José
Kaliengue* - O País, opinião
Ana
Gomes já sabe que a transição de poder em Angola será violenta e teme que isso
afecte a segurança regional europeia e Portugal que teria de receber os
milhares de portugueses que vivem em Angola e os cidadãos de dupla
nacionalidade. E eu que até julgava que ela estivesse preocupada com os
angolanos!
A
eurodeputada portuguesa Ana Gomes esteve por Luanda durante uns dias. Luanda!
digo bem. Ela produziu um relatório sobre Angola e faz recomendações para que
as autoridades europeias condenem o Estado angolano. Ela acusa a Europa de
silenciar o que se passa em Angola e também de ser cúmplice na delapidação
financeira do país.
Estávamos
mesmo a precisar de uma salvadora. Cá está. Veio de Portugal. Esta minha ironia
tem uma razão. Eu explico: Nada tenho contra a senhora nem contra as suas
ideias. Também não posso dizer que ela esteja numa posição conspiratória, que
tenha inventado falsidades. Nada disso. Que temos corrupção, não precisamos que
ela no-la venha expor. Tal como os europeus não precisam que o façamos nos seus
países também. Já a liberdade de expressão e de imprensa é outro assunto, ela
ficaria melhor esclarecida se lesse todos os jornais e ouvisse todas as rádios.
O que nós temos, julgo, são órgãos de comunicação social que, de parte a parte,
fazem propaganda para o seu lado e ‘insultam’ o lado oposto. Pelo menos em
Luanda, onde ela esteve.
Depois
ela junta no seu relatório questões como as dos monte Sumi e a dos quinze revus
detidos, que agora já são mais. São casos que irão a tribunal, veremos como correm.
Não haverá melhor palco que os julgamentos que estes casos merecerão, abertos,
com a imprensa e o público a seguirem.
Se
não posso dizer que ela tenha inventado o que consta no seu relatório, e que
até pode ter ou ser verdade, já outras coisas me incomodam um pouco. Não me
espanta que o relatório tenha o pendor que tem, porque estas são ideias que ela
defendia antes de ter vindo a Luanda. Ana Gomes, pelo que publica a imprensa,
ignorou os argumentos do Governo angolano, ela que até foi recebida por alguns
governantes. Esta parcialidade é que me incomoda.
“Não
é tempo para que a UE permaneça passiva e silenciosa, observando a deterioração
da situação, bloqueada politicamente em Angola, considerando também as
possíveis implicações para a segurança regional e para membros, como Portugal,
que de repente podem enfrentar um fluxo maciço de portugueses e cidadãos de
dupla nacionalidade, como resultado da violenta perturbação na inevitável
transição de poder”, lê-se no relatório da eurodeputada.
Ana
Gomes já sabe que a transição de poder em Angola será violenta e teme que isso
afecte a segurança regional europeia e Portugal que teria de receber os
milhares de portugueses que vivem em Angola e os cidadãos de dupla
nacionalidade. E eu que até julgava que ela estivesse preocupada com os
angolanos!
É
o que tenho dito, tanto para os da Oposição como para os do MPLA: não são e
nunca serão os estrangeiros a resolver os nossos problemas. Eles estão
preocupados com tudo, menos connosco.
Na
foto: José Kaliengue
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