quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Portugal. COMO É POSSÍVEL?



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

É a pergunta do momento: como é possível? Depois de tanto desemprego, tanta emigração, tantos impostos pagos e a pagar, tantos cortes salariais e de pensões, como é possível? A pergunta atormenta uns, intriga outros, e surpreende os restantes. Como é possível a coligação PSD/CDS aparecer nas sondagens a aproximar-se dos 40%? Para além das explicações sobre a evolução da situação económica e social - depois de bater no fundo, só se pode melhorar -, talvez valha a pena espreitar o passado recente de resultados eleitorais.

Salta à vista que, desde 1999 (mais para trás é matéria para historiadores), a soma de resultados do PSD e do CDS só por uma vez foi inferior aos 40%. Foi depois da fuga de Durão Barroso para a Europa e da esquizofrenia político-institucional que se seguiu, com Santana Lopes. Para quem já não se recorde do ambiente de colapso, foi o equivalente ao que se passou no verão de 2013, já com este Governo: a saída de Vítor Gaspar, a demissão "irrevogável" de Portas, a oferta de Cavaco ao PS de Seguro de antecipar eleições em troca do apoio ao Governo até à saída da troika. Ainda assim, PSD e CDS, concorrendo separados, somaram 36% nas legislativas de 2005, escassos três pontos a menos do que agora lhes é atribuído.

O que este exercício demonstra é que há (até ver) um patamar mínimo de que o centro-direita não desce. A surpresa é que, mesmo no patamar mínimo, possa vencer. Mas para isso é preciso perceber o que está acontecer, não só ao PS, como ao PCP e ao BE. O PS, é bom lembrar, parte do pior resultado deste século: 28% em 2011. E com o lastro que a percentagem representa: era o partido que no Poder quando a crise chegou; quando começou um ciclo de austeridade, desemprego, emigração e depressão económica; era o partido responsável pela governação de um país em bancarrota. A memória dos eleitores é curta, mas nem tanto. E será isso que explica, em parte, que ande por estes dias a rondar os 32% nas sondagens, muito abaixo do patamar mínimo de 36,5% (com Sócrates, em 2009) que conseguiu em qualquer das eleições desde 1999 (e com a exceção de 2011).

A outra parte da explicação para o resultado (nas sondagens) do PS prende-se com o que se passa à sua Esquerda, com um revigorado PCP e um renascido BE. Somados, aparecem nas sondagens com valores que podem chegar, no limite, aos 19%, algo nunca testemunhado neste século. Resumindo, Costa não só não conquista eleitores ao centro, como perde eleitores à esquerda. A confirmar-se, é sinal de incompetência política. É certo que tem dois dias para provar o contrário. Mas é capaz de ser curto.

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