quinta-feira, 23 de julho de 2015

Angola. DIVERSIFICAR A ECONOMIA É MUITO FÁCIL



José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião - 12 de Julho, 2015

Angola já se pode orgulhar de ter produção nacional. Este é outro dado novo dos últimos 40 anos da economia angolana.

No tempo de paz, as ruas de Luanda e as estradas para o litoral e interior, as estantes das superfícies comerciais e das pequenas lojas transformaram-se na melhor exposição de produção nacional. É impossível ficar indiferente a tão relevante espectáculo. Os produtos nacionais estão por todo o lado e concorrem com os importados. O tempo de consumir apenas o importado acabou. 

O consumidor está hoje mais saudável porque a dieta alimentar é melhor. Só esta já é uma boa razão para de uma vez por todas  se pôr termo à forte dependência que a receita nacional tem da produção petrolífera. Uma aposta séria na agricultura, na indústria, no comércio e em todo o sector não petrolífero serve o consumo corrente e dispensa a demora no ciclo da receita do petróleo. 

As vantagens da diversificação económica para a criação de emprego são óbvias, para já não falar na vertente poluente. Nunca percebi, aliás, por que razão a OPEP não respondeu com uma diminuição das quotas de produção, segurando o preço do barril, quando ele começou a cair. Por aí acolhia até a simpatia dos críticos da exploração petrolífera por causa dos seus riscos ambientais. 

A questão da diversificação económica nacional tem de passar da retórica académica para o campo do concreto. Nada é mais penoso do que vermos o potencial de capacidades que se perde com o desemprego e o mercado informal por falta de uma orientação precisa às pessoas sobre as oportunidades imensas de trabalho e de negócios que se oferecem e estão disponíveis no verdadeiramente virgem mercado nacional. 

O dados divulgados pela Comissão Consultiva Nacional para o Emprego sobre a criação de postos de trabalho nos últimos três anos são reveladores do enorme espaço que a economia nacional ainda dispõe e está por explorar. O sector dos Transportes gerou 23 por cento do total de postos de trabalho, o Comércio 20, a Energia e Águas 16 e a Administração Pública e outros 11 por cento.  Agricultura, Urbanismo e Habitação, Geologia e Minas, Indústria Transformadora e as Pescas não passaram dos quatro por cento do emprego. 

Este é o espelho da nossa economia, que mostra como ainda negligenciamos a agricultura, bem cmo as indústrias extractivas e transformadoras, o que se reflecte na estrutura do emprego e por tabela nas condições sociais. A indústria gráfica, à qual pertenço e é designada “a indústria da democracia” porque faz jornais, livros, cadernos, álbuns, tem condições para forte crescimento e criação diversificada de emprego com relativamente baixo investimento, mas não regista grande estímulo.

A diversificação económica de hoje vai decidir o rumo da economia amanhã. Depois de conseguir fazer a paz e a reconciliação nacional, consolidando a independência política, o próximo grande desafio do povo angolano está no desenvolvimento económico, que passa pela aceleração da sua diversificação, maior criação de riqueza e progresso social.

 Margareth Anstee, que foi representante do Secretário-Geral da ONU em Angola, disse no seu livro que Angola foi “refém” da Guerra Fria.Já chega de sermos reféns de qualquer coisa. As próximas gerações angolanas não vão dizer certamente que ficaram reféns do petróleo, mas o certo é que hoje a receita nacional continua a depender fortemente desta indústria que exige grandes investimentos e ciclos de negociação que por vezes nos ultrapassam. 

É preciso escancarar as portas da economia a novos produtos, produzir mais internamente, aumentar a oferta de mercadorias e de serviços para consumo e inovar na exportação. Isso passa por uma aposta não apenas nos grandes projectos, mas também nas pequenas empresas e pequenos negócios, como sucede em países como a Índia, o Brasil e a China e até nas economias mais avançadas. Bill Clinton disse uma vez que os Estados Unidos são um grande país porque têm muitos milhões de pequenos empresários.

Abandonar as discussões académicas e ir ao concreto é fácil e significa apenas informar e explicar como os negócios se fazem. O trabalho de incentivo ao empreendedorismo é por enquanto insuficiente e não chega ao alvo certo. Os potenciais empresários angolanos que pululam pela economia informal desconhecem as vantagens de criar uma empresa ou cooperativa e como isso se faz, porque têm pouca informação. Para os promotores da actividade económica e empresarial é mais simples aprovar o projecto de alguém tarimbado no mercado ou de um “pato bravo” do que ir ao terreno, descer à rua e comunicar com os empreendedores já existentes ou mobilizar aqueles que mostram ter queda para progredir nos negócios. Deixar esse papel apenas ao marketing e à publicidade não resolve o problema.

O modelo adoptado pelo MPLA para fazer chegar a mensagem aos seus militantes e ao povo, enviando dirigentes aos municípios, é eficaz e um bom exemplo de marketing político e os resultados têm sido vistos nas eleições. Se fosse aplicado na economia pelos institutos especializados, bancos, promotores económicos e empresariais no incentivo aos cidadãos nacionais para aproveitarem melhor as oportunidades que o mercado nacional oferece aos angolanos, dando-lhes consultoria gratuita e indicando quais as fontes de financiamento nacionais e internacionais existentes, rapidamente os seus efeitos seriam sentidos na actividade económica e no crescimento da produção nacional.

A diversificação económica começa com a informação e a explicação. As igrejas sabem bem como isso se faz. É preciso ir ao encontro das pessoas e falar com elas.

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