domingo, 19 de abril de 2015

Portugal. O PODER DA ORAÇÃO



Domingos de Andrade – Jornal de Notícias, opinião

Há programas de Governo suportados pela fé. Andamos assim há quatro anos. E assim continuaremos nos próximos. Sofrer agora para obter a redenção amanhã. É a repetição dos movimentos. O mantra do terço. Tem de ser desta forma? Talvez, mas podia ser mais assumido.

A via-sacra. Vamos andar no país sem orçamento até ao princípio do próximo ano. A viver das práticas passadas. Há eleições entre setembro e outubro. Os consensos vão encalhar. E dificilmente teremos Governo até ao fim do ano. Há milagres, claro. A fé atesta-o. E todos os santos ajudam. É com isso que conta a coligação PSD/CDS, que não há de desfazer o casamento. Nem pode contar com mais nada. Carregarão a cruz.

O Documento de Estratégia Orçamental que Portugal vai levar a Bruxelas, como todos os estados-membros, é esse auto de fé. Quase sério. E é um programa de Governo. Espera crescimento, muito, taxa de desemprego ao menos igual, juros baixos, estabilidade dos mercados internacionais.

Para o bom, na escada do tempo, há alívio de impostos. Tudo gradual. Reposição dos salários da Função Pública. Redução da sobretaxa do IRS. Mais redução do IRC. E não se fala mais na Taxa Social Única. Essa hipótese, que esta semana esteve falada e quase acertada. Mas só na Imprensa. A conferir.

Para o mau, as pedras estão no caminho, mas não se veem. As contas de cima valem perdas de receitas. Entre 550 e 600 milhões. As de baixo compensam. E dão ganho. Poupanças de 600 milhões nas pensões (o quase do sério dos parágrafos anteriores está aqui), mas não se sabe como. Ou se morre ou se corta nalgum lado. Mais o pré-anúncio de uma quantidade de gorduras que valem outros tantos milhões no emagrecimento do Estado. Ou se morre ou se despede. Ou se desorçamenta, mas os custos estão lá na mesma. Ou se reforma a sério.

A oração. A ministra que vê o país todo reza. Sem dizer tudo, diz que há de recuperar o quadro previsto no ano passado para avançar com algumas medidas. E que o Tribunal Constitucional chumbou. Reza e chama o PS. Tem este, insiste, um contributo demasiado vago para ter utilidade. E insiste outra vez. Ao menos com este Governo os portugueses sabem com o que contam.

Do outro lado, só sabemos que não se quer insistir. A política fracassou, já chega de austeridade. E dizem ainda que o Governo quebrou o contrato de confiança com os portugueses.

É verdade. Mas não há mais ninguém com quem negociar.

P.S: Morreu Mariano Gago. Ele foi o ministro socialista que reconciliou o país com a Ciência. E isso é toda uma obra.

Portugal. Ministro da Saúde afasta responsabilidade no caso de mulheres a amamentar




O ministro da Saúde, Paulo Macedo, disse hoje não conhecer a metodologia aplicada por dois hospitais do Porto que pediram provas de evidência de leite às funcionárias que recorrem à possibilidade de redução do horário de serviço por amamentarem.

"Nós não demos quaisquer orientações nesse domínio e não tenho conhecimento de qual é a metodologia" observou Paulo Macedo após a sua intervenção na sessão inaugural do 36.º Congresso Português de Cardiologia que decorre em Albufeira até 21 de abril.

A queixa de duas enfermeiras, uma do Hospital de Santo António e outra do Hospital do São João, ambos localizados no Porto, que dizem ter tido de comprovar às entidades laborais que estavam a amamentar "espremendo leite das mamas à frente de médicos de saúde ocupacional" foi hoje publicada pelo jornal Público.

A legislação portuguesa em vigor permite que as trabalhadoras que estão em período de amamentação podem ter uma redução horária até duas horas diárias para apoio aos filhos.

De acordo com o jornal, ambas as profissionais foram convocadas para comparecer em consultas de Saúde Ocupacional no respetivo local de trabalho depois de os filhos terem completado um ano de idade e, lá chegadas, foi-lhes pedido que fizessem "uma prova de evidência de leite".

Quando os filhos fazem um ano, a legislação portuguesa obriga as mulheres que estão a amamentar a entregar, todos os meses, uma declaração do médico assistente onde este ateste aquela situação.

As queixas em causa coincidem com a semana em que a Assembleia da República discutiu dezenas de propostas da maioria e da oposição para a promoção da natalidade, num debate temático proposto pelo BE relativamente ao qual PSD e CDS-PP admitiram viabilizar iniciativas da oposição.

O PCP e o Bloco de Esquerda já reagiram ao caso afirmando que vão pedir esclarecimentos ao Governo.

Leia relacionado em Página Global

UNIÃO EUROPEIA PRECISA DE UMA NOVA POLÍTICA PARA REFUGIADOS - opinião




Com a nova tragédia na costa da Líbia, passa de 1,5 mil o número de mortos e desaparecidos no Mediterrâneo. Chega de condolências hipócritas: é hora de agir, opina Johannes Beck, chefe da redação Português para a África.

O que ainda precisa acontecer para que a União Europeia mude sua política de imigrantes e refugiados? Quantos ainda precisam se afogar no Mediterrâneo para que os políticos europeus se movimentem? Quantas cerimônias fúnebres são necessárias até que Bruxelas finalmente reaja?

Justo a altamente endividada Itália mostrou, depois do naufrágio no litoral de Lampedusa em 2013, como a Europa deveria reagir a tais catástrofes: no quadro da missão Mare Nostrum, navios da Marinha italiana passaram a monitorar todo o caminho marítimo entre o Norte da África e o Sul da Europa.

Contudo, embora desse modo a Itália tenha possivelmente livrado milhares de pessoas de morrerem afogadas, os demais Estados europeus não quiseram participar dos custos de 108 milhões de euros por ano. Em vez disso, em novembro de 2014 a agência europeia de segurança de fronteiras Frontex assumiu a tarefa de resgatar os refugiados.

Essa missão, denominada Triton, deveria ser mais barata, e por isso se concentrou no salvamento nas proximidades das costas europeias. No caso de naufrágios mais distantes, como o atual, no litoral norte-africano, ela não presta ajuda. E assim se aceita levianamente que milhares de mortes ocorram.

