quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Portugal. NÓS, OS DISTRAÍDOS



Sílvia de Oliveira* - Dinheiro Vivo, editorial

Não sabia que este governo e a Presidência da República não têm nada a ver com a venda do Novo Banco, que ninguém, do primeiro-ministro, à ministra das Finanças, passando pelo Presidente da República, faz a mínima ideia do que se está a passar?

Que coisa estranha não ter percebido, ainda, que a única coisa que este governo faz - Cavaco também - é confiar no Banco de Portugal.

Só pode ser distração nossa, e das graves, porque na última semana não houve viva alma no governo de Passos Coelho que não tivesse feito declarações públicas a refugiar-se na instituição liderada por Carlos Costa.

A venda do Novo Banco, que, há poucos meses, era um compromisso político - a ideia era concretizar o negócio até às eleições - queima as mãos de quem se prepara para disputar votos daqui a menos de um mês.


O governo desresponsabiliza-se de uma não venda do Novo Banco nos prazos que ele próprio estipulou e reza para que o assunto arrefeça, no limbo, e ninguém na opinião pública sinta as consequências desde desfecho.

Mas é bom que nós, os mais distraídos, nos lembremos de que o Estado já injetou 3,9 mil milhões de euros no Novo Banco e que é expectável que, na sequência dos testes de stress conduzidos pelo BCE, a instituição seja obrigada a reforçar o capital.


Mas como isso não é para já e só sentiremos na pele os resultados da venda, ou não venda, do Novo Banco já depois das eleições, o que interessa agora é remeter tudo para o Banco de Portugal. E é assim, com tamanha desfaçatez que o governo tenta não ter mesmo nada a ver, em plena campanha eleitoral, com o futuro de um dos 130 bancos sistémicos da zona euro.

*Jornalista e diretora executiva do Dinheiro Vivo

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