Investigadores
britânicos alertam para relação entre cortes e aumento dos suicídios
Medidas
de austeridade como cortes na despesa pública ou aumento de impostos foram pela
primeira vez ligadas ao aumento dos suicídios nos países da zona euro mais
afectados pela crise. Um estudo publicado na revista científica “Social Science
& Medicine” e divulgado ontem pela Universidade de Portsmouth, no Reino
Unido, analisou estatísticas sobre suicídio entre 1968 e 2012 em cinco países
periféricos, incluindo Portugal. Os autores estimam que em 2011 e 2012 as
medidas de consolidação fiscal e austeridade tenham contribuído para 2325
suicídios de homens entre os 65 e os 89 anos nestes cinco países, o que dá um
total de 465 casos em cada país. Alargando as estimativas, os investigadores
apontam para que a austeridade possa ter levado a 4556 mortes entre 2009 e 2014
nos países analisados.
Nikolaos Antonakakis, autor do estudo, explicou ao i que as conclusões são um
retrato médio do que se passou nos cinco países envolvidos no estudo (Portugal,
Itália, Grécia, Irlanda e Espanha) com base nas estatísticas analisadas, não
sendo por isso feita uma análise individual de cada país.
O
investigador salienta que, tal como hoje é consensual que a subida no
desemprego está ligada a maiores taxas de suicídio, faltava investigar o
impacto da austeridade. Depois de apurarem a ligação num estudo feito na Grécia
em 2014, decidiram alargar a amostra de países. Ao contrário do que acontece
com a subida do desemprego, associada a um aumento do suicídio entre pessoas
mais jovens, a austeridade parece pôr sobretudo em risco a saúde mental de
pessoas mais idosas, que os investigadores relacionam com o facto de terem
menor flexibilidade para lidar com realidades como o corte nas pensões.
Se
encontram variações mais significativas sobretudo no sexto masculino, deixam um
alerta: o efeito nas mulheres parece levar mais tempo e manifestar-se em faixas
etárias mais jovens, entre os 25 e os 44 anos. Por cada corte de 1% na despesa
pública os investigadores estimaram um aumento de suicídios de 1,38% nos homens
entre os 65 e os 89 anos, enquanto nas mulheres entre os 25 e os 44 anos
apontam para um aumento de 0,72%. Nas restantes faixas etárias tanto em homens
como mulheres os dados apontam para maior resiliência.
Antonakakis
salienta que o desemprego persiste como o principal factor de risco, sobretudo
entre os mais jovens, mas estas novas conclusões também devem ter implicações e
levar a questionar a “aplicação prolongada de austeridade fiscal sem serem
criadas redes de segurança para a população mais afectada.” Para o
investigador, a equidade em matéria de saúde deve ser avaliada quando se trata
se fazer um balanço dos resultados das políticas de austeridade, que não são
apenas económicos.
Marta
F. Reis – jornal i
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