Cristina
Martins – Téla Nón, opinião
A
injustiça reina neste país. O clientelismo, o nepotismo e a camaradagem são os
maiores vectores da corrupção neste solo sagrado que muitos fazem questão de
profanar. Não se respeita a competência, não se valoriza a qualidade, apenas o
favoritismo é lei. Não há igualdade de oportunidades, é tudo uma ficção, uma
mentira. E todos nós já temos consciência disto.
Há
tratos entre amigos, familiares e militantes políticos. E tudo se passa nos
bastidores, mas há muito que o público já se deu conta de que tudo não passa de
uma fantochada. Que a mudança do governo, apesar da maioria absoluta, em nada
significa mudança de atitudes, melhoria das condições de vida ou mais
oportunidades para os jovens.
Todos
os anos a função pública emprega, a maioria das vezes via concursos públicos.
Muitos jovens concorrem, sobretudo os recém-formados em busca do primeiro
emprego.
Mas,
mal propõem as suas candidaturas, muitos destes jovens são aconselhados a nem
tentarem porque as vagas a serem preenchidas na realidade já estão preenchidas
e que tudo não passa de formalidades. Favoriza-se quem faz parte do sistema ou
quem tenha quem faz parte do sistema, ou seja, quem se sabe que é da família partidária que está no poder.
Há
testemunhas de pessoas a quem perguntaram, nas entrevistas de emprego, se são
do ADI, se têm como o provar, ou são aconselhados a fazerem o cartão de adesão
do partido.
Não
falo para denegrir a imagem do partido em questão (não tenho partido e nunca
votei para nenhum), falo baseando-me em testemunhos dados pelas pessoas que se
viram directamente confrontadas com tais questões. Não se tratando de postos
políticos, mas técnicos, não se admite que questões politico-partidárias
intervenham na hora de empregar técnicos para a função pública.
Os
postos técnicos são, infelizmente, alvos de promessas de campanha, quem
trabalhou na campanha e ajudou o partido a ganhar não pode ficar na mão, merece
ser enquadrado, ainda que as suas qualidades técnico-profissionais sejam
duvidosas: a pessoa é um militante do partido, ela é da casa, é nossa gente,
ela dá vida pelo partido, trabalha connosco, trabalhou muito no terreno, ela
merece.
É
isto a meritocracia neste país? Já brincam com os postos políticos, colocando à
frente das direcções pessoas cujos cargos parecem-lhes ser maiores do que
aquilo a que estão capacitadas para fazer, querem ainda colocar em risco os
postos técnicos? Deus nos acuda!
No
dia 15 do mês em curso realizou-se no Centro Cultural Português um workshop organizado
pelo Banco Mundial, em parceria com o Ministério do Emprego e dos Assuntos
Sociais em que se apresentou a nova política de protecção social às ONG’s.
Nesta actividade foram também abordados os problemas que este Ministério
encontra na aplicação desta nova política. E um dos problemas era que certos
funcionários têm dificuldades em serem eficazes nos serviços por não terem a
formação adequada na área em que intervêm. Pergunto-me: como estes técnicos
foram lá parar? Por que meios milagrosos estas pessoas foram enquadradas nos
postos técnicos para os quais não têm qualificações académicas e técnicas para
o efeito? Ainda bem que não lhes é possível fazer o mesmo com o sector da
saúde. Já imaginaram um motorista de ambulância que, com a subida do seu partido
ao poder, teria sido promovido a técnico de saúde? É mais do que caricato, é
absurdo e grotesco, mas se não colocarmos freio a tudo isso, não andamos lá
muito longe.
E
já agora que o Ministério do Emprego e dos Assuntos Sociais foi aqui mencionado,
quero aproveitar para dizer que este Ministério lançou no dia 5 do mês em curso
um concurso público disponibilizando 34 vagas atribuídas a diversos sectores
deste Ministério. Mas, segundo consta, inclusive funcionários internos dizem-no
em voz alta e bom som (falo com conhecimento de causa) que não vale a pena
concorrer, que quem concorrer só vai gastar tempo e dinheiro. As 34 vagas já
estariam quase todas elas ocupadas, restando apenas duas ou três. Como é
possivel? Alguns dizem que se deve ao facto de muitos funcionários ainda não
estarem efectivos. Algumas pessoas, por conivência ou conveniência, estão
enquadradas na função pública mas não estão regularizadas, e aproveita-se estes
concursos públicos para regularizar a situação destas pessoas. Neste caso, que
se lance concursos internos e não públicos. E não andem aqui a enganar cada um.
Não
quero dizer que este problema é específico a este governo ou a este país,
acredito que as coisas vêm sendo assim desde os primórdios da independência e
que é comum a muitos países.
Mas
não é o facto de nos estarmos habituados à coisa que ela passa a ser normal ou
aceitável. Exijo dos nossos dirigentes mais justiça e transparência nas suas
acções e nas acções das instituições que dirigem. Deixem os jovens trabalhar,
dando-lhes trabalho em função das suas respectivas qualificações.
Não
vale a pena enviar os jovens para a formação se for para impor-lhes condições
absurdas (como pertencer ao partido ADI) ou expor-lhes a situações
ridiculamente desesperadoras (como ir em busca de QI – Quem Indique). Sabe-se
que pouco a pouco a justiça acaba sendo uma ficção neste país, mas que se use o
pouco do bom senso que ainda resta para se ser justo para com os filhos desta
nação.
Tendo
em conta que há muito vêem profanando o solo sagrado de Alda do
Espírito Santo com mentiras e corrupção, que não deixem que a dolorosa raiz do Micondó de São Lima acabe finalmente por morrer de dores.
Salvem-nos! Dêem-nos esperança! Dêem-nos verdadeiras oportunidades de emprego,
não concursos públicos de fantochada! Deixem-nos trabalhar!
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