quinta-feira, 14 de maio de 2015

Portugal. BES: PSP está a notificar manifestantes da Associação dos Indignados




A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) do Grupo Espírito Santo (GES) revelou hoje que "alguns associados" têm sido notificados para comparecer em esquadras da PSP, após terem integrado protestos a reclamar direitos.

"Há aqui uma manifesta intimidação dirigida a idosos, muitos deles com baixa literacia", disse à agência Lusa, em Coimbra, o vice-presidente da AIEPC, Alberto Neves.

O mesmo dirigente, que falava durante mais uma manifestação daquela associação, repudiou o que considera ser "uma violação do Estado de Direito" por parte das autoridades policiais.

Na semana passada, o Novo Banco disse que as iniciativas de protesto dos lesados põem "em causa o funcionamento dos serviços" da instituição financeira ou visam "atingir a sua reputação", advertindo que poderá "adotar as medidas legais que se mostrem adequadas a tais comportamentos, para além de continuar a apoiar, sem restrições, os seus colaboradores, nomeadamente os que são ameaçados".

No mesmo dia, 06 de maio, a AIEPC aconselhou a administração do Novo Banco a "gastar o seu tempo a resolver os problemas dos clientes" e não a produzir o que classificou como "faits divers".

Cerca de 150 cidadãos lesados pela compra de papel comercial do BES exigiram hoje, em Coimbra, ser ressarcidos das suas perdas financeiras, prometendo fazer a mesma reclamação ao futuro comprador do Novo Banco.

"Vamos fazer o mesmo" aos futuros donos do Novo Banco e "vamos pôr-lhes os olhos em bico se já não os tiverem", afirmou, numa ironia à possibilidade de o comprador ser oriundo da República Popular da China.

A 03 de agosto de 2014, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado 'banco mau' (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os ativos e passivos tóxicos do BES, assim como os acionistas) e o banco de transição que foi designado Novo Banco.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Falta dinheiro para português ser língua oficial em mais organizações internacionais - CPLP




Cidade da Praia, 13 mai (Lusa) - A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) não tem orçamento suficiente para introduzir o português como língua de trabalho em todas as organizações internacionais, lamentaram hoje na Cidade da Praia vários especialistas.

A observação foi feita pela diretora geral da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Georgina Mello, pela diretora executiva do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Marisa Mendonça, e pelo coordenador da Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa, Eugénio Anacoreta Correia, durante uma conferência para assinalar o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP.

"Introduzir a língua portuguesa significa um orçamento muito importante que não temos para cobrir todas as organizações internacionais", começou por dizer à agência Lusa Georgina Mello, recordando que há alguns anos se fez uma tentativa para introduzir o português em algumas reuniões da Unesco, mas custava mais de 5 milhões de euros anuais.

"É um custo muito elevado e neste momento não temos condições orçamentais para isso", reconheceu, pedindo apoio das embaixadas e representações diplomáticas dos países da CPLP nas capitais onde estão as organizações.

Lamentando essas "limitações objetivas", a diretora geral da CPLP indicou, entretanto, que as embaixadas dos países da CPLP representadas em Genebra, onde vai acontecer a próxima reunião dos ministros do Trabalho, já estão a encarar essa possibilidade.

Por sua vez, a diretora executiva do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Marisa Mendonça, disse que essa é uma questão que vai depender de todos os países e que quando a língua portuguesa chegar a mais organizações internacionais será valorizado de outra forma.

"Às vezes temos a tendência de chegar nas organizações internacionais e falarmos inglês porque facilita a comunicação, mas se fizermos isso estamos a anular aquela ideia de que é necessário também que o português se torne uma língua de trabalho efetiva", defendeu.

Já o coordenador da Comissão Temática de Promoção e Difusão da Língua Portuguesa, Eugénio Anacoreta Correia, pede mais apoios de todos os Estados e da própria CPLP, uma vez que o trabalho é muito caro para uma língua com 250 milhões de falantes em todo o mundo.

"Esse é um dos problemas que decorre da falta de meios, porque nas organizações internacionais é preciso pagar tradutores, edição de documentação e depende da possibilidade de haver meios financeiros para se conseguir esse objetivo", completou o também embaixador, para quem a decisão já está tomada, faltando apenas reunir os meios necessários.

Em organizações internacionais como a União Africana e União Europeia, e regionais como Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) ou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o português é utilizado como língua de trabalho.

RYPE // EL

'Amigos' lusófonos debatem Liberdade com textos e canções em Díli




Díli, 14 mai (Lusa) - Um grupo de 'amigos' lusófonos reúne-se no próximo sábado na sede da Fundação Oriente em Díli para a apresentação de um espetáculo com textos e canções de períodos de "revolta, revolução e resistência".

"Com 'R' se escreve liberdade" é o título de um encontro em que timorenses, portugueses e brasileiros apresentarão 'retratos' de alguns dos nomes mais consagrados das artes e letras lusófonas.

A Fundação Oriente explica que o espetáculo levará a palco obras de Sophia de Mello Breyner Andresen, Vinicius de Moraes, Abílio Araujo, José Saramago, Zeca Afonso, Castro Alves, João Bosco, entre outros.

Haverá ainda música denominada de intervenção e de época e música moderna, explica uma nota da entidade.

ASP // JCS

Governo timorense analisou proposta sobre concessão do Porto de Tibar




Díli, 13 mai (Lusa) - O Governo timorense analisou terça-feira, em Conselho de Ministros, o projeto de concessão para a construção e gestão do Porto de Tibar, nos arredores de Díli, Timor-Leste, projeto orçado em 400 milhões de dólares.

Em causa está um projeto, em modelo de parceria público-privada (PPP), cujo contrato de concessão está a ser finalizado para apresentar aos candidatos concorrentes, entre os quais se inclui a portuguesa Mota Engil.

A apresentação ao Conselho de Ministros inclui dados sobre os "antecedentes do projeto e estrutura da PPP, afetação dos principais riscos, projeções de cash-flow, custos do projeto, benefícios económicos, aspetos ambientais e sociais, decisões necessárias e perfil dos concorrentes", segundo informou o Governo em comunicado.

Em causa está uma PPP para a construção e gestão durante 30 anos do Porto de Tibar, orçado em 400 milhões de dólares (344 milhões de euros) e para o qual o consórcio entre a Mota Engil Ambiente e Serviços, Mota Engil Engenharia e Construção e a belga Besix Group é um dos quatro candidatos pré-qualificados.

Estão ainda pré-qualificadas a inglesa POSNCO, subsidiária da DP World, do Dubai, a filipina ICTSI e a francesa Bollore Consortium.

