sábado, 24 de outubro de 2015

O LABORATÓRIO AFRICOM – VII



Martinho Júnior, Luanda 

Quando no início da década noventa do século passado se deu o colapso do “socialismo real”, África assistiu ao desaparecimento de alguns dos seus principais aliados com provas dadas no próprio Movimento de Libertação.

Se bem que dirigindo-se a Angola, o que expressava Margareth Anstee no seu depoimento “Angola, órfão da guerra fria” era uma evidência da situação geral do continente africano, em grande parte ele próprio um desamparado “órfão da guerra fria”, a tal ponto que se assistiu à eclosão do que muitos consideraram como “Iª Guerra Mundial Africana”, cujos episódios mais sangrentos eclodiram no Ruanda, na Região dos Grandes Lagos, na RDC e em Angola.

Os “órfãos da guerra fria” estavam agora à mercê do capitalismo rampante que se desenhava no miolo das potências que emergiam dominantes e prontas a construir uma globalização conformada a uma “Nova Ordem Global”: África era de facto “um corpo inerte onde cada abutre vinha depenicar o seu pedaço”, conforme alertava Agostinho Neto.

A ascensão da administração republicana de George W. Bush no ano de 2000, foi “sensível” à“orfandade” de África: desencadeando ofensivas militares no Iraque e no Afeganistão sob o pretexto de dar combate ao terrorismo (na sequência do derrube das torres do World Trade Center, em Nova York, a 11 de Setembro de 2001), os Estados Unidos procuravam dominar sem qualquer tipo de resistência nas regiões pródigas de petróleo e de gás e, enquanto duravam as operações de toda a ordem no Médio Oriente, o Presidente George W. Bush procurou estabilizar a situação em África, contribuindo para criar um ambiente que pusesse fim à “Iª Guerra Mundial Africana”, em proveito das multinacionais do petróleo anglo-saxónicas e francófonas, tornando o continente-berço da humanidade num fornecedor privilegiado de petróleo para o campo“ocidental”, sobretudo para os componentes da NATO.

Assim sendo os republicanos ganhavam vantagem interna sobre os democratas: o “lobby” do petróleo e do armamento sobrepunha-se ao “lobby” dos minerais, pelo que a mudança de orientação, em relação a África, resultava na oportunidade para se iniciar um outro tipo de vínculos que os Estados Unidos não haviam antes experimentado.

A administração republicana de George W. Bush, ele próprio um elemento dos poderosos clãs texanos do petróleo e do gás, sócios dos poderosos clãs Saud e Bin Laden da Arábia Saudita, para a implementação duma nova geo estratégia para com África recorreu a uma panóplia de meios, desde “think tanks”, às multinacionais do petróleo e do gás, a um conjunto destacado de “experts”do continente africano e por fim aos dispositivos civis, de inteligência e militares que os Estados Unidos vinham mobilizando (como por exemplo a USAID, a CIA e os vários ramos militares).

A aproximação a Angola e o surgimento do AFRICOM, seriam duas das várias “pedras de toque”africanas jogadas num pacote sem precedentes, por parte da administração de George W. Bush para com África, no início do século XXI.

O Presidente George W. Bush, um membro da Igreja Metodista Unida, não teve dificuldades na aproximação a Angola, onde as tradições dessa Igreja são relevantes em relação ao manancial humano que esteva na origem do próprio MPLA.     .

O documento reitor da “Doutrina Bush”, foi a directiva "A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos", assinada pelo presidente George W. Bush e divulgada em 17 de Setembro de 2002; nele se faziam várias alusões a África, preparatórias e introdutórias para os passos que viriam a seguir, incluindo o passo inédito do “Laboratório AFRICOM”.

Vale a pena relembrar algumas das principais referências a África nesse arrogante documento da Casa Branca, um documento que marca o “superego” da aristocracia financeira mundial; seguem-se extractos.

“In Africa, promise and opportunity sit side by side with disease, war, and desperate poverty. This threatens both a core value of the United States— preserving human dignity—and our strategic priority—combating global terror. American interests and American principles, therefore, lead in the same direction: we will work with others for an African continent that lives in liberty, peace, and growing prosperity.

Together with our European allies, we must help strengthen Africa’s fragile states, help build indigenous capability to secure porous borders, and help build up the law enforcement and intelligence infrastructure to deny havens for terrorists.

An ever more lethal environment exists in Africa as local civil wars spread beyond borders to create regional war zones. Forming coalitions of the willing and cooperative security arrangements are key to confronting these emerging transnational threats.

Africa’s great size and diversity requires a security strategy that focuses on bilateral engagement and builds coalitions of the willing.

This Administration will focus on three interlocking strategies for the region:

countries with major impact on their neighborhood such as South Africa, Nigeria, Kenya, and Ethiopia are anchors for regional engagement and require focused attention;

coordination with European allies and international institutions is essential for constructive conflict mediation and successful peace operations; and

Africa’s capable reforming states and sub-regional organizations must be strengthened as the primary means to address transnational threats on a sustained basis.

