sábado, 23 de maio de 2015

EUA BRINCAM COM FOGO NO MAR DA CHINA MERIDIONAL




As tensões no mar da China Meridional aumentaram acentuadamente depois de as forças navais da China, na quarta-feira, terem alertado oito vezes a tripulação do avião militar dos EUA Boeing P-8 Poseidon para deixar o espaço aéreo perto das ilhas Spratly.

Pela primeira vez, os militares americanos, atravessando os territórios disputados, levaram consigo jornalistas e os especialistas consideram isso como um desafio bastante ousado. Além disso, o desafio foi lançado três dias depois do encontro em Pequim onde o presidente chinês, Xi Jinping, e o secretário de Estado americano, John Kerry, tinham discutido a situação no mar da China Meridional.

Fontes dos EUA também informaram que os Estados Unidos consideram a possibilidade de voos de reconhecimento mais perto das ilhas em disputa e a passagem de navios em apenas alguns quilômetros de distância. Assim, os Estados Unidos deixam claro para a China que não reconhecem as suas reivindicações territoriais para o arquipélago Spratly e as Ilhas Paracel, opinam especialistas russos.

Apesar do fato de que desta vez, os militares conseguiram evitar mal-entendidos, na próxima vez uma situação semelhante pode acabar menos pacificamente.

“Os EUA demonstram a sua capacidade e determinação de ações nesta região. Eles estão tentando convencer todos que eles estão prontos para conter a China, e isso poderia provocar um conflito sério”, disse à Sputnik o chefe do Centro de Pesquisa do Sudeste Asiático, Austrália e Oceania, Dmitry Mosyakov.

O especialista militar Konstantin Sivkov falou mais abertamente:

“A guerra de grande escala não acontecerá. Mas o alto nível de tensão vai causar confrontos locais. Por exemplo, abater o avião é bastante real. E não posso excluir ataques locais dos grupos navais, afundamento dos navios”.

A China tem reclamado zonas do mar da China Meridional desde os anos 40 do século XX, mas Pequim nos últimos anos tem levado tais exigências à prática, o que gerou tensões com o Vietnã, Filipinas, Malásia, Brunei e Taiwan.

Recentes fotos de satélite mostram que a construção, pela China, de ilhas artificias no arquipélago de Spratly, no mar da China Meridional, avança de maneira rápida. A China constrói portos, depósitos petrolíferos e duas supostas pistas aéreas que, segundo especialistas, permitirão à China projetar poder no Sudeste Asiático.

Essa construção aumenta a tensão na região, disse o secretário adjunto de Estado para a Ásia Oriental e Pacífico, Daniel Russel. Um dia antes o Pentágono sugeriu que a Casa Branca mande os aviões militares e navios para estas ilhas artificiais nas águas disputadas. O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, encarregou especialistas para estudarem uma opção de entrada dos aviões e navios de vigilância eletrônica nas águas que rodeiam o arquipélago Spratly.

EUA declararam estar preparando uma operação militar no mar da China Meridional imediatamente depois da Parada da Vitória em Moscou onde participaram militares da China e da Índia.

AFP 2015/ RITCHIE B. TONGO - Sputnik

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POR QUE A OTAN TREME DE MEDO DA RÚSSIA



Pepe Escobar

O ataque por duas frentes - guerra ao preço do petróleo/raid contra o rublo - que visava a destruir a economia russa e metê-la no formato de vassalagem, como um recurso natural a ser usado pelo ocidente, falhou.

Os recursos naturais também foram essencialmente a razão para a tentativa de reduzir o Irã à posição de vassalo do ocidente. Nada jamais teve a ver com Teerã desenvolver alguma arma nuclear - hipótese já banida pelos dois líderes da Revolução Islâmica, o Aiatolá Khomeini e o Supremo Líder Aiatolá Khamenei.

O "Novo Grande Jogo" na Eurásia sempre só teve a ver com controlar a massa de terra eurasiana. Mas pequenos reveses que sofra o projeto da elite norte-americana não significam que o jogo ficará limitado a alguma mera "guerra de atrito". Antes, o contrário disso.

Tudo sobre o Prompt Global Strike (PGS) [Ataque Global Imediato] 

Na Ucrânia, o Kremlin tem dito mais que explicitamente que há duas linhas vermelhas absolutas. A Ucrânia não será integrada à OTAN. E Moscou não permitirá que as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk sejam esmagadas.

Estamos nos aproximando de um esgotamento de prazo potencialmente explosivo -, em julho, quando expiram as sanções que a União Europeia impôs à Rússia. Uma União Europeia em tumulto, mas ainda escravizada à OTAN - vê passar o patético comboio "Cavalgada do Dragão" [orig. Dragoon Ride] dos Bálticos para a Polônia, ou o exercício-show  "Determinação Atlântica" [orig. Atlantic Resolve] da OTAN - pode decidir expandir as sanções, ou até tentar excluir a Rússia da Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais [orig. Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, SWIFT].

Só tolos ainda creem que Washington venha a arriscar vidas de norte-americanos por causa da Ucrânia ou mesmo, da Polônia. Examinemos então alguns passos adiante.

Se algum dia as coisas chegarem ao impensável - guerra entre OTAN e Rússia na Ucrânia - os círculos russos de Defesa não têm dúvida alguma quanto à sua superioridade convencional e nuclear, no mar e em terra. E o Pentágono também sabe disso. A Rússia pode reduzir a farelo as forças da OTAN, em poucas horas. E então Washington estaria diante da terrível escolha: ou aceitar derrota vergonhosa, ou escalar para as armas táticas nucleares.

O Pentágono sabe que a Rússia tem capacidades aéreas e mísseis de defesa suficientes para contra-atacar qualquer coisa que exista dentro do Prompt Global Strike (PGS) [Ataque Global Imediato] dos EUA. Mas, simultaneamente, Moscou tem dito que prefere não usar essas suas capacidades.

