José
Ribeiro – Jornal de Angola, opinião, em
A Palavra ao Diretor
A
Máquina do Tempo é uma poderosa ferramenta de trabalho. É uma solução
informática que permite traçar o perfil pessoal de alguém e aceder à sua rede
de relacionamentos.
Nas
bases de dados e na Internet essa aplicação é um instrumento eficaz e na
análise dos “media” tem um valor enormíssimo. Do estudo sociológico de grandes
volumes de notícias extraem-se conclusões de grande significado. É
possível detectar nomes de pessoas, cargos que ocuparam, o que disseram e o que
fizeram em determinado momento.
Essa plataforma pode, por exemplo, mostrar quem aparece mencionado nas notícias
sobre determinada personalidade nos arquivos de quase 100 anos existentes no
Jornal de Angola.
A Portugal Telecom propôs em 2013 à Edições Novembro a exploração dos conteúdos
do Jornal de Angola com essa ferramenta. A ideia era trabalhar as notícias
sobre personalidades e, a partir daí, criar o seu perfil e rede de relações,
diversificando a qualidade de conteúdos para os nossos internautas. Uma solução
dessas, desenvolvida pela Universidade de Aveiro, já é usada no portal SAPO.
Se vier a lançar esse novo produto, o Jornal de Angola vai reafirmar o seu
pioneirismo na esfera do “on line”, depois de ter sido o primeiro órgão a
lançar a tecnologia da “realidade aumentada”.
O grande problema da Máquina do Tempo é que ela só mostra o relacionamento
entre o que está inserido na base de dados utilizada. O que está de fora não
conta, é excluído à partida. Aí se coloca o problema da responsabilidade do
operador da ferramenta.
O “Club-K” abriu uma guerra contra o Jornal de Angola desde que sou director
deste jornal. Sem saber porquê, há oito anos que esse portal ilegal e
caluniador lança informações falsas e ofensivas contra mim, contra camaradas
meus que trabalham no jornal e contra a empresa que dirijo. Algumas dessas
informações partem de gente que ficou zangada com a recuperação feita no
jornal, com um sucesso editorial, publicitário e de vendas que seria maior se
não se levantassem logo aqueles sempre prontos a criar dificuldades. Ainda não
tinha eu aquecido o lugar e já o “Club-K” e seus rebentos me chamavam
bajulador, se calhar por acharem que quem trabalha bem não deve ser elogiado e
a solidariedade e a gratidão devem dar lugar ao ódio.
Depois passaram a designar-me cidadão português e mercenário que beneficiava de
privilégios à entrada em Portugal, talvez por considerarem que um angolano é
incapaz de fazer um bom jornal e dirigir bem uma empresa. Vieram em seguida os
ataques por causa do reforço da equipa editorial com bons profissionais,
antigos e novos jornalistas, de dentro e de fora, que acrescentaram valor ao
“projecto”. No ano passado, intensificaram os ataques e agressões e noticiaram
que eu tinha abandonado “o posto” na empresa – eu que sou um viciado no
jornalismo e nada mais faço do que dedicar-me ao trabalho. O chefe da bancada
parlamentar da UNITA, Raul Danda, ostentou contratos assinados por mim. E,
finalmente, na última semana, os franco-atiradores e sociopatas que disparam do
“Club-K” contra a honra e o bom nome dos cidadãos procuraram pôr-me contra o
Presidente da República, contra a Primeira-Dama, contra ministros e
ex-ministros, administradores e outros mais, afirmando que faço “cabritismo” no
jornal e sou um corrupto.
Ficou assim fechado o cerco contra mim. De bajulador passei a inimigo do “regime”.
A Máquina do Tempo do “Club-K” reduziu o meu perfil e história de vida a um
estrangeiro malfeitor que veio para Angola, minha terra e meu país, perturbar a
harmonia social. Nada que não faça com outros servidores públicos. Mas se
analisarmos tudo o que esse matadouro já escreveu sobre Angola, órgãos de
soberania, detentores de cargos públicos, empresários e até simples cidadãos, o
retrato que sai do portal é assustador. O país é um inferno, onde os bons são
os maus e os maus os bons. Aqueles que fizeram a paz, reconstruíram o país e
abrem as portas ao desenvolvimento, aparecem como assassinos, intolerantes e
corruptos. Aqueles que fizeram a guerra, destruíram e fogem da governação,
surgem como vítimas de um regime repressor e são os defensores da democracia.
O “Club-K” e seus rebentos transformam o Estado num monstro. A isso, o “Club-K”
chama, pomposamente, o “contraditório”. Ora, a noção de contraditório vem do
Direito e nada tem a ver com o Jornalismo. A prática profissional do Jornalismo
tem regras próprias que asseguram os princípios da objectividade e a exaustão
da informação. A infiltração em moda de conceitos do Direito no Jornalismo,
como se o repórter conduzisse um processo legal e a sua função fosse julgar e
condenar, explica o oportunismo crescente entre jornalistas, advogados,
opositores e activistas. Essa confusão não é desinteressada, mas no balanço
final quem sai a perder é o Jornalismo.
É evidente que a propaganda agressiva é apenas alimentada por pessoas
frustradas. Mas um país que precisa de manter a estabilidade e atrair
investimento não pode negligenciar centrais de desinformação que minam os
pilares da democracia e do Estado de Direito. Noutros quadrantes isso é
exemplarmente punido.
O “Club-K” encaixa, de facto, no modelo de terrorismo mediático. Antes de tudo,
é um portal ilegal, anónimo, e o terrorismo age dessa maneira. Ninguém conhece
os representantes legais, não há ficha técnica nem endereços. Se querem copiar
o “Tugaleaks”, tudo bem, mas pelo menos indiquem de quem é a propriedade da
casa. Gente civilizada procede assim. De outra maneira, o combate é desigual e
injusto e a concorrência desleal. No Jornal de Angola apenas sabemos que nos
roubam os conteúdos editoriais e os publicam sem autorização no “Club-K”. O
nome do ladrão é desconhecido.
Durante a semana, o “Club-K” lavou o rosto da página e endureceu os ataques
contra mim. Os anúncios de publicidade desapareceram, à excepção de um. Se os
anunciantes abandonam o circo, fazem bem. Não vá o diabo tecê-las, um dia
destes, podem, também eles, ser atingidos pela lama da difamação e
transformar-se, na máquina torturadora do “Club-K”, em seres abomináveis.