Martinho Júnior, Luanda
No
seguimento da implementação da “doutrina Bush”, o “lobby” do
armamento, do petróleo e do gás, em relação a África prodigalizou esforços no
sentido de:
-
Reforçar sua influência e poder de decisão;
-
Aglutinar conhecimentos e vontades integrando os principais interesses e
interessados numa nova política tendo na medula as questões energéticas;
-
Garantir a prossecução dessa política a médio-longo prazos, criando os
instrumentos para tal.
O “think
tank” que se evidenciou desde logo foi o israelo-norte-americano “IASPS”, “Institute
for Advanced Strategic and Political Studies”, ligado à projecção “PNAC”, “Project
for the New American Century”.
Esse
Instituto com sede dupla em Jerusalém e Washington DC, era uma instituição
conservadora ligada ao Likud, atenta aos problemas da exploração do petróleo no
Médio Oriente, assim como aos problemas da água, uma instituição portanto com
capacidade para abordar a criação duma geo estratégia para com África, por
parte da administração republicana de George W. Bush, que levasse em conta a
íntima correlação entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental e
as culturas humanas do continente.
Essa “filtragem” foi
feita ao serviço dos interesses da aristocracia financeira mundial em relação a
África e o seu apogeu foi precisamente o “serviço AOPIG”… de então para cá
o “IASPS” só perdurou mais três anos nos Estados Unidos: produziu o “AOPIG” e
eclipsou-se Estados Unidos!
Os “falcões” do
Pentágono e dos republicanos, tiveram relações preferenciais com esse quadro,
entre eles Richard Perle e John Bolton.
“The
Institute for Advanced Strategic and Political Studies (IASPS) is a
Jerusalem-based think tank that was founded in 1984 by Robert J. Loewenberg, a
U.S. citizen and former professor at Arizona State University. At one time
considered to be a mildly influential think tank closely tied to Israel's
right-wing Likud Party as well as many U.S. neoconservatives, IASPS has
appeared to be largely defunct in recent years.
Until
2005, IASPS also had an official address in the United States and filed tax
forms with the IRS. However, since then, it has apparently not filed any U.S.
tax forms.”
Entre
os seus membros contava com Barry Schutz e Paul Michael Wihbey, “CoChairs”, Robret E. Heiler, “Secretário-Geral”, Courtney
Alexander, Malik Chaka, Emmanuel Egbogah, Alyssa Jorgenson e o Tenente Coronel Karen Kwiatkowski, todos eles especialistas em
assuntos de petróleo, gás, água e militares.
A
25 de Janeiro de 2002 esse “think tank” tomou parte num Simpósio que
mobilizou entidades republicanas, representantes das multinacionais de petróleo
e alguns membros do próprio executivo, entre eles, William Jefferson, representante pelo
Louisiana, Walter Kansteiner,Secretário de
Estado Adjunto para os Assuntos Africanos, Barry Schutz, um especialista em assuntos
africanos da administração Bush e o Tenente Coronel Karen Kwiatkowski, um oficial da Força
Aérea, assessor do Secretário da Defesa.
Estiveram
presentes os seguintes Embaixadores e Representantes africanos: “Ambassador
Aminu from Nigeria.Two representatives from the Embassy of Angola. Ambassador
Jazairy from Algeria is here. Ambassador Mombouli from the Congo Brazzaville.
Ambassador Iipumbu from Namibia. Political Couselor Tsegah from Ghana.
Ambassador Mendouga from Cameroon. Ambassador Biogo Nsue, from the promising
oil-producing country of Equatorial Guinea. And Mr. Daniel Ngwebe, from the
South African Embassy”.
A
presença angolana revela a atracção da iniciativa para com Angola o que atesta
que o governo angolano esteve a par das primeiras iniciativas que estiveram na
base da criação do AFRICOM.
O
Embaixador britânico John Flynn, ao serviço da Chevron Texaco, um “expert” em
relação a Angola, foi um dos intervenientes; de recordar que John Flynn chegou
a ser “o homem” da ligação entre o Departamento de Estado e o governo
angolano, antes dos Estados Unidos terem reconhecido Angola.
Das
intervenções, destaco a do professor Terry Karl, versado em ciências políticas
na Universidade Stanford, que ousou balancear o petróleo como um factor de
desenvolvimento, (um factor de paz), ou um “excremento do diabo”, (um
factor de Guerra); eis alguns excertos dessa intervenção:
“A
long time ago when I was looking for a dissertation topic, I went down to
Venezuela to interview the founder of OPEC, a man named Juan Pablo Perez
Alfonzo, and I asked him some questions about the founding of OPEC, which some
of the Texans in the room might be interested to know came modeled after the
Texas Railroad Commission.
