Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
A
direita reagiu em histeria. Sucede-se uma amálgama de gente – entre dirigentes
e comentadores, do PSD e CDS mas também alguns do PS – a replicar uma campanha
de ódio contra PCP e BE.
Vivemos
tempos interessantes. O resultado das eleições originou um parlamento diferente
que poucos souberam analisar.
O
tiro de partida para uma nova realidade política aconteceu na quarta-feira,
quando Jerónimo de Sousa, após uma longa reunião do comité central do PCP,
transmitiu a António Costa a consequência política que decorria do que havia
dito durante a campanha e da vontade tantas vezes expressa de encerrar o ciclo
de radicalismo de direita e perda de soberania a que anteriores governos
condenaram o país.
O
PCP declarava-se disponível para discutir um programa de governo apresentando o
seu caderno de encargos e tornando público que, mesmo sem acordo com o PS,
disponibilizava o voto dos deputados comunistas para viabilizar um seu governo.
Sem discutir lugares, o PCP colocava o foco na política.
No
“para quê?” que Jerónimo tanto repetiu em campanha, deixando claro que não
faltaria o voto dos comunistas portugueses para as tais políticas de esquerda.
O
PCP não só atropelava a tentativa de Cavaco de entregar o poder a Passos e Portas
como provocava aquilo que muitos classificaram como um terramoto político e que
mais não é que o possível fim do arco de governação e dos interesses.
A
direita reagiu em histeria. Sucede-se uma amálgama de gente – entre dirigentes
e comentadores, do PSD e CDS mas também alguns do PS – a replicar uma campanha
de ódio contra PCP e BE (que, tudo leva a crer, no decorrer do dia de hoje
também manifestará a Costa a sua disponibilidade e condições).
Estalou
o verniz. Repete-se a mentira que o resultado eleitoral obriga a que PSD e PS
estejam condenados a entender-se.
Compreendendo
o susto que paira nas gentes dos interesses e em gente sem interesse que fez a
sua vidinha nos corredores do poder, sorrio perante esta realidade nova que,
mesmo que o PS lhe falhe, já só pode ser adiada.
Escreve
à segunda-feira – Foto Tiago Petinga / Lusa
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