domingo, 1 de novembro de 2015

O LABORATÓRIO AFRICOM – IX




No seguimento da implementação da “doutrina Bush”, o “lobby” do armamento, do petróleo e do gás, em relação a África prodigalizou esforços no sentido de:

- Reforçar sua influência e poder de decisão;

- Aglutinar conhecimentos e vontades integrando os principais interesses e interessados numa nova política tendo na medula as questões energéticas;

- Garantir a prossecução dessa política a médio-longo prazos, criando os instrumentos para tal.

O “think tank” que se evidenciou desde logo foi o israelo-norte-americano “IASPS”, “Institute for Advanced Strategic and Political Studies”, ligado à projecção “PNAC”, “Project for the New American Century”.

Esse Instituto com sede dupla em Jerusalém e Washington DC, era uma instituição conservadora ligada ao Likud, atenta aos problemas da exploração do petróleo no Médio Oriente, assim como aos problemas da água, uma instituição portanto com capacidade para abordar a criação duma geo estratégia para com África, por parte da administração republicana de George W. Bush, que levasse em conta a íntima correlação entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental e as culturas humanas do continente.

Essa “filtragem” foi feita ao serviço dos interesses da aristocracia financeira mundial em relação a África e o seu apogeu foi precisamente o “serviço AOPIG”… de então para cá o “IASPS” só perdurou mais três anos nos Estados Unidos: produziu o “AOPIG” e eclipsou-se Estados Unidos!

Os “falcões” do Pentágono e dos republicanos, tiveram relações preferenciais com esse quadro, entre eles Richard Perle e John Bolton.

“The Institute for Advanced Strategic and Political Studies (IASPS) is a Jerusalem-based think tank that was founded in 1984 by Robert J. Loewenberg, a U.S. citizen and former professor at Arizona State University. At one time considered to be a mildly influential think tank closely tied to Israel's right-wing Likud Party as well as many U.S. neoconservatives, IASPS has appeared to be largely defunct in recent years.

Until 2005, IASPS also had an official address in the United States and filed tax forms with the IRS. However, since then, it has apparently not filed any U.S. tax forms.”

Entre os seus membros contava com Barry Schutz e Paul Michael Wihbey, “CoChairs”, Robret E. Heiler, “Secretário-Geral”, Courtney AlexanderMalik ChakaEmmanuel EgbogahAlyssa Jorgenson e o Tenente Coronel Karen Kwiatkowski, todos eles especialistas em assuntos de petróleo, gás, água e militares.

A 25 de Janeiro de 2002 esse “think tank” tomou parte num Simpósio que mobilizou entidades republicanas, representantes das multinacionais de petróleo e alguns membros do próprio executivo, entre eles, William Jefferson, representante pelo Louisiana, Walter Kansteiner,Secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos, Barry Schutz, um especialista em assuntos africanos da administração Bush e o Tenente Coronel Karen Kwiatkowski, um oficial da Força Aérea, assessor do Secretário da Defesa.

Estiveram presentes os seguintes Embaixadores e Representantes africanos:  “Ambassador Aminu from Nigeria.Two representatives from the Embassy of Angola. Ambassador Jazairy from Algeria is here. Ambassador Mombouli from the Congo Brazzaville. Ambassador Iipumbu from Namibia. Political Couselor Tsegah from Ghana. Ambassador Mendouga from Cameroon. Ambassador Biogo Nsue, from the promising oil-producing country of Equatorial Guinea. And Mr. Daniel Ngwebe, from the South African Embassy”.

A presença angolana revela a atracção da iniciativa para com Angola o que atesta que o governo angolano esteve a par das primeiras iniciativas que estiveram na base da criação do AFRICOM.

O Embaixador britânico John Flynn, ao serviço da Chevron Texaco, um “expert” em relação a Angola, foi um dos intervenientes; de recordar que John Flynn chegou a ser “o homem” da ligação entre o Departamento de Estado e o governo angolano, antes dos Estados Unidos terem reconhecido Angola.