Depois da nova tragédia no Mar Mediterrâneo, eu não quero mais escutar condolências de políticos europeus. Quem não quis contribuir nas missões de resgate da Mare Nostrum, por achá-las caras demais, deve ser pelo menos honesto e admitir abertamente que não dá grande valor à vida de refugiados da Eritreia, Etiópia ou Síria.

Uma olhada na política agrícola europeia demonstra quão cínica foi a discussão em torno do financiamento da Mare Nostrum: a UE financia seus agricultores com cerca de 50 bilhões de euros por ano. Isso significa que os europeus gastam, em um dia, mais em subsídios agrários do que custaria todo um ano de resgate de refugiados no Mediterrâneo, dentro de uma missão nos moldes da Mare Nostrum.

Os princípios básicos de uma nova política para refugiados e imigrantes estão definidos há anos.

Primeiro, em curto prazo, o salvamento marítimo precisa ser novamente estendido a todo o Mediterrâneo, naturalmente financiado pela totalidade dos Estados-membros da UE, como tarefa da comunidade. A Itália não pode ser abandonada à própria sorte, como no caso da missão Mare Nostrum.

Segundo, no médio prazo, é necessária uma reforma da política de imigração da UE. Além do direito a asilo por perseguição política e a proteção a refugiados de zonas de guerra, como a Síria, há também que se reconhecer a migração por motivos econômicos.

Há anos a Europa já é, de fato, um continente de imigrantes. A população de vários países está envelhecida e também no futuro eles precisarão de imigrantes. Com a ajuda de quotas e de um procedimento regulamentado de contagem de pontos, essa forma de imigração deve se tornar legal e transparente. Isso reduziria o número dos emigrantes por motivos econômicos que recorrem aos barcos dos traficantes de pessoas no Mediterrâneo.

Terceiro, a longo prazo, a UE deve focar mais nas causas do êxodo e imigração. Quem destrói as estruturas estatais da Líbia com uma operação militar, não tem o direito de, em seguida, se recolher inteiramente e observar o país se precipitar no caos.

A UE precisa insistir de modo mais enérgico e consequente pelo respeito aos direitos humanos. Isso se aplica, por exemplo, à Eritreia, nação de origem de grande parte dos refugiados do Mediterrâneo, onde por muito tempo a UE e seus países integrantes, inclusive a Alemanha, fizeram vista grossa, e de início até apoiaram o regime ditatorial com verbas para o desenvolvimento.

É tempo de agir. Tempo para falar e lamentar, já houve bastante. 

Johannes Beck (av) – Deutsche Welle, opinião

NOVA TRAGÉDIA NO MEDITERRÂNEO FORÇA UE A ESTUDAR MEDIDAS




Caso se confirmem as mortes no barco pesqueiro da Líbia, sobe para mais de 1.600 o número de vítimas da travessia África-Europa em 2015. Políticos exigem ação contra traficantes e combate às causas da emigração em massa.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) calcula que mais de 700 pessoas morreram afogadas entre a Líbia e a ilha italiana de Lampedusa neste fim de semana. Este é o maior número de vítimas registrado num naufrágio do gênero. no Mediterrâneo.

A tragédia desencadeou na Europa tanto choque quanto um debate político sobre a forma de lidar com o atual êxodo em massa por via marítima, a partir do Norte da África. O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, cancelou todos os compromissos para se reunir com seu gabinete ministerial.

Segundo ele, a Europa está testemunhando "um massacre sistemático" no Mediterrâneo. "Como podemos permanecer insensíveis quando testemunhamos populações inteiras morrendo, numa época em que os meios de comunicação nos permitem estar sabendo de tudo?", indagou. O político democrata reivindica que se marque para ainda esta semana uma cúpula extraordinária com os chefes de Estado e governo da União Europeia.

Choque e indignação na Europa

Já nesta segunda-feira (20/04) os ministros do Exterior da UE vão discutir as consequências da catástrofe, conforme informou em Bruxelas a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini. Um dos tópicos centrais é como, em conjunto com os países de chegada e de trânsito, dissuadir os refugiados africanos de enfrentar a perigosa travessia do Mar Mediterrâneo.

"Precisamos continuar abordando as raízes da migração, sobretudo a instabilidade de uma região que fica cada vez maior, do Iraque até a Líbia", instou Mogherini.

Após as primeiras notícias da tragédia, o presidente da França, François Hollande, comparou as quadrilhas de traficantes de pessoas com terroristas. O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, exigiu medidas rigorosas contra esses "criminosos", que "ganham muito dinheiro com a viagem até o Mediterrâneo e através dele, lotando barcos inapropriados a navegar e abandonando as pessoas à própria sorte".

1.500 mortos em quatro meses

Segundo a guarda costeira italiana, o barco pesqueiro de 20 metros de comprimento superlotado adernou a 126 quilômetros da costa líbia e 177 quilômetros da Ilha de Lampedusa. Por volta de 00h00 (hora local) deste domingo, a Marinha de Malta recebera um SOS de uma embarcação com problemas, e instruiu um navio mercante português para ir até o local.

A embarcação dos refugiados estava afundando quando o navio se aproximou. Desesperados para serem resgatados, os ocupantes se deslocaram para um lado só da embarcação, desestabilizando-a e fazendo-a virar. A temperatura da água no Mediterrâneo é de 17 graus centígrados nesta época do ano, e aparentemente muitos do passageiros não sabiam nadar.

Até a noite deste domingo (19/04), apenas 28 pessoas tinham sido salvas e 24 corpos, resgatados. Se confirmadas as mortes, o acidente eleva para mais de 1.600 o número das vítimas da travessia marítima entre a África e a Europa, somente este ano.

Na sexta-feira, o Acnur havia divulgado que o número de imigrantes mortos ou desaparecidos dessa forma em 2015 já chegava a 950.

AV/rtr/afp/ap/dpa – Deutsche Welle

MOÇAMBICANOS REPATRIADOS DA ÁFRICA DO SUL CHEGAM A BOANE




A maioria dos moçambicanos recorda com tristeza os episódios de violência e pilhagem vividos em Durban.