O major-general Kirill Makarov, vice-comandante das Forças de Defesa Aeroespaciais da Rússia, foi bem claro sobre a ameaça do PGS. A nova doutrina militar de Moscou, de dezembro de 2014, declara que (i) esse projeto norte-americano de Ataque Global Imediato e (ii) o atual crescimento militar da OTAN são as duas principais ameaças de segurança que há contra a Rússia.

Diferentes da incansável provocação/demonização de que o Pentágono/OTAN faz meio de vida, os círculos de defesa russos não precisam anunciar aos gritos o modo pelo qual estão hoje algumas gerações à frente dos EUA em tudo que tenha a ver com armamento avançado.

Em resumo: enquanto o Pentágono metia pés e mãos na lama das guerras no Afeganistão e Iraque, ninguém prestava atenção ao salto tecnológico à frente, que os russos estavam dando. E o mesmo se aplica à capacidade da China para atingir os satélites norte-americanos, sem os quais todos os sistemas dos mísseis balísticos intercontinentais (MBIs) guiados por satélites, dos EUA, estarão inutilizados.

Nesse cenário privilegiado, a Rússia joga para ganhar tempo, até que tenha vedado completamente todo o espaço aéreo russo com o sistema S-500, tornando-o inexpugnável para os MBIs, as aeronaves stealth [indetectáveis por radar] e os mísseis cruzadores norte-americanos.

Nada disso escapou à atenção da Comissão Conjunta de Inteligência [orig. Joint Intelligence Committee (JIC)] britânica - quando avaliou, há algum tempo, se Washington poderia lançar um primeiro ataque contra a Rússia.

Segundo a JIC, Washington pode enlouquecer completamente se "(a) um governo extremista tomar o poder nos EUA; (b) se diminuir a confiança que os EUA depositam em alguns, se não em todos, seus aliados ocidentais, devido a desenvolvimentos políticos nos respectivos países; (c) e se acontecer algum repentino avanço nos EUA na esfera das armas, etc. Nesse caso, os conselhos da impaciência podem dominar toda a estrutura."

Os boatos que a Think-tank-elândia norte-americana tem distribuído, segundo os quais os planejadores militares russos provavelmente se aproveitariam de sua superioridade, para lançar um primeiro ataque nuclear contra os EUA, são pura bobagem; a doutrina russa é eminentementedefensiva.

Mesmo assim, não se pode excluir a possibilidade de Washington fazer o impensável, na próxima vez que o Pentágono supuser que esteja na posição em que a Rússia está hoje.

Modifica-se a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais [ing.SWIFT] 

Antes, todo o jogo se travava em torno de quem reinava sobre as ondas - dom geopolítico que os EUA herdaram da Grã-Bretanha. O controle sobre os mares significava que os EUA herdavam cinco impérios: Japão, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Países Baixos.

Todas aquelas gigantescas forças tarefas dos porta-aviões norte-americanos patrulhando os oceanos para garantir o "livre comércio" - como reza a máquina hegemônica de propaganda - podiam virar-se contra a China num piscar de olhos. É mecanismo semelhante ao cuidadosamente coreografado "liderar pela retaguarda", operação financeira para, simultaneamente, derrubar o rublo/lançar uma guerra do petróleo e, assim, obrigar a Rússia a submeter-se.

O plano máster de Washington falsamente muito simples prossegue: "neutralizar" a China com o Japão, e a Rússia com a Alemanha; com os EUA garantindo apoio às suas duas âncoras, Alemanha e Japão. A Rússia é de fato o único país BRICS que bloqueia o andamento do plano máster.

As coisas estavam nesse ponto, até que Pequim lançou sua(s) Nova(s) Rota(s) da Seda(s), que essencialmente significa(m) unir toda a Eurásia numa bonança comercial/de negócios "ganha-ganha" sobre trilhos de alta velocidade, com o processo trazendo para terra firme o dinheiro dos fretes da tonelagem transportada; tirando-o dos mares.

Por tudo isso, a demonização non-stop da Rússia pela OTAN é, de fato, negócio bizarro, desatualizado. Imaginem a OTAN arranjando briga contra a complexa parceria estratégica em constante evolução Rússia-China. E, num futuro nem tão distante, como já sugeri, Alemanha, Rússia e China têm tudo que se exige para serem pilares essenciais de uma Eurásia plenamente integrada.

Como as coisas estão hoje, o jogo chave que se desenrola por trás das cortinas é Moscou e Pequim construindo silenciosamente a sua própria Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (um sistema SWIFT, mas distante do controle pelos EUA), ao mesmo tempo em que a Rússia prepara-se para blindar seu espaço aéreo, com os S-500s.

O leste da Ucrânia está destruído; que fique lá com a União Europeia corroída de tanta 'austeridade' - a qual, por falar dela, não quer a Ucrânia. E tudo isso enquanto a mesma União Europeia vai minando comercialmente os EUA, com seu euro fraudado que ainda a impede de entrar mais nos mercados norte-americanos.

Quanto àquela OTAN irrelevante, só lhe resta chorar, chorar, chorar.

Pepe Escobar, RT – em Pravda.ru

OCIDENTE ESTÁ ASSUSTADO COM O MONSTRO QUE CRIOU NA UCRÂNIA



Inna Varenytsia

Os países ocidentais têm percebido que a crise na Ucrânia foi longe demais, e gostariam de melhorar as relações com a Rússia, mas a retórica belicosa de Kiev lhes dá grande preocupação. Quem afirma é o célebre jornalista britânico Neil Clark.

Em entrevista ao canal televisivo RT, o jornalista britânico acredita que o Ocidente está cansado da Ucrânia, cujas ações se tornam para os países ocidentais cada vez mais difíceis de justificar.  

“Os países que têm contribuído para a revolução na Ucrânia agora estão recuando de sua posição e começando a agir de uma forma mais pragmática”, disse Neil Clark. Segundo ele, isto se comprova na mudança de tom dos EUA, o que preocupa Kiev, cuja retórica tornou-se mais agressiva.

