Sílvia
de Oliveira* - Dinheiro Vivo, editorial
Não
sabia que este governo e a Presidência da República não têm nada a ver com a
venda do Novo Banco, que ninguém, do primeiro-ministro, à ministra das
Finanças, passando pelo Presidente da República, faz a mínima ideia do que se
está a passar?
Que
coisa estranha não ter percebido, ainda, que a única coisa que este governo faz
- Cavaco também - é confiar no Banco de Portugal.
Só
pode ser distração nossa, e das graves, porque na última semana não houve viva
alma no governo de Passos Coelho que não tivesse feito declarações públicas a
refugiar-se na instituição liderada por Carlos Costa.
A
venda do Novo Banco, que, há poucos meses, era um compromisso político - a ideia
era concretizar o negócio até às eleições - queima as mãos de quem se prepara
para disputar votos daqui a menos de um mês.
O
Novo Banco é um tema a evitar pela coligação PAF. Não deu pela declaração de
António Pires de Lima? "O adiamento é uma competência direta do Banco de
Portugal, mais vale fazer bem a venda e no tempo certo do que fazê-la com
pressa e com custo mais alto para o sistema financeiro português", disse,
esta sexta-feira, o ministro da Economia.
O
governo desresponsabiliza-se de uma não venda do Novo Banco nos prazos que ele próprio estipulou e
reza para que o assunto arrefeça, no limbo, e ninguém na opinião pública sinta
as consequências desde desfecho.
Mas
é bom que nós, os mais distraídos, nos lembremos de que o Estado já injetou 3,9
mil milhões de euros no Novo Banco e que é expectável que, na sequência dos
testes de stress conduzidos pelo BCE, a instituição seja obrigada a reforçar o
capital.
Mas
como isso não é para já e só sentiremos na pele os resultados da venda, ou não
venda, do Novo Banco já depois das eleições, o que interessa agora é remeter
tudo para o Banco de Portugal. E é assim, com tamanha desfaçatez que o governo
tenta não ter mesmo nada a ver, em plena campanha eleitoral, com o futuro de um
dos 130 bancos sistémicos da zona euro.
*Jornalista
e diretora executiva do Dinheiro Vivo
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