William Mapote – Voz da América

O primeiro grupo de moçambicanos repatriados devido à violência xenófoba na África do Sul chegou hoje, 17, ao Centro de Trânsito Provisório instalado no distrito de Boane, na província de Maputo.

Depois de longas horas de viagem de regresso indesejado, a primeira noite em solo moçambicano foi passada em tendas preparadas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades.

As primeiras horas do dia foram dedicadas a encontros de concertação com os responsáveis do centro. Nem a chuva miúda que caiu em Boane interrompeu as actividades.

A maioria dos moçambicanos diz que deixou toda uma vida na África do Sul e recorda com tristeza os episódios de violência e pilhagem vividos em Durban.

Vários transportadores de carreiras internacionais em Maputo cancelaram viagens para África de Sul através da fronteira de Ressano Garcia por receio de ataques de moçambicanos em retaliação à xenofobia que está acontecer naquele país vizinho.

Os ataques na África do Sul já estão a causar impacto negativo para muitos transportadores terrestres e mesmo aéreo, sobretudo de carreiras internacionais.

Alguns operadores entrevistados pela VOA em Maputo disseram que o cancelamento de viagens pelos clientes agudizou-se na quinta-feira e os prejuízos já são enormes.

Esta sexta-feira, por exemplo, alguns que partiram de Maputo para África de Sul foram obrigados a suspender viagens na fronteira de Ressano Garcia devido ao bloqueio da estrada por moçambicanos em retaliação aos praticados contra os seus patrícios no país vizinho.

Leia mais em Voz da América

Moçambique. LIDERANÇA DE DAVIS SIMANGO QUESTIONADA




Em causa o resultado das eleições de Outubro

Ramos Miguel – Voz da América

Em Moçambique, as opiniões dividem-se quanto à continuidade de Daviz Simango na liderança do Movimento Democrático de Moçambique(MDM), havendo quem defenda que, tendo em conta os maus resultados obtidos nas eleições do ano passado, ele devia passar o poder a Manuel de Araújo,  o edil de Quelimane, na província central da Zambézia. Mas há opiniões contrárias.

O desempenho do MDM e do seu presidente nas eleições do ano passado deixou muito a desejar, e há quem diga que Daviz Simango é responsável por isso, porque a sua liderança é fraca e ele não tem carisma.

Refira-se que entre os três candidatos às presidenciais de 2014, Daviz Simango foi o menos votado, com cerca de seis por cento dos votos.

O sociólogo Fernando Nhantumbo diz que a avaliação que se faz à liderança de Daviz Simango não é correcta, "porque neste momento, eu não vejo dentro do MDM, ninguém com o mesmo carisma, com a mesma capacidade de liderança como Daviz Simango".

Há quem diga que o presidente do Conselho Municipal de Quelimane, Manuel de Araújo devia assumir a liderança do MDM, mas Nhantumbo diz que ele não tem carisma nem capacidade para dirigir o partido.

Do outro lado, o analista político Laurindos Macuácua diz ser necessário "refrescar a liderança do MDM, embora eu não saiba se Manuel de Araújo seria a pessoa mais indicada para substituir Daviz Simango, que tem sido criticado pela forma como tem dirigido o partido".

Ao analisar mais a fundo esta questão, o sociólogo Moisés Mabunda, diz que problemas de organização afectam também os outros partidos da oposição em Moçambique, o que faz com que não consigam explorar, na sua plenitude, as fragilidades da Frelimo.

Mabunda afirma que os partidos não têm nenhuma proposta alternativa devidamente elaborada e com pilares bem assentes no chão, "capazes de os moçambicanos compreenderem e dizerem sim, esta é uma alternativa para a governação do país".

Angola. SOBE PARA NOVE NÚMERO DE POLÍCIAS MORTOS NO HUAMBO



Voz da América

Subiu para nove o número de mortos de agentes da polícia angolana mortos num confronto no Huambo  com membros de uma seita religiosa, disseram as autoridades ao mesmo tempo que o partido no poder acusava “outras” forças não especificadas de estarem por detrás dos confrontos.

Um outro polícia tinha sido morto um dia antes em Benguela em confrontos com a mesma seita, conhecida pelo nome do seu dirigente “Kalupeteca” mas tem o nome de igreja do “Setimo Dia à Luz do Mundo”.

A seita opõe-se á educação e vacinação dos seus membros que tendem a reunir-se em acampamentos.

Os confrontos o Huambo ocorreram  a cerca de 25 quilómetros da Caala onde estariam acampados cerca de 2.000 fieis e onde a policia pretendia prender o seu líder alvo de um mandado de captura emitido no Bié.

O líder da seita, Julino Kalupeteca, de 52 anos, foi entretanto detido no Huambo.

O ministério do interior angolano exortou a policia a "resposta firme a todos quantos enveredem por este tipo de conduta, bem como aos eventuais instigadores de ignóbeis ações desta natureza".

Por seu turno  Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, acusou "outras forças" de estarem na origem dos confrontos.

"Os dados até agora recolhidos permitem facilmente concluir que por detrás destes factos estão outras forças, que pretendem criar condições para um retorno a situações de perturbação generalizada, que não poderão ser toleradas", disse um comunicado emitido pelo Bureau Politico do partido.

O comunicado diz  os ataques á polícia foram efectuados com armas de fogo ilegalmente no pais e na posse de pessoas "pretendem alterar a ordem pública em Angola".

Para "estancar esse tipo de acções criminosas", o MPLA, no poder em Angola desde 1975, exortou hoje a Polícia Nacional e "todos os órgãos de Defesa, Segurança e de Justiça" a tomarem medidas "que conduzam à responsabilização dos desordeiros", apelando ainda às populações "a não segui-los, a manterem vigilância cerrada sobre eles e a denunciá-los, quando estejam a preparar acções subversivas".

Leia mais em Voz da América

Angola. MPLA PREPARA NOVO GOLPE




Ora aí está a redescoberta da pólvora. O MPLA, partido que só está no poder desde 1975, acusou hoje “outras forças” de estarem na origem dos confrontos entre elementos da seita religiosa “Kalupeteca” e agentes da autoridade, que terminaram com a morte de oito polícias. Terá Jonas Savimbi ressuscitado?

