Nesse
simulacro de democracia, o príncipe jordaniano não tem a menor chance contra o
atual presidente Joseph Blatter, opina o jornalista esportivo Joscha Weber.
E
assim sobraram só dois: o atual ocupante do cargo e autocrata Joseph Blatter e
o príncipe Ali bin al-Hussein da Jordânia são os dois candidatos à presidência
da organização que administra o futebol mundial, a Fifa.
Num
intervalo de poucas horas, Michael Van Praag e Luis Figo anunciaram a retirada
de suas candidaturas. Esse passo por muito tempo havia sido negado, mas nem por
isso era menos previsível. Os dois seguiram um plano das candidaturas de
oposição – desde já fadado ao fracasso.
A
estratégia oposicionista diz que só a união pode derrotar Blatter. Dois
candidatos se retiram para fortalecer um terceiro. A ideia já circulava há
tempos nos círculos oposicionistas e agora foi posta em prática. A estratégia
teria sido acertada durante um encontro em Genebra, na última semana, entre os
candidatos de oposição, apesar de eles negarem.
Mas
conseguirá o oposicionista restante, Ali bin al-Hussein, reunir os votos
necessários para pôr fim ao reinado de Blatter? Não, isso simplesmente não é
possível, o que deve ficar bem claro.
Mesmo
antes do 65º Congresso da Fifa, marcado para a próxima sexta-feira (29/05) em
Zurique, representantes de confederações da África, da Ásia e da América
declararam seu apoio a Blatter, em alguns casos mais, em outros menos
abertamente. Algumas poucos votos contrários da Europa e do mundo árabe não
bastarão para eleger o príncipe Ali. Essa eleição já está decidida. Ou, como
disse Luis Figo, "essa eleição não é uma eleição".
Ele
tem razão. Sim, os 209 membros da Fifa decidirão entre os dois candidatos no
dia 29 de maio. Mas mesmo assim ninguém pode falar em eleição de verdade. Se
"pacotes de votos" de continentes inteiros já foram garantidos de
antemão para o atual ocupante do cargo, como falar em eleição livre, secreta e
individual?
Além
disso, quão independente são os delegados da Fifa que, em ano de eleição,
recebem doações vultuosas – por exemplo, para projetos de desenvolvimento – da
sede da entidade em Zurique? Não se deve confundir a Fifa com uma democracia
verdadeira – ela apenas finge ser uma.
Figo
e Van Praag exigiam mudanças profundas na Fifa, mas que não querem ou não são
capazes de realizá-las e abdicaram dessa batalha sem esperanças. Eles se
renderam a uma força superior chamada Joseph S. Blatter, cuja liderança foi
qualificada por Figo como uma ditadura.
O
português, eleito o melhor jogador do mundo em 2001, fornece uma perspectiva
interessante sobre o sistema. Ele conta que presidentes de confederações que a
portas fechadas comparam o chefe da Fifa e seus seguidores ao diabo, quando
estão em público mudam essa comparação para Jesus Cristo.
De
diabo para Jesus – só Blatter, o todo-poderoso deus do futebol, consegue isso.
Não se pode esperar mudanças numa entidade na qual a prática aberta da oposição
é considerada blasfêmia. Mesmo com denúncias comprovadas de corrupções
milionárias e compra de dirigentes, a Fifa seguirá sendo, depois da eleição,
aquilo que ela é: o reino de Blatter.
Joscha
Weber (rc) Deutsche Welle, opinião
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