A
barbárie que ocorre na atualidade sul-africana contra imigrantes que ali
naquela terra prometida procuraram encontrar a herança de Nelson Mandela só
pode ser explicada pela vocação daqueles que no povo sul-africano se dispuseram
a trair o grande líder Mandela. Não há outro modo de dizê-lo.
As
imagens e notícias sobre os assassinatos dos estrangeiros pobres são o
testemunho das práticas selvagens de alguns do povo sul-africano. Os traidores
de Nelson Mandela.
Vários
moçambicanos já foram assassinados. Outros fogem da selvajaria ocorrida em
Durban e noutros locais. Esquecem-se os traidores do apoio que os moçambicanos
deram à sua causa contra o apartheid ao mesmo tempo que também lutavam pela sua libertação do jugo colonialista
português. Luta que também era apoiada por Mandela e muitos sul-africanos.
Esses
tempos passaram. Moçambique, melhor ou pior, continua a lutar pela conservação
da sua independência, pela justiça e democracia. Com todas as dificuldades
inerentes a tal processo. Dificuldades que se refletem no povo moçambicano que
procura melhores oportunidades no país vizinho, a África do Sul, entre outros. Que
lugar melhor que o país de Mandela para se fixarem? Deviam pensar. O país de
Mandela era, para eles, o lugar ideal.
Pois
não é assim. Os traidores de Mandela sobrepõem-se, espancam, escorraçam e
assassinam os imigrantes, os seus irmãos africanos. O contrário dos
ensinamentos e prática de Mandela. Deverá ser perguntado a esses energúmenos traidores
e assassinos se o que preferiam era ainda hoje estarem sob o jugo do apartheid,
da xenofobia e do racismo puro e duro? Decerto que responderiam que não. Então
porque o exercem desumanamente contra outros seus irmãos?
Este
tema é abordado de modo mais profundo pela publicação online moçambicana @
Verdade. É esse texto que aqui trazemos em seguida.
Redação
PG
África
do Sul está a tornar-se num inferno para os estrangeiros pobres
Adérito
Caldeira – Verdade (mz), em Tema de Funda
Os
cidadãos estrangeiros de poucas posses, que vivem e trabalham na África do Sul,
continuam a viver dias de medo com a pilhagem dos seus bens e ameaças à sua
integridade física. Desde que a nova onda de xenofobia eclodiu há cerca de duas
semanas, com particular incidência na província do KwaZulu-Natal, pelo menos
cinco estrangeiros, um deles moçambicano, foram mortos por cidadãos
sul-africanos e milhares tiveram de abandonar as suas habitações.
Desde
a noite da passada segunda-feira (13) vários estabelecimentos comerciais
pertencentes a cidadãos estrangeiros foram vandalizados nos bairros periféricos
da cidade sul-africana de Durban por alguns cidadãos sul-africanos que acusam
os imigrantes de ficarem com as suas oportunidades de trabalho e de serem responsáveis
pela elevada criminalidade existente.
O
Governo de Jacob Zuma, que não tem tomado medidas enérgicas contra a xenofobia
que de tempos em tempo reacende, enviou centenas de polícias para tentar
proteger os cidadãos estrangeiros que desesperadamente tentam salvar o que
resta dos seus pertences entretanto pilhados e vandalizados por cidadãos locais
que também incendiaram várias lojas.
O
moçambicano Armando Matsinhe, trabalhador na área da construção, há duas noites
que dorme numa esquadra da Polícia onde no quintal foram colocadas duas grandes
tendas que estão a acolher pelo menos três centenas de pessoas. Não há camas,
colchões ou mantas. “Os que conseguiram trouxeram mantas e colchão. Nós que não
conseguimos estamos a desenrascar.”
Até
ao momento Armando e outras centenas de moçambicanos, que estão refugiados
nesta esquadra da Polícia, num dos subúrbios de Durban, não tiveram nenhum
contacto com os responsáveis diplomáticos de Moçambique na África do Sul.
O
nosso país tem um consulado na cidade de Durban. Os esforços do @Verdade para
contactar a cônsul moçambicana foram infrutíferos. “Está em reunião fora, a
avaliar a situação” informou-nos o secretário que disse que mais ninguém no
consulado estava autorizado a pronunciar-se sobre a violência xenófoba.
“Nós
aí na nossa terra precisamos de padrinho para conseguirmos trabalho, não é que
não gostamos de estar no país”, confidenciou-nos Armando, que tem 34 anos de
idade, três dos quais a residir e a trabalhar na África do Sul. É viúvo, tem
três filhos que deixou com a avó no bairro de Romão, em Maputo. “Dizem que
haverá transporte para os que vão querer voltar, se houver transporte mesmo,
vale a pena regressar e salvar a vida”.