"Os principais países europeus são os que provavelmente menos querem uma guerra em grande escala, e o conflito se tornará mais provável se a Ucrânia se tornar membro da OTAN, especialmente com o atual governo da Ucrânia e com sua retórica extremamente belicosa", afirmou o jornalista.

Ele ainda observou que existem perigos reais na Europa, pois “eles criaram este monstro Frankeinstein e estão preocupados onde isso levará”. "Entende-se que tudo foi tão longe quanto possível. As pessoas mais realistas na Europa estão claramente dispostas a levantar as sanções contra a Rússia, porque elas são prejudiciais para as principais economias europeias, como a Alemanha e a França", completou Neil Clark.


Sputnik - AP Photo/ Inna Varenytsia, opinião

Brasil. O AJUSTE ESQUIZOFRÉNICO DE DILMA E LEVY




Mesmo se conseguir o que pretende, o ajuste não atingirá os objetivos de "arrumar a casa" para o crescimento.

Fabrício Augusto de Oliveira – Carta Maior

Passado o período de perplexidade com o rumo conservador imprimido à nova política econômica do Governo Dilma, as atenções dos analistas econômicos, do Congresso Nacional, do próprio governo e da sociedade em geral se encontram voltadas para os resultados que poderão ser obtidos com a proposta de ajuste fiscal. Com ele se espera, sem qualquer suporte teórico ou empírico, criar as condições necessárias para o reencontro do país com o crescimento econômico.

Até o momento, a proposta do ajuste apresentada pelo governo no início do ano continua patinando no Congresso e caminha vendo emagrecer, a cada dia e a cada rodada de negociação e votação de seus principais pontos, a fatia de recursos com que se contava para garantir o atingimento da meta de um superávit primário do setor público, em 2015, de R$ 66,3 bilhões, o correspondente a 1,2% do PIB.

Um nível nada espetacular em relação aos megassuperávits obtidos poucos anos atrás, mas considerável levando em conta que, em 2014, foi gerado um déficit de 0,6% do PIB, o que representaria um ajuste global no ano de 1,8% do PIB.

Do pacote inicial com o qual o governo pretendia economizar R$ 18 bilhões, cortando benefícios trabalhistas e previdenciários, não lhe restou outra saída, para garantir a aprovação das medidas provisórias que encaminhou ao Congresso, senão a de abrir mão de R$ 4 bilhões com as mudanças nelas introduzidas em resposta à oposição ao seu conteúdo, visando a atenuar as perdas que representariam para seus beneficiários.

Além disso, o ganho que se esperava neste ano com a mudança da política de desoneração da folha de salários, de R$ 5,3 bilhões, com a elevação das alíquotas de impostos cobradas sobre 56 setores que com ela foram beneficiados, não devem mais ocorrer nessa dimensão.

Isso porque a proposta teve de ser reenviada ao Congresso na forma de um projeto de lei, cuja apreciação demanda mais tempo, além de não serem poucas as resistências que existem ao aumento considerável, na proposta original do governo, de mais de 100% das alíquotas incidentes sobre o faturamento destes setores.

Não bastasse isso, a expectativa de obtenção de uma receita tributária adicional de mais de R$ 20 bilhões que seria propiciada pelo aumento de impostos (IPI, IOF, principalmente), incluindo o retorno da cobrança da CIDE, pode ser frustrada pelo avanço da recessão: em termos reais, ou seja, descontada a inflação, as receitas administradas pela Receita Federal despencaram 2,03% no primeiro semestre, caindo de R$ 309,3 para cerca de 303 bilhões.

Equivalente a uma perda mensal de R$ 2 bilhões, a qual, anualizada, representaria 133% dos recursos que se esperava economizar com os cortes de gastos. E isso com a recessão, que se descortina, sem ter ainda chegado com a força que se espera.

Até o primeiro trimestre do ano, os resultados alcançados nas contas públicas, neste conceito, não são animadores: a economia de recursos do setor público consolidado chegou a R$ 19 bilhões, representando 1,37% do PIB (retração de 26% em relação ao mesmo período de 2014), mas quem mais contribuiu para este resultado foram os governos regionais (estados e municípios), que registraram um superávit primário de R$ 14,6 bilhões no período (77% do total).

Já a poupança do governo central, para quem se projeta a maior contribuição neste esforço, não foi além de R$ 4,48 bilhões. Não sem razão, alguns analistas têm projetado um superávit primário do setor público no ano não superior a 0,8% do PIB, considerando que este, se alcançado, já representaria uma grande vitória para o governo.

Valendo-se do atraso ocorrido na aprovação pelo Congresso do orçamento de 2015 em quase três meses, o governo conseguiu represar, diante das limitações de gastos que tal situação acarreta, despesas apreciáveis no primeiro trimestre em áreas sociais nobres, como as da educação e saúde, e na de infraestrutura, onde os investimentos conheceram uma retração de 31% no primeiro bimestre.

Nem isso foi suficiente para se colher um melhor resultado ante a queda apreciável das receitas, provocada pela desaceleração econômica em curso e pelas renúncias tributárias.


Diante disso, não parece restar, ao governo, senão avançar na ampliação do corte do orçamento cuja programação está em vias de ser anunciado. De um contingenciamento inicialmente estimado em menos de R$ 60 bilhões, este número subiu para R$ 70 bilhões e não será nenhuma surpresa se alcançar R$ 80 bilhões, o que faria o governo voltar ao patamar de gastos de 2013.

Adicionalmente, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem ameaçado o Congresso com uma nova rodada de aumento de impostos, caso as medidas restantes do ajuste a serem votadas continuem a ser esquartejadas pelos parlamentares.

Ambas as medidas significam, pelo seu conteúdo, mais lenha na fogueira da recessão e dificuldades adicionais para que o ajuste pretendido seja alcançado. De qualquer forma, mesmo que isso se torne possível, será inútil para os objetivos pretendidos de “arrumar a casa” para uma nova etapa de crescimento econômico.

