terça-feira, 8 de setembro de 2015

Angola. COISAS: MAS É A ANA GOMES!



José Kaliengue* - O País, opinião

Ana Gomes já sabe que a transição de poder em Angola será violenta e teme que isso afecte a segurança regional europeia e Portugal que teria de receber os milhares de portugueses que vivem em Angola e os cidadãos de dupla nacionalidade. E eu que até julgava que ela estivesse preocupada com os angolanos!

A eurodeputada portuguesa Ana Gomes esteve por Luanda durante uns dias. Luanda! digo bem. Ela produziu um relatório sobre Angola e faz recomendações para que as autoridades europeias condenem o Estado angolano. Ela acusa a Europa de silenciar o que se passa em Angola e também de ser cúmplice na delapidação financeira do país.

Estávamos mesmo a precisar de uma salvadora. Cá está. Veio de Portugal. Esta minha ironia tem uma razão. Eu explico: Nada tenho contra a senhora nem contra as suas ideias. Também não posso dizer que ela esteja numa posição conspiratória, que tenha inventado falsidades. Nada disso. Que temos corrupção, não precisamos que ela no-la venha expor. Tal como os europeus não precisam que o façamos nos seus países também. Já a liberdade de expressão e de imprensa é outro assunto, ela ficaria melhor esclarecida se lesse todos os jornais e ouvisse todas as rádios. O que nós temos, julgo, são órgãos de comunicação social que, de parte a parte, fazem propaganda para o seu lado e ‘insultam’ o lado oposto. Pelo menos em Luanda, onde ela esteve.

Depois ela junta no seu relatório questões como as dos monte Sumi e a dos quinze revus detidos, que agora já são mais. São casos que irão a tribunal, veremos como correm. Não haverá melhor palco que os julgamentos que estes casos merecerão, abertos, com a imprensa e o público a seguirem.

Se não posso dizer que ela tenha inventado o que consta no seu relatório, e que até pode ter ou ser verdade, já outras coisas me incomodam um pouco. Não me espanta que o relatório tenha o pendor que tem, porque estas são ideias que ela defendia antes de ter vindo a Luanda. Ana Gomes, pelo que publica a imprensa, ignorou os argumentos do Governo angolano, ela que até foi recebida por alguns governantes. Esta parcialidade é que me incomoda.

“Não é tempo para que a UE permaneça passiva e silenciosa, observando a deterioração da situação, bloqueada politicamente em Angola, considerando também as possíveis implicações para a segurança regional e para membros, como Portugal, que de repente podem enfrentar um fluxo maciço de portugueses e cidadãos de dupla nacionalidade, como resultado da violenta perturbação na inevitável transição de poder”, lê-se no relatório da eurodeputada.

Ana Gomes já sabe que a transição de poder em Angola será violenta e teme que isso afecte a segurança regional europeia e Portugal que teria de receber os milhares de portugueses que vivem em Angola e os cidadãos de dupla nacionalidade. E eu que até julgava que ela estivesse preocupada com os angolanos!

É o que tenho dito, tanto para os da Oposição como para os do MPLA: não são e nunca serão os estrangeiros a resolver os nossos problemas. Eles estão preocupados com tudo, menos connosco.

Na foto: José Kaliengue

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