Das intervenções, destaco a do professor Terry Karl, versado em ciências políticas na Universidade Stanford, que ousou balancear o petróleo como um factor de desenvolvimento, (um factor de paz), ou um “excremento do diabo”, (um factor de Guerra); eis alguns excertos dessa intervenção:

“A long time ago when I was looking for a dissertation topic, I went down to Venezuela to interview the founder of OPEC, a man named Juan Pablo Perez Alfonzo, and I asked him some questions about the founding of OPEC, which some of the Texans in the room might be interested to know came modeled after the Texas Railroad Commission.

And he said to me, Teresita, you know, you're such a bright young person. Why are you studying OPEC?

Why don't you see what oil is doing to us, the oil exporters?

And I said, What do you mean?

And he said, Oil is the excrement of the devil."

(…) 
“What matters is the social and political and economic institutions in which oil is inserted.

Oil can be a force for development or it can be a major impetus for war.

It can be either.

The issue is how to make sure that oil is a force for development rather than the excrement of the devil.

What is likely to happen if African countries or any other developing country exploits oil in the context of very, very weak political and economic institutions?

What is likely to happen without intervention of some sort is that oil will exacerbate profound political and economic crises facing Africa, Latin America, and the Middle East.

It will lead to a reduction of the welfare of people in oil exporting countries. It will provoke violence and unrest. It will lead to the violation of rights. It will lead to the destruction of the environment. It will buffer authoritarian rule. That's what will happen, again, if it is inserted in weak political and economic and social institutions without interventions to see that something to the contrary occurs.

I'm not just making an idle prediction. I'm basing this on the experience of a number of oil exporters and on the evidence of a number of us who have been studying these exporters for a long time.”

(…) 
“Let me add one more thing. In another new Harvard study there is very powerful statistical evidence linking oil and war. Large data sets looking at civil wars during the period 1965 to 1999, and in a series of statistical tests World Bank economists Collier and Huffler, show that the most powerful risk factor for perpetuating civil war is the export of primary commodities, particularly mineral commodities.

This is not to say that oil causes war, but it does mean that where you have civil wars, oil, diamonds, and other commodities can be very important factors in perpetuating war and leading to an oil/war syndrome.”

(…) 
“There must be non-governmental groups on the ground that monitor at all times what happens to these oil revenues. Otherwise we will see throughout Africa what we’ve already seen in Angola and Sudan: oil as a force for de-development and war.

We should be very much thinking about African oil, but we must think about it in a way that is different from our experiences in the past. And when I say we, I mean an inclusive we, -- governments, our government, governments of oil exporters, but also all of the citizen groups inside oil exporting countries who need to be organized to make sure that these oil revenues become the patrimony of the nation.

I want to end with a statement. In another interview, I asked Sheik Yamani, who at the time was the oil minister, to think about what oil was doing to the Middle East, what oil had done in Latin America, as a way to sum up our interview.

He said, All in all, I wish we'd discovered water."

Esse Simpósio produziu um documento-reitor, "African oil, a priority for US national security and African development" que em síntese referia:  "The document urges Congress and the Bush administration to encourage greater extraction of oil across Africa, and to declare the Gulf of Guinea an area of vital interest to the US."

O tema do Simpósio era por si bastante esclarecedor: “O petróleo de África – uma prioridade para a segurança nacional dos Estados Unidos e para o desenvolvimento africano”.

O Simpósio foi um momento de ampla discussão sobre o tema, a partir duma “lista de recomendações”, um quadro de “estratégias de desenvolvimento” e por fim, de preocupações relativas à “segurança regional” (tendo como principal referência o Golfo da Guiné).

