Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
É
a pergunta do momento: como é possível? Depois de tanto desemprego, tanta
emigração, tantos impostos pagos e a pagar, tantos cortes salariais e de
pensões, como é possível? A pergunta atormenta uns, intriga outros, e
surpreende os restantes. Como é possível a coligação PSD/CDS aparecer nas
sondagens a aproximar-se dos 40%? Para além das explicações sobre a evolução da
situação económica e social - depois de bater no fundo, só se pode melhorar -,
talvez valha a pena espreitar o passado recente de resultados eleitorais.
Salta
à vista que, desde 1999 (mais para trás é matéria para historiadores), a soma
de resultados do PSD e do CDS só por uma vez foi inferior aos 40%. Foi depois
da fuga de Durão Barroso para a Europa e da esquizofrenia
político-institucional que se seguiu, com Santana Lopes. Para quem já não se
recorde do ambiente de colapso, foi o equivalente ao que se passou no verão de
2013, já com este Governo: a saída de Vítor Gaspar, a demissão
"irrevogável" de Portas, a oferta de Cavaco ao PS de Seguro de
antecipar eleições em troca do apoio ao Governo até à saída da troika. Ainda
assim, PSD e CDS, concorrendo separados, somaram 36% nas legislativas de 2005,
escassos três pontos a menos do que agora lhes é atribuído.
O
que este exercício demonstra é que há (até ver) um patamar mínimo de que o
centro-direita não desce. A surpresa é que, mesmo no patamar mínimo, possa
vencer. Mas para isso é preciso perceber o que está acontecer, não só ao PS,
como ao PCP e ao BE. O PS, é bom lembrar, parte do pior resultado deste século:
28% em 2011. E com o lastro que a percentagem representa: era o partido que no
Poder quando a crise chegou; quando começou um ciclo de austeridade,
desemprego, emigração e depressão económica; era o partido responsável pela
governação de um país em bancarrota. A memória dos eleitores é curta, mas nem
tanto. E será isso que explica, em parte, que ande por estes dias a rondar os
32% nas sondagens, muito abaixo do patamar mínimo de 36,5% (com Sócrates, em
2009) que conseguiu em qualquer das eleições desde 1999 (e com a exceção de
2011).
A
outra parte da explicação para o resultado (nas sondagens) do PS prende-se com
o que se passa à sua Esquerda, com um revigorado PCP e um renascido BE.
Somados, aparecem nas sondagens com valores que podem chegar, no limite, aos
19%, algo nunca testemunhado neste século. Resumindo, Costa não só não
conquista eleitores ao centro, como perde eleitores à esquerda. A confirmar-se,
é sinal de incompetência política. É certo que tem dois dias para provar o
contrário. Mas é capaz de ser curto.
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