barbosa, em Atenas – Jornal de Notícias
Emparedados
entre uma dívida pública gigantesca (317 mil milhões de euros, 175% do Produto
Interno Bruto) impossível de pagar, por um lado, e o compromisso de cumprir uma
política de austeridade que asfixia o tecido económico e social, por outro, os
gregos preparam-se para dar a vitória ao Syriza (acrónimo que significa
Coligação de Esquerda Radical).
Ao
fazê-lo, estarão a caucionar dois dos compromissos fundamentais do líder
esquerdista Alexis Tsipras durante a campanha: convocar uma conferência
europeia sobre a dívida, que lhe permita negociar um perdão de cerca de 50%; e
desvincular-se dos compromissos de austeridade assumidos com a troika (União
Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
"É
uma escolha. Somos livres de não cumprir os compromissos", lembra o
politólogo Pedro Adão e Silva. Sendo certo que, a confirmar-se a escolha, o
outro lado, a Europa (sobretudo o bloco liderado pela Alemanha) terá de dar uma
resposta. É por isso que o politólogo, ouvido pelo JN, fala em "momento de
clarificação". Que pode muito bem passar por não haver qualquer cedência.
"Isso também será clarificador. Significa que não vale a pena pensar numa
alternativa política, que as eleições são apenas o momento de escolher os
melhores gestores. Nunca como agora esteve em causa saber até onde vai a
extensão da democracia".
Poder
para negociar
A
força negocial de Tsipras para tentar impor uma nova agenda política na Europa
dependerá também da dimensão da vitória. A última sondagem voltava a colocá-lo
em primeiro (ler caixa), mas ainda não o suficiente para chegar à maioria
absoluta, mesmo sabendo-se que o sistema eleitoral grego atribui um bónus de 50
deputados (em 300) aos vencedores.
Para
chegar à meta dos 151 deputados, o partido esquerdista precisa,
cumulativamente, de uma votação algumas décimas superior a 36%, e que a soma
dos resultados percentuais dos partidos que não sejam capazes de eleger
deputados (ou seja, os que fiquem abaixo da barreira dos 3%), chegue pelo menos
aos 10%.
A
Grécia vai hoje a votos. Mas o resultado do que for colocado dentro das urnas
pelos eleitores não ditará apenas o futuro deste país. As eleições são também
"um momento de clarificação" para a Europa.
Na
foto: Alexis Tsipras, líder do Syriza – Yannis Kolesdis / EPA
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