Enquanto o ministro da Fazenda continua empenhado em realizar, a todo custo, um ajuste de 1,2% do PIB, que pode ter seus resultados anulados, do ponto de vista da relação dívida/PIB, que é a que realmente importa, caso a economia se retraia 1%, o que é mais do que provável, o Banco Central, com a persistente elevação dos juros, visando a combater sem sucesso a inflação, continua se esforçando para fraudar este objetivo, ao amplificar o desajuste das contas públicas, com o aumento do déficit nominal e da dívida pública.

No primeiro trimestre deste ano, o déficit nominal atingiu R$ 124,8 bilhões (contra R$ 33 bilhões do mesmo período de 2014), acumulando, nos últimos doze meses, o montante de R$ 435,7 bilhões (ou 7,81% do PIB).

Ou seja, enquanto se busca, de um lado, produzir um superávit primário de R$ 66,3 bilhões, o aumento do déficit nominal no primeiro trimestre chegou a R$ 91,8 bilhões. Com isso, a dívida líquida do setor público só não conheceu aumento porque a desvalorização de 20,8% acumulada no ano respondeu por uma redução de cerca de R$ 180 bilhões em seu estoque. Mas a dívida bruta, no conceito do Banco Central, aumentou 1,4 ponto percentual do PIB, passando de 61% para 62,4%.

Com este ajuste esquizofrênico, não será nenhuma novidade se a política econômica, além de produzir a “paz dos cemitérios”, situação em que não há mais vida econômica e social pulsante, conduzir o país para um quadro de crescentes desequilíbrios financeiros, jogando-o, sem forças, nos braços das agourentas agências de rating.

*Fabrício Augusto de Oliveira é doutor em Economia pela Unicamp e membro da Plataforma de Política Social.

Créditos da foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Brasil. CANDIDATURA DE LULA TEM CONDIÇÕES PARA VENCER EM 2018 - entrevista




Ricardo Ismael, professor de Ciências Políticas e Sociais da PUC do Rio de Janeiro, analisa as chances de o ex-presidente voltar ao Palácio do Planalto e conclui que ele é, pelo menos, o único nome do PT capaz de resgatar a história e o prestígio do partido.

A mídia brasileira divulga o fato de que Luiz Inácio Lula da Silva tem se reunido periodicamente com uma equipe de assessores que, dizem alguns, prepara a sua candidatura à Presidência em 2018. 

Sputnik: Como o senhor vê a atuação do ex-Presidente Lula nos bastidores, formando essa espécie de conselho político que por sua composição mais parece o embrião de um futuro Ministério?

Ricardo Ismael: De fato, é um conjunto de assessores que, nos anos recentes, já tem acompanhado o Lula: o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e alguns outros. Esse grupo formado no final de 2014 tem se reunido com certa frequência no Instituto Lula para discutir temas políticos, econômicos e sociais do Brasil. Claramente, há uma movimentação do Lula – mesmo antes já havia – como se fosse candidato à Presidência em 2018. Ele tem procurado ocupar espaço, foi à reunião promovida pela CUT em São Paulo no 1.º de Maio, foi a principal figura no programa do PT na TV, tem atuado nos bastidores, principalmente na articulação com o PMDB, também tem aparecido de maneira muito recorrente tentando reduzir o prejuízo que tem se abatido sobre o Governo Dilma e sobre o PT. Ou seja, o Lula tem realmente dado sinais de que possa vir a ser candidato em 2018.

S: Lula estaria repetindo a estratégia do final do seu primeiro mandato, quando fez certo mistério sobre se seria ou não candidato à reeleição?

RI: Eu penso que Lula gostaria de ter sido candidato já em 2014, e só não o foi porque a própria Presidenta Dilma não deixou que avançasse a proposta do “Volta Lula”, movimento que achava já ser o momento de Lula voltar à Presidência. Agora, porém, há um desgaste muito grande do Governo Dilma e também do Partido dos Trabalhadores. Então, o Lula seria uma reserva ainda do ponto de vista simbólico daquele PT que surgiu lá em 1980, fruto das manifestações sindicais do final dos anos de 1970, um PT que tinha na sua origem um compromisso claro com a transformação do país. Lula seria, assim, capaz de resgatar a história do PT e as bandeiras históricas do partido.

S: O Lula teria perdido algumas bandeiras, em função das denúncias que envolvem alguns integrantes do PT?

RI: Há um desgaste que atinge também o ex-Presidente Lula, mas é um desgaste que afeta com maior intensidade a própria Presidenta Dilma, seja por conta de uma mudança muito grande entre o discurso de campanha e o que ela está fazendo agora, seja por conta da Petrobras, seja também pelo fato de a inflação estar alta e o desemprego começar a aumentar. Então, a presidenta perde capital político, sua popularidade é hoje muito baixa. Isso também atinge o Partido dos Trabalhadores. Há um desgaste que cresceu muito durante a campanha eleitoral de 2014 e se ampliou por conta da questão da Petrobras. O desgaste chega também a Lula, mas com uma intensidade menor, em função até de ele ter um capital político que se conserva nas camadas mais populares e consegue manter a sua imagem preservada. […] Lula ainda é a figura mais forte e mais capaz de gerar uma coesão dentro do PT. Ou seja, pensando numa candidatura para 2018, que seja competitiva, pelo menos no cenário de hoje, só resta mesmo o nome de Lula. […] É claro que em outras épocas, ou até o ano passado, ele teria um favoritismo, porém agora já o perdeu. Mas o fato é que penso ser ainda possível dizer que, se for candidato em 2018, Lula entrará com condições de vencer.

Sputnik / AFP 2015/ Nelson Almeida

BRASIL E CHINA: AVANÇOS E CONTRADIÇÕES




Acordos firmados por Li Keqiang e Dilma revelam: BRICS avançam e querem ser alternativa ao eixo EUA-UE. Mas também indicam que governo brasileiro resigna-se à condição de exportador primário

Mario Osava, da Agência IPS – Outras Palavras

Foram 35 os acordos e contratos assinados durante a visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, ao Brasil, mas somente um projeto chama a atenção, na ampla aproximação entre os dois países. Trata-se da Ferrovia Transcontinental, com previsão de mais de cinco mil quilômetros entre o porto de Açu, 300 quilômetros a nordeste do Rio de Janeiro, e um porto peruano, não mencionado, e que será objeto de estudos de viabilidade, segundo o memorando de entendimento assinado entre Brasil, China e Peru.

