segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

BOOMERANG GEOESTRATÉGICO



 Martinho Júnior, Luanda

1 – O derrube do bombardeiro SU-24 da Rússia no Iraque, obrigou finalmente a Rússia, na sua intervenção na Síria, a subir a fasquia dum ambiente táctico para um ambiente geo estratégico, de forma que toda a resposta da coligação norte-americana fosse esgrimida sem remissão contra a parede, com riscos de, com a força do impacto na parede, se esfarelar em todas as direcções, algo que não podiam esperar a qualquer nível de observação os “think tank” do “ocidente”.

O Presidente Putin, desequilibrou a balança a seu favor no Oriente Médio, com sua inteligente manobra política e diplomática a quente sobre os acontecimentos, uma manobra que foi acompanhada por provas objectivas contra o jogo de Erdogan, recolhidas dos ambientes operativos da região, onde a superioridade militar e de inteligência russa se foi evidenciando, pelo que os Estados Unidos dão sinais de não ter outra alternativa senão entender-se com a Rússia em relação à Síria, indiciando estarem tentados a abandonar à sua sorte Erdogan, também por causa de insustentáveis pressões europeias no quadro da NATO.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan cometeu o maior erro de avaliação geo estratégica de sua vida política ao decidir-se pelo derrube do bombardeiro russo que estava a operar contra o auto proclamado Estado Islâmico no noroeste da Síria e não possuía defesas para fazer face à ameaça de caças inimigos ao nível dos F-16.
  
2 – Todas as provas que a Rússia foi acumulando face à contínua decifragem dos acontecimentos, permitem concluir que a Turquia, ao aceitar tornar-se na base logística que permite a sustentação do EI, é na verdade, com o actual governo de Erdogan, a assumpção do próprio Estado Islâmico, comparável ao governo da Irmandade Muçulmana no Egipto, chegando ao extremo de trair a linha de orientação republicana do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk.

Assim sendo cai por terra toda a campanha visando derrubar o Presidente síro Bashar al-Assad, uma campanha que servia a Erdgan, como às monarquías arábicas (Arábia Saudita e Qatar) e ao Paquistão, para manipular a frente terrorista instalada no Médio Oriente, fundamentalmente o DAESH e a Al Nushra e para garantir a campanha de propaganda que encobria suas verdadeiras intenções.


Erdogan está desmascarado como um autêntico chefe-de-fila do DAESH e como tal toda a propaganda contra o Presidente sírio torna-se num “bluff”, deixando o “ocidente” a braços com o doloroso dilema de, ao sustentá-lo, continuar tácitamente na senda da perversa manipulação que constitui o DAESH e a Frente Al Nushra, quando todo o conluio já está desmascarado.


3 – A NATO está sob efeito traumático do “boomerang” da geo estratégia russa que está a tirar todo o partido do desmascaramento do clã do “infeliz” Erdogan.

Neste momento ele está a vegetar embaraçado na sua fulminada capacidade de decisão: a Turquia nestes termos torna-se incapaz de ser enquadrada na solução dos problemas porque é afinal uma peça fundamental do terrorismo jihadista, ou seja, nestes termos assume-se como factor vital do próprio Estado Islâmico.

O seu jogo operativo no Iraque fica também automáticamente desmascarado e inútil, não havendo mais argumentação que a salve, a não ser o da retirada imediata e incondicional de suas forças do territorio iraquiano.

Por outro lado, se a operação ao nível táctico da Rússia na Síria já eclipsara o efeito propagandístico do exercício “Trident Juncture 2015”, a passagem da resposta russa ao nível geo estratégico, inibindo os próprios Estados Unidos, obriga os estados europeus membros da NATO a rever todas as suas opções face aos riscos que se levantam (extensão do jihadismo a toda a Europa e invasão de refugiados “catapultados” propositadamente pela Turquia, que se escusa à filtragem dos jihadistas que devassam impunemente seu território).

As intervenções francesa e britânica só serão exequíveis se estiverem de acordó com a Rússia reconhecendo ao mesmo tempo que Bashar alAssad é parte da solução e não do problema, no ámbito do respeito de não ingerência que o “ocidente” tanto deve à Síria como deveu antes ao Iraque, à Líbia e a um sem número de outros…

Ou procuram com a Rússia uma opção honrosa e airosa (com o reconhecimento de Bashar al-Assad), ou estão perdidos com Erdogan que os está a “afundá-los” face à carga negativa do Estado Islâmico.

