O
poeta cabo-verdiano José Luís Tavares considerou hoje que Lisboa é uma cidade
"nem negra nem branca, mas mestiça", com as suas próprias
"melancolias" e "rudezas", a propósito do livro
"Lisbon Blues", recentemente publicado em Portugal.
A
obra, a sétima poética, foi editada pela primeira vez em 2008, apenas no
Brasil, tendo ganhado vários prémios internacionais, foi publicada este mês em
Portugal pela Assírio & Alvim, e retrata o olhar de José Luís Tavares sobre
a cidade que o acolhe desde 1988, ano em que chegou a Lisboa oriundo do
Tarrafal de Santiago.
"O
livro não é triste nem melancólico. O «blues», aqui, é uma cadência muito
própria, tirar a melancolia do Fado. É essa a minha visão de Lisboa",
explicou o autor, de 48 anos.
"Quando
cheguei, em 1988, olhei para a cidade e reparei que tinha um certo ritmo, uma
certa cadência que não era o Fado mas sim o «blues», com uma cadência, ainda
que com uma certa melancolia, mas mais agreste, mais rude", acrescentou.
A
"rudeza", sublinhou, advém de uma "dura realidade" que
encontrou na cidade, sobretudo depois da tragédia que vitimou um seu amigo
cabo-verdiano, assassinado no dia dos seus anos (10 de junho), o que acabou
por, disse, desencadear a escrita da obra.
"Lisboa
é uma cidade acolhedora, amável, mas, como tudo no mundo, também tem o seu
contrário, o seu revés. Mas tem uma grande tradição de cultura negra, embora
ela não seja imediatamente visível", realçou José Luís Tavares.
Lembrando
que a capital portuguesa acolhe comunidades negras desde a época das
Descobertas (séculos XV e XVI) - "até havia confrarias de Homem Negro, com
um Santo Negro" -, o autor considera também Lisboa "uma das grandes
metrópoles africanas" no mundo.
"Isto
tudo não quer dizer que Lisboa seja uma cidade negra, mas também não é uma
cidade branca. É uma cidade mestiça. É uma das grandes metrópoles africanas no
mundo", argumentou.
José
Luís Tavares já publicou "Paraíso Apagado por um Trovão" (Lisboa,
2003) e "Agreste Matéria Mundo"(2006), que recebeu nesse ano o Prémio
Jorge Barbosa da Associação de Escritores Cabo-verdianos.
O
autor publicou também "Cabotagem & Ressaca" (Maputo, 2008),
"Lisbon Blues" (São Paulo, 2008) e "Desarmonia" (São Paulo,
2008), com os quais foi semifinalista do Prémio Portugal Telecom/Brasil, bem
como "Cidade do Mais Antigo Nome", dado à estampa em 2009 em Lisboa e
sobre a "Cidade Velha" (primeira capital de Cabo Verde, 12
quilómetros a oeste da Praia).
Em
dezembro de 2014 publicou "Coração de Lava", sobre a ilha
cabo-verdiana do Fogo.
José
Luís Tavares já recebeu os prémios Cesário Verde (1999), Mário António da
Fundação Calouste Gulbenkian (2004), foi também finalista do Prémio Correntes
d'Escritas (2005).
JSD
// VM - Lusa
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