“É uma loucura”, afirmou Newton Rabello de Castro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro especializado em transporte. “A barreira andina de quatro mil metros” e os altos custos tornam inviável de antemão o projeto, afirmou à IPS. “As ferrovias não gostam de topografia muito acidentada, todos as que foram construídas nos Andes foram desativadas e também não prosperou o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo por causa de seus custos absurdos”, explicou o engenheiro doutorado pelo Instituto Tecnológico de Massachusetts. Pelas mesmas razões tampouco se concretizaram outros traçados propostos para unir os oceanos Atlântico e Pacífico, incluindo os que cruzam áreas de maior densidade econômica como as do Cone Sul americano, onde bastaria completar a ferrovias já existentes, disse Rabello.

Outros acordos assinados pela presidente Dilma Rousseff e Li, ou alguns dos 120 empresários que acompanharam o primeiro-ministro chinês, são mais concretos e oportunos para o governo brasileiro, que enfrenta um ajuste fiscal e carece de recursos para impulsionar obras necessárias de infraestrutura e reativar a paralisada economia. A soma de investimentos chineses nos projetos acordados chega a US$ 53 bilhões, uma cifra propagada por Brasília sem confirmação chinesa nem contas detalhadas, ao compreender iniciativas em diferentes etapas, algumas ainda em fase de proposta, como a ferrovia interoceânica, e outras sujeitas a licitações.

Mas a participação de empresas e capitais chineses permitirá destravar muitas obras de infraestrutura atrasadas ou mesmo paralisadas, como estradas de ferro para a exportação da soja produzida nas regiões centro-oeste e nordeste do Brasil. Para isso haverá um fundo de US$ 50 bilhões, que será criado pelo Banco Industrial e Comercial da China (ICBC) e a Caixa Econômica Federal (CEF).

A indústria será prioritária em outro fundo, o Fundo Bilateral de Cooperação Produtiva, de caráter governamental. A China aportará entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões e o Brasil decidirá posteriormente sua cota. A industrialização da América Latina é um objetivo da cooperação chinesa, afirmou Li em Brasília, em resposta às queixas contra o intercâmbio assimétrico, com as exportações latino-americanas limitadas quase exclusivamente a matérias-primas.

A visita ao Brasil foi a primeira parte de uma viagem que é a estreia latino-americana do primeiro-ministro chinês e prosseguirá até o próximo dia 26 por Colômbia, Peru e Chile.

Os acordos assinados em Brasília para a cooperação financeira acentuam a criticada assimetria. Bancos chineses concederam novos créditos, no valor de US$ 7 bilhões, à Petrobras, que se somam a empréstimos anteriores que garantem o fornecimento de petróleo para a China. Outra beneficiada é a mineradora Vale, incluída em uma linha de crédito de US$ 4 bilhões para compra de navios destinados ao transporte de 400 mil toneladas de minério de ferro. Petróleo e ferro concentram cerca de 80% das exportações brasileiras para a China. Por isso o interesse de Pequim em melhorar a infraestrutura de transporte brasileira: dessa forma reduzirá os custos das exportações, além de ocupar a capacidade ociosa das construtoras chinesas, agora que diminuiu a demanda em seu mercado interno.

Outro aspecto abre o mercado chinês para a carne bovina em pé do Brasil. Uma exceção industrial nas exportações brasileiras é da aeronáutica. A venda de 22 aviões da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) para uma companhia da China foi concretizada durante essa visita. Um acordo prévio estabelece a venda de 60 unidades no total.

O comércio bilateral alcançou US$ 77,916 bilhões em 2014, com superávit brasileiro — embora em queda pela redução dos preços dos preços dos produtos básicos. A meta é elevar rapidamente o intercâmbio a US$ 100 bilhões, segundo o primeiro-ministro chinês. Esse aumento das relações, especialmente dos investimentos chineses, “pode ser positivo para o Brasil, mas é preciso controlar o entusiasmo com essa aproximação”, afirmou Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (SBEET). “Os chineses têm mais a ganhar do que nós nesse processo. Buscam fornecedores de matérias-primas em toda a América Latina. Mas sem urgência — porque sua economia desacelerou –, podem pensar estrategicamente a longo prazo”, afirmou o economista à IPS.

“Com mais experiência acumulada em sua cultura milenar, eles sabem o que querem, buscam mais poder global e as alianças com países emergentes de outras regiões, como o Brasil, ampliam sua influência”, acrescentou Lima. Com quase US$ 4 trilhões em reservas internacionais, podem financiar o desenvolvimento de qualquer país.

Segundo Lima, uma frustração já ocorreu quando o Brasil reconheceu a China como uma economia de mercado em 2004, oferecendo-lhe, assim, melhores condições comerciais. A contrapartida não cumprida deveria ser de investimentos industriais de US$ 10 bilhões. O momento atual, porém, permite maior complementaridade econômica entre os dois países, favorecendo um melhor equilíbrio no intercâmbio bilateral. “A China deixou de priorizar as exportações e estimula seu consumo interno, enquanto o Brasil vive um momento oposto, com redução da demanda doméstica e maior esforço exportador, abrindo a possibilidade de sinergia entre ambos países”, afirmou Lima.

Porém, acrescentou o economista, aproveitar a oportunidade exige que se tenha objetivos claros, “planejamento de longo prazo, com prioridades definidas e as reformas adequadas, com investimentos produtivos em manufaturas, mas o governo brasileiro parece perdido”. A Ferrovia Transcontinental é projeto para “priorizar exportações de soja e minérios” para a Ásia, principalmente a China, concluiu Lima. Para Rabello de Castro, “historicamente a ferrovia produziu uma grande redução de custos no transporte terrestre, substituindo animais e carroças. Caiu de seis para um, inclusive mais em alguns casos, e isso ficou no imaginário das pessoas que ainda acreditam no trem como a solução, ignorando seus custos atuais”.