4 – No que diz respeto ao golpe que o projecto do oleoducto “Turkish Stream” sofreu, a União Europeia pode finalmente ser conduzida a rever outras opções, para além das que foram construídas entre a Rússia e a Alemanha no Báltico.

A hipótese do “South Stream” vir a ser reequacionado (circundando a sul a Ucrânia via Mar Negro) é agora maior, dependendo do grau de “acertos” dos Estados Unidos com a Rússia, que com uma economía muito mais diversificada que o “ocidente” supunha, faz com que o Presidente Putin“espere sentado” no rescaldo do “efeito boomerang” provocado por Erdogan num momento tão crítico para a União Europeia.

É sintomático que os aviões británicos tenham tanta dificuldade em operar contra o Estado Islâmico a partir de Chipre, é sintomático que a força-tarefa que a França deslocou com o porta-aviões Charles de Gaulle se viu obrigada a trocar o Mediterrâneo Oriental pelo Golfo Pérsico para poder actuar, como é sintomática a preferência do Iraque pela aviação russa, ao invés da aviação norte-americana…

O “boomerang” geo estratégico que Erdogan provocou, faz ruir como um baralho de cartas toda a geo estratégia “occidental” e por isso não seria de admirar que em nome da moderna Turquia republicana fundada por Mustafa Kemal Ataturk, as Forças Armadas Turcas se vissem compelidas mais que nunca a apear um Erdogan terrorista, como aconteceu com o Morsi da Irmandade Muçulmana no Egipto!

Os Estados Unidos, ao afirmarem agora a sua reaproximação à Rússia ao mesmo tempo que consideram que Bashar al-Assad é parte da solução e não do problema, podem favorecer mais um golpe militar desta feita na Turquia, à imagem e semelhança do jogo que fez no Egipto.

A cabeça terrorista de Erdogan está a prémio e pode ser servida de bandeja, vítima do “efeito boomerang” que o próprio criou… aceitam-se apostas em relação ao seu tempo de vida enquanto entidade política activa e ele como o seu clã começam a correr o risco de resvalar por seu próprio pé para um triste fim.

Fotos: O desmascaramento do terrorista Erdogan enquanto parte do “efeito boomerang” por si próprio criado: quem semeia ventos, corre sempre o risco de colher tempestades. (CLICAR NAS FOTOS PARA AMPLIAR)


PROBLEMAS DA NIGÉRIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

A Nigéria encontra-se afundada num imenso mar de problemas de diversa ordem, económica, social, política e militar e que, logicamente, está a preocupar os países vizinhos.

Atingida fortemente pela crise provocada  pelo abaixamento contínuo do preço do petróleo, a Nigéria reduziu em cerca de 200 mil barris por dia a sua produção de crude, quando comparada com os valores apresentados em Novembro de 2014. 

Com esta descida, a Nigéria deixou-se ultrapassar por Angola como primeiro produtor de petróleo do continente africano, uma situação que já levou o ministro do Estado e dos Recursos Petrolíferos, Emmanuel Ibe Kachikwu, a dizer que o seu país tem que alterar os seus processos de trabalho de modo a recuperar rapidamente a posição agora perdida. 

Mas este é apenas um dos muitos problemas com que se está a deparar o novo Governo nigeriano, empossado há cerca de um mês pelo presidente Muhammadu Buhari, que se vê agora a braços com uma série de situações que ameaçam, fortemente, a sua estabilidade interna, seja do ponto de vista social ou político. 

O grupo Boko Haram, que chegou a parecer estar quase neutralizado, voltou a reaparecer em cena desencadeando uma série de acções que semearam a morte e o terror na região nordeste do país, quase logo a seguir ao ataque que as forças governamentais efectuaram contra o Movimento Islâmico, uma organização  xiita. 

A situação é de tal forma grave que alguns países vizinhos decidiram, discretamente, aceitar ajuda militar externa para evitarem males maiores e assim defender as suas populações. 

Os Camarões, por exemplo, foram os menos discretos e abriram já as suas fronteiras para a entrada de militares estrangeiros, norte-americanos e britânicos, que passarão a ocupar algumas posições de protecção a zonas consideradas “mais sensíveis”. 

