Isabel
Moreira – Expresso, opinião
O
controlo da atividade do executivo não passa por sublinhar o que acontece como
deve acontecer; passa por denunciar o que consubstancia uma falha da
governação.
É
o caso da situação caótica vivida diariamente nas urgências hospitalares. Não
se trata de um episódio, mas do espelho de um problema maior, de nome SNS, e
dessa coisa inevitável em política: escolhas.
Foi
visível para todos, e vivido por tantos, o medo de entrar num hospital em época
especial, de conhecimento do Governo, mesmo do secretário de Estado que alertou
para o "estranho" facto de o Natal ter sido a uma quinta-feira (ainda
assim, a 25 de dezembro).
Há
muito tempo que a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Enfermeiros, os sindicatos, as
comissões de utentes e muitas outras entidades afirmam que os serviços,
incluindo os serviços das urgências, foram reduzidos ao mínimo e nalguns casos
abaixo do aceitável.
Não
é, no entanto, necessário citar instituições. Milhares de utentes sabem que
faltam médicos, enfermeiros, administrativos, auxiliares, macas, e equipamento
médico.
Por
outro lado, o ministro desaparecido em combate não consegue explicar a vantagem
de impedir os Hospitais de contratar médicos e outros profissionais, antes
recorrendo a a empresas de prestação de serviços.
É
mentira que seja possível afirmar-se que os cortes no SNS (o dobro do previsto
no memorando) não ponham em causa este pilar do Estado social.
Ficamos
à espera da famosa reforma hospitalar atirada para a gaveta? Aguardamos sabendo
nós que esta falha no SNS faz parte de um paradigma de destruição dos serviços
públicos?
De
facto, qual é o espanto? Da Educação, à Justiça e ao SNS a palavra comum é
"desmantelamento".
Como
defendeu o PS na AR, o MS tem de permitir a contratação directa dos médicos
pelas administrações hospitalares; alargar os horários de funcionamento dos
serviços de cuidados de saúde primários, agindo proactiva e preventivamente e
não apenas em reacção aos problemas como aconteceu no caso do despacho 34/2014
do Sr Secretário de Estado Adjunto que, apenas em 29 de Dezembro, já depois do
caos instalado, determinou o alargamento dos horários de funcionamento dos
centros de saúde; prosseguir a reforma dos cuidados de saúde primários definida
pelo governo anterior; abrir ou no mínimo não encerrar, as unidades de cuidados
continuados integrados, muitas delas já construídas.
Isto
seria o normal.
Sucede
que o anormal, o sistemático desmantelamento dos serviços públicos, passou a
"vida habitual".
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