A esse Simpósio seguiu-se outra reunião, em Houston, no Texas, de onde surgiu o “Africa Oil Policy Innitiative Group” (“AOPIG”):

 "In January last year (2002), the IASPS hosted a symposium in Houston, Texas, which was attended by government and oil industry representatives. An influential working group called the African Oil Policy Initiative Group (AOPIG) co-chaired by IASPS researchers Barry Schutz and Paul Michael Wihbey, which has been largely responsible for driving American governmental policy concerning west African oil, emerged from the symposium.

Paul Michael Wihbey, a fellow at IASPS and a principal at the energy consulting firm Global Water & Energy Strategy Team (GWEST), played a leading role in the formation of the AOPIG.

Another known member of the African Oil Policy Initiative Group is George Ayittey, who serves at American University as a visiting associate professor of economics, and is the President and founder of The Free Africa Foundation.”

Com o “AOPIG” criava-se um poderoso “lobby” em suporte da administração republicana de George W.Bush, integrando o “IASPS”, a “USAfrica Energy Association” (formada pelas multinacionais BP, Chevron, Texaco, Marathon, Shell e Anadarko) e alguns executivos da própria administração, que estabeleceram as bases do AFRICOM e levaram, por exemplo, a ANADARKO a investir no Gana (a ANADARKO era uma pequena multinacional pertencente ao clã Bush).

O processo de maturação para a criação do AFRICOM estava lançado, precisamente na mesma altura em que a administração republicana de George W. Bush se esmerava em relação a Angola, de forma a com ela aproveitar o potencial de paz interna e em regiões como o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos.

É evidente que essa paz, seria também a “pax americana” propícia às actividades das multinacionais e por isso a arquitectura do AFRICOM integrou instituições não só de âmbito militar e de inteligência, como também civis.

Em momento algum os intervenientes nas amplas discussões ousaram tocar em temas como as energias renováveis e alternativas, a exploração do xisto para a produção de petróleo, ou a previsível queda de valor do barril de petróleo e isso apesar de muitos deles estarem ligados a multinacionais com investimentos abrangentes que podem disseminar capital nos vários sectores de produção energética.

Por essa omissão, ao se “vender” o produto petróleo como um factor de desenvolvimento, com o fito na criação num dispositivo “de paz e segurança” como o AFRICOM, os dados estão por demais viciados: se não é um “excremento do diabo” por que a guerra poderia ser evitada (de facto com a explosão jihadista financiada pelos aliados dos Estados Unidos, inclusive no continente africano, isso não o está a ser) é um “excremento do diabo” por que os especialistas sempre procuraram esconder quer as alternativas energéticas, quer o resultado da implantação e disseminação dessas alternativas, algo que é um imponderável factor de desequilíbrio, que pesa sore a cabeça dos incautos.

O ataque NATO/AFRICOM à Líbia, na sequência das aventuras norte-americanas e de seus aliados no Médio Oriente, colocou de facto um “ponto final” ao atraente engôdo criado pela administração republicana de George W. Bush em relação a África e a crise energética, provocada pela proliferação de produtores alternativos, conjugada com a queda do valor do barril de petróleo, condicionou ainda mais os africanos, sobretudo a Argélia, a Nigéria e Angola!

De facto, se a opção do “excremento do diabo já se evidenciava em 2002 no Sudão, foi a partrir da Líbia, a partir de 2011, ue o pacote de vulnerabilização dospaíses do sul seria lançar!
  
A consultar:
- With Mid East uncertainty, US turns to Africa for oil – http://www.csmonitor.com/2002/0523/p07s01-woaf.html
- Angola Oil Boom is over – http://www.afrol.com/articles/36179
- A CIA por detrás da rebelião – O ataque euro-americano à Líbia nada tem a ver com 'protecção de civis' –http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
- A CIA por trás da rebelião - http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
- Como a Al Qaeda ganhou o domínio de Tripoli - http://resistir.info/libia/al_qaeda_30ago11.html
- La balcanización de Sudán: Un nuevo diseño para el Oriente Medio y el Magreb – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=120632
- America’s conquest of Africa – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26886

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