Os detalhes do projeto foram apresentados pela equipa interministerial envolvida - Finanças, Planeamento e Investimento Estratégico e Obras Públicas, Transportes e Comunicações - e com a colaboração da Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em Inglês), do grupo do Banco Mundial.

"Recorde-se que esta infraestrutura essencial para o país está prevista no Plano de Desenvolvimento Estratégico 2011-2030, e é tanto mais importante quanto se verifica que o Porto de Díli está cada vez mais congestionado, quer a nível de tráfego marítimo quer a nível de tráfego rodoviário", explica o Governo.

Segundo o executivo, o novo porto terá capacidade para um milhão de toneladas por ano e com possibilidade de receber embarcações comerciais e de passageiros.

O projeto inclui a construção de uma estrada entre Díli e Tibar, de um molhe, de instalações em terra, bem como sistemas de drenagem.

De referir que na reunião de terça-feira o Governo analisou ainda uma proposta de financiamento adicional do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) para a "melhoria e alargamento do troço viário entre a capital e Liquiçá", a oeste.

"O projeto prevê o realinhamento e alargamento, para quatro faixas, do troço entre Tacitolo e o Porto de Tibar, incluindo a construção de uma rotunda", refere o Governo.

"A apresentação focou especialmente o estudo de viabilidade, o perfil do empréstimo e a estrutura de implementação", sublinha.

ASP // JCS

Valor dos empréstimos hipotecários para habitação em Macau subiu 40,5% em março




Macau, China, 14 mai (Lusa) -- O valor dos empréstimos hipotecários para habitação em março em Macau subiu 40,5% em relação ao mês homólogo do ano anterior para 4.928 milhões de patacas (543,8 milhões de euros), foi hoje anunciado.

De acordo com dados relativos aos empréstimos revelados pela Autoridade Monetária de Macau, registou-se, porém, uma descida de 6,3% no valor dos novos empréstimos hipotecários para habitação em março face ao segundo mês do ano.

Os residentes de Macau assumiram responsabilidades de 4.613 milhões de patacas (509 milhões de euros) -- mais 34,1% face a março de 2014, mas menos 10,5% em relação a fevereiro deste ano -- enquanto os não residentes contraíram empréstimos no valor de 314,9 milhões de patacas (34,7 milhões de euros), mais 365% em relação a igual período do ano anterior e mais 191,9% em relação a fevereiro.

No final de março, o saldo bruto dos empréstimos hipotecários para habitação totalizava 158.978 milhões de patacas (17.539 milhões de euros), mais 27,2% do que em março de 2014.

Do total, 149.587 milhões de patacas (16,501 milhões de euros), ou mais 25,6% do que no terceiro mês de 2014, é dívida detida por residentes de Macau e 9.389,9 milhões de patacas (1.035,7 milhões de euros), ou mais 60% do que no mesmo mês do ano passado, por não residentes.

Macau é desde 20 de dezembro de 1999 uma Região Administrativa Especial da China com autonomia administrativa, executiva e judicial.

A economia de Macau está assente nos serviços com o setor do turismo, especialmente o jogo em casino, a afirmar-se como a principal fonte de receita pública devido aos impostos diretos de 35% cobrados sobre as receitas brutas apuradas nos espaços de jogo e de 4% de indiretos canalizados para fins diversos como a promoção turística.

FV (JCS) // JCS

Sobe para nove suspeitos detidos por alegado envolvimento em sequestro em Hong Kong




Hong Kong, China, 14 mai (Lusa) -- As autoridades do interior da China e de Hong Kong detiveram um total de nove pessoas suspeitas de envolvimento no sequestro, em abril, da jovem herdeira da marca de vestuário Bossini, informa hoje a imprensa local.

Oito suspeitos foram detidos em Shenzhen, Dongguan e Huizhou, na província de Guangdong, e na província de Guizhou, informou hoje a polícia de Guangdong, na cidade de Guangzhou, indicando que foram recuperados 2,8 milhões de dólares de Hong Kong (317,9 mil euros), assim como relógios e joias.

A polícia tinha informado anteriormente sobre a detenção de seis suspeitos na província de Guangdong, e de outro em Hong Kong. O total de nove pessoas hoje divulgado inclui estas detenções, refere o South China Morning Post (SCMP), na sua edição online.

Seis homens entraram na casa de Queenie Rosita Law, a 25 de abril, em Sai Kung, Hong Kong, e sequestraram a jovem. Queenie Rosita Law foi libertada três dias depois, a 28 de abril.

Além do sequestro, o gangue roubou objetos no valor de dois milhões de dólares de Hong Kong (227 mil euros) em casa da jovem.

Segundo a imprensa local, a família de Queenie Rosita Law entregou o equivalente a 28 milhões de dólares de Hong Kong (3,21 milhões de euros) pelo resgate.

Os criminosos tinham inicialmente reivindicado o pagamento de 50 milhões de dólares de Hong Kong (5,7 milhões de euros).

Queenie Rosita Law é neta do falecido magnata dos têxteis Law Ting-pong e filha de Raymond Lei Ka-kui, um investidor imobiliário que está envolvido em alguns dos grandes projetos de desenvolvimento em Hong Kong.

FV // JCS

Líderes dos dois países mais populosos do mundo reúnem-se no norte da China




Pequim, 14 mai (lusa) - Os líderes dos dois países mais populosos do mundo vão encontrar-se hoje em Xian, no norte da China, numa cimeira invulgar celebrada na imprensa oficial chinesa como "prenúncio de um século asiático".

Num gesto raro, o Presidente chinês, Xi Jinping, receberá o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na capital da sua província natal, Shaanxi, e não no Grande Palácio do Povo, no centro de Pequim, como é habitual.

China e Índia têm no conjunto cerca de 2.600 milhões de habitantes, o que representa 37% da população do planeta, e apesar de divergirem ainda acerca do traçado da fronteira comum, as suas economias são consideradas complementares.

A visita de Mori à China - a primeira desde que assumiu o atual cargo, em 2014 - ficará assinalada pela assinatura de contratos no valor de 10.000 milhões de dólares, adiantou hoje a imprensa chinesa.

A China é já o parceiro maior comercial da Índia, estimando-se em 70.000 milhões de dólares o montante do comércio bilateral no ano passado.

Depois de Xian, o primeiro-ministro indiano viajará para Pequim, onde vai encontrar-se com o chefe do governo chinês, Li Keqiang, e a seguir visitará Xangai.

Antiga capital da China durante a dinastia Tang (séculos VII a X), Xian foi também a cidade onde um famoso monge chinês, Xuanzang, traduziu as escrituras sagradas do budismo, originário da Índia.