Depois de durante quase um ano norte-americanos e britânicos terem trabalhado com os Camarões e a Nigéria no fornecimento de informações e na formação de técnicos capazes de preparar a luta contra o terrorismo, a partir de agora a sua presença passará a ser mais “acutilante” e, por isso, mais visível. 

Esta decisão do Governo dos Camarões deve-se ao agravamento da situação no interior da Nigéria e ao receio de que este país não seja capaz de evitar a expansão da actividade terrorista para lá das suas fronteiras. 

Recentemente, um tribunal nigeriano anunciou a anulação da pena de morte de 66 soldados que se terão recusado a combater os terroristas alegando, para isso, “convicções religiosas”. 

De acordo com o mesmo tribunal, essas penas foram transformadas em sentenças de dez anos de prisão, tendo essa revisão judicial sido feita a pedido do general Tukur Buratai, o homem que o presidente Buhari encarregou de coordenar todo o combate contra o Boko Haram. 

Neste momento, a Justiça  nigeriana está a analisar mais 600 processos que envolvem militares que teriam desertado dos seus postos quando se aperceberam da aproximação dos terroristas.  Um dos grandes problemas com que se depara a chefia militar nigeriana no combate ao Boko Haram é que a maioria dos efectivos professa a religião muçulmana, a mesma dos terroristas. E tem sido com base na religião que o grupo tem conseguido mobilizar efectivos e convencê-los a lutar por um poder que dificilmente podem atingir. 

Mas os actuais problemas da Nigéria não se ficam apenas a dever à crise do petróleo e ao fanatismo do Boko Haram, uma vez que outros existem que, se não forem anulados, podem, a muito breve prazo, atingir proporções bastante graves. 

Um desses problemas é o reacender da questão do Biafra, por via da acção do movimento separatista que dá pelo nome de “Povo do Biafra” e que chegou já a ter uma rádio ao seu serviço. Há menos de uma semana o antigo director dessa rádio e assumido líder do movimento, Nnamdi Kanu, foi libertado por um tribunal de Abuja, tendo a notícia sido recebida com grande entusiasmo por alguns dos seus seguidores. 

No apogeu desse entusiasmo, alguns dos seus apoiantes chegaram a organizar algumas manifestações de apoio, tendo numa delas, realizada em Onitsha, havido violentos confrontos com a polícia, dos quais resultaram a morte de três pessoas. 

Numa altura em que a Nigéria está determinada  a  lutar contra as suas fraquezas, tendo o Presidente Buhari aberto várias frentes de combate no sentido de moralizar a função pública através de um feroz combate à corrupção, a questão da instabilidade ganha uma dimensão alarmante e que pode deitar tudo a perder. 

Alguns apoiantes do Presidente atribuem o reacender da questão do Biafra e alguns apelos discretos à desmobilização na luta contra o terrorismo a uma manobra orquestrada por forças que não estão interessadas em que a situação mude. 

Embora não o tenha dito de forma directa, o próprio Presidente, num recente discurso fez alguma ligação entre estes problemas e a “herança” que recebeu do antecessor, Goodluck Jonathan, a quem não se cansa de atribuir responsabilidades pelo que não foi feito, durante demasiados anos, no combate à corrupção e ao Boko Haram. 

Na verdade a dimensão de um país como a Nigéria e a sua importância para o progresso de todo o continente africano obrigam a que a sua situação interna seja seguida com a devida atenção, de modo a que aquilo que por lá se vier a passar não contagie os países vizinhos. 

À cautela, os Camarões já decidiram actuar, abrindo as suas portas à ajuda militar externa, uma decisão relativamente perigosa, porque pode comportar compromissos que, mais tarde, se podem mesmo voltar contra os seus interesses políticos. 

Mas os outros vizinhos da Nigéria que seguem atentamente o que se passa no país, estão certamente preocupados por saberem que sentirão os efeitos do que lá acontecer, sejam eles positivos ou negativos.

Angola. A NULIDADE DOS CONTRATOS DE ISABEL DOS SANTOS



Rui Verde*

A bilionária Isabel dos Santos tem a sua fortuna dependente do poder do pai

Qual é, neste momento, o assunto mais im­portante em Angola?

