O
primeiro secretário provincial de Luanda do MPLA, Bento Sebastião Bento,
considerou a marcha de apoio ao Presidente da República, “querido líder”,
“escolhido Deus”, José Eduardo dos Santos, realizada hoje em Luanda, uma
demonstração da importância da missão estratégica do ditador (no poder desde
1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito), em prol da coesão do país.
Orlando
Castro – Folha 8, opinião, em Mukandas
Segundo
Bento Bento, que falava – cito a Angop – “no acto que marcou o encerramento da
actividade política de apoio ao 73º aniversário do Presidente José Eduardo dos
Santos, o acto atesta a firmeza como o Chefe de Estado conduziu o país nos
momentos difíceis”.
Momentos
bem difíceis, reconheça-se. Apesar de estar no poder absoluto, total,
inequívoco, há 36 anos, no país de que é dono, todos os dias, a todas as horas,
a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia. 70% da população
passa fome.
45%
das crianças sofrem de má nutrição crónica, e uma em cada quatro (25%) morre
antes de atingir os cinco anos.
No
“ranking” que analisa a corrupção em 177 países, Angola está na posição 161.
A
dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o
cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos e que o
silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coacção e às ameaças do partido que
está no poder desde 1975.
A
corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os
que querem ser livres, que 76% da população vive em 27% do território, que mais
de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da
riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em
menos de 0,5% de uma população.
O
acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das
seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está
limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Voltemos
à bajulação. Na manifestação canina, invertebrada e acéfala, realizada no
bairro do Kifica, município de Belas, Bento Bento sublinhou o facto do
Presidente da República ter sempre “trabalhado arduamente para que a paz
chegasse de forma duradoura”.
“Há
quem beneficia desta paz, que veio graças ao camarada Presidente, e que
contrariando tudo, se organizam em grupos de jovens contra o Presidente da
República”, salientou esta espécie incatalogável de sipaio, cangaceiro e
mercenário, referindo-se aos jovens que – ao contrário dele – sabem para que
serve a cabeça.
A
acocorada manifestação de beija-mão, similar à dos tempos coloniais – foi
promovida pela Organização da Mulher Angolana (OMA) e pelo Comité Provincial de
Luanda do MPLA. Perante uma audiência certamente avaliada em mais de 21 milhões
de pessoas, Bento Bento apelou aos militantes do partido para serem optimistas.
E
tem razão. Nas eleições, o MPLA só não ultrapassa uma votação superior a 100%
se não quiser. Portanto… aí virão mais umas décadas de luta para que Angola
seja definitivamente o MPLA e o MPLA seja definitivamente Angola.
Bento
Bento considerou José Eduardo dos Santos um líder abençoado e empenhado no
desenvolvimento do país e na construção de uma Angola para todos. Nem mais. O
Presidente é o representante de Deus na Terra e, por isso, abençoado pelos
poderes divinos de vida e morte sobre todos os seus escravos.
Para
o primeiro secretário provincial de Luanda do MPLA, a obra do Presidente José
Eduardo dos Santos deve ser vista como um exemplo multiplicador para as
gerações mais novas. Obra do tipo Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos…
Obra do tipo roubar ao Povo para dar aos abutres do seu clã.
*Orlando
Castro é chefe de redação do Folha 8
Sem comentários:
Enviar um comentário