Pior
foi o drama de Bashir Mahmoud, um pequeno comerciante somali, que relatou ao
jornal online News24 não dormir há pelo menos seis dias com receio de ser morto
e ver a sua loja, trabalho de uma vida, vandalizada. “O Governo diz que somos
bem-vindos aqui, mas isso não é verdade. Estas pessoas vêm roubar tudo e ainda
tiram a tua vida. Nós somos párias.”
Cidadãos
oriundos da Somália, Congo, Paquistão, Nigéria, Zimbabwe, Malawi e também de
Moçambique têm sido as vítimas destes sul-africanos que parecem seguir as
ordens do rei zulu, Goodwill Zwelithini, o líder tradicional mais importante
desta província sul-africana, que há três semanas afirmou que os imigrantes
devem “fazer as malas e deixar” a África do Sul.
“Eles
disseram 'vocês devem ir embora', o rei disse que vocês devem ir-se embora, mas
nós ignorámos” afirmou ao jornal City Press Kasai Ruvenga, uma cabeleireira
oriunda da República Democrática do Congo. No primeiro dia dos ataques
xenófobos o seu salão de cabeleireiro foi vandalizado e destruído. “Quando eles
vieram a primeira vez eram uns cem homens. Mas na segunda vez já eram em maior
número e chegaram em
mini-buses. Estavam bem organizados”, acrescentou Ruvenga que
reside na África do Sul há 13 anos.
No
princípio da noite de segunda-feira um outro pequeno comerciante, também
somali, foi capturado e chegou a ter o seu corpo regado com combustível mas foi
salvo pela Polícia que chegou antes de lhe atearem fogo.
Daniel
Dunia, que tinha um pequeno negócio de reparação e venda de computadores,
relatou ao jornal City Press que os rumores segundo os quais os ataques estavam
iminentes começaram pouco depois das declarações do rei zulu, mas ele e os
vizinhos não os levaram a sério.
“Os
sul-africanos diziam-nos: 'vamos atacar-vos na segunda-feira. O rei disse que
vocês estrangeiros (kwekweres na expressão original) devem partir' Não os
levamos a sério. Mas cerca das 10 horas de segunda-feira (06) eles começaram a
invadir as nossas lojas e a baterem-nos”.
Na
manhã desta terça-feira (14) a Polícia anti-motim teve de usar gás
lacrimogéneo, balas de borracha e canhões de água para dispersar um potencial
confronto entre estrangeiros e locais, cerca de duas mil pessoas.
Desde
que a recente onda de xenofobia eclodiu, milhares de estrangeiros procuraram
refúgio num campo criado pelas autoridades sul-africanas. Pelo menos duas
centenas desses refugiados são cidadãos moçambicanos.
O
director dos Assuntos Jurídicos e Consulares no Ministério dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação, Fernando Manhiça, afirmou à Rádio Moçambique que
pelo menos cem desses refugiados moçambicanos manifestaram o desejo de ser
repatriados. Segundo a fonte, está a ser criado, em Beluluane, na província de
Maputo, um centro transitório para acolher os imigrantes vítimas da xenofobia.
Só
nesta terça-feira (14) o Presidente Filipe Nyusi pronunciou-se sobre estes
ataques xenófobos. “Estamos a conviver e a relacionarmo-nos com o problema para
o percebermos. O Governo sul-africano tem dado sinais de consciência,
naturalmente que actos como estes não são programados, pelo que nos parece,
pelo Governo então estamos encorajados que vamos encontrar no contacto
diplomático, no diálogo a solução para que os nossos concidadãos não possam
sofrer. Lamentamos, isso não pode acontecer nem lá nem aqui”, afirmou o Chefe
de Estado moçambicano que não mencionou nenhum contacto com o seu homólogo da
África do Sul para encontrar a melhor forma de lidar com a xenofobia que não é
uma novidade na África do Sul.
O
ministro da Informação do Malawi, Kondwani Nankhumwa, descreveu a situação no
KwaZulu-Natal de “muito tensa”, em que milhares de imigrantes, maioritariamente
moçambicanos e zimbabweanos, foram destituídos dos seus locais de residência e
viram os seus bens pilhados. Em consequência disso, os governos do Malawi e da
Somália estão a preparar o repatriamento dos seus cidadãos radicados na África
do Sul. A embaixada do seu país em Pretória está a emitir salvo-condutos para
os seus concidadãos, de forma a levá-los de volta a casa, segundo a AIM.
Em
2008 a violência contra cidadãos estrangeiros na África do Sul causou a morte
de sessenta e duas pessoas entre elas Ernesto Nhamuave, um cidadão moçambicano
que foi queimado vivo. O processo sobre o crime acabou por ser arquivado por
alegada falta de testemunhas e suspeitos.
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