Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
A tentativa de suicídio do governo de coligação
Syriza-ANEL falhou, como
acontece, de resto, à maioria das tentativas de suicídio. Alexis Tsipras está
condenado a ser o grego que se entenderá ou que romperá de vez com a troika.
Nem depois de uma semana a pescar, de
multibanco em multibanco, umas notitas para sobreviver mais um dia; nem depois
de esperar horas e horas em filas para receber uma pensão; nem depois de
anteciparem o futuro racionado com que a eurocracia os ameaçou; os gregos
aceitaram subjugarem-se.
O não grego é admirável, comovente e um
desafio à mediocridade. A leitura subsequente que consigo retirar desse dia
memorável, do destino a dar a esses três milhões e meio de votos corajosos é,
porém, sombria.
Na noite em que Alexis Tsipras
anunciou o referendo, o que separava o governo Syriza-ANEL da troika? Pouco.
Ambos os lados estavam de acordo na celebração de um novo empréstimo de oito ou
nove mil milhões de euros para a Grécia pagar juros de dívida antiga. Ambos os
lados condicionavam também esse empréstimo a pressupostos irrealistas: a troika
impondo cortes em salários e pensões mas, ao mesmo tempo, a exigir crescimento
económico; o Syriza-ANEL a prometer montantes de recolha de impostos e reformas
na administração central impossíveis de alcançar nos prazos pretendidos.
Depois de enormes cedências na mesa de
negociação, o Syriza-ANEL procurou tornar viável na Grécia a passagem das
linhas vermelhas que prometera respeitar. Por isso, convocou um referendo com
uma pergunta fechada sobre as condições em concreto do empréstimo que estava a
ser negociado e não sobre a permanência no euro, a reestruturação da dívida ou qualquer
outra solução de longo prazo para a economia do país.
Estupidamente, os políticos europeus, ao
atribuírem ao não o valor de um rompimento com o euro, retiraram condições
políticas para Tsipras acabar por apelar ao sim, como chegou a admitir.
Mas o suposto radical Tsipras não desistiu
de salvar esta Europa que ele tanto critica: para voltar às negociações
entregou a cabeça de Varoufakis aos credores e um documento assinado por cinco
partidos em que pede um acordo socialmente justo e economicamente razoável.
Isto quererá dizer, apenas, voltar a
negociar condições melhores para receber oito mil milhões de euros que nada
resolvem? Ou, finalmente, quererá significar o início de um processo que
resultará numa verdadeira reestruturação da dívida que, obviamente, terá de se
estender, em parte, a Portugal
e à Irlanda?
Se for a primeira hipótese, os gregos serão,
mais uma vez, traídos e os quatro milhões que no domingo se abstiveram, votaram
branco ou nulo - a verdadeira maioria dos gregos - é que tiveram razão.
*Publicado no DN em 07 julho 2015
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