Orlando Castro

Sete destes agentes morreram na quinta-feira à tarde, na província do Huambo, abatidos a tiro por elementos da seita – ilegal no país e que advoga o fim do mundo em 2015 -, quando tentavam capturar o líder da mesma e após confrontos na província de Benguela que terminam na morte de outro agente da Polícia Nacional.

“Os dados até agora recolhidos permitem facilmente concluir que por detrás destes factos estão outras forças, que pretendem criar condições para um retorno a situações de perturbação generalizada, que não poderão ser toleradas”, lê-se num comunicado do Bureau Político do Comité Central do MPLA.

Embora – como é hábito nos que são fortes com os fracos e fraquinhos com os fortes – sem concretizar a acusação, o partido dirigido por José Eduardo dos Santos recorda que “estes actos bárbaros” foram concretizados “com armas de fogo” que “ilegalmente” estavam na posse de pessoas que “pretendem alterar a ordem pública em Angola”.

No Huambo, a morte dos sete agentes da polícia – outros dois foram feridos gravemente -, incluindo o comandante municipal da Caála, aconteceu em Serra Sumé, a 25 quilómetros da Caála, tendo estes sido surpreendidos por elementos da denominada igreja “Sétimo Dia a Luz do Mundo”, conhecida por queimar livros, travar a escolarização e vacinação dos fiéis, concentrando-os em acampamentos sem condições e reunindo centenas de pessoas.
Entretanto, o líder da seita, Julino Kalupeteca, de 52 anos, já terá sido detido pela Polícia Nacional, no Huambo.

Para “estancar esse tipo de acções criminosas”, o MPLA exortou hoje a Polícia Nacional e “todos os órgãos de Defesa, Segurança e de Justiça” a tomarem medidas “que conduzam à responsabilização dos desordeiros”, apelando ainda às populações “a não segui-los, a manterem vigilância cerrada sobre eles e a denunciá-los, quando estejam a preparar acções subversivas”.

Previsivelmente, na óptica do regime, estes actos bárbaros são o prenúncio do regresso à guerra civil pelo que o melhor será certamente decretar a ilegalização de todos os partidos da oposição, regressar ao partido único, e prender os responsáveis das tais “outras forças”, ao que tudo indica começando por Isaías Samakuva.

Além do Huambo e do Bié, esta seita tem actividades conhecidas – ilegais por não estar reconhecida – nas províncias do Cuanza Sul, Cuando Cubango e Benguela, multiplicando-se nos últimos dias os confrontos com as autoridades e com a população.

O Ministério do Interior de Angola já exigiu que “os autores deste crime hediondo” sejam “levados à barra dos tribunais” e “exemplarmente punidos”, exortando a polícia para uma “resposta firme a todos quantos enveredem por este tipo de conduta, bem como aos eventuais instigadores de ignóbeis acções desta natureza”.

Razão tinha, e pelos vistos continua a ter, Kundi Paihama (por sinal governador do Huambo) quando explicou ao país que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Já quanto aos outros…

Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse na altura que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto.

E então? Se calhar é chegada a altura.

Importa por isso perguntar: Então malta da UNITA? O que é que é isso? Têm para aí um arsenal de metralhadoras debaixo da cama para quê? Não é para caçar, com certeza. E julgavam vocês que o MPLA não descobria? Francamente.

Em abono da sempre divina tese do MPLA que, neste como noutros casos, aponta “outras forças”, reconheçamos que – por exemplo – Alcides Sakala tem na sua secretária de trabalho 925 Kalashnikov, para além de 423 mísseis Stinguer.

E Lukamba Gato? Da última vez que estivemos com ele trazia na mala aí uns 14 órgãos Staline (seriam katyushas?), para além de transportar no porta bagagens do carro oito tanques Merkava de fabrico israelita.

“Eu tenho muitos dados na qualidade de Ministro da Defesa (…) mas não posso revelar publicamente”, indiciou Kundi Paihama, na altura o ministro da Defesa, que disse ainda acreditar que há dirigentes da UNITA interessados num regresso à guerra. Recordam-se?
Terão regressados com o disfarce de serem membros da Kalupeteca?

O MPLA admite que sim. Os seus serviços de informação até descobriram que Isaías Samakuva nunca sai à rua sem levar no bolso três tanques ucranianos, modelo T-84. Não são grande coisa, mas quem não tem cão caça com gato.

Com esta insinuação e com a consequente caça às bruxas, das duas uma: Ou o MPLA acredita nas próprias mentiras que patologicamente, ou preparam-se para pela força justificar uma qualquer purga, até mesmo – como aconteceu a 27 de Maio de 1977 – dentro do próprio MPLA onde, apesar do medo, começam a aparecer algumas importantes vozes a discordar do dono do país.

E se os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram milhares de mortos, foram o resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder, será que o actual “querido líder” está, ou teme vir a estar, na mesma posição?

Será que, como há 38 anos, Angola tem algum Nito Alves, ministro ou não, político ou não, chefe militar ou não, disposto a protestar contra o rumo despótico do MPLA?

E se tem, voltaremos a ter, tal como em 12 de Julho de 1977, uma declaração oficial do Bureau Político do MPLA a falar de uma “tentativa de golpe de Estado”?

Folha 8 (ao)

Leia mais em Folha 8 (ao)

O PLANO DE WASHINGTON PARA OS PRÓXIMOS 10 ANOS NO PRÓXIMO-ORIENTE




O que vocês ignoram sobre os acordos americano-iranianos

Thierry Meyssan*

Desde há dois anos, os Estados Unidos negoceiam secretamente um cessar-fogo regional com o Irão. Chegados a um acordo bilateral, eles anunciaram uma solução para o conflito nuclear e para as sanções económicas, no quadro de negociações multilaterais que se arrastam desde 2003. Testemunha privilegiado, Thierry Meyssan revela o que está em jogo neste imbróglio diplomático, e, como Washington entende organizar o Levante e o Golfo para os 10 próximos anos.

Os negociadores bilaterais secretos

sde março de 2013, os Estados Unidos e o Irão (Irã-br) negoceiam em segredo. Estes contactos começaram secretamente em Omã. Para os Iranianos, asfixiados por um cerco económico e monetário sem precedentes na História, estava fora de questão ceder face ao imperialismo, mas sim o de chegar a um cessar-fogo de alguns anos, o tempo preciso para poder retomar forças. Para os Estados Unidos, que esperam poder deslocar as suas tropas do Próximo para o Extremo-Oriente, esta oportunidade deveria acompanhar-se de garantias precisas que Teerão não se aproveitaria disso para estender um pouco mais a sua influência.

