Ana Sá Lopes – jornal i,
opinião
É
natural que a direita se sinta incomodada com a maneira como Marcelo Rebelo de
Sousa, o seu único candidato presidencial, se vai abrigando dos pingos da chuva
bipolarizadora dos últimos tempos. Em nenhuma das (poucas) intervenções que fez
sobre o impasse em curso Marcelo Rebelo de Sousa arriscou “dar a mão” à
direita. Nem defendendo eleições a curto prazo (antes pelo contrário, disse que
o país não suportava a realização de eleições de seis em seis meses), nem
terçando armas pela legitimidade da formação de um governo PSD/CDS mesmo sem
apoio parlamentar, nem sequer criticando minimamente o acordo alcançado à
esquerda para que o PS venha a formar governo.
Mais uma vez, ontem, em Bruxelas, Marcelo deu a mão a António Costa, criticando a possibilidade de Cavaco manter Passos Coelho em gestão.
Alguma
direita começa a ficar nervosa. Num momento-chave em que a bipolarização
esquerda-direita está viva como não estava há décadas, o seu candidato
presidencial mantém--se rigorosamente ao centro, sem um milímetro de
compreensão pela fúria que grassa pelo PSD e CDS.
Mas
podia ser de outra maneira? Não. Marcelo Rebelo de Sousa quer ganhar as
eleições presidenciais. E para ganhar as presidenciais, não lhe basta o reduto
dos 38% de eleitores da coligação PSD/CDS que se identificam neste momento com
as dores do governo derrubado no parlamento. Desde o início que a estratégia de
Marcelo Rebelo de Sousa foi ser eleito pelo centro. Independentemente da sua
filiação partidária, do seu currículo político de ex-líder do PSD, Marcelo
congrega simpatias que vão muito para além da direita. Se neste momento Marcelo
se colocasse como um esteio do PSD/CDS na corrida a Belém, perdia as
eleições.
É
verdade que, como já vários militantes da direita disseram, Marcelo se arrisca
a voltar costas ao seu eleitorado natural. Mas será assim? Na hora da verdade,
a direita é sempre pragmática. E a irritação deste momento não dura até Janeiro.
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