Martinho Júnior, Luanda
Quando
no início da década noventa do século passado se deu o colapso do “socialismo
real”, África assistiu ao desaparecimento de alguns dos seus principais aliados
com provas dadas no próprio Movimento de Libertação.
Se
bem que dirigindo-se a Angola, o que expressava Margareth Anstee no seu
depoimento “Angola, órfão da guerra fria” era uma evidência da
situação geral do continente africano, em grande parte ele próprio um
desamparado “órfão da guerra fria”, a tal ponto que se assistiu à eclosão
do que muitos consideraram como “Iª Guerra Mundial Africana”, cujos
episódios mais sangrentos eclodiram no Ruanda, na Região dos Grandes Lagos, na
RDC e em Angola.
Os “órfãos
da guerra fria” estavam agora à mercê do capitalismo rampante que se
desenhava no miolo das potências que emergiam dominantes e prontas a construir
uma globalização conformada a uma “Nova Ordem Global”: África era de facto “um
corpo inerte onde cada abutre vinha depenicar o seu pedaço”, conforme alertava
Agostinho Neto.
A
ascensão da administração republicana de George W. Bush no ano de 2000, foi “sensível” à“orfandade” de
África: desencadeando ofensivas militares no Iraque e no Afeganistão sob o
pretexto de dar combate ao terrorismo (na sequência do derrube das torres do
World Trade Center, em Nova York, a 11 de Setembro de 2001), os Estados Unidos
procuravam dominar sem qualquer tipo de resistência nas regiões pródigas de
petróleo e de gás e, enquanto duravam as operações de toda a ordem no Médio
Oriente, o Presidente George W. Bush procurou estabilizar a situação em África,
contribuindo para criar um ambiente que pusesse fim à “Iª Guerra Mundial
Africana”, em proveito das multinacionais do petróleo anglo-saxónicas e
francófonas, tornando o continente-berço da humanidade num fornecedor
privilegiado de petróleo para o campo“ocidental”, sobretudo para os componentes
da NATO.
Assim
sendo os republicanos ganhavam vantagem interna sobre os democratas: o “lobby” do
petróleo e do armamento sobrepunha-se ao “lobby” dos minerais, pelo
que a mudança de orientação, em relação a África, resultava na oportunidade
para se iniciar um outro tipo de vínculos que os Estados Unidos não haviam
antes experimentado.
A
administração republicana de George W. Bush, ele próprio um elemento dos
poderosos clãs texanos do petróleo e do gás, sócios dos poderosos clãs Saud e
Bin Laden da Arábia Saudita, para a implementação duma nova geo estratégia para
com África recorreu a uma panóplia de meios, desde “think tanks”, às
multinacionais do petróleo e do gás, a um conjunto destacado de “experts”do
continente africano e por fim aos dispositivos civis, de inteligência e
militares que os Estados Unidos vinham mobilizando (como por exemplo a USAID, a
CIA e os vários ramos militares).
O
Presidente George W. Bush, um membro da Igreja Metodista Unida, não teve
dificuldades na aproximação a Angola, onde as tradições dessa Igreja são
relevantes em relação ao manancial humano que esteva na origem do próprio
MPLA. .
O
documento reitor da “Doutrina Bush”, foi a directiva "A
Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos", assinada pelo
presidente George W. Bush e divulgada em 17 de Setembro de 2002; nele se faziam
várias alusões a África, preparatórias e introdutórias para os passos que
viriam a seguir, incluindo o passo inédito do “Laboratório AFRICOM”.
Vale
a pena relembrar algumas das principais referências a África nesse arrogante
documento da Casa Branca, um documento que marca o “superego” da
aristocracia financeira mundial; seguem-se extractos.
“In
Africa, promise and opportunity sit side by side with disease, war, and
desperate poverty. This threatens both a core value of the United States—
preserving human dignity—and our strategic priority—combating global terror.
American interests and American principles, therefore, lead in the same
direction: we will work with others for an African continent that lives in
liberty, peace, and growing prosperity.
Together
with our European allies, we must help strengthen Africa’s fragile states, help
build indigenous capability to secure porous borders, and help build up the law
enforcement and intelligence infrastructure to deny havens for terrorists.
An
ever more lethal environment exists in Africa as local civil wars spread beyond
borders to create regional war zones. Forming coalitions of the willing and
cooperative security arrangements are key to confronting these emerging
transnational threats.
Africa’s
great size and diversity requires a security strategy that focuses on bilateral
engagement and builds coalitions of the willing.
This
Administration will focus on three interlocking strategies for the region:
countries
with major impact on their neighborhood such as South Africa, Nigeria, Kenya,
and Ethiopia are anchors for regional engagement and require focused attention;
coordination
with European allies and international institutions is essential for
constructive conflict mediation and successful peace operations; and
Africa’s
capable reforming states and sub-regional organizations must be strengthened as
the primary means to address transnational threats on a sustained basis.
Ultimately
the path of political and economic freedom presents the surest route to
progress in sub-Saharan Africa, where most wars are conflicts over material
resources and political access often tragically waged on the basis of ethnic
and religious difference. The transition to the African Union with its stated
commitment to good governance and a common responsibility for democratic
political systems offers opportunities to strengthen democracy on the
continent.”