A resposta imediata será o julgamento – ou a farsa que envolve o suposto julgamento – dos 15 + 2. Mas, em­bora este seja um as­sunto importante para os jovens, que foram abusivamente encar­cerados, para as suas famílias e para todos os defensores dos direitos fundamentais e da de­mocracia, na verdade, e infelizmente, não é o as­sunto mais importante em Angola.

Até certo ponto, é pos­sível imaginar que o processo dos 15 + 2 con­stitui uma manobra de diversão levados a cabo pelos espertos dirigen­tes, formados na es­cola marxista-leninista, e que por isso sabem não haver nada melhor do que uma nuvem de fumo bem espessa para distrair os incautos. En­quanto se vê a peça de teatro mal encenada no tribunal, perde-se o fio à realidade. Os dirigen­tes devem pensar, tal como Maria Antonieta, rainha de França, que para acalmar a popu­lação bastará distribuir uns bolos ou, melhor, umas cervejas como é de costume.

Ora, o assunto mais im­portante em Angola é o estrondoso despiste económico-financeiro do Estado ligado às aventuras bilionárias da filha princesa. Todos os dias chegam relatos de falta de liquidez, de dificuldades de liqui­dez, ao mesmo tempo que todos os dias chegam relatos do lago de riqueza em que Isabel dos Santos se banha. Trata-se de duas re­alidades não compag­ináveis e que constitu­em o maior problema angolano e de todos os parceiros internacion­ais que tenham relações com Angola. De resto, as duas realidades estão intimamente ligadas.

Vários especialistas jurídicos a nível inter­nacional já se aperce­beram de que a situ­ação jurídica de quem faz contratos com Isabel dos Santos pode ser muito periclitante. Veja-se o presente caso da EFACEC. Se se com­provar que a interven­ção que o presidente pai teve no negócio, ao facultar fundos à filha, constitui uma vio­lação da lei, seja da lei constitucional, seja da lei administrativa ou mesmo da lei criminal, isso quer dizer que os contratos assinados por Isabel dos Santos não têm validade completa, uma vez que o seu ob­jecto pode ser em parte contrário à lei e à or­dem pública, como de­terminam os números 1 e 2 do artigo 280.º do Código Civil.

Um contrato de com­pra e venda tem como objecto determinada coisa ou direito e é fon­te de duas obrigações: a obrigação de entre­gar a coisa ou direito e a obrigação de pagar o preço. Em termos doutrinários, este con­trato tem dois objec­tos: a coisa ou direito transaccionada e o din­heiro para pagamento. Portanto, se se verificar alguma origem ilícita do dinheiro utilizado no contrato – sobretudo tendo em conta que Isabel dos Santos é uma PEP («Pessoa Exposta Politicamente»), o que tem óbvias implicações na ordem pública inter­nacional e obriga à to­mada de medidas cau­telares mais intensas que o habitual –, então poder-se-ão consid­erar nulos os contratos que esta subscreve e em que paga determi­nada quantia eventual­mente com dinheiro proveniente de fontes não lícitas.

Se os contratos são nulos, então po­dem ser revogados a qualquer momento, devendo ser devolvi­do tudo o que tiver sido prestado.

Este é o ponto es­sencial a anotar para a segurança jurídica dos contratos que es­tão a ser efectuados: podem ser inválidos, e um dia tudo pode voltar ao zero.

Em bom português: os contratos assina­dos por Isabel dos Santos podem não valer nada.

*Doutor em Direito

Folha 8 digital


Angola. PAPAI ENTREGA À FILHA PLANO METROPOLITANO DE LUANDA



A antiga nomenklatura angolana do tempo do PT, partido único, detentora de todas as rédeas do poder político e de todos os outros que este controlava, reapareceu em grande à tona d’água no passado dia 14.12 nas suas vestes de 1992.

Vestes de único partido a exercer o poder em Angola, MPLA, isto é, metamorfoseada em establishment de fachada democrática à moda ocidental, mas controlando, com os seus apparatchiks disfarçados em empresários, tudo quanto é ferramenta de um poder absoluto, abrangendo tudo, desde a liderança política, passando pelas mídia, finanças, comércio, indústria, e instituições, sejam de que origem forem.

O objectivo da referida aparição em público era tirar mais um coelho da cartola do “governo” e apresentar ao povo de Angola o novo Plano Director Geral Metropolitano de Luanda (PDGML) por intermédio do apparatchik ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, ladeado pela princesa Isabel dos Santos, filha de papai e dona da empresa Urbinveste, a qual, como que por acaso, ganhou o concurso público para abocanhar esta monumental empreitada, de muitos biliões de dólares, que se vai prolongar ao longo de 15 anos, portanto até ao ano de 2030.