A equipe norte-americana foi liderada por dois negociadores sem par, Jake Sullivan e William Burns. Ignora-se quem compunha a delegação iraniana. O Sr. Sullivan havia sido um dos principais conselheiros da secretária de Estado, Hillary Clinton, mas, ele não partilhava nem o apoio cego a Israel, nem o fascínio pelos Irmãos Muçulmanos. Organizou guerras contra a Líbia e contra a Síria. Quando a Srª Clinton foi ejectada pelo presidente Obama, ele tornou-se conselheiro para a Segurança Nacional do vice-presidente Biden. Foi neste quadro que ele desenvolveu as negociações com o Irão. O Sr. Burns, entretanto, é um diplomata de carreira. E, diz-se, um dos melhores nos Estados Unidos. Juntou-se às conversações na qualidade de adjunto do secretário de Estado, John Kerry.

Destas conversações saíram, pelo menos, duas decisões. Primeiro, o Guia da Revolução, o aiatola Ali Khamenei, velaria pela exclusão de Esfandiar Rahim Mashaie – antigo responsável pela Inteligência dos Guardas da Revolução, tornado chefe de gabinete e parente por casamento de Mahmoud Ahmadinejad – da corrida à presidência. Desta forma, o Irão baixaria o tom dos seus aliados nas instâncias internacionais. Em seguida, os Estados Unidos zelariam igualmente por baixar o tom dos seus aliados anti-Iranianos e desbloqueariam as negociações de 5+1 sobre o nuclear, de modo a pôr fim às sanções.

De facto, o Conselho dos Guardiões da Constituição censurou a candidatura de Esfandiar Rahim Mashaie. Graças à divisão do campo dos Revolucionários, habilmente tecida pelo Guia, o Xeque Hassan Rohani foi eleito. Este religioso nacionalista, que havia sido o negociador-chefe para o nuclear de 2003 a 2005, era o homem da situação. Ele havia aceite todas as exigências europeias antes de ser demitido das suas funções por Mahmoud Ahmadinejad, logo que este se tornou presidente. O Sr. Rohani tinha feito os seus estudos de direito constitucional na Escócia, e, foi o primeiro contacto iraniano de Israel e dos Estados Unidos aquando do Irangate. Durante a tentativa de revolução colorida de 2009, organizada pela CIA com a ajuda dos aiatolas Rafsanjani e Khatami, tomou posição pelos pró-ocidentais contra o presidente Ahmadinejad. Diga-se, de passagem, que a sua pertença ao clero permitia aos mulás retomar o Estado aos Guardiões da Revolução que o haviam controlado.

Pelo seu lado, os Estados Unidos davam instruções aos seus aliados sauditas para baixar igualmente o tom e acolher com boa-vontade o novo governo iraniano. Durante alguns meses Riade e Teerão trocaram mesuras, enquanto o xeque Rohani entrava em contacto pessoal com o seu homólogo norte-americano.

O plano da Casa Branca

A ideia da Casa Branca era a de considerar os êxitos iranianos na Palestina, no Líbano, na Síria, no Iraque e no Barein, e, deixar Teerão aproveitar a sua influência nesses países em troca de uma renúncia a continuar a expansão da sua Revolução. Tendo abandonado a ideia de dividir o Médio-Oriente com os russos, Washington planeava distribui-lo entre a Arábia Saudita e o Irão, antes de retirar as suas tropas.

O anúncio desta possível divisão reforçou, de repente, uma leitura dos acontecimentos regionais como um conflito entre sunitas (Sauditas) — xiitas (Irão), o que é absurdo porque a religião dos chefes locais não corresponde, muitas vezes, às dos seus patrocinadores.

Entretanto, esta divisão trazia o Médio-Oriente para o período do Pacto de Bagdad [1], quer dizer da Guerra fria, exceptuando que o Irão tomava o lugar da URSS e que as zonas de influência eram repartidas de forma diferente.

Isto não poderia senão deixar a actual Federação da Rússia vexada, esta nova divisão fazia regressar Israel à época em que não dispunha do guarda-chuva norte-americano. Inaceitável, pois, do ponto de vista do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, um partidário da expansão do seu país «do Nilo até ao Eufrates». Ele tentou, portanto, tudo o que estava ao seu alcance para sabotar a continuação do programa.

Foi por isso que, enquanto um acordo sobre o nuclear havia sido alcançado em Genebra, no início de 2014, a negociadora norte-americana, Wendy Sherman, apoiou-se nas reivindicações israelitas (israelenses-br) para fazer subir a parada. Ela afirmou, de repente, que Washington não se contentaria com garantias sobre a impossibilidade para o Irão de construir a bomba atómica, mas, exigia, também, garantias sobre a sua renúncia a desenvolver mísseis balísticos. Esta surpreendente exigência foi repelida pela China e pela Rússia, que fizeram finca-pé que tal não estava implícito no Tratado de não-proliferação nuclear e nas competências dos 5+1.

Este novo desenvolvimento atestou que a bomba atómica não foi, nunca, a real preocupação dos Estados Unidos neste assunto, mesmo que eles tenham utilizado este pretexto para conter o Irão através de um terrível cerco económico e monetário. Além disso, o presidente Obama reconheceu-o, implicitamente, aquando do seu discurso de 2 de abril [2], ao fazer alusão à fátua (decreto religioso- ndT) do Guia da Revolução interditando este tipo de arma. Na realidade, a República islâmica do Irão parou o seu programa nuclear militar pouco depois da declaração do aiatola Khomeini contra as armas de destruição em massa, em 1988. Pelo que, Teerão prosseguiu, apenas, com investigações para fins civis, mesmo que algumas possam ter implicações militares, como o de fazer mover motores de navios de guerra, por exemplo. A posição do Imã Khomeini tomou força de lei com a fátua do aiatola Khamenei, a 9 de agosto de 2005 [3].