Os dois países travaram uma guerra em 1961, devido a um persistente diferendo fronteiriço, mas as relações têm melhorado muito nos últimos anos.

China e Índia fazem parte do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui a Rússia, o Brasil e a África do Sul, e são ambos fundadores da nova instituição financeira internacional proposta por Pequim, o Banco Asiático de Investimentos em Infraestruturas (AIIB, na sigla em inglês).

"Enquanto os dois países olharem sempre para o largo panorama das seus laços bilaterais e transcenderem as diferenças, está fora de dúvida que o dragão chinês e o elefante indiano trabalharão juntos para o rápido rejuvenescimento de duas civilizações", afirma hoje o China Daily num editorial dedicado à visita de Narendra Modi.

AC // JCS

Moçambique. REGISTADOS MAIS DE 23 MIL CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM 2014




Maputo, 13 Mai (AIM) Moçambique registou e atendeu, no ano transacto, um total 23.659 casos reportados de violência doméstica, que representa um aumento em pouco mais de 500 casos quando comparado ao do ano anterior cujos cálculos apontam para 23.151 casos.

Entre os episódios de violência registados no ano findo, 13.600 são de natureza criminal, 7.695 de fórum civil e 2.363 de outra ordem. Dos casos ocorridos, 11.669 foram contra mulheres, 4.118 contra homens e 7.887 contra crianças.

Em termos de ocorrência por província, destacam-se as províncias de Nampula (no norte) com 3.846 casos, Sofala (centro) com 3.197 e cidade de Maputo (sul) com 2.780.

A Ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaúque, que falava hoje em Maputo na sessão de abertura da reunião nacional de Reflexão sobre os Avanços e Desafios na Prevenção e Mitigação da Violência Baseada no Género, disse que os dados mostram o quão preocupante é o fenómeno no país.

Somos, portanto, todos chamados a contribuir com a nossa área de especialidade na sua prevenção e combate de modo a que as vítimas, em especial, as crianças, as pessoas idosas, as mulheres, as pessoas com deficiência não sofram deste mal, sublinhou Chaúque.

O país, segundo a fonte, tem vindo a registar progressos na prevenção e mitigação da violência baseada no género, através da implementação da legislação e programas específicos, na provisão de serviços de acolhimento das vítimas e demais acções que concorrem à eliminação deste mal.

Existe no país um quadro de políticas e outras medidas estratégicas visando criar um ambiente propício para a prossecução de diversos compromissos assumidos a nível nacional, regional e internacional na prevenção e combate ao mal.

Aliás, foi a luz desse compromisso e visando construir sistemas integrados de resposta que o governo aprovou, em 2012, o Mecanismo Multissectorial de Atendimento Integrado à Mulher Vítima de Violência.

O instrumento define as intervenções a serem levadas a cabo por diferentes actores e permite que os sectores intervenientes no processo trabalhem de forma integrada e coordenada para fazer face a violência de género nas suas várias dimensões no país.

Neste momento, segundo a ministra, existem no país 12 centros de atendimento integrado em todo o país, com os quais destaca-se o ganho de encontrarem-se especialidades técnicas que convergem em um objectivo comum, isto é atendimento psicossocial, médico, legal de protecção.

Apesar dos esforços dos vários actores da sociedade em prevenir e combater o mal, Chaúque disse haver muito ainda por fazer sobretudo na mudança de atitudes e de comportamentos, na consolidação dos esforços colectivos e no reforço das abordagens que visem prevenir e combater todas as formas de violência.

Desta feita, o maior desafio, segundo a ministra, é prestar todo o apoio de forma integrada às vítimas de modo a responder as suas necessidades, com vista a construir uma sociedade livre da violência baseada no género e a usufruir plenamente dos direitos humanos.


(AIM) LE/sg

Mais de uma tonelada de pontas de marfim e 124 quilos de cornos de rinoceronte apreendidos



Moçambique

Uma semana depois de dois sul-coreanos e igual número de moçambicanos terem sido detidos por tráfico de 4.6 quilogramas de cornos de rinoceronte, posse de 93.300 dólares norte-americanos (2.799.000 meticais), 2.400 rands (cerca de 7.200 meticais), quatro telemóveis e quatro sacos de arroz, na terça-feira (12), um cidadão chinês foi surpreendido pela Polícia da República de Moçambique (PRM) com 340 pontas de marfim, o que equivale a 1.160 quilogramas; e 65 cornos de rinoceronte, estes com peso estimado em 124 quilogramas.

Trata-se da maior quantidade de marfim e cornos apreendida de uma só vez no país. A polícia suspeita o dono da mercadoria liderava uma equipa de contrabando e para lograr os seus intentos tenham sido abatidos pelo menos 235 animais, dos quais 170 elefantes e 65 rinocerontes.

A prisão aconteceu em Tchumene, no município da Matola, onde o produto se encontrava num dos condomínios luxuoso. Emídio Mabunda, porta-voz da PRM na província de Maputo, disse que se trata de um produto de alto valor comercial.

“Sem dúvida, estamos perante um caso que está relacionado com a caça furtiva. Algumas pontas de marfim ainda têm sangue fresco, sinal de que alguns animais podem ter sido vitimados recentemente”, disse Emídio Mabunda.

Segundo aquele funcionário, a força na qual está afecta, em coordenação com a Polícia de Investigação Criminal (PIC), está a trabalhar com vista a acabar com as redes que se dedicam a este crime ambiental.

Para além da conivência de moçambicanos, dos fiscais de reservas e parques nacionais e das autoridades policiais, há tempos que o país regista cada vez mais envolvimento de cidadãos estrangeiros no tráfico do marfim e de cornos de rinoceronte.

Os tailandeses e vietnamitas são os que se destacam neste negócio que, devido à ausência de uma mão dura por parte do Estado, lesa a economia e enriquece redes criminosas. O transporte desses produtos que, também, significam a extinção de elefantes e rinocerontes é feito para fora do país através do Aeroporto Internacional de Mavalane.

Nenhum dos casos até aqui reportados sobre o tráfico de marfim e cornos de rinocerontes foi esclarecido. Refira-se, ainda, que a nova lei 16/2014, que prevê penas severas para os infractores, parece ser nula uma vez que, praticamente, não se conhecem casos de gente graúda, acima de tudo, que tenha sido detida, julgada e condenada por prática destes crimes.

No seu censurado informe anual sobre a justiça em Moçambique, Beatriz Buchili, procuradora-geral da República (PGR), limitou a avançar um número sobre a caça furtiva, sem no entanto se referir às prováveis medidas em curso para estancar o mal.

