A
inquietação foi manifestada pelo escritor moçambicano durante a apresentação,
em Lisboa, do seu novo livro, "Mulheres de Cinza". Sobretudo pelo
facto de ainda existirem no país dois exércitos armados, diz Mia Couto.
Em
declarações à DW África, Mia Couto disse que continua preocupado com os sinais
de instabilidade em Moçambique. "Porque ainda não resolvemos a situação da
paz. Há armas em dois exércitos. Ninguém em nenhum país estaria tranquilo com
armas distribuídas em duas forças", sublinha.
O
país vive momentos de tensão, sobretudo desde a recusa da Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, em reconhecer a derrota nas
eleições gerais de 15 outubro do ano passado.
O
escritor está em Portugal para apresentar o seu novo livro "Mulheres de
Cinza", um romance que estabelece um diálogo com a História e que evoca,
de forma romanceada, a figura histórica de Ngunyane - nome que os portugueses
transformaram em Gungunhana ou Gungunhane.
Mia
Couto desafiou-se a si próprio a ficcionar os últimos dias do Estado de Gaza,
em Moçambique, dirigido, em pleno século XVI, pelo último dos imperadores que
governou toda a metade sul do território.
"Quanto
melhor conhecemos o passado, melhor estamos com o nosso próprio presente. Há
aqui uma proposta de reconciliação com o tempo. Esse tempo é o tempo anterior e
o tempo de hoje", explica. "É um romance em diálogo com a História e
com as várias histórias, com h minúsulo e com H maiúsculo".
"FRELIMO
abriu-se"
Será
que se pode considerar que há algum paralelismo com o domínio das figuras da
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), que também são da
província de Gaza? "Não creio. Acho que a FRELIMO de hoje não é a mesma do
Estado de Gaza", responde Mia Couto. "É uma FRELIMO que se abriu e
que se continua a abrir, que está mais atenta a um país que é diverso".
O
chamado Estado de Gaza foi o segundo maior império em África, dirigido por
Gungunhana, que governou toda a metade sul do território moçambicano. A
história fascinou Zeferino Coelho, da Editorial Caminho (Grupo Leya).
"É
um grande projecto, uma obra em três volumes sobre um acontecimento histórico
muito importante na História de Moçambique e também de Portugal. Um romance
extraordinário de Mia Couto", salienta.
Este
primeiro romance, lançado terça-feira (20.10) em Lisboa e que também será
apresentado quinta-feira (22.10) em Aveiro, faz parte de uma trilogia, sob o
título global "As Areias do Imperador". O segundo e o terceiro
volumes sairão a público em 2016 e 2017.
João
Carlos (Lisboa) - Deutsche Welle
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