Seja como fôr, Washington, considerando que Benjamin Netanyahu é um «fanático histérico», passou o ano de 2014 a tentar chegar a um acordo com o Tsahal (Forças Defesa Israel- ndT). Progressivamente, impôs-se a ideia que, na partilha regional entre a Arábia Saudita e o Irão, devia-se imaginar um sistema de protecção para a colónia judia. Daí o projecto de criar uma espécie de novo pacto de Bagdad, de Otan regional, oficialmente colocado sob presidência Saudita, de maneira a ser aceitável para os árabes, mas, na realidade, controlado por Israel, como o velho Pacto era de facto dirigido pelos Estados Unidos, que não eram, sequer, seus membros. Este projecto foi tornado público pelo presidente Barack Obama na sua Doutrina de Segurança Nacional, a 6 fevereiro de 2015 [4].

O acordo nuclear e o fim das sanções foram, portanto, remetidas para mais tarde. Washington organizou a revolta do Tsahal contra Benjamin Netanyahu, convencida que o primeiro-ministro não ficaria muito tempo no poder. Mas, apesar da criação do Commanders for Israel’s Security (Comandantes para a Segurança de Israel- ndT) e os apelos de quase todos os antigos oficiais superiores para não se votar Netanyahu, este conseguiu convencer o seu eleitorado que era o único a defender a colónia judia. E, assim, ele foi reeleito.

Em relação à Palestina, Washington e Teerão puseram-se de acordo em congelar a situação de Israel e de criar um Estado palestiniano, em conformidade com os Acordos de Oslo. O Sr. Netanyahu, que espiava não apenas as negociações dos 5+1, mas, também, as conversações bilaterais secretas, reagiu fortemente anunciando publicamente, a propósito, que, enquanto vivesse, jamais Israel permitiria o reconhecimento de um Estado palestino. Ele significou, deste modo, que Telavive entendia não respeitar a sua assinatura dos acordos de Oslo, e, que conduzia negociações com a Autoridade Palestina desde há uma vintena de anos, unicamente, para ganhar tempo.

A Força árabe comum

Pressionados para acabar isto, Washington e Londres, escolheram a rebelião iemenita para finalizar. Os xiitas Hutis, aliados aos soldados leais ao ex-presidente Saleh, tinham exigido, e conseguido, a renúncia do presidente Hadi, que subitamente mudou de ideias. Verdadeiramente falando, este último não era mais nem legítimo, nem legal, desde há muito tempo. Ele tinha sido mantido no poder, após o final do seu mandato, com base em compromissos que nunca mostrou ter a intenção de respeitar. Nem os Estados Unidos, nem o Reino Unido, tinham particular simpatia por qualquer dos dois campos, que haviam alternadamente apoiado em diferentes momentos. Eles deixaram, então, a Arábia Saudita afirmar que esta revolução era um golpe de Estado e tentar, mais uma vez, anexar este país. Uma operação militar foi montada, por Londres, para apoiar Áden a partir do estado pirata da Somalilândia. Simultaneamente, com o pretexto da crise iemenita, a Liga Árabe tornava pública a parte árabe da nova Otan regional: a Força comum árabe.

Três dias mais tarde, o acordo de 5+1, que tinha sido negociado um ano antes, era igualmente tornado público [5]. Entretanto, nesse meio tempo, o secretário de Estado, John Kerry e o seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, passavam em revista, durante um dia inteiro, todos os pontos políticos em discussão. Ficou decidido que Washington e Teerão fariam baixar a tensão na Palestina, no Líbano, na Síria, no Iraque e no Barein durante os próximos três meses, e, que o acordo de Genebra só seria assinado no final de junho, e por 10 anos se as duas partes tivessem mantido os compromissos.

Consequências

- É provável que Netanyahu vá tentar de novo, no decurso dos três próximos meses, fazer falhar o plano norte-americano. Não será, pois, de espantar que se assista a acções terroristas, ou a assassínios políticos não reivindicados, mas cuja responsabilidade seria atribuída a Washington ou a Teerão, para impedir a assinatura prevista para 30 de junho de 2015.

Logicamente, Washington incentivará, portanto, uma evolução política em Israel limitando os poderes do primeiro-ministro. É neste sentido que deve ser tomado o duríssimo discurso do presidente Reuven Rivlin, na altura em que ele encarregou o Sr. Netanyahu de formar o próximo governo.

- O Iémene não foi nunca objecto de análise durante as conversações bilaterais. Se o acordo for assinado, este país poderá, pois, ficar como o único ponto de conflito na região durante os próximos 10 anos.

- Enquanto Washington concluiu um acordo com Teerão, e promove uma aliança militar em torno da Arábia Saudita, ele conduz uma política inversa para com as sociedades destes estados. Por um lado promove uma divisão da região entre Estados, por outro lado fragmenta as sociedades através do terrorismo e acaba até de criar um sub-Estado terrorista, o Emirado Islâmico («Daesh»).

- Originalmente, os Estados Unidos haviam previsto constituir a Força comum árabe com os Estados do Golfo e a Jordânia, e até mesmo mais tarde Marrocos. Há um traço de coerência, aqui, entre os regimes envolvidos. No entanto Omã manteve-se afastado, embora seja um dos membros do Conselho de Cooperação do Golfo. Enquanto a Arábia Saudita tenta usar a sua influência para incluir, nesta, tanto o Egito como o Paquistão, embora este último não seja árabe.

Considerando o Egipto, o Cairo não tem nenhuma margem de manobra e deve responder positivamente a todas as solicitações, sem nunca se envolver nas acções reais. O país não tem quaisquer meios de subsistência e só consegue alimentar a sua população graças à ajuda internacional, quer dizer, graças à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos, à Rússia e aos Estados Unidos. O Egipto acha-se metido na operação «Tempestade decisiva» no Iémene sempre ao lado dos povos do sul, como por ocasião da guerra civil (1962-1970), exceptuando que os antigos comunistas passaram a ser os membros da al-Qaida e o Cairo é, agora, o aliado da monarquia saudita. Com resulta evidente o Egipto deveria procurar retirar-se, o mais cedo possível, deste lamaçal.

- Além do Levante e do Golfo, a evolução regional vai colocar problemas à Rússia e à China. Para Moscovo, se o cessar-fogo de 10 anos é uma boa notícia, é amargo ter de abandonar as suas aspirações, em proveito do Irão, pela razão simples de ter demorado a reconstituir as suas forças após a dissolução da URSS. Daí o acordo concluído com a Síria para desenvolver o porto militar de Tartus. A Marinha russa deverá reinstalar-se permanentemente no Mediterrâneo, tanto na Síria com em Chipre.