Segundo a guardiã da legalidade no país, tem ocorrido o abate de espécies protegidas tais como rinocerontes e elefantes para a extracção de cornos e pontas de marfim para a sua comercialização. As redes criminosas usam armas de fogo e viaturas de grande cilindrada.

Beatriz Buchili afirmou que o Aeroporto Internacional de Mavalane “continua a ser usado como um dos pontos de entrada ou trânsito de estupefacientes do estrangeiro, maioritariamente do Brasil e Paquistão”. Todavia, ela não disse para que países o marfim e os cornos de rinocerontes são levados de forma clandestina.

A procuradora diz igualmente que as mulheres e crianças traficadas em Moçambique têm como principal destino a África do Sul, mas não se pronunciou relativamente aos principais “consumidores” do nosso marfim e dos cornos.

Verdade (mz)

Moçambique. Analista acusa Governo e Renamo de terem interesse em arrastar as negociações



Ramos Miguel – Voz da América

Em Moçambique, segundo disse à VOA o analista politico Fernando Lima, o arrastar das conversações entre o Governo e a Renamo faz parte das estratégias das duas partes.

O analista e presidente do Conselho de Administração da MediaCoop, proprietária do jornal Savana, Lima é da opinião de que o diálogo político entre o Governo e a Renamo está esgotado porque há já bastante tempo que não há avanços, mas diz que no início houve algo de positivo, nomeadamente, o pacote eleitoral e o acordo sobre a cessação das hostilidades.

Mas depois disso, o diálogo nunca mais avançou, e Fernando Lima considera que este fórum está esgotado e sublinha que uma vez que as questões militares podem ser resolvidas entre o Presidente Filipe Nyusi e o líder da Renamo os assuntos ligados à despartidarização do aparelho de estado podem, claramente, passar para o Parlamento porque não dizem respeito apenas ao Executivo mas a toda a sociedade moçambicana.

Para Fernando Lima, as delegações do Governo e da Renamo ao diálogo politico no Centro de Conferências Joaquim Chissano não têm mandato suficiente para fechar determinados "dossiers", pelo que "há que haver vontade política para resolverem as questões".

"Quanto à questão da despartidarização do Estado, o Governo, dirigido pelo partido Frelimo, não se mexeu um centímetro e, quanto a mim, há, claramente, muitas opções que poderiam ser encontradas para se arranjar uma solução conciliatória em relação à separação entre partidos políticos e Estado, questões de trabalho político-partidário e trabalho no Estado", concluiu.

Angola. DESAPARECIMENTO DE ADOLESCENTE NO ROCHA PINTO



POLÍCIA É ACUSADA DE ENCOBRIMENTO

Dionísio Halata – Folha 8 digital (ao) 09 maio 2015

A cidadã Feli­zarda José, moradora do bairro Gamek, Comuna do Rocha Pinto, acusa os operativos afecto ao departamento de investigação criminal da esquadra policial do Catinton, pertencente a Divisão da Maianga, de estarem a encobrir o assassinato e, consequente, o desapareci­mento do filho, adolescen­te, Gabriel Monteiro.

Segundo Felizarda José, o caso remonta desde 28 de Junho do ano passado, al­tura em que os pais nota­ram a ausência de Gabriel José Monteiro, de 16 anos de idade, do convívio familiar; as primeiras infor­mações sobre a morte do adolescente foram obtidas na casa mortuária, onde ficaram a saber que o cor­po fora deixado lá por um carro-patrulha adstrito à esquadra policial do Ca­tinton, com argumento de que tivera sido encontrado na via pública, suposta­mente vítima de morte sú­bita; o mesmo foi registado (na casa mortuária) com o nome verdadeiro e com­pleto, facto contraditório, pois jamais levava consi­go quaisquer documentos pessoais.

Ao tomar nota disso, os familiares de Gabriel di­rigiram-se à esquadra do Catinton, onde, depois de terem feito alguma con­fusão, conseguiram verifi­car cópia de um processo acerca do mesmo; o do­cumento foi encontrado numa estante, escondi­da, na sala operativa dos agentes afectos ao depar­tamento de investigação criminal daquela unidade da polícia nacional. De acordo com o processo, Gabriel José Monteiro fora trans­ferido dali para a direcção provincial de investigação criminal (DPIC) no dia 18 de Julho de 2014, curiosa­mente, um dia após os pais terem apresentado queixa sobre o desaparecimento do adolescente na mesma esquadra.

Um dia antes do Gabriel ter dado entrada na esqua­dra do Catinton nós já tí­nhamos ido lá abrir o pro­cesso do desaparecimento, deixamos uma fotografia, cópia do bilhete de identidade dele e contactos te­lefónicos para facilitar em caso de alguma informa­ção por parte dos agentes, que pudesse nos levar a localizá-lo; de realçar ainda que durante os dias subse­quentes estivemos naque­la unidade várias vezes, nunca nos disseram nada porquê? Após algumas in­vestigações (procura) nos apercebemos que o Ga­briel tivera sido espancado algures no bairro Gamek, próximo da conhecida rua da parabólica, por um grupo de jovens, em casa de uma senhora identifica­da por Jú, o que resultou, provavelmente, na morte dele, antes de irmos ter com a senhora fomos nova­mente avisar a polícia, nos fizeram de parvos o tempo todo, afirmou Felizarda José, mãe da vítima.

