Não
basta a Cavaco falar com o líder do seu partido, acusa Costa. Que recusa bloco
central
Mandatado
para ouvir todos, socialista diz que bloco central é "pouco
saudável". Liberdade de voto nas presidenciais evita "fraturas"
no PS.
Desenganem-se
aqueles que acham que António Costa está muito disponível para facilitar a vida
à coligação de direita - e responder de forma positiva ao apelo de Cavaco
Silva, a quem aliás criticou a declaração "bastante atípica" ao país,
na noite de ontem, porque ao Presidente da República não basta falar "com
o líder do seu partido" se quer promover o diálogo entre os partidos.
O
secretário-geral do PS quer ouvir o que a coligação lhe tem para propor. Mas
sempre foi adiantando que um "bloco central" é "pouco
saudável" porque "diminui a possibilidade de geração de
alternativas" e o mandato que os eleitores deram aos socialistas é o da
recusa da austeridade. O "ónus" de arranjar soluções viáveis de
governação está nas mãos de Passos Coelho, atirou Costa, à saída da reunião da
Comissão Política socialista, que terminou pelas 2.00 da manhã desta
quarta-feira.
"O
mandato que temos é para falar com o conjunto das forças políticas. Neste
quadro parlamentar que é novo e que exige de todos um grande sentido de
responsabilidade para o país, vamos avaliar e tentar encontrar boas soluções
programáticas para o país", explicou o secretário-geral do PS. Que abriu
depois a porta a bloquistas e comunistas: "Consta das deliberações do
congresso do PS que o PS não reconhece esse conceito de 'arco da governação'
como delimitando negativamente quem são as forças políticas que podem participar
em soluções governativas."
Se
o PS mostra disponibilidade em ouvir todos, sempre vai pedindo que BE e PCP
clarifiquem o que querem "sobre a existência de condições para a formação
de um novo governo com suporte parlamentar maioritário", como se escreve
no comunicado final da reunião, lido por Ana Catarina Mendes.
A
declaração "bastante atípica" de Cavaco. Reagindo por fim à
declaração ao país do Presidente da República, António Costa não foi meigo na
avaliação das palavras de Cavaco Silva. "O Presidente da República, se
quer ser um promotor de diálogo, não deve considerar que é suficiente falar com
o líder do seu partido. Portanto, não é essa a função do Presidente da
República. Acho que não seria construtivo comentar muito mais aquilo que não
requer muitos comentários por ser de tal forma evidente", acrescentou. Mas
antes comentou, notando que a intervenção "é em si bastante atípica".
"Aquilo
que resulta da Constituição é que o Presidente da República, na sequência do
ato eleitoral, deve promover a audição das diferentes forças políticas. Bem sei
que não houve um ato de indigitação [de Passos Coelho como primeiro-ministro],
mas um convite para que procedesse a avaliações", apontou. Mas logo
esclareceu que se está "perante figuras novas, relativamente atípicas"
que em nada conduzem "propriamente à construção de boas soluções de
estabilidade governativa, nem de diálogo entre as diferentes forças
partidárias".
Evitar
"fraturas" com presidenciais. António Costa defendeu ainda que a
opção encontrada na reunião - a de dar liberdade de voto na primeira volta das
eleições presidenciais - é a "forma mais saudável de cada um poder apoiar
o candidato da sua preferência sem fraturas no partido". Com dois
candidatos da área do partido, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, esta é também
uma maneira de evitar distrair os socialistas "de um momento muito
exigente" que é "todo este processo de formação do governo,
instalação de nova legislatura, criação de condições de governabilidade".
"O
apelo que fazemos é que todos os socialistas apoiem, entre os dois candidatos
da nossa área, aquele que preferem, e participem ativamente na campanha
eleitoral e contribuam para que possam ter um bom resultado na primeira
volta", afirmou, dizendo que ele é o único sem a vida facilitada com esta opção.
Como líder do PS reserva-se no direito de não manifestar apoio público a nenhum
dos dois candidatos na primeira volta.
Miguel
Marujo – Diário de Notícias – Na foto: António Costa pede ao BE e PCP que
clarifiquem posições - REUTERS/Rafael Marchante - Título PG
Sem comentários:
Enviar um comentário