And
he said to me, Teresita, you know, you're such a bright young person. Why
are you studying OPEC?
Why
don't you see what oil is doing to us, the oil exporters?
And
I said, What do you mean?
And
he said, Oil is the excrement of the devil."
(…)
“What
matters is the social and political and economic institutions in which oil is
inserted.
Oil
can be a force for development or it can be a major impetus for war.
It
can be either.
The
issue is how to make sure that oil is a force for development rather than the
excrement of the devil.
What
is likely to happen if African countries or any other developing country
exploits oil in the context of very, very weak political and economic
institutions?
What
is likely to happen without intervention of some sort is that oil will
exacerbate profound political and economic crises facing Africa, Latin America,
and the Middle East.
It
will lead to a reduction of the welfare of people in oil exporting countries.
It will provoke violence and unrest. It will lead to the violation of rights.
It will lead to the destruction of the environment. It will buffer
authoritarian rule. That's what will happen, again, if it is inserted in weak
political and economic and social institutions without interventions to see
that something to the contrary occurs.
I'm
not just making an idle prediction. I'm basing this on the experience of a
number of oil exporters and on the evidence of a number of us who have been
studying these exporters for a long time.”
(…)
“Let
me add one more thing. In another new Harvard study there is very powerful
statistical evidence linking oil and war. Large data sets looking at civil wars
during the period 1965 to 1999, and in a series of statistical tests World Bank
economists Collier and Huffler, show that the most powerful risk factor for
perpetuating civil war is the export of primary commodities, particularly
mineral commodities.
This
is not to say that oil causes war, but it does mean that where you have civil
wars, oil, diamonds, and other commodities can be very important factors in
perpetuating war and leading to an oil/war syndrome.”
(…)
“There
must be non-governmental groups on the ground that monitor at all times what
happens to these oil revenues. Otherwise we will see throughout Africa what
we’ve already seen in Angola and Sudan: oil as a force for de-development and
war.
We
should be very much thinking about African oil, but we must think about it in a
way that is different from our experiences in the past. And when I say we, I
mean an inclusive we, -- governments, our government, governments of oil
exporters, but also all of the citizen groups inside oil exporting countries
who need to be organized to make sure that these oil revenues become the patrimony
of the nation.
I
want to end with a statement. In another interview, I asked Sheik Yamani, who
at the time was the oil minister, to think about what oil was doing to the
Middle East, what oil had done in Latin America, as a way to sum up our interview.
He
said, All in all, I wish we'd discovered water."
Esse
Simpósio produziu um documento-reitor, "African oil, a priority for
US national security and African development" que em síntese referia: "The
document urges Congress and the Bush administration to encourage greater
extraction of oil across Africa, and to declare the Gulf of Guinea an area of
vital interest to the US."
O
tema do Simpósio era por si bastante esclarecedor: “O petróleo de África –
uma prioridade para a segurança nacional dos Estados Unidos e para o
desenvolvimento africano”.
O
Simpósio foi um momento de ampla discussão sobre o tema, a partir duma “lista
de recomendações”, um quadro de “estratégias de desenvolvimento” e
por fim, de preocupações relativas à “segurança regional” (tendo como
principal referência o Golfo da Guiné).
A
esse Simpósio seguiu-se outra reunião, em Houston, no Texas, de onde surgiu o “Africa
Oil Policy Innitiative Group” (“AOPIG”):
"In
January last year (2002), the IASPS hosted a symposium in Houston, Texas, which
was attended by government and oil industry representatives. An influential
working group called the African Oil Policy Initiative Group (AOPIG) co-chaired
by IASPS researchers Barry Schutz and Paul Michael Wihbey, which has been
largely responsible for driving American governmental policy concerning west
African oil, emerged from the symposium.
Paul Michael Wihbey, a fellow at IASPS and
a principal at the energy consulting firm Global Water
& Energy Strategy Team (GWEST), played a leading role in the
formation of the AOPIG.
Another
known member of the African Oil Policy Initiative Group is George Ayittey, who serves at American University as
a visiting associate professor of economics, and is the President and founder
of The Free Africa Foundation.”
Com
o “AOPIG” criava-se um poderoso “lobby” em suporte da
administração republicana de George W.Bush, integrando o “IASPS”, a “USAfrica
Energy Association” (formada pelas multinacionais BP, Chevron,
Texaco, Marathon, Shell e Anadarko) e alguns executivos da própria administração, que
estabeleceram as bases do AFRICOM e levaram, por exemplo, a ANADARKO a investir
no Gana (a ANADARKO era uma pequena multinacional pertencente ao clã Bush).
