“São
passados mais de 120 dias, isto é, quatro meses desde que, no dia 20 de Junho,
fomos detidos na Vila Alice, na sala de aula no instituto Luandense de línguas
e informática (ILULA).
Cumpria-mos
então com mais uma secção de debate no quadro do curso do activismo regido pela
filosofia política consubstanciada no livro de “From dictatorship to democracy”
(Da ditadura à democracia), de autoria do filósofo e activista Gene Sharp.
Desde
o dia da nossa detenção até hoje as acusações transformaram-se diversas vezes
(de “preparação do golpe de estado“ a “actos preparatórios de rebelião”…), o
isolamento, e a incomunicabilidade, a água bruta imprópria para consumo, a
comida de má qualidade, a escuridão das celas, as camas de betão, os mosquitos
e outras condições desumanas provocaram-nos diversas doenças, foram e continuam
a ser uma terrível prova à nossa integridade ética e à manutenção dos nossos
ideais em geral, em prol de uma Angola de todos e para todos.
É
um facto que alguns companheiros foram agredidos fisicamente por agentes dos
serviços prisionais e outros, tão ciosos que são em cumprir com as “orientações
superiores“ que há muito substituíram a constituição e a lei. Mas mantemo-nos
firmes.
Ao
longo dos anos desenvolvemos um pensamento político e um conjuntos de acções
regidas por uma filosofia assente nos valores da dignidade humana, igualdade,
justiça social, desenvolvimento, tolerância, angolanidade e reconciliação.
A
nossa proposta de PROJECTO POLÍTICO FILOSÓFICO DE NAÇÃO depende, entre outras
questões, que Angola deve ser construída por todos, e que a reconciliação
nacional deve ser um processo de todos e para todos.
Temos
sofrido tremendamente com a prisão e suas condições que provocaram diversos
danos a nossa saúde: problemas de visão, infecções no sangue, infecções na
pele, infecções urinárias, gastrite, hérnias, amigdalites etc. Mas não
desenvolvemos qualquer ódio. Não odiamos o presidente da república nem aqueles
que executaram a trauma urdida contra nós. O perdão é o melhor caminho.
Sabemos
muito bem que a ética do mal que rege os agentes do regime também rege,
inclusive, o juiz indicado para nos julgar em Novembro, mês em que Angola
completará 40 anos de independência. Estamos cientes de que já fomos condenados
publicamente pelo regime de José Eduardo dos Santos.
Ainda
assim, pedimos a todos os Angolanos de bem para que PERDOEM ESTA GENTE. Os
detentores do poder estão cientes de todos os males que perpetraram contra os
Angolanos ao longo de 40 anos. É compreensível que vivam permanentemente
aflitos e com medo de perderem tudo (inclusive as riquezas que saquearam à
nação) e de serem julgados por um povo que sente na carne e no osso os efeitos
de uma paz perversa que morde mais que a guerra.
Do
Presidente da República ao último agente da opressão – todos eles precisam de
PERDÃO.
Ódio
e vingança não são o caminho para o futuro de Angola (uma Angola livre
democrática e de bem-estar).
Em
alta estima subscrevo-me,
Nuno Álvaro Dala com o consenso dos 14 activistas detidos do Hospital prisão de São Paulo.”
Folha
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