(…)
“Press
regional initiatives. The United States and other democracies in the
Western Hemisphere have agreed to create the Free Trade Area of the Americas,
targeted for completion in 2005. This year the United States will advocate
market-access negotiations with its partners, targeted on agriculture,
industrial goods, services, investment, and government procurement. We will
also offer more opportunity to the poorest continent, Africa, starting with
full use of the preferences allowed in the African Growth and Opportunity Act,
and leading to free trade.”
(…)
“Promote
the connection between trade and development. Trade policies can help
developing countries strengthen property rights, competition, the rule of law,
investment, the spread of knowledge, open societies, the efficient allocation of
resources, and regional integration—all leading to growth, opportunity, and
confidence in developing countries. The United States is implementing The
Africa Growth and Opportunity Act to provide market-access for nearly all goods
produced in the 35 countries of sub- Saharan Africa. We will make more use of
this act and its equivalent for the Caribbean Basin and continue to work with
multilateral and regional institutions to help poorer countries take advantage
of these opportunities. Beyond market access, the most important area where
trade intersects with poverty is in public health. We will ensure that the WTO
intellectual property rules are flexible enough to allow developing nations to
gain access to critical medicines for extraordinary dangers like HIV/AIDS,
tuberculosis, and malaria.”
(…)
Enhance
energy security. We will strengthen our own energy security and the shared
prosperity of the global economy by working with our allies, trading partners,
and energy producers to expand the sources and types of global energy supplied,
especially in the Western Hemisphere, Africa, Central Asia, and the Caspian
region. We will also continue to work with our partners to develop cleaner and
more energy efficient technologies.”
A
administração republicana de George W. Bush lançava assim sincronizadamente os
dados em relação ao Médio Oriente, “combatendo o terrorismo” no
Iraque e no Afeganistão, enquanto em relação a África, procurava diluir, numa
primeira fase, as situações de conflito e guerra, a fim de instaurar uma “pax
americana” favorável aos interesses das multinacionais anglo-saxónicas e
francófonas.
É
evidente que a carga de ambiguidade, de manipulação e de ingerência estava
intrínseca ao pacote de novas medidas e Angola, com seu “offshore” carregado
de pré-sal e acesso ao Golfo da Guiné, era uma das peças mais atraentes para a
administração republicana de George W. Bush.
Entre
as regiões privilegiadas nessas intenções dominantes, estavam para além do
Golfo da Guiné, os Grandes Lagos, próximo do centro geográfico do continente e
região matriz das águas interiores (Lagos Vitória, Tanganika e Malawi, assim
como nascentes do Congo, do Nilo e do Zambeze) pelo que um Comando África do
Pentágono vinha “necessariamente” a caminho.
Imagens:
-
Foto 1 – Mapa de África relativo aos campos exploradores de petróleo e gás;
-
Foto 2 – Painel-síntese sobre “a importância de África”, na perspectiva
das elites que constituem o poderoso “lobby” do petróleo e do
armamento;
-
Foto 3 – Os clãs Bush e Saud, duas peças fundamentais no jogo geo estratégico
das multinacionais anglo-saxónicas e francófonas do petróleo e do gás, que no
início do século XXI
confluíam numa ampla ofensiva no Médio Oriente e em África.
A
consultar:
-
Dame Margaret Anstee biography – http://www.una.org.uk/content/dame-margaret-anstee-biography
- United
Nations Angola Verification Mission II – http://www.batalhaosuez.com.br/ForcasDePazAngolaUnavemII.htm
- 'ÓRFÃO
DA GUERRA FRIA', de Margaret Anstee (Lisboa 1997) - Muito Raro – http://livrosultramarguerracolonial.blogspot.com/2012/10/angola-orfao-da-guerra-fria-de-margaret.html
-
África: o banquete dos abutres – http://www.afropress.com/post.asp?id=18208
-
Angola, adeus às armas adiado – http://www.ipri.pt/publicacoes/working_paper/working_paper.php?idp=310
-
Doutrina Bush: a face monstruosa do fascismo – http://www.anovademocracia.com.br/no-4/1336-doutrina-bush-a-face-monstruosa-do-fascismo
-
George W. Bush – https://en.wikipedia.org/wiki/George_W._Bush
- House
of Bush, House of Saud: The Secret Relationship Between The World’s Two Most
Powerful Dynasties –http://www.democracynow.org/2004/3/18/house_of_bush_house_of_saud
- A
family affair: The House of Bush maintains its dynasty with Middle East
connections – http://www.illuminati-news.com/house-of-bush.htm
- Oil
dynasties – http://www.socialismtoday.org/84/dynasties.html
-
Carlyle Group – http://en.wikipedia.org/wiki/Carlyle_Group
-
New World Order definition – http://www.threeworldwars.com/new-world-order.htm
- Morrem
três jornalistas que investigavam a participação dos EUA no 11 de setembro – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/02/morrem-tres-jornalistas-que.html
- PUTIN
IRÁ DIVULGAR PROVAS DO ENVOLVIMENTO DOS EUA NO 11 DE SETEMBRO – http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/02/putin-ira-divulgar-provas-do.html
- 911 cover up could collapse as
Saudi Arabia restored to victims’ lawsuit, says Bob Graham –http://www.browardbulldog.org/2013/12/911-cover-up-could-collapse-as-saudi-arabia-restored-to-victims-lawsuit-says-bob-graham/
- O
tabu do 11 de Setembro à beira do abismo – http://resistir.info/11set/tabou_en_perdition_p.html
- The
Unanswered Questions of 9/11 – http://www.globalresearch.ca/political-leaders-for-911-truth
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