domingo, 1 de março de 2015

PARA QUE SERVEM AS “LOJAS CHINESAS” À REPÚBLICA POPULAR DA CHINA?



Renato Guedes*

O capital para ir e vir (um empresário quer fechar uma fábrica aqui e ir para a China, vende aqui, pega nos euros ou dólares e vai para a China). Mas assim que lá entra, entrega o dólar ou euro ao Banco Central, recebe a moeda chinesa, yuan, e começa a investir e a exportar e a receber, sempre em yuan. Mas para investir na China, tem de ter a garantia de poder retirar o seu capital quando quiser – porque decidiu ir para outro país, por exemplo – e de que quando o recebe o retira em dólares e euros e não em yuan. Ninguém quer a moeda chinesa (à exceção dos Chineses na China) para nada.

O governo e os empresários chineses – que vivem em cima da miséria obscena dos seus trabalhadores – gostam de dizer que compram dólares, logo os dólares são da China. A visão do empresário americano ou europeu é outra, os dólares são emprestados à China – e ao Brasil e à Índia, e não são mais do que um depósito bancário.

Ora, para que o Governo Chinês possa dar essa garantia duas coisas são necessárias:

1) a taxa de juro com que a China remunera o capital tem de ser maior do que a taxa de juro da moeda de troca – e de facto é, os países de moeda fraca como a China e o Brasil têm taxas de juros maiores do que os EUA e a UE;

2) ter a garantia de que o dia em que encerrar ou transferir total ou parcialmente o seu negócio na China possa converter a moeda chinesa que lá ganhou em dólares ou euros. Para isso o Governo Chinês tem que dar essa garantia e essa garantia são os enormes superavits acumulados nas exportações chinesas.

Agora reparem: o Governo Chinês não pode pegar nessa moeda e investir por exemplo em infra-estruturas, ou melhor, tem um limite muito restrito, porque se gasta esse dinheiro, como vai devolver os dólares? Por isso investe em dívida pública norte-americana, dívida pública europeia, activos de empresas no exterior –a EDP, por exemplo.

Portanto o Governo Chinês não pode usar a moeda estrangeira que entra no país pelas exportações, mas continua a precisar de moeda estrangeira para as trocas necessárias. É aí que entram as lojas chinesas; trata-se de empresários chineses que têm essa garantia, de que o euro acumulado aqui é convertido lá, pode ser usado pela China, não é um mero depósito como são os dólares ou euros das exportações.

*Físico teórico, investigador


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