Segundo consta oficialmente, “o PDGML é um projecto que começou em 2009, com um concurso público realizado pelo Governo Provincial de Luanda, na tentativa de criar para a capital uma proposta com soluções de desenvolvimento e de crescimento integrado (…) e fundamenta-se em três pilares, designadamente, “cidade habitável”, “nossa cidade bonita” e “cidade internacional”, revelou a Angola e ao mundo a directora-geral da Urbinveste, empresa de Isabel dos Santos, filha de papai.

Biliões outra vez em mão presidencial

Mais uma vez o que vemos é uma Isabel dos Santos, agora, na Urbinvest a aparecer à frente de um plano de desenvolvimento de 15 anos de Luanda, para abocanhar mais biliões de dólares do Estado, com base no tráfico de influência, como se fosse a única a ter direito a figurar, sem concurso, na linha da frente de todos concursos.

Na justificativa de isenção e transparência, que nunca existiu, a bilionária do papai, José Eduardo dos Santos, Presidente da República, que faz do Estado propriedade privada, a filha Isabel dos Santos, diz ter feito mais de 2 mil reuniões com vários extractos da sociedade e em consultas com grande número de técnicos, assim como com muitas associações de profissionais de engenharia e arquitectura.

Disse mas tem noção que muitas destas reuniões foram uma autêntica mentira e farsa.

O problema que se apresenta neste ponto importante da empreitada é que se constata que muitos profissionais já vieram desmentir isso mesmo e dizer que eles nem sequer foram ouvidos e que os que foram chamados para consulta profissional foram os peritos estrangeiros contratados para a empreitada futura.

Perante este cenário desolador para o empresariado angolano, algumas perguntas delicadas e sem resposta se levantam:

Primeiro, como é que o MPLA e JES ousam fazer um plano de 15 anos sem falar com os outros partidos?

Têm a certeza de que vão ganhar as próximas três eleições?

Têm confiança absoluta na sua máquina de fraude?

Dos Santos tinha necessidade de humilhar desta forma o povo dizendo que nos projectos bilionários é a sua família quem mais ordena?

Isabel tinha necessidade disso, com os biliões que já tem?

Não lhe chegam o que arrecadou com base no tráfico de influencias?

E depois desta pouca-vergonha de adjudicação de obra, com vencedor consagrado antes do concurso, foi confrangedor ver todo um “governo”, os apparatchicks ajoelhados aos pés da princesa Isabel e todos no beija-mão.

Folha 8

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Brasil. ATORES DO GOLPISMO



A mídia oposicionista é outro ator importante do golpe, ela recorta a realidade sem mostrar que a gênese da corrupção na Petrobras está no governo FHC.

Jeferson Miola – Carta Maior

Nesta conjuntura vertiginosa, os acontecimentos se sucedem freneticamente. A dinâmica política confirma o lema de uma emissora nacional de rádio e televisão – “em 20 minutos, tudo pode mudar”.

As certezas e vitórias cantadas por cada lado do espectro político ao fim de cada dia – pela oposição golpista ou pelo campo democrático-constitucional de resistência ao golpe –, se evaporam durante as madrugadas. E assim os dias amanhecem com novas incertezas e com os cenários de disputa em aberto.  

Não há evidências de que essa conjuntura instável, imprevisível e cheia de lances dramáticos, se altere nos próximos meses. 

Neste cenário de “instabilidade constante”, o aspecto de maior previsibilidade é o comportamento dos atores golpistas mais proeminentes: movidos por um ódio irascível e obsessivo contra o PT, eles são dotados de uma capacidade impressionante de armar traquinagens e vigarices. 

A lista desses atores começa, naturalmente, por Eduardo Cunha. O Presidente da Câmara dos Deputados tem uma conduta que dificulta a precisão diagnóstica, embora apresente uma sintomatologia compatível com a de um gângster psicopata. Ele nega com um descaramento assombroso a existência de contas bancárias na Suíça, abastecidas com dinheiro sujo da corrupção na Petrobrás. A Polícia Federal descobriu que este malandro, pródigo em truques regimentais, curiosamente usa um táxi como disfarce para transportar a si mesmo – e sabe-se lá para carregar quais ilicitudes mais. 