O
processo de maturação para a criação do AFRICOM estava lançado, precisamente na
mesma altura em que a administração republicana de George W. Bush se esmerava
em relação a Angola, de forma a com ela aproveitar o potencial de paz interna e
em regiões como o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos.
É
evidente que essa paz, seria também a “pax americana” propícia às
actividades das multinacionais e por isso a arquitectura do AFRICOM integrou
instituições não só de âmbito militar e de inteligência, como também civis.
Em
momento algum os intervenientes nas amplas discussões ousaram tocar em temas
como as energias renováveis e alternativas, a exploração do xisto para a
produção de petróleo, ou a previsível queda de valor do barril de petróleo e
isso apesar de muitos deles estarem ligados a multinacionais com investimentos
abrangentes que podem disseminar capital nos vários sectores de produção
energética.
Por
essa omissão, ao se “vender” o produto petróleo como um factor de
desenvolvimento, com o fito na criação num dispositivo “de paz e
segurança” como o AFRICOM, os dados estão por demais viciados: se não é um “excremento
do diabo” por que a guerra poderia ser evitada (de facto com a explosão
jihadista financiada pelos aliados dos Estados Unidos, inclusive no continente
africano, isso não o está a ser) é um “excremento do diabo” por que
os especialistas sempre procuraram esconder quer as alternativas energéticas,
quer o resultado da implantação e disseminação dessas alternativas, algo que é
um imponderável factor de desequilíbrio, que pesa sore a cabeça dos incautos.
O
ataque NATO/AFRICOM à Líbia, na sequência das aventuras norte-americanas e de
seus aliados no Médio Oriente, colocou de facto um “ponto final” ao
atraente engôdo criado pela administração republicana de George W. Bush em
relação a África e a crise energética, provocada pela proliferação de
produtores alternativos, conjugada com a queda do valor do barril de petróleo,
condicionou ainda mais os africanos, sobretudo a Argélia, a Nigéria e Angola!
De
facto, se a opção do “excremento do diabo já se evidenciava em 2002
no Sudão, foi a partrir da Líbia, a partir de 2011, ue o pacote de
vulnerabilização dospaíses do sul seria lançar!
A
consultar:
- IASPS
– Institute for Advanced Strategic and Political Studies – http://www.rightweb.irc-online.org/profile/Institute_for_Advanced_Strategic_and_Political_Studies; https://en.wikipedia.org/wiki/Institute_for_Advanced_Strategic_and_Political_Studies; http://www.sourcewatch.org/index.php/Institute_for_Advanced_Strategic_%26_Political_Studies; http://www.iasps.org; http://www.israeleconomy.org; http://www.israeleconomy.org/pub.htm
- Robert
J. Loewenberg – http://rightweb.irc-online.org/profile/loewenberg_robert_j
- Barry
Schutz – http://www.sourcewatch.org/index.php/Barry_Schutz
- Paul
Michael Wihbey – http://www.sourcewatch.org/index.php/Paul_Michael_Wihbey
- Walter
Kansteiner III – http://www.sourcewatch.org/index.php/Walter_Kansteiner
- George
Ayittey – http://www.sourcewatch.org/index.php/George_Ayittey
- Robert
E. Heiler – http://www.sourcewatch.org/index.php/Robert_E._Heiler
- African
Oil Policy Innitiative Group – http://www.sourcewatch.org/index.php/African_Oil_Policy_Initiative_Group
-
The new Gulf oil states – https://www.globalpolicy.org/component/content/article/198/40173.html
-
With Mid East uncertainty, US turns to Africa for oil – http://www.csmonitor.com/2002/0523/p07s01-woaf.html
- More
Bush lies – http://www.apfn.net/messageboard/7-09-03/discussion.cgi.47.html
-
Angola Oil Boom is over – http://www.afrol.com/articles/36179
-
Atlas Air – https://en.wikipedia.org/wiki/Atlas_Air
- Houston
Airports: Raising US-Africa Connectivity – http://www.aviationbusinessjournal.aero/2012/4/11/houston-airports-raising-us-africa-connectivity.aspx
-
África rejeita planos dos EUA – http://jornaldeangola.sapo.ao/13/0/africa_rejeita_planos_dos_eua
-
A CIA por detrás da rebelião – O ataque euro-americano à Líbia nada tem a
ver com 'protecção de civis' –http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
- A
CIA por trás da rebelião - http://resistir.info/pilger/pilger_06abr11_p.html
-
Como a Al Qaeda ganhou o domínio de Tripoli - http://resistir.info/libia/al_qaeda_30ago11.html
-
A opção pelo inferno – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/opcao-pelo-inferno.html
- La
balcanización de Sudán: Un nuevo diseño para el Oriente Medio y el Magreb – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=120632
- America’s
conquest of Africa – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26886
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