Considerando a China, o cessar-fogo americano-iraniano irá traduzir-se, rapidamente, por uma transferência dos GIs do Golfo para o Extremo-Oriente. Desde já, o Pentágono planeia construir a maior base militar do mundo no Brunei. Para Pequim, colocar o seu exército ao nível é agora uma corrida contra-relógio : a China deve estar preparada para enfrentar o Império norte-americano antes que este esteja à altura de a atacar.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Rede Voltaire

Notas
[1] O Tratado da Organização do Médio-Oriente (CENTO) ou «Pacto de Bagdad» era uma aliança regional, primeiro dirigida por Londres, depois por Washington, muito embora os Estados Unidos nem sequer fossem membros, destinada a conter a influência soviética ao mesmo tempo que visava reforçar as potências pró-Ocidentais. Ele foi assinado em 1955 e terminou em 1974, com a guerra turco-cipriota. Foi oficialmente dissolvido em 1979 pela Revolução iraniana. Incluía o Iraque, o Irão, o Paquistão, a Turquia e o Reino-Unido.
[2] “Barack Obama on Framework to Prevent Iran from Obtaining Nuclear Weapons”, by Barack Obama, Voltaire Network, 2 April 2015.
[3] Pode-se encontrar um estudo muito completo da crise nuclear iraniana em : “Quem tem medo do programa nuclear civil do Irã?”, Thierry Meyssan, Tradução Luis Nassif, Rede Voltaire, 2 de Janeiro de 2011.
[4] “Obama rearma”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Fevereiro de 2015.

Na foto: John Kerry e Mohammad Javad Zarif concluíram um pré-acordo político bilateral secreto. Ao fazê-lo, eles finalizaram um acordo público no quadro das negociações multilaterais 5+1.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

ESTRANGULAR ECONOMIA TAMBÉM É FORMA DE APARTHEID CONTRA PALESTINA




'O Brasil é o 5° maior importador de Israel. Precisamos deixar claro que o lucro com essas parcerias vai para o esforço de guerra contra o povo palestino.'

Leonardo Severo e Luiz Carvalho, de Hebron-Palestina – Carta Maior

Com milhares de anos, Hebron, uma das cidades habitadas mais antigas do mundo, tem seu nome árabe Khalil al-Rahman como “O amigo de Deus”. Da mesma forma que em hebraico deriva da palavra “amigo”, com referência ao patriarca bíblico Abraão, considerado um santo por cristãos, judeus e muçulmanos.

Infelizmente, a benevolência e a cordialidade transformaram completamente o ambiente desde 1967, quando a presença israelense se desenhou nas ruas da cidade sagrada à ponta de baioneta e algumas centenas de colonos sionistas passaram a impor o pesadelo sobre o conjunto da população árabe. Atualmente, cerca de 175 mil palestinos são obrigados – por força de tanques, fuzis e metralhadoras – a conviver com mandos e desmandos diários dos ocupantes, entrincheirados em bairros centrais por detrás dos checkpoints.

Na chegada à cidade, fomos recebidos pelo jornalista e pesquisador Ahmad Jaradad, do Centro de Informação Alternativa, que logo foi descrevendo como se dá o cotidiano da ocupação. “Em Hebron, 5.500 palestinos não podem sequer circular de carro. Mesmo se for algo emergencial, de doença grave, a pessoa antes precisa informar a Autoridade Nacional Palestina, que por sua vez precisa pedir autorização a Israel. Assim, muitas pessoas acabam tendo de socorrer os entes queridos carregando nas costas, já que é mais rápido do que aguardar por Israel. Isso é vexatório e humilhante”, relatou.

O apartheid imposto por Israel se manifesta de diversas formas e os bloqueios visam fazer da vida dos palestinos algo cada vez pior para que sejam estimulado a deixar a terra. Uma das artimanhas é estrangular a economia por meio da circulação de produtos.

Ahmad Jaradad explica que Hebron produz uvas, vestuário e pedras para construção; Ramalah, oliveiras; Jericó, laranjas, limões e batatas; e Gaza uma cesta de vegetais, frutas e peixes. “Quando Israel impede o fluxo de produtos de Gaza, os preços disparam. Produto essencial na dieta árabe, o quilo do preço do tomate, que é de meio dólar (R$ 1,80) chega a 7,20 dólares. O peixe atualmente é um sonho. Hebron é a cidade mais industrializada da Palestina, muita gente foi expulsa do vale do Rio Jordão, mas fica sem poder nem ver sombra de peixe”, diz. 

Por isso, também como resposta, ele faz um apelo para que a imprensa livre reforce a campanha de boicote: “O Brasil é o quinto maior importador de Israel – mas também de uma cesta de várias outros produtos com capital sionista, como o café Três Corações, ou com joint-ventures com Israel. É importante deixar claro, quando falarmos com a população, que o lucro com essas parcerias vai para o esforço de guerra contra o povo palestino e a própria população civil de Israel, que são em última instância as que mais sofrem com essa política belicista”, declarou Ahmad Jaradad. E fez um alerta sobre a responsabilidade coletiva com a construção de um novo tempo: “Sem a paz verdadeira, que é aquela que garante direitos, a saída será a guerra permanente”. 

De acordo com o jornalista, “os assentamentos são um empecilho a que os palestinos tenham paz e soberania em sua própria terra, pois tudo gira em função deles, da negação de direitos”. No dia anterior à nossa chegada, a população simplesmente ficou presa dentro das suas casas, sem poder sair. “Fecharam três checkpoints e todos ficamos ilhados sem saber sequer a razão”, condenou.

“São atropelos que não impactam somente nos direitos humanos, mas também nos aspectos políticos”, esclarece Ahmad Jaradad, pois fomentam uma crescente repulsa à forma discricionária com que o governo israelense se comporta em relação a cidadãos que têm cada vez mais consciência dos seus direitos. “Hoje existe uma mídia alternativa por meio da qual as pessoas são informadas de centenas de milhares de manifestantes solidários à causa palestina em Londres, em Paris e mesmo nos Estados Unidos, o que vai fortalecendo a convicção das novas gerações. Por sua vez, o mundo inteiro vai se informando da realidade que vivemos, de toda a brutalidade que significa a ocupação. Portanto, a solução para o problema é política. Será a pressão sobre os governos o que mudará a atual situação”, enfatizou.

