O
antigo primeiro-ministro de Moçambique Mário Machungo admitiu hoje que o
agravamento de preços pode criar tensão social no país, defendendo uma maior
colaboração entre a banca e o Banco de Moçambique "para a estabilização da
moeda".
Em
declarações à Lusa, no Porto, à margem da conferência "África, caminhos do
futuro", promovida pela Fundação Portugal África, Mário Machungo
considerou o agravamento de preços preocupante, o que "pode criar tensão
social".
"Preocupa-me
o metical. Desvalorizou-se tremendamente nos últimos tempos e essa é uma
situação preocupante para toda a sociedade moçambicana", sustentou.
Na
opinião do ex-presidente do Millenium bim, o maior banco moçambicano, a banca
pode contribuir para ultrapassar o choque externo que a economia está a sofrer
"adotando as políticas monetárias preconizadas pelo Banco Central [de
Moçambique]".
A
banca deve "colaborar com o Banco Central para a estabilização da
moeda", sublinhou.
Machungo
disse ainda que a banca "tem que estar preparada para implementar as
medidas preconizadas" que visam reduzir a aceleração do crédito para
aliviar as importações e a pressão sobre o metical, contudo, defendeu que
"o crédito não pode ser parado de uma forma brusca".
"As
economias, empresas, precisam de crédito para sustentar o emprego e o trabalho.
A banca não deve ser pressionada a fazê-lo num dia, deve ter um prazo para
isso", disse.
Questionado
se concorda com as medidas de austeridade sugeridas pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) e já em prática pelo governo moçambicano, Machungo adiantou
"conhecer mal" as propostas do instituição financeira, mas referiu
aceitar medidas que "resolvem problemas de má aplicação de fundos, de
utilização incorreta, que não promovem o desenvolvimento" do país.
O
FMI considerou na quarta-feira inevitável a aplicação de ajustamentos e
reformas estruturais para controlar as ameaças que se colocam à economia de
Moçambique, acreditando porém que a situação é transitória.
"Há
necessidade de ajustamentos inevitáveis para estabilizar a situação
macroeconómica", disse o representante do FMI em Moçambique, Alex Segura,
durante a apresentação em Maputo de um relatório da instituição financeira
sobre perspetivas económicas para a África Subsaariana, intitulado "Lidando
com nuvens negras".
Segundo
aquele representante, para lidar com "o choque externo" que se coloca
à região e também a Moçambique - provocado pela abrandamento das economias
emergentes, normalização da política monetária norte-americana, descida da
cotação das matérias-primas e alteração do modelo de desenvolvimento da China
-, são precisos no país ajustamentos fiscais e desaceleração do crédito,
"que experimentou uma expansão excessiva, financiando substancialmente o
consumo e setores de baixo emprego".
Para
Moçambique conter o impacto do choque externo, o FMI defende inflação moderada,
divida sustentável e níveis de depreciação do metical estabilizados.
Moçambique
e FMI negociaram em outubro um financiamento de 286 milhões de dólares (263
milhões de euros), num momento em que o país africano enfrenta uma forte
desvalorização do metical, diminuição das divisas, aumento da inflação, redução
do investimento estrangeiro e da ajuda externa e subida do endividamento.
JAP
(HB) // EL - Lusa
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