Ultimately the path of political and economic freedom presents the surest route to progress in sub-Saharan Africa, where most wars are conflicts over material resources and political access often tragically waged on the basis of ethnic and religious difference. The transition to the African Union with its stated commitment to good governance and a common responsibility for democratic political systems offers opportunities to strengthen democracy on the continent.”

(…) 
“Press regional initiatives. The United States and other democracies in the Western Hemisphere have agreed to create the Free Trade Area of the Americas, targeted for completion in 2005. This year the United States will advocate market-access negotiations with its partners, targeted on agriculture, industrial goods, services, investment, and government procurement. We will also offer more opportunity to the poorest continent, Africa, starting with full use of the preferences allowed in the African Growth and Opportunity Act, and leading to free trade.”

(…) 
“Promote the connection between trade and development. Trade policies can help developing countries strengthen property rights, competition, the rule of law, investment, the spread of knowledge, open societies, the efficient allocation of resources, and regional integration—all leading to growth, opportunity, and confidence in developing countries. The United States is implementing The Africa Growth and Opportunity Act to provide market-access for nearly all goods produced in the 35 countries of sub- Saharan Africa. We will make more use of this act and its equivalent for the Caribbean Basin and continue to work with multilateral and regional institutions to help poorer countries take advantage of these opportunities. Beyond market access, the most important area where trade intersects with poverty is in public health. We will ensure that the WTO intellectual property rules are flexible enough to allow developing nations to gain access to critical medicines for extraordinary dangers like HIV/AIDS, tuberculosis, and malaria.”

(…) 
Enhance energy security. We will strengthen our own energy security and the shared prosperity of the global economy by working with our allies, trading partners, and energy producers to expand the sources and types of global energy supplied, especially in the Western Hemisphere, Africa, Central Asia, and the Caspian region. We will also continue to work with our partners to develop cleaner and more energy efficient technologies.”

A administração republicana de George W. Bush lançava assim sincronizadamente os dados em relação ao Médio Oriente, “combatendo o terrorismo” no Iraque e no Afeganistão, enquanto em relação a África, procurava diluir, numa primeira fase, as situações de conflito e guerra, a fim de instaurar uma “pax americana” favorável aos interesses das multinacionais anglo-saxónicas e francófonas.

É evidente que a carga de ambiguidade, de manipulação e de ingerência estava intrínseca ao pacote de novas medidas e Angola, com seu “offshore” carregado de pré-sal e acesso ao Golfo da Guiné, era uma das peças mais atraentes para a administração republicana de George W. Bush.

Entre as regiões privilegiadas nessas intenções dominantes, estavam para além do Golfo da Guiné, os Grandes Lagos, próximo do centro geográfico do continente e região matriz das águas interiores (Lagos Vitória, Tanganika e Malawi, assim como nascentes do Congo, do Nilo e do Zambeze) pelo que um Comando África do Pentágono vinha “necessariamente” a caminho.
  
Imagens: 
- Foto 1 – Mapa de África relativo aos campos exploradores de petróleo e gás;
- Foto 2 – Painel-síntese sobre “a importância de África”, na perspectiva das elites que constituem o poderoso “lobby” do petróleo e do armamento;
- Foto 3 – Os clãs Bush e Saud, duas peças fundamentais no jogo geo estratégico das multinacionais anglo-saxónicas e francófonas do petróleo e do gás, que no início do século            XXI confluíam numa ampla ofensiva no Médio Oriente e em África.

A consultar:
- United Nations Angola Verification Mission II – http://www.batalhaosuez.com.br/ForcasDePazAngolaUnavemII.htm 
- 'ÓRFÃO DA GUERRA FRIA', de Margaret Anstee (Lisboa 1997) - Muito Raro – http://livrosultramarguerracolonial.blogspot.com/2012/10/angola-orfao-da-guerra-fria-de-margaret.html 
- África: o banquete dos abutres – http://www.afropress.com/post.asp?id=18208
- House of Bush, House of Saud: The Secret Relationship Between The World’s Two Most Powerful Dynasties –http://www.democracynow.org/2004/3/18/house_of_bush_house_of_saud 
- A family affair: The House of Bush maintains its dynasty with Middle East connections – http://www.illuminati-news.com/house-of-bush.htm 
- New World Order definition – http://www.threeworldwars.com/new-world-order.htm 
- Morrem três jornalistas que investigavam a participação dos EUA no 11 de setembro – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/02/morrem-tres-jornalistas-que.html 
- PUTIN IRÁ DIVULGAR PROVAS DO ENVOLVIMENTO DOS EUA NO 11 DE SETEMBRO – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/02/putin-ira-divulgar-provas-do.html 
- O tabu do 11 de Setembro à beira do abismo – http://resistir.info/11set/tabou_en_perdition_p.html 
- The Unanswered Questions of 9/11 – http://www.globalresearch.ca/political-leaders-for-911-truth

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