O Mimi-Michel Temer é outro personagem especial. Vice-presidente “Decorativo” da República, na hora decisiva demonstrou que aquela fama de constitucionalista, ostentada numa postura nobiliárquica, não passa de pura empáfia: calou ante a manobra inconstitucional de Cunha, que admitiu a denúncia de impeachment sem causa determinada – ou melhor, sem nenhuma causa. Invocando uma falsa neutralidade, Temer adota atitude olímpica frente às seguidas estripulias golpistas e ilegais de Eduardo Cunha. 
Como presidente do PMDB, arquitetou as tramóias partidárias na Câmara dos Deputados para conspirar e derrubar a presidente Dilma, articulando a substituição do líder da bancada partidária e indicando peemedebistas de oposição para a Comissão Especial do Impeachment. Mimi-Michel quer ocupar a cadeira presidencial de Dilma a qualquer preço, nem que para isso tenha de sacar a máscara de democrata e constitucionalista.

Gilmar Mendes, outro ator importante do golpismo, só é ministro da Suprema Corte por uma questão acidental. Fosse outro o país, menos tolerante com canalhices escondidas numa toga, ele já teria sofrido um processo de impeachment, porque não reúne as condições de serenidade, razoabilidade e isenção indispensáveis para o cargo. Em lugar do embasamento jurídico, apela ao proselitismo tucano-reacionário. Na sessão do STF que anulou o rito do impeachment manipulado por Cunha, Gilmar abandonou a hermenêutica e partiu para ataques ao governo, citando inclusive um artigo do seu líder no Senado, o Senador José Serra! Certa feita, seu então colega de STF, Joaquim Barbosa, acusou Gilmar de ter capangas. Verdade ou não, o fato é que, pelas posições assumidas, o ministro Dias Toffoli se candidata a este título tão vergonhoso.

O PSDB, que há muitos anos se juntou à velhacaria política do Brasil, ataca em todos os flancos. FHC, o conspirador-chefe, rege a orquestra de interesses heterogêneos onde se movem Alckmin, Aécio e Serra – todos unidos na estratégia golpista, porém separados quanto à tática e ao timing do golpe. É uma trajetória lastimável do PSDB; um partido que abandonou tristemente sua tradição de defensor da democracia, lapidada na luta contra a ditadura.

A mídia oposicionista é outro ator importante da dinâmica do golpe, senão o mais importante. É ela que cimenta a narrativa dos acontecimentos a partir da estratégia inteligentemente formulada pelo condomínio jurídico-policial-midiático de oposição. Esta mídia hegemônica recorta e seleciona a realidade, tornando palavra proibida qualquer menção à gênese da corrupção na Petrobrás, que data do período do governo FHC. No vale-tudo do golpe, assassina a verdade e a imparcialidade, em nome da sanha odiosa contra o PT, Lula, Dilma e o povo pobre.

O RACISMO NORTE-AMERICANO E AS SEMELHANÇAS COM O BRASIL



Se um negro erra, culpam a todos os outros; quando é um branco, é caso isolado, diz ativista dos EUA

Vitor Taveira, Rio de Janeiro – Opera Mundi* - entrevista

Para Ashley Yates, articuladora do #BlackLivesMatter, o que aconteceu com Michael Brown em Ferguson fez com que os moradores negros da cidade dissessem “já chega” para violência policial

No ano passado, a morte do jovem negro Michael Brown, depois de diversos disparos feitos por um policial branco, causou uma onda de protestos em Ferguson, na periferia de Saint Louis (Missouri), nos Estados Unidos. As manifestações promoveram o debate sobre racismo e violência policial e ajudaram a impulsionar a campanha #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam).

Convidada para um debate sobre juventude e segurança pública no evento Emergências, realizado no Rio de Janeiro no começo de dezembro, a ativista Ashley Yates, que participou dos protestos de Ferguson e é articuladora da #BlackLivesMatter, convidou os participantes a fechar os olhos por um instante e imaginar uma local e situação em que se sentissem seguros. Após abrir os olhos, provocou: “alguém aqui imaginou policiais neste lugar seguro?”.

Ativa nas redes sociais como Twitter e Instagram, com a alcunha de Brown Blaze, Yates conversou com Opera Mundi na