Hugo
Neutel – Dinheiro Vivo, opinião
Não
foi a coligação que venceu as eleições. Foi o PS que, de uma forma absurda,
inábil e incompetente, as perdeu. E agora, António Costa?
Foi
uma derrota épica para o PS. Não nos números - fracos mas não ofensivamente
fracos - mas nas circunstâncias. Depois de uma legislatura de austeridade,
carimbada pela troika, o PS só podia ganhar, e por uma margem folgada. Teve, em
vez disso, uma derrota humilhante, e os historiadores do futuro hão-de explicar
como isto pode acontecer. Por enquanto só temos a história do presente, feita
de notícias. E ela mostra-nos vários fatores que ajudam a entender a derrota
socialista no ringue do combate eleitoral.
Alguns,
como o caso dos cartazes, são menores e apenas fizeram arranhões; outros, como
a dificuldade de António Costa em explicar o corte de mil milhões na Segurança
Social, são ganchos que magoaram os socialistas mas não derrubaram; o golpe
fatal foi a incapacidade do PS em centrar o debate político em torno da
avaliação do governo. Pelo contrário, a discussão pública focou-se em discutir
o programa do PS. E o PS nunca foi capaz de virar o bico a este prego.
E
não é como se não tivessem existido avisos, que começaram há meses, quando
Costa apresentou o cenário macro-económico. Os sinais foram todos dados. Nos
jornais, nas rádios, nas televisões, a mensagem não podia ter sido mais clara.
Todos vimos o Titanic e o iceberg. Todos vimos a rota de colisão. Todos
adivinhámos o desastre. Os avisos foram dados, os alarmes soaram, mas o Titanic
não se desviou. Sabemos como terminaram essas histórias. A do barco e a do PS
nestas eleições.
Ao
construir um programa com medidas concretas, suportadas em números detalhados,
o PS sabia que se iria sujeitar a fogo cerrado. Mas talvez não tenha contado
com a estratégia da coligação, que pode adaptar os seus planos em função dos
apresentados pelo Largo do Rato. Talvez o PS estivesse preparado para comparar
as suas propostas com as da coligação; mas não estava preparado para não haver
termo de comparação. E foi isso que virou a campanha do avesso: o país passou
os últimos meses a analisar as propostas do PS, enquanto a coligação fazia de
morta.
Foi
nesse aquecimento para o combate da campanha que o boxeur socialista, à vista
de todos, se cansou. A coligação, por outro lado, entrou no ringue fresca, com
energia, animada por dados macroeconómicos favoráveis e pela ausência de
escrutínio detalhado sobre o seu próprio programa. Nem precisou de jogar ao
ataque. Bastou a Passos e Portas terem jogo de pernas e cintura. A vitória do
PSD/CDS não aconteceu por falta de comparência, mas quase. Foi um KO técnico. O
PS cansou-se tanto que quase não deu luta. Será capaz de reeguer-se com Costa?
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