Durante as nossas buscas passamos por todas as unidades afectadas à Di­visão da Maianga, sempre sob orientação do oficial operativo da investigação criminal do Catinton, que, afinal, estava a fingir, por­quanto já sabia de tudo há bastante tempo, até por­que ficamos a saber que o relatório da morte do nos­so filho estava na esqua­dra desde 29 de Junho de 2014 e, segundo o chefe da DNIC ali todos os agentes tinham conhecimento, um dia após termos notado o desaparecimento em casa do miúdo, e em nenhum momento nos disseram alguma coisa, lamentou Felizarda José. Dado o fac­to que perdemos a credibilidade naqueles polícias, achamos conveniente le­var o assunto à direcção provincial de investigação criminal, onde na voz do chefe Amaro Neto fo­mos informados acerca das verdadeiras causas da morte, na presença do agente José Bernardo que até nos mostrou a men­sagem que lhe tinha sido enviada da esquadra do Catinton a propósito dessa matéria, dando conta da morte de Gabriel, nas instalações da aludida uni­dade, após espancamento por parte de vários indi­víduos que, felizmente, também já estavam deti­dos ali e cujos familiares haviam sido contactados. Isso tudo é mentira, disse, inconformada, a senhora Felizarda José. Jamais fo­mos avisados, concluiu a progenitora. Face a isso, foi aberto um inquérito para apurar os factos, mas dada a lentidão fomos procu­rar a senhora Jú, em cuja residência o nosso filho tinha sido espancado, ini­cialmente; para o efeito, usamos os diáconos e o pastor (Tecas) da igreja dela como intermediário, tivemos bom acolhimento e, no encontro, a Jú con­firmou que o Gabriel es­teve em sua casa, adiantou também que houve lá uma briga entre o meu filho e o genro dela, que na oca­sião ficou ferido, facto que, eventualmente, terá ori­ginado o cárcere e conse­quente espancamento do nosso Gabriel, deixando-o num estado muito crítico, incapaz de locomover-se, sendo necessário irem procurar um carro-patru­lha para o levar para a es­quadra, contrariamente a um hospital, obtida a via­tura, pertencente à unida­de do Catinton, os agentes em serviço recusaram-se receber o mesmo ao ve­rem o estado de debili­dade gravíssimo em que este estava. Isto obrigou a dona Jú e seus cúmplices a contratarem um carro par­ticular que os levou até à esquadra do bairro Huam­bo, onde o deixaram por volta das duas da manhã; com estas informações fo­mos à DPIC e explicamos tudo, tendo sido criado um processo com o códi­go 5717-DH, mas passado quase um ano, ficamos a saber da procuradoria­-geral junto da DPIC que o caso está parado por falta de provas. Não é possível, nós, hoje, já conhecemos as pessoas, temos tudo, até testemunhas que viram o ocorrido; até agora ainda não vimos o corpo nem sa­bemos onde foi enterrado, e paradoxalmente a polícia jamais consegue emitir a certidão de óbito e o agen­te da DPIC responsável do processo têm-nos dado bailes, isso é inédito, afir­mou Felizarda José, ques­tionando o caro leitor se assim ainda há razão para uma mãe viver.


Angola. RAFAEL MARQUES PREVÊ UMA “GRANDE BATALHA” NO SEU JULGAMENTO




À entrada do tribunal, o activista disse estar tranquilo e reafirmou não haver acordo nenhum com os generais que o processam.

O Tribunal Provincial de Luanda reiniciou hoje o julgamento sobre a acusação de violação de direitos humanos opondo generais ao jornalista Rafael Marques, que à entrada disse estar a iniciar uma “grande batalha”.

“Será uma grande batalha (…) Não podia estar mais tranquilo, é uma batalha que eu vou adorar lutar até ao fim”, disse o jornalista e activista, questionado pela Lusa à entrada para o julgamento, que decorre à porta fechada e que conta com observadores das representações diplomáticas dos Estados Unidos e da União Europeia em Luanda.

“A minha expectativa é que finalmente as pessoas, as testemunhas das Lundas [províncias diamantíferas a cerca de 1.000 quilómetros de Luanda] tenham a oportunidade de explicar no tribunal o que realmente se passa naquela zona. É a quarta ou quinta vez que vêm a Luanda e espero que desta vez possam falar em tribunal. Ainda não conseguiram”, afirmou.

Rafael Marques é acusado de “denúncia caluniosa”, por ter exposto alegados abusos dos direitos humanos com a publicação, em Portugal, em Setembro de 2011, do livro “Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola”.

Os queixosos são sete generais, liderados pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, e os representantes de duas empresas diamantíferas.

O julgamento, hoje retomado, foi suspenso a 23 de abril, a pedido dos advogados de acusação, mas a defesa do jornalista e activista angolano admitia a possibilidade de um entendimento extrajudicial.

“Não há nada”, disse apenas Rafael Marques, à entrada para o julgamento, que após duas sessões anteriores deverá hoje começar a fase de inquirição de testemunhas.

Na quarta-feira, em declarações à Lusa, o advogado de defesa confirmou que falhou a tentativa de entendimento extrajudicial.

“Houve uma tentativa de fazer uma negociação extrajudicial, mas o Rafael não está de acordo com as condições que eles [advogados dos generais] pretendiam. Como se fosse uma culpa, como se tivesse que se retratar. Isso não é possível, na medida em que o Rafael agiu e continuará a agir em consciência”, disse o advogado David Mendes.

De acordo com o advogado, um eventual acordo teria de envolver a retirada de queixas em Portugal e Angola, mas não o recuo de Rafael Marques sobre estas denúncias.

“Quiseram que ele se viesse retratar, como que se sentisse uma mea-culpa. Não foi possível chegar a um acordo porque isso ia colocar em causa o bom nome e a idoneidade do Rafael e isso não se negoceia”, disse ainda o advogado.

Lusa, em Rede Angola

Cabinda. Arão Tempo. ATIVISTA LIBERTADO APÓS DETENÇÃO DE DOIS MESES




Arão Tempo saiu da prisão mas José Marcos Mavungo continua na cadeia, sem acusação formal. Prazo de prisão preventiva expirou a 28 de Abril.

Um dos dois activistas detidos preventivamente em Cabinda desde 14 de Março foi ontem libertado na sequência de diligências naquela província de uma delegação da Procuradoria-Geral da República, disse à Lusao seu advogado.

“Não tenho mais informação, mas posso confirmar que o doutor Arão Bula Tempo e o seu cliente [que também estava detido], foram libertados esta tarde. Para já, permanece detido o senhor José Marcos Mavungo”, afirmou o advogado dos dois ativistas, Francisco Luemba.

José Marcos Mavungo, de 52 anos, activista dos direitos humanos, que continua detido, e Arão Bula Tempo, de 56 anos, advogado e presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, estão indiciados, mas ainda sem acusação formal, por alegados crimes contra a segurança do Estado.

Para o dia em que foram detidos estava prevista uma marcha de protesto contra a alegada má governação de Cabinda e violação dos direitos humanos – que acabou por não se realizar -, na organização da qual estavam envolvidos.

O prazo limite de 45 dias para a prisão preventiva de ambos esgotou-se a 28 de Abril sem que fosse conhecida na altura qualquer decisão sobre a manutenção desta medida de coação.

“Está de visita a Cabinda uma delegação da Procuradoria-Geral da República, que veio avaliar a situação dos dois processos. Na sequência dessa avaliação foi ordenada esta libertação, pelo que sabemos”, explicou o advogado Francisco Luemba.

O conselho nacional da Ordem dos Advogados de Angola chegou a avançar com um pedido de ‘habeas corpus’, para a libertação de Arão Tempo, processo que transitou do tribunal de Cabinda para o Supremo.

“Todas estas irregularidades que denunciámos terão contribuído para este desfecho”, concluiu o advogado.

