segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Portugal. KO TÉCNICO



Hugo Neutel – Dinheiro Vivo, opinião

Não foi a coligação que venceu as eleições. Foi o PS que, de uma forma absurda, inábil e incompetente, as perdeu. E agora, António Costa?

Foi uma derrota épica para o PS. Não nos números - fracos mas não ofensivamente fracos - mas nas circunstâncias. Depois de uma legislatura de austeridade, carimbada pela troika, o PS só podia ganhar, e por uma margem folgada. Teve, em vez disso, uma derrota humilhante, e os historiadores do futuro hão-de explicar como isto pode acontecer. Por enquanto só temos a história do presente, feita de notícias. E ela mostra-nos vários fatores que ajudam a entender a derrota socialista no ringue do combate eleitoral.

Alguns, como o caso dos cartazes, são menores e apenas fizeram arranhões; outros, como a dificuldade de António Costa em explicar o corte de mil milhões na Segurança Social, são ganchos que magoaram os socialistas mas não derrubaram; o golpe fatal foi a incapacidade do PS em centrar o debate político em torno da avaliação do governo. Pelo contrário, a discussão pública focou-se em discutir o programa do PS. E o PS nunca foi capaz de virar o bico a este prego.

E não é como se não tivessem existido avisos, que começaram há meses, quando Costa apresentou o cenário macro-económico. Os sinais foram todos dados. Nos jornais, nas rádios, nas televisões, a mensagem não podia ter sido mais clara. Todos vimos o Titanic e o iceberg. Todos vimos a rota de colisão. Todos adivinhámos o desastre. Os avisos foram dados, os alarmes soaram, mas o Titanic não se desviou. Sabemos como terminaram essas histórias. A do barco e a do PS nestas eleições.

Ao construir um programa com medidas concretas, suportadas em números detalhados, o PS sabia que se iria sujeitar a fogo cerrado. Mas talvez não tenha contado com a estratégia da coligação, que pode adaptar os seus planos em função dos apresentados pelo Largo do Rato. Talvez o PS estivesse preparado para comparar as suas propostas com as da coligação; mas não estava preparado para não haver termo de comparação. E foi isso que virou a campanha do avesso: o país passou os últimos meses a analisar as propostas do PS, enquanto a coligação fazia de morta.

Foi nesse aquecimento para o combate da campanha que o boxeur socialista, à vista de todos, se cansou. A coligação, por outro lado, entrou no ringue fresca, com energia, animada por dados macroeconómicos favoráveis e pela ausência de escrutínio detalhado sobre o seu próprio programa. Nem precisou de jogar ao ataque. Bastou a Passos e Portas terem jogo de pernas e cintura. A vitória do PSD/CDS não aconteceu por falta de comparência, mas quase. Foi um KO técnico. O PS cansou-se tanto que quase não deu luta. Será capaz de reeguer-se com Costa?

Sem comentários:

Mais lidas da semana