Neste momento, explicou o jornalista, “22% de toda a população dos territórios ocupados (Cisjordânia e Jerusalém Oriental) estão aqui próximas à cidade de Hebron”. “Diferente de outras cidades palestinas, aqui os colonos vivem dentro da cidade. São cinco assentamentos distintos. Por causa deles, a cidade é divida entre Norte e Sul, fisicamente. Todos os dias os colonos atacam a população palestina. É um tipo de apartheid que é único, ainda mais agressivo, pois há o confisco de terra dentro da própria cidade e nas ruas a presença dos soldados e as cancelas estampam a ocupação por inteiro”, acrescentou. Durante uma rápida caminhada pelo centro velho da cidade pudemos acompanhar de perto grupos de soldados sionistas fazendo uma “ronda” de “segurança”, assim como ver as redes erguidas pelos palestinos para se protegerem das pedras e do lixo lançado pelos colonos israelenses sobre suas cabeças. Cenas indescritíveis, como a da criança palestina de cinco anos presa recentemente em Hebron por soldados de Israel.

Sobre a gravidade da situação humanitária na Faixa da Gaza, Ahmad Jaradad denunciou o empenho do regime sionista em manter sua política criminosa de cerco e aniquilamento da população civil, abandonada à própria sorte em meio aos rigores do inverno. Ao mesmo tempo, alertou, busca impedir qualquer comunicação que denuncie a dura e crua realidade. “Recentemente, 125 ativistas dos movimentos sociais de Gaza se inscreveram para ir ao Fórum Social Mundial de Túnis e foram barrados pelas autoridades de Israel. Por quê? Para que não pudessem dar visibilidade, com o seu depoimento, ao que está acontecendo lá neste momento onde cerca de 400 mil pessoas estão sem ter onde para morar, sobrevivendo sob as ruínas das suas casas, sob árvores ou nas ruas”, condenou.

Créditos da foto: Rusty Stewart / Flickr

Arábia Saudita preparou guerra contra Iêmen muito antes da queda de Hadi




Em outubro passado, forças sauditas fizeram treinamentos nos Alpes franceses, com topografia parecida com a fronteira entre a Arábia Saudita e o Iêmen.

José Luis Lobato – Carta Maior

Quando o embaixador saudita em Washington, Adel Yubair, disse à cadeia estadunidense NBC que a Arábia e os EUA vinham discutindo há vários meses as opções a respeito do Iêmen, não estava mentindo. Vários sinais comprovam que os preparativos da guerra contra o Iêmen começaram há nove meses, muito antes da renúncia e posterior fuga do presidente iemenita Abed Rabbo Mansur Hadi.

A Arábia Saudita não poupou esforços para convencer alguns de seus aliados a participar da coalizão formada por 10 países que atuaram na guerra contra o Iêmen, e insistiu principalmente com Egito e Paquistão. Diversos meios de comunicação revelaram que, no final de 2014, a Arábia pediu ao Egito que transferisse vários militares ao seu território e a outros países do Golfo Pérsico. Com o Paquistão, a negociação foi mais difícil. A imprensa mostrou que os paquistaneses não aceitaram a proposta de enviar suas tropas.

Riad utilizou seu poder para forçar a autoridade militar paquistanesa a pressionar o seu governo. Os contratos assinados em março entre a Arábia e o Exército paquistanês são a prova. Trata-se de vários bilhões de dólares para relançar a indústria militar do país. Entretanto, a decisão do Parlamento, tomada no dia 9 de abril, foi a de rechaçar a petição saudita por unanimidade, o que impôs uma grande derrota diplomática para o gigante reino árabe.

Treinamento de militares sauditas na França

Enquanto isso, as tropas sauditas realizavam treinamentos que formavam parte dos preparativos para desencadear a guerra contra o Iêmen. Em outubro passado – ou seja, seis meses antes do início dos ataques sauditas no país – as forças especiais, paraquedistas e unidades de reconhecimento faziam simulações de enfrentamento nos Alpes franceses.

Muitos analistas acreditaram que o treinamento estava vinculado à luta contra o terrorismo do Estado Islâmico na fronteira com o Iraque. Porém, essa região é desértica, o que não explica por que as forças sauditas realizariam simulações em regiões montanhosas, mais parecidas às da fronteira do sul da Arábia com o norte do Iêmen. Os treinamentos, portanto, eram parte dos preparativos para a guerra prevista contra o Iêmen.

Príncipe saudita: “os paquistaneses são uns bandidos, e são nossos serventes”, declaração que dá ideia da comoção na Arábia Saudita pela decisão do Parlamento do Paquistão, que rejeitou o pedido do reino árabe a que se unissem à coalizão que já atua no Iêmen, com ataques aéreos.Os dirigentes sauditas não conseguiram frear sua irritação pelo fato. Um deles, o governador da província de Nayran, Yalawi ibn Abdul, fez uma dura declaração em referência ao povo paquistanês em geral. Segundo Yalawi, ao negar a petição saudita, os paquistaneses mostraram que são “uns bandidos”, e “gente muito baixa”. Também disse que eles “são nossos serventes”. Além disso, ameaçou tomar medidas contra os paquistaneses que trabalham na província de Nayran, em represália à decisão do Parlamento.

O Parlamento do Paquistão pediu ao governo que se mantenha distante do conflito no Iêmen, e que se mantenha firme na negativa de Islamabad em se unir à coalizão e participar do conflito no sul do Oriente Médio.

Uma resolução unânime, aprovada em sessão especial do Parlamento, disse que o Paquistão deve insistir no papel de mediador, e não se envolver na luta. Dezenas de soldados sauditas morreram e vários foram capturados após o ataque das forças tribais iemenitas perto da cidade de Saada, segundo informou a Press TV. A ofensiva aconteceu perto de uma base militar saudita.

Se trata da tribo iemenita Takhya, que realizou o ataque “em represália” aos bombardeios da Arábia Saudita e seus aliados. 

Créditos da foto: Martin Sojka / Flickr

Mais lidas da semana