Lusa, em Rede Angola (ao)

Se a imigração for uma questão de números, os direitos humanos estão em risco




A União Europeia não está ameaçada por uma crise de imigração, argumenta o director da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central, John Dalhuisen, lembrando que nos anos 1990 foram acolhidos muito mais refugiados dos Balcãs sem problemas.

John Dalhuisen falou com o PÚBLICO numa passagem por Lisboa, onde esteve a participar na Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo falando sobre imigração e asilo.
O director da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central vê com bons olhos as propostas da Comissão Europeia (de que eram conhecidos apenas traços gerais no dia da entrevista), sobretudo o reconhecimento de que é preciso haver redistribuição das pessoas que a UE recebe entre os vários Estados-membros. Já ao atacar os traficantes na Líbia sem estabelecer canais para que os imigrantes possam sair do país, a UE poderá condená-los a viver em condições deploráveis.

Como vê as últimas propostas europeias em relação à imigração e às mortes no Mediterrâneo? Como convencer muitos países, pressionados por populistas e extrema-direita, a aceitá-las?

O que aconteceu nas últimas semanas, após o fim-de-semana em que de uma só vez morreram 800 pessoas, foi um acordar para um drama. As pessoas viram que o fim da operação marítima italiana foi um erro trágico, mesmo os populistas que não seriam favoráveis à imigração perceberam que não se pode deixar as pessoas morrer assim. Há pelo menos propostas para a parte da busca e salvamento. Há uma crise no mar, mas aqui o prognóstico parece bom.

E quanto à pressão para receber mais imigrantes?

Enquanto há uma crise global de refugiados – 50 milhões de refugiados ou deslocados em todo o mundo – a Europa não enfrenta uma crise de imigração. Ainda estamos a falar de cerca de 600 mil pedidos, números que são geríveis. Não temos uma crise migratória, mas temos desafios.

O número não é assim tão estratosférico, sobretudo se compararmos com a resposta ao conflito nos Balcãs nos anos 1990, quando os países europeus absorveram confortavelmente vários milhões de pessoas e isso não criou tensão social.

Há muitos mitos. Sondagens mostram que as pessoas acham que a percentagem de estrangeiros é maior do que na realidade, que o número de refugiados é maior. Como se luta contra isto?

Ouvimos hoje de novo na AR alguém dizer que entre 100 e 200 milhões de pessoas da África Subsariana estão a planear chegar à Europa. Como é que se consegue calcular isto?
 Podemos dizer que há 200 milhões de pessoas na Europa que já tiveram a ideia de talvez um dia ir viver para a América, isso não quer dizer que estejam a comprar bilhetes de avião. A realidade é que, se virmos no ano passado, dos 270 mil que entraram por rotas marítimas mais de metade eram refugiados – da Síria, Eritreia, Somália, Afeganistão. A ideia de que a Europa tem esta ameaça atrás dos refugiados, uma horda de pessoas que se querem aproveitar do sistema, é estatisticamente falsa. Agora, isto não quer dizer que se deva abrir as fronteiras a todos; isso é ridículo e cada país tem o direito e o dever de proteger as suas fronteiras.

Como se distingue migrantes económicos de pessoas com pedidos legítimos de asilo?

Essa distinção não pode ter como base o país de origem – não podemos partir do princípio de que todos os que vêm do Níger são migrantes económicos, porque alguns podem ter razões específicas. Grupos evidentes são mulheres (sujeitas a abuso, mutilação genital feminina, por exemplo), lésbicas, gays, talvez outros com ligações a sistemas políticos corruptos – vai sempre ser preciso uma avaliação individual. Mas não há razão para que essa avaliação não possa ser feita rapidamente, meticulosamente e com justiça, e depois as pessoas recusadas voltarem.

Estatísticas mostram que há uma grande diferença nas taxas de aprovação de vários Estados-membros. Porquê? A mesma pessoa teria hipóteses diferentes em países diferentes?

Em alguns casos sim. Mas alguma da diferença na taxa de aprovação reflecte a diferença da origem dos que pedem asilo e isso varia muito. Há países que têm muitos pedidos de sérvios ou kosovares e poucos desses são realmente casos genuínos de asilo.

No entanto, há mesmo diferenças. Essa é uma das coisas que a proposta da Comissão Europeia está a tentar mudar, ver se é possível harmonizar padrões. Penso que esta é uma parte interessante da proposta da UE que é de facto bastante radical. É muito corajosa, sensata...

E deverá falhar.

E deverá falhar, infelizmente. Porque a Europa vai ter mesmo de ter qualquer mecanismo. Ou não se tem de todo, ou tem de se ter um melhor. O sistema híbrido não é assim tão diferente, por exemplo, do euro, em que há uma moeda única sem união fiscal, e não está a resultar. A união de migração sem um sistema de distribuição também não vai funcionar.

A Europa rejeitou 55% dos pedidos de asilo que recebeu em 2014. O que acontece a quem vê o seu pedido rejeitado?

A Europa consegue fazer regressar cerca de 39% das pessoas que rejeita, o que é muito baixo. Este é um problema real que gera preocupações que prejudicam um sistema de asilo. É muito difícil de resolver, é preciso muita colaboração de países de origem, mas parece que a Europa precisa de ser mais dura com estes países.

Há uma opção melhor, que seria o regresso ao país de trânsito. Mas para se mandar de volta pessoas sem sequer analisar o seu pedido de asilo, tem de se ter a certeza de que se está a mandar para um país que as receba. E nem a Tunísia, nem Marrocos, nem a Turquia têm sistemas significativos de asilo.

A Austrália, onde havia um problema de chegadas de pessoas de barco, paga ao Camboja para os receber, e este é um país que não tem uma grande tradição de respeito pelos direitos humanos.

E a Europa faz algo ligeiramente semelhante embora numa escala muito menos visível e de um modo menos cruel. O sistema [europeu] tem assentado em construir muros em terra, e em contribuições financeiras de vários modos para as autoridades da Tunísia ou Marrocos, partindo do princípio de que estas vão impedir as pessoas de vir (o que é muito mais eficaz do que mandar as pessoas embora). Esta é uma das razões que levam as pessoas a tomar cada vez mais a rota do Mediterrâneo central, porque as outras se tornaram quase impossíveis. As pessoas vão pela que sobra, e tragicamente esta é incrivelmente perigosa.

As pessoas têm noção do perigo que enfrentam ao viajar?

Muitos têm alguma ideia dos perigos da travessia do Mediterrâneo e que a viagem até esse ponto também envolve um potencial para abusos. Mas acho que a maioria não percebe a escala completa de todo o horror potencial. Em particular na Líbia, onde acontecem coisas muito chocantes.