Em consequência, no Brasil constroem-se várias ferrovias paralelas dirigidas ao centro do país, com uma produção agrícola em alta, especialmente da soja. Onde havia uma só via precária para a exportação agora se quer oferecer três ou quatro alternativas e acrescentar outras ao excesso, como a bi-oceânica, disse Lima.

ELEIÇÃO DA FIFA NÃO É UMA ELEIÇÃO




Nesse simulacro de democracia, o príncipe jordaniano não tem a menor chance contra o atual presidente Joseph Blatter, opina o jornalista esportivo Joscha Weber.

E assim sobraram só dois: o atual ocupante do cargo e autocrata Joseph Blatter e o príncipe Ali bin al-Hussein da Jordânia são os dois candidatos à presidência da organização que administra o futebol mundial, a Fifa.

Num intervalo de poucas horas, Michael Van Praag e Luis Figo anunciaram a retirada de suas candidaturas. Esse passo por muito tempo havia sido negado, mas nem por isso era menos previsível. Os dois seguiram um plano das candidaturas de oposição – desde já fadado ao fracasso.

A estratégia oposicionista diz que só a união pode derrotar Blatter. Dois candidatos se retiram para fortalecer um terceiro. A ideia já circulava há tempos nos círculos oposicionistas e agora foi posta em prática. A estratégia teria sido acertada durante um encontro em Genebra, na última semana, entre os candidatos de oposição, apesar de eles negarem.

Mas conseguirá o oposicionista restante, Ali bin al-Hussein, reunir os votos necessários para pôr fim ao reinado de Blatter? Não, isso simplesmente não é possível, o que deve ficar bem claro.

Mesmo antes do 65º Congresso da Fifa, marcado para a próxima sexta-feira (29/05) em Zurique, representantes de confederações da África, da Ásia e da América declararam seu apoio a Blatter, em alguns casos mais, em outros menos abertamente. Algumas poucos votos contrários da Europa e do mundo árabe não bastarão para eleger o príncipe Ali. Essa eleição já está decidida. Ou, como disse Luis Figo, "essa eleição não é uma eleição".

Ele tem razão. Sim, os 209 membros da Fifa decidirão entre os dois candidatos no dia 29 de maio. Mas mesmo assim ninguém pode falar em eleição de verdade. Se "pacotes de votos" de continentes inteiros já foram garantidos de antemão para o atual ocupante do cargo, como falar em eleição livre, secreta e individual?

Além disso, quão independente são os delegados da Fifa que, em ano de eleição, recebem doações vultuosas – por exemplo, para projetos de desenvolvimento – da sede da entidade em Zurique? Não se deve confundir a Fifa com uma democracia verdadeira – ela apenas finge ser uma.

Figo e Van Praag exigiam mudanças profundas na Fifa, mas que não querem ou não são capazes de realizá-las e abdicaram dessa batalha sem esperanças. Eles se renderam a uma força superior chamada Joseph S. Blatter, cuja liderança foi qualificada por Figo como uma ditadura.

O português, eleito o melhor jogador do mundo em 2001, fornece uma perspectiva interessante sobre o sistema. Ele conta que presidentes de confederações que a portas fechadas comparam o chefe da Fifa e seus seguidores ao diabo, quando estão em público mudam essa comparação para Jesus Cristo.

De diabo para Jesus – só Blatter, o todo-poderoso deus do futebol, consegue isso. Não se pode esperar mudanças numa entidade na qual a prática aberta da oposição é considerada blasfêmia. Mesmo com denúncias comprovadas de corrupções milionárias e compra de dirigentes, a Fifa seguirá sendo, depois da eleição, aquilo que ela é: o reino de Blatter.

Joscha Weber (rc) Deutsche Welle, opinião

IRLANDESES APROVAM CASAMENTO GAY




Grande maioria dos irlandeses vota a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo no país. Resultado é visto como perda de influência da Igreja Católica.

Mesmo antes do final da contagem de votos do referendo sobre o casamento gay na Irlanda, os defensores do "não" já admitiram a sua derrota. "Parabéns ao lado do 'sim'. Bom trabalho", afirmou o chefe da campanha dos opositores, David Quinn, neste sábado (23/05).

Os resultados oficiais da consulta popular realizada nesta sexta-feira deverão ser divulgados ainda neste sábado. De acordo com o governo, no entanto, os irlandeses votaram em grande maioria pela aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O ministro irlandês da Igualdade de Direitos, Aodhán Ó Ríordaín, disse neste sábado que mesmo em regiões consideradas pouco liberais, a maioria votou pela mudança constitucional. Até agora, na Irlanda, o casamento só era possível entre homem e mulher. Futuramente, o sexo não terá mais nenhuma importância no matrimônio entre duas pessoas.

O direito ao casamento por parte de gays e lésbicas era apoiado pelos partidos representados no Parlamento. A Igreja Católica, por sua vez, rejeita estritamente a implantação do casamento gay no país.

A introdução do casamento entre pessoas do mesmo sexo no país tradicionalmente católico-conservador é vista como uma perda de influência da Igreja Católica após diversos escândalos envolvendo abusos por parte de padres.

Por volta de 3,2 milhões de eleitores estiveram aptos a votar no referendo. Assim, a Irlanda é o primeiro país do mundo a realizar uma consulta popular para decidir sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Deutsche Welle - CA/epd/rtr/dpa

FRANÇA, ESTADO POLICIAL



José Goulão*

Depois da aprovação da nova lei de espionagem interna (e externa) no passado dia 5, a França governada pelos socialistas não necessita de fascistas para nada, pode expedir a senhora Le Pen, família e respectiva corte para a Ucrânia, por exemplo. Desde esse dia, e a não ser que o Conselho Constitucional trace um X gigantesco e a vermelho sobre esta "lei celerada", como é conhecida nos meios democráticos, cada cidadão francês, ou mesmo cada estrangeiro que pise solo gaulês ou se atreva a navegar pela internet, é um potencial terrorista e, no caso provável de ser capturado por uma qualquer das muitas sondas comportamentais que os serviços de espionagem aplicam por atacado, terá enorme trabalheira para justificar que não o é.

