Catarina
Gomes - Público
Programa
de troca de seringas foi retomado em 1039 farmácias depois de dois anos de
interrupção.
Haverá
cerca de 25 mil pessoas em Portugal que estão infectadas com o VIH sem saberem,
estima o director do programa nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz,
em declarações ao PÚBLICO. O responsável diz que o programa nacional de troca
de seringas foi retomado em 1039 farmácias.
De
acordo com a taxa prevalência de VIH/sida estimada pela ONUSIDA (programa das
Nações Unidas para o VIH/sida) para Portugal, o país terá entre 0,6% a 0,7% da
sua população infectada, o que significa que haverá cerca de 65 a 70 mil
pessoas que vivem com a doença, refere o responsável. O que acontece é que,
pela primeira vez, existem dados quase finais sobre o número de pessoas com VIH
a serem seguidas nos hospitais portugueses, com o sistema informático
específico chamada SI.VIDA, onde os médicos vão introduzindo os dados sobre os
seus doentes.
Estão
no sistema dados de doentes de 23 hospitais com esta valência, faltam apenas
introduzir os dados de nove unidades. Em Março deste ano estavam a ser seguidos
cerca de 31 mil doentes com VIH, o que significa que o número total pode andar
pelos cerca de 35 mil, estima o responsável, o que representará entre a 80% a
90% das pessoas diagnosticadas que vivem com a infecção, algumas abandonam o
tratamento, admite o responsável.
António
Diniz estima então que existam em Portugal cerca de 25 mil pessoas por
diagnosticar. Estarão então diagnosticadas cerca de 60% do total de pessoas
infectadas, o objectivo da ONUSIDA para Portugal é ter até ao ano de 2020 90%
das pessoas infectadas com diagnóstico.
Além
do problema da subnotificação, que é comum a muitos outros países da Europa,
sublinha, António Diniz diz que Portugal se destaca pela negativa por continuar
a ter diagnósticos muito tardios. Das várias metas traçadas no Programa
Nacional VIH/sida 2012/2016 esta é a mais atrasada: 58% dos diagnósticos
continuam a ser tardios, sendo o ponto de partida de 65%. O objectivo é que
Portugal chegue a 2016 com a sua taxa de diagnósticos tardios limitada a 35%.
Foi
essa uma das razões porque, no início de 2014, decidiram estender os testes
rápidos de detecção de VIH também aos centros de saúde. O objectivo é que
qualquer cidadão dos 18 aos 65 anos faça o teste. Antes de estarem disponíveis
nos centros de saúde existiam apenas nos Centros de Aconselhamento e Deteção
Precoce do VIH (CAD), e eram feitos pelas equipas de rua que trabalham no
terreno com populações vulneráveis, como consumidores de droga.
Em
2014 os centros de saúde fizeram 3547 testes, tendo havido uma taxa de
positivos na ordem dos 0,65%, o que, na prática, significou a detecção de 21
pessoas com teste positivos ao VIH (que depois precisa de confirmação
laboratorial), nota. António Diniz está convencido que estas são pessoas que
não iriam aos CAD, porque significa terem de se deslocar (por norma há um CAD
por capital de distrito) e porque nos centros de saúde os testes são sugeridos
por profissionais de saúde que as pessoas conhecem, o médico de família ou o
enfermeiro. Não se sabe ainda em que fase da doença foram detectados.
Cerca
de 16% dos testes são feitos nos centros de saúde mas o grosso continua a ser
aplicado pelos CAD, que fazem 71% e onde a taxa de positivos anda pelos 0,95%
do total. A ideia é ir aumentado a disponibilização destes testes nos centros
de saúde, afirma.
Troca
de seringas em mais mil de farmácias
Depois de dois anos de interrupção (2012 e 2013), o programa de troca de seringas nas farmácias foi retomado no mês passado e está actualmente a funcionar em 1039 estabelecimentos, afirmou o director do programa nacional para a Infecção VIH/sida. Quando foi interrompido funcionaria em cerca de 1200 farmácias, nota.
O
programa, destinado sobretudo a evitar o contágio do VIH entre consumidores de
droga por via injectável, que estava no terreno há cerca de 20 anos, foi
interrompido porque a Associação Nacional de Farmácias (ANF) “se retirou do
processo e não aceitou renová-lo”, afirma António Diniz.
João
Cordeiro, presidente da ANF, disse, na altura, que o programa teria de ser
feito “noutros moldes”, e vieram a público queixas da ANF por atrasos de
pagamentos das despesas com fornecedores por parte do Ministério da Saúde. A
associação alegou também a degradação do sector das farmácias.
O
novo acordo prevê um período de um ano em que a ANF não recebe contrapartidas
financeiras, ao fim do qual haverá uma avaliação feita pela Faculdade de
Economia do Porto, refere António Diniz.
Durante
os dois anos de interregno, o Ministério da Saúde introduziu a troca de
seringas para toxicodependentes nos centros de saúde. Em 2013 tinham sido
distribuídos apenas 28.694 kits, em 2014 esse número subiu para 301.578, o que
representa 18% do total, diz o responsável.
António
Diniz diz que não há qualquer prova de que a quebra na distribuição de seringas
no primeiro ano deste novo sistema tenha conduzido ao aumento de infecções
porque “o número de novos casos de VIH em usadores de droga tem vindo
sucessivamente a descer”, diz.
“Tivemos
de montar um sistema novo, alternativo. Houve alguns problemas no início mas os
últimos números da distribuição são animadores. Os cuidados de saúde primários
tiveram a capacidade de pôr em marcha este processo nas actuais condições de
escassez de recursos humanos”. Os kits incluem além das seringas, um
preservativo, ácido cítrico para desinfeccão e água destilada.
As
seringas estão a ser distribuídas em 49 Agrupamentos de Centros de Saúde.
António Diniz diz que o objectivo do Ministério da Saúde não foi ter a troca de
seringas em todos os centros de saúde mas sim naqueles onde havia farmácias que
deixaram de fazer trocas e onde se registava maior número de consumidores de
droga por via injectável e maiores taxas de infecção por VIH destes
consumidores.
Mas
o grosso das seringas continuam a ser trocadas por quem está no terreno, as
equipas de rua das organizações não governamentais que o programa nacional
subsidia, sublinha. No ano passado tinham distribuído cerca de 1,3 milhões kits
de troca de seringas, face a 899,662 no ano anterior, o que representam 80% das
trocas.
“Queremos
fomentar cada vez mais a troca por esta via”. De seguida, está a distribuição
nos centros de saúde e num posto móvel, que neste momento está num bairro de
Loures, que faz 2% das trocas. “As equipas de rua devem ser preponderantes e as
farmácias e centros de saúde são apoios”.
Sem comentários:
Enviar um comentário