Renato
Guedes*
O
capital para ir e vir (um empresário quer fechar uma fábrica aqui e ir para a
China, vende aqui, pega nos euros ou dólares e vai para a China). Mas assim que
lá entra, entrega o dólar ou euro ao Banco Central, recebe a moeda chinesa,
yuan, e começa a investir e a exportar e a receber, sempre em yuan. Mas para investir
na China, tem de ter a garantia de poder retirar o seu capital quando quiser –
porque decidiu ir para outro país, por exemplo – e de que quando o recebe o
retira em dólares e euros e não em yuan. Ninguém quer a moeda chinesa (à exceção dos
Chineses na China) para nada.
O
governo e os empresários chineses – que vivem em cima da miséria obscena dos
seus trabalhadores – gostam de dizer que compram dólares, logo os dólares são
da China. A visão do empresário americano ou europeu é outra, os dólares são
emprestados à China – e ao Brasil e à Índia, e não são mais do que um depósito
bancário.
Ora,
para que o Governo Chinês possa dar essa garantia duas coisas são necessárias:
1)
a taxa de juro com que a China remunera o capital tem de ser maior do que a
taxa de juro da moeda de troca – e de facto é, os países de moeda fraca como a
China e o Brasil têm taxas de juros maiores do que os EUA e a UE;
2)
ter a garantia de que o dia em que encerrar ou transferir total ou parcialmente
o seu negócio na China possa converter a moeda chinesa que lá ganhou em dólares
ou euros. Para isso o Governo Chinês tem que dar essa garantia e essa garantia
são os enormes superavits acumulados nas exportações chinesas.
Agora
reparem: o Governo Chinês não pode pegar nessa moeda e investir por exemplo em
infra-estruturas, ou melhor, tem um limite muito restrito, porque se gasta esse
dinheiro, como vai devolver os dólares? Por isso investe em dívida pública
norte-americana, dívida pública europeia, activos de empresas no exterior –a
EDP, por exemplo.
Portanto
o Governo Chinês não pode usar a moeda estrangeira que entra no país pelas
exportações, mas continua a precisar de moeda estrangeira para as trocas
necessárias. É aí que entram as lojas chinesas; trata-se de empresários
chineses que têm essa garantia, de que o euro acumulado aqui é convertido lá,
pode ser usado pela China, não é um mero depósito como são os dólares ou euros
das exportações.
*Físico
teórico, investigador
Sem comentários:
Enviar um comentário