Através da nova lei das informações, aprovada no Parlamento por 438 votos contra 86 (um número de opositores que, pela sua insignificância, já foi comparado à capitulação em 1940 através da entrega de plenos poderes ao general Pétain), os serviços de espionagem franceses vão dispor dos resultados de uma vigilância organizada e em massa com recurso aos meios convencionais e aos mais avançados equipamentos tecnológicos. Uma ofensiva global contra os direitos humanos, porque aplicada à margem das instituições de controlo judiciário e democrático, na maioria dos casos relegadas para papéis a posteriori em função de alegados procedimentos "de urgência", digamos, de oportunidade.

Tal como os Estados Unidos da América deram asas à vigilância universal através da NSA, desenvolvida à luz da "Lei Patriótica" nascida com o 11 de Setembro de 2001, os socialistas franceses tiraram da cartola a sua "lei patriótica" e o estilo NSA dois meses depois do ainda muito mal explicado (em termos de falhanços dos serviços secretos, por exemplo) atentado contra o Charlie Hebdo.

A nova lei visa combater o terrorismo; por isso, tudo o que se diz sobre vigilância em massa é abusivo, explicam genericamente os autores e defensores da lei. "Descobrimos que umas coisas, umas máquinas chamadas algoritmos, podem ir ver se há ou não terroristas que utilizam as nossas comunicações criptografadas, e como não havia lei para enquadrar essa actividade" ela aí está, explicou François Hollande, o Presidente da República, dirigindo-se aos concidadãos como se fossem imbecis.

Qual é o "interesse público" definido pela nova lei como suporte para a acção dos espiões? Segurança nacional; salvaguarda dos elementos essenciais do potencial científico e económico de França; prevenção do terrorismo, criminalidade e delinquência organizados; reconstituição ou manutenção de grupos dissolvidos; prevenção da violência colectiva; defesa e prevenção dos interesses da política externa francesa. Imaginar um comportamento que não seja passível de caber neste menu, sobretudo conhecendo-se o enviesamento em que os espiões são peritos quando agem sem controlo, é pior que descobrir agulha em palheiro.

O esqueleto do projecto de lei é da autoria de um deputado socialista, Jean-Jacques Urvois, que não esconde a sua repulsa pelo norte-americano Edward Snowden, "um idiota útil ao serviço de grupos terroristas". Além do primeiro-ministro Manuel Valls, outro dos grandes defensores da lei no Parlamento foi o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. Em sua opinião, a lei é perfeita, não tem os defeitos que lhe apontam e não atenta contra a privacidade dos cidadãos. "A vida privada é outro assunto, não se trata de uma liberdade individual", assegura este ministro, que continua no cargo apesar de se terem provado as suas mentiras a propósito do assassínio pela polícia de um manifestante contra a devastação de uma floresta.

Marc Trevic, um renomado juiz antiterrorista, desmonta os argumentos governamentais. "Não é uma lei antiterrorista", garante. "Abre caminho à generalização de métodos intrusivos fora do controlo dos juízes judiciários, os garantes das liberdades individuais no nosso país".

Que métodos intrusivos? De tudo um pouco. Escutas telefónicas comuns segundo procedimentos "de urgência" que escapam ao controlo das entidades judiciárias; distribuição pelos espiões de gadgets muito na moda nos Estados Unidos, como as "dirtboxes" ou "Imsi-catchers", malas de dimensões insuspeitas que captam as comunicações móveis num raio de muitos metros em redor através da detecção dos dados dos cartões SIM e dos próprios telefones; perseguição através dos dados GPS de cidadãos que sejam detectados por quaisquer das sondas de vigilância instaladas em escala industrial pelos vários serviços de espionagem; vigilância generalizada da internet através da recolha de dados pessoais e das conexões entre internautas junto dos operadores dos serviços; instalação de tecnologia de vigilância nas empresas fornecedoras de acesso à internet e nas empresas de telecomunicações, imposição que tem suscitado protestos destas contra o facto de serem obrigadas a aceitar equipamentos que lhes são estranhos.

O sistema proporciona, portanto, uma recolha aleatória e em massa de dados pessoais e de instituições, que confluem para uma imensa "caixa negra" de que os serviços de espionagem se servem a seu belo prazer. Assim nasce o Estado policial francês, asfixiando o Estado de Direito.

O passo é de tal maneira grave que esta lei seria "inimaginável" na Alemanha, opinião compartilhada entre sectores da oposição e meios afectos à própria chanceler Merkel. "Inimaginável" na Alemanha; e em outros países europeus, sempre tão inclinados a fazer gato-sapato da vida privada do cidadão? Provavelmente poderão ser "imagináveis", quando o mau exemplo está dado, é tentador e parte de uma das "locomotivas" da União Europeia, aliás bastante ronceira – o que não vem ao caso. 

O original encontra-se em mundocaohoje.blogspot.pt/2015/05/franca-estado-policial.html 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


Portugal. Jerónimo de Sousa diz que PSD e PS estão a encenar divergências - PCP




O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje, na Ribeira Brava, que o PSD e o PS começaram a encenar "divergências e desacordos", tendo em vista as eleições legislativas de outubro, mas são "farinha do mesmo saco".

"A verdade é que, olhando para o que o PSD e CDS propõem e o que o PS apresenta no seu programa eleitoral, bem se pode concluir que, no que é estruturante e decisivo, difícil é encontrar diferenças. Mais moída, menos moída, é farinha do mesmo saco", declarou Jerónimo de Sousa, num jantar/convívio que reuniu 500 militantes e simpatizantes da CDU na Ribeira Brava, zona oeste da Madeira.

