José
Maria Rosário – Expresso das Ilhas, opinião
“Para
perpetuar a governamentalização da gestão das empresas públicas de comunicação
social, o executivo é capaz de desencantar leis feitas à medida.” Carlos Santos
A
reestruturação, feita em 1997, da Comunicação Social do Estado, no segundo
Governo do MpD, pelo então Ministro José António dos Reis, foi a mais sólida,
eficiente e profunda medida organizacional alguma vez concebida para o sector.
Tanto
é assim que o governo do PAICV levou mais de uma década a conspirar, permanentemente,
contra o modelo e não conseguiu remover uma pedra à estrutura do edifício.
E
se hoje a imprensa escrita floresce com quatro semanários, deve-se, em grande
medida, à política de incentivos, igualmente, adoptada por J.A.R.
Muita
gente bem posicionada o reconhece “em voz baixa”, mau augúrio para o fantasma
omnipresente de liberdade de expressão.
A
Rádio Televisão Cabo-verdiana, Empresa, SA (RTC) foi fundada em 1997, sob
proposta do então Ministro da Comunicação Social, José António dos Reis. Esta
nova empresa pública tem sob sua orgânica a Rádio de Cabo Verde (RCV) e a
Televisão de Cabo Verde (TCV), figurino que perdura até hoje.
Em
2001, com a chegada do PAICV ao poder, em vez de dar continuidade à
consolidação da empresa, inicia um processo conspirativo “dividir para reinar”,
chegando ao cúmulo de chamar de volta parte do pessoal que tinha saído,
convertendo as indemnizações em empréstimos. Caso insólito e hoje não é de se
admirar que o corpo de pessoal ascenda a mais de 350.
A
TCV-Televisão de Cabo Verde - é o calcanhar de Aquiles da RTC, onde a
qualidade “é algo por aí além”, e mais parece um couto seguro,- daqui não saio
e daqui ninguém tira- com veteranos. De tal forma entrincheirados, que dias
contados tem qualquer dirigente que tente alterar o “ status quo”, mesmo os
mais conceituados, de Medina a Carvalho.
Esta
unidade padece de uma enfermidade que toda a gente diagnostica e avalia, mas
ninguém sabe ao certo qual a terapia adequada.
Ausência de políticas & prestação de contas
A
ausência deliberada de medidas estruturantes, ao longo de quase três mandatos,
empurrou a empresa para uma gestão de sobrevivência e agonia financeira
Conforme
disse Carlos Santos “é de todo incompreensível que o governo tenha mergulhado
numa letargia confrangedora nos últimos quinze anos, em matéria de políticas
públicas, visão estratégica e medidas que pudessem levar a uma melhoria do
serviço prestado pela rádio, televisão e agência”.
Esta
opção de deixar a empresa “pachorrentamente sentada” não é ingénua e insinua
interesses obscuros amarrados ao saudosismo do tempo do partido único.
Por
outro lado, alguém se lembra se alguma vez a RTC, ao longo dos últimos 15 anos,
tenha publicado Balanços e Contas anuais como manda a lei? Qual é a situação
patrimonial e financeira da empresa? O contribuinte não terá direito de ter
estes dados antes das eleições que se avizinham? Viva a cidadania fiscal.
Quem
garante que, como a TACV, a RTC não se encontra em situação de falência
técnica?
Ou
será que o INPS, não obstante a síndrome de “Fast Ferry”, virá ainda a tempo de
salvar um novo náufrago?
Sector
privado à deriva
Da
parte do governo não existe qualquer respeito para com o sector privado do
audiovisual, não obstante o balúrdio que abocanha pela via da taxa RTC “uma
taxa pouco nítida e com ruído”.
Cada
cidadão que se dirigir à Electra para pagar os seus consumos, deixa lá cerca de
seis mil e duzentos escudos anuais, mais de cinquenta por cento do salário
mínimo mensal. O secretismo à volta do montante arrecadado e sua aplicação é um
exemplo da boa governação que tanto se publicita por aí.
Desse
bolo, o privado não é tido nem achado e tem ainda que enfrentar a desleal
concorrência publicitária.
O
desgraçado contribuinte, ainda pela via do Orçamento do Estado, tem que
espremer mais sacrifícios para suportar a ineficiência desse órgão.
Onde
estão os protagonistas dos direitos de autor, quando a RTC deveria dar o exemplo,
e ser a primeira a pagar pelas músicas que emite. Por que não consignar uma
fatia da taxa para este efeito?
“Socialização
do nada”
A
alguns meses do render de guardas, eis que o jovem Ministro Démis Almeida, “num
rompante, a escassos meses das eleições, queira dar a ideia de que está a fazer
alguma coisa neste sector,” vem com um dossier nebuloso de integração da
Inforpress na RTC, uma batata quente que Rui Semedo, político astuto,
habilmente contornou e que o líder parlamentar Felisberto Vieira, em tempos,
desconhecia os meandros.
“Voilá”
três erros de palmatória:
–
Tentou-se sociabilizar “o nada” junto de quadros cuja experiência e background
deveriam ser merecedores de maior respeito, com a caricato de “aos
participantes é vedado o acesso ao documento objecto de análise”;
–
Potencial desestabilização da tripulação do novo figurino: “trabalhadores de
primeira e de segunda”, isto é, mesmas funções, salários diferentes;
–
Extemporaneidade do processo.
Das
duas, uma:
Ou
estamos perante uma diversão política e dissimulação, com a criação de
E.C.C.I.,SA, para depois o governo vir a aparecer como salvador-mor, reabrindo
o “tubinho” que a Ministra das Finanças fechara à IFH, para absorver o Passivo
oculto da RTC. Cadê oposição.
Ou
pretende-se instalar um quadro emocional de vulnerabilidade no seio do corpo
social da RTC :“estar sempre em alerta é esgotante”.
Seja
como for não será desta, mesmo após quarenta aniversários da Independência
Nacional, que o PAICV se regenerará do seu ADN obsessivo de controlar a
comunicação social do Estado.
Sem comentários:
Enviar um comentário