Por isso dizemos que é absolutamente legítimo atacar quem leva as pessoas [na Líbia], mas há um perigo muito real de que acabemos por deixar um grupo de pessoas ali sem hipótese de ir para mais lado nenhum.

O que falta nesta abordagem?

Enquanto a Europa vir a gestão da imigração como uma questão de números, vai haver violações de direitos humanos. Porque não se controla o lado da oferta. A oferta está a aumentar numa altura em que se quer que os números baixem. Se a motivação central for fazer baixar os números, isso só se vai conseguir com muitos atalhos e ignorando muitos direitos.

A questão inversa, no entanto, é interessante: podemos ter um sistema que respeite os direitos das pessoas que não faça subir imenso os números? A resposta muito honesta é "não". Mas se perguntarmos se esta subida seria numa escala que não fosse gerível, também acho que não, especialmente se houver investimento em cooperação com os países de origem e trânsito em particular no que diz respeito à migração económica. E a dada altura uma região como a União Europeia tem de simplesmente aceitar subidas e descidas da população refugiada global – há boas décadas, há más, não se decide ou controla.

Foto: John Dalhuisen AFP

A SABOTAGEM DO CESSAR-FOGO IRANO-AMERICANO




O plano Wright, publicado em setembro de 2013, modifica os projectos de remodelagem do Médio-Oriente Alargado. Envolvendo a Síria e o Iraque, prevê a criação de um Sunistão e de um Curdistão. O primeiro Estado foi criado em 2014 pelo Emirado islâmico(Daesh), o segundo aguarda concretização. Ora, os Curdos são minoritários no Norte da Síria. Por outro lado, o plano Wright trata também da Líbia, do Iémene e da Arábia Saudita. Ele parece em vias de realização nos dois primeiros Estados, sempre graças ao Emirado Islâmico.

Como Israel pretende relançar a guerra no Levante

Thierry Meyssan*

Longe de se confessar derrotado, Benjamin Netanyahu encara sabotar o acordo que Washington e Teerão deverão assinar a 30 de junho próximo. Para isso, ele tentaria relançar a guerra na Síria. A sua ideia é de continuar a obra já realizada pelo Emirado Islâmico no Iraque e na Síria, na Líbia e no Iémene, aplicando para tal o plano Wright e criando, assim, um pseudo Curdistão independente, a cavalo sobre o Iraque e a Síria.

De modo a sabotar o acordo que deverá ser assinado por Washington e Teerão, a 30 de junho, o Primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, preparou um relançamento da guerra contra a Síria.

Após a tentativa dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido, para colocar os Irmãos Muçulmanos no poder (de fevereiro de 2011 à primeira conferência de Genebra, em junho de 2012), da guerra de mercenários (desde a Conferência de Paris, dos Amigos da Síria, em julho de 2012 até à segunda Conferência de Genebra, em janeiro de 2014), e da tentativa de instalação do Caos pelo Emirado Islâmico (de junho 2014 até ao presente), Israel propõe-se, agora, lançar uma quarta guerra.

Tratar-se-ia de continuar a aplicação do plano elaborado por Robin Wright, para o Pentágono —publicado em setembro de 2013 pelo New York Times— criando um Curdistão independente a cavalo sobre o Iraque e a Síria [1].

Quem são os Curdos ?

O povo curdo está presente na Turquia, no Irão, no Iraque e na Síria, mas não dispõe de um Estado desde os fracassos da República de Ararat (1927-1930) e da República da Mahabad (1946-1947). Os Curdos distribuem-se principalmente pela Turquia (13-20 milhões), depois pelo Irão (5-6 milhões), pelo Iraque (4-5 milhões) e, por fim, pela Síria (3 milhões).

- Depois de alguns entre eles terem participado no genocídio de cristãos e de yazidis, os Curdos da Turquia foram, por sua vez, perseguidos durante um século em nome do pan-turquismo. Durante o período de 1984-2000, a repressão da insurreição do PKK fez, pelo menos, 40. 000 mortos. 

- Os Curdos do Irão dispõem de uma certa autonomia, mas são economicamente discriminados por Teerão. 

- Os Curdos do Iraque estão ligados à Otan desde o início da Guerra fria, primeiro servindo Saddam Hussein, e, assim tendo lutado contra a Revolução khomeinista, depois contra Saddam, assim que a Otan decidiu desembaraçar- se dele. Eles dispõem, actualmente, de uma autonomia regional e mantêm embaixadas no estrangeiro. 

- Os Curdos chegaram à Síria para escapar às perseguições turcas, primeiro durante o período de Mustafa Kemal Atatürk, depois há 30 anos atrás, aquando da insurreição do PKK. Os que não estavam naturalizados foram-no, entretanto, pelo presidente Bachar el-Assad, no início da guerra, e concluíram um acordo com Damasco que lhes forneceu armas para defenderem a sua região.

Os Curdos são um povo com bastantes diferenças entre si, com tensões internas muito fortes. Eles não falam todos a mesma língua, seguem diferentes religiões, embora sejam principalmente sunitas e militam por movimentos políticos antagónicos. Com a Guerra Fria, eles dividiram-se entre pró-E.U. (a família Barzani, agora no poder numa região do Iraque) e pró-soviéticos (Öcallan, sequestrado pelos israelitas, em 1999, por conta da Turquia, e preso desde então) .

O Curdistão iraquiano : máfia e Mossad

Levando em conta o papel de Israel no seio do imperialismo anglo-saxónico, a família Barzani —que era originalmente socialista— juntou-se, nos anos 60, à Mossad que a instrumentalizou contra o Baas iraquiano [2]. Muito mal visto pelos Curdos da Turquia, do Irão e da Síria, o actual presidente Massoud Barzani é com grande probabilidade também membro da Mossad. Ele conseguiu fomentar uma certa prosperidade no Curdistão iraquiano, graças a investimentos israelitas, depois a estabelecer um regime de tipo clã.

O presidente Barzani mantêm-se no poder quando o seu mandato expirou há quase dois anos; uma situação anti-democrática que não parece incomodar muito Washington tanto como a de Mahmoud Abbas (Palestina) ou de Abd Rabbuh Mansur Hadi (Iémene). O seu governo chafurda no nepotismo e na corrupção. O seu clã ocupa as principais posições de responsabilidade, a começar pela de Primeiro-ministro reservada ao seu sobrinho Nechervan Barzani, encharca 15 bilionários com dólares e milhares de milionários, sem conseguir explicar a origem da sua aparente riqueza. Os advogados foram os primeiros a ser reprimidos, com a condenação da Srª Kamal Qadir, a 30 anos de prisão, por ter criticado o presidente Barzani. A liberdade de imprensa é, desde 2010, apenas teórica após o sequestro e o assassínio do jornalista curdo Sardasht Osman, atacado por ter caricaturado o presidente. O Governo Regional está em falência e não paga mais, desde há vários meses, a uma grande parte dos seus funcionários.

O Curdistão iraquiano e o projecto de anexação do Norte da Síria

Em 2014, o Governo regional do Curdistão participou no complô visando concretizar a remodelagem do Iraque e da Síria, conforme o Plano Wright. Ele participou em diversas reuniões, em Amã, com os serviços secretos jordanos, os dirigentes do Emirado Islâmico, os chefes dos grupos armados na Síria e os Naqchbandis iraquianos [3]. Foi acordado, sob a égide de Washington e de Telavive, que o Emirado Islâmico e o Governo regional do Curdistão lançariam um ataque, coordenado, para se apoderarem de uma grande parte do Iraque. Enquanto a imprensa internacional denunciava as barbaridades do Emirado Islâmico no Iraque, os Curdos de Barzani apoderaram-se dos campos de petróleo de Kirkuk e aumentaram o seu território em 40%.

Em seguida, enquanto numerosos Estados que apoiavam, em segredo, esta operação denunciavam publicamente os crimes contra a humanidade, e as pilhagens, do Emirado Islâmico, o Governo regional do Curdistão instalava o oleoduto que havia acabado de roubar, em serviço dos jiadistas, para vender aos europeus o petróleo que pilhavam.

Qualquer contestação da aliança entre o Governo regional Curdo e o Emirado Islâmico é severamente reprimida. Assim, Shesho Hayder, líder Yazidi que denunciou isto, foi preso, a 7 de abril, apesar de ter a dupla nacionalidade alemã.

Durante os anos de 2000, o Estado-Maior israelita previa neutralizar as capacidades de ataque dos mísseis do Egipto e da Síria, colocando os seus próprios mísseis no Sudão-Sul e no Curdistão iraquiano. Se a primeira região alcançou, entretanto, a independência, a segundo ainda não. O Plano Wright oferece, ao mesmo tempo, uma ocasião para alcançar este objectivo estratégico, como a de semear o caos. Para sabotar o acordo que Washington e Teerão deverão assinar a 30 de junho, Benjamin Netanyahu planeou lançar os Peshmergas (quer dizer os soldados de Barzani) ao assalto do norte da Síria. No entanto, os Curdos da Síria são hostis à máfia dos Barzani e sempre foram uma minoria nesta região.

Desde há vários meses, uma campanha de imprensa mentirosa atribui aos Pershmergas os feitos de armas dos Curdos turcos do PKK contra o Emirado Islâmico, por exemplo, aquando da batalha de Kobanî. Os Estados ocidentais, a começar pela França, enviam armas directamente para Erbil, sem passar por Bagdade, em violação da soberania iraquiana. Estas armas não são utilizadas, mas, sim, armazenadas na previsão de ataque ao Norte da Síria.

No Congresso dos Estados-Unidos, Edward Royce e Eliot Engel, dois parlamentares representando tradicionalmente os interesses do Likud israelita, colocaram, em novembro de 2014, uma proposta de lei [4] autorizando o fornecimento de armas directamente ao Governo regional curdo do Iraque. Não tendo a proposta sido adoptada, estas disposições foram contudo incluídas na Lei do orçamento da Defesa pelo presidente do Comissão das Forças Armadas, Mac Thornberry, com outras visando reforçar, simultaneamente, a ajuda militar aos grupos que lutam contra a República Árabe da Síria. Se ela tivesse sido aprovada pelas duas câmaras, esta proposta privaria Bagdade de toda a autoridade fora da zona xiita do Iraque e abriria o caminho, ao mesmo tempo, para o desmantelamento do país e para uma quarta guerra na Síria. A maioria dos políticos iraquianos que se pronunciam, em público, têm advertido contra o perigo de uma tal política. O líder xiita Moqtada al-Sadr (o antigo comandante do Exército Mahdi) tem, por seu lado, declarado que, se essa proposta fosse adoptada, ele consideraria novamente os Norte-americanos como inimigos da Pátria e entraria, também. tanto em guerra contra os 3.000 conselheiros militares (americanos-ndT) no Iraque, como contra os interesses dos E.U. no exterior.

O presidente Obama e o vice-presidente Biden advertiram, de forma dura, o presidente Barzani, em 5 de Maio, na Casa Branca, que eles não deixariam os israelitas agir à vontade e instaram os Curdos do Iraque a ficar quietos. No entanto, no Curdistão iraquiano, a imprensa finge, pelo contrário, que o presidente Obama acolheu calorosamente a delegação e se comprometeu a apoiar um «Curdistão» independente.

O novo governo israelita, formado a 7 de maio por Benjamin Netanyahu, tenta unificar os jiadistas do Norte da Síria. Trata-se de coordenar o seu deslocamento em direcção a Damasco, assim que os Curdos iraquianos entrassem na Síria para, aí, massacrarem os Curdos do PYG (o ramo local do PKK turco, que apoia a República Árabe da Síria) e anexar o seu território.

O presidente Erdoğan, considerando que a criação de um «Curdistão» independente, a cavalo sobre o Iraque e a Síria, reanimaria o conflito curdo no seu país, denunciou este projecto como uma etapa em direcção à destruição da Turquia. Em caso de ofensiva curdo-iraquiana na Síria ele poderia, instantaneamente, virar-se para o lado de Damasco.

Sem qualquer dúvida quanto a isso, o projecto israelita será discutido (com a criação de uma Otan sob comando israelita) aquando da próxima sessão do Conselho de Cooperação dos Estados do Golfo, que o presidente Obama —que não é parte dele— convocou para Camp David.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Voltaire.net

Notas:
[1] “Imagining a Remapped Middle East” (Ing- «Imaginando um mapa do Médio-Oriente Remodelado»- ndT), Robin Wright, The New York Times Sunday Review, September 28, 2013.
[2] “O «Curdistão», versão israelita”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria), Rede Voltaire, 14 de Julho de 2014.
[3] “Revelações do PKK sobre o ataque do EIIL e a criação do «Curdistã”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Julho de 2014.
[4] H. R. 5747, “Bill to authorize the direct provision of defense articles, defense services, and related training to the Kurdistan Regional Government, and for other purposes” (Ing- «Lei para autorizar a provisão directa de artigos de defesa, serviços de defesa, e treino relacionado com o Governo Regional do Curdistão, e para outros fins»- ndT), House of Representatives, November 20, 2014.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

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