O secretário-geral dos comunistas considerou que aqueles partidos apresentam os "mesmos compromissos" com a União Europeia, bem como a "mesma submissão aos constrangimentos externos" e a "mesma posição de amarramento a uma dívida insustentável", realçando que a diferença é apenas ao nível do ritmo.

"PSD e CDS propõem privatizar a 66%, o PS a 49%. Uns propõem prolongar o roubo nos salários e pensões por quatro anos, o outro por dois anos. Uns admitem retirar a sobretaxa sobre o IRS em três anos, o outro em dois", explicou, sublinhando que "é tudo uma questão de estilo" e que a diferença está entre uma "austeridade à bruta" e uma "austeridade inteligente".

"Não faltarão por aí as manobras do costume para iludir os eleitores, procurando garantir que a política de direita continue, fingir que se muda para que tudo o que é decisivo continue na mesma", reforçou.

Jerónimo de Sousa defendeu a necessidade de dar mais força à CDU como "fator crucial" para derrotar a política do PS, PSD e CDS e destacou que, na Região Autónoma da Madeira, a coligação PCP-PEV ficou a cinco votos de eleger mais um deputado e retirar a maioria absoluta aos sociais-democratas nas eleições de março.

"Que melhor prova para cada um ver quanto o seu voto na CDU pode pesar", realçou.

O jantar/convívio teve por objetivo, precisamente, assinalar o aumento do número de votos na CDU, o que lhe permitiu constituir um grupo parlamentar de dois deputados na Assembleia Regional.

O coordenador regional CDU, Edgar Silva, considerou o último resultado eleitoral uma "etapa histórica" e vincou o facto de os deputados terem votado hoje contra a moção de confiança ao Governo Regional, no encerramento do debate sobre o programa do executivo.

Edgar Silva disse que assim se estabelece uma "rotura" com as políticas do governo social-democrata de Miguel Albuquerque, considerando que nada tem de novo, a não ser uma "fidelidade canina" ao Programa de Ajustamento Económico e Financeiro.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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Portugal. LESADOS DO BES PROTESTAM HOJE NO FÓRUM DO BCE EM SINTRA




A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial do Grupo Espírito Santo (GES) anunciou para hoje uma manifestação com centenas de presentes em Sintra, perto do hotel onde decorre o segundo fórum mundial do Banco Central Europeu (BCE).

A manifestação realiza-se pelas 11:00 e juntará lesados de todo o país, revelou à Lusa uma das organizadoras, Carla Costa.

Hoje também, mas pelas 15:00, haverá uma assembleia-geral da associação num outro hotel em Sintra, e, pelas 20:00, está previsto um cordão humano formado novamente na unidade hoteleira onde irá decorrer o segundo fórum mundial do BCE.

O BCE finda hoje em Sintra o seu segundo fórum mundial, tendo juntado novamente em Portugal algumas das mais influentes personalidades do mundo da política monetária para debater o desemprego e a baixa inflação.

Recentemente, o presidente da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial afirmou que o BCE "não está bem informado" sobre o que foi prometido pelo Banco de Portugal (BdP) aos clientes do GES que compraram papel comercial aos balcões do Banco Espírito Santo (BES).

Em declarações recentes à agência Lusa, Ricardo Ângelo disse que o supervisor bancário europeu "não está contra uma solução" para os lesados do papel comercial do GES, mas "quer apenas uma solução que esteja dentro dos parâmetros jurídicos", de forma a evitar a abertura de precedentes que possa ser usada em situações semelhantes.

Ou seja, a associação frisou estar interessada "também numa solução jurídica, chamando-se solução comercial ou não", desde que, segundo Ricardo Ângelo, "haja pagamento integral do montante do papel comercial, como o BdP e o Novo Banco sempre disseram, até fevereiro deste ano".

O Diário Económico noticiou também recentemente que o BCE exige ter uma palavra final em qualquer solução que venha a ser encontrada para os clientes que investiram em papel comercial do GES, enviando um email ao BdP e "não aceitando que o Novo Banco compense os investidores, dado que tal poria em causa a hierarquia de credores prevista nas regras europeias da resolução bancária".

São cerca de 2.500 os clientes do Novo Banco com papel comercial do GES no montante total de 527 milhões de euros.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal – BES. SALGADO DEU ORDEM PARA FALSIFICAR CONTAS




Novos dados voltam a colocar Ricardo Salgado sob fogo. Mas não está sozinho.

Existem novos dados sobre o Caso BES…e Ricardo Salgado volta a não conseguir escapar às suspeitas de que teve um dedo no colapso do banco que geria.

Segundo o Expresso, Ricardo Salgado é acusado de um dos crimes mais pesados: o da prática de atos dolosos de gestão ruinosa, que terão lesado depositantes, investidores e demais credores. Mas não é o único.

José Manuel Espírito Santo, Manuel Fernando Espírito Santo e Ricardo Abecassis, todos eles administradores do banco, também estão indiciados pelo mesmo crime. Estes são acusados de terem participado, ou tomado conhecimento, de falsificação da contabilidade da Espírito Santo International.

Ricardo Salgado é ainda acusado de violação de regras sobre conflito de interesses a título doloso na colocação junto de clientes do BES de papel comercial da ESI, prestação a título doloso de falsas informações e não adoção de um sistema de gestão de riscos.

Segundo o semanário, este é o primeiro processo concluído dos vários abertos pelo Banco de portugal (BdP). O objetivo, neste caso, era "perceber de que forma a colocação de papel comercial da ESI [Espirito Santo Internacional] e da Rioforte junto de clientes entre dezembro de 2011 e dezembro de 2013 teria prejudicado o BES em termos materiais ou reputacionais".

Entre os restantes acusados estão também Amílcar Morais Pires, António Souto, João Freixa, Joaquim Goes, Jorge Martins, José Maria Ricciardi, Rui Silveira Stanislas Gerard Ribes, Fernando Coelho, João Pedro Guimarães e Pedro Almeida Costa.

Todos os acusados estão a ser notificados pelo Banco de Portugal e têm 30 dias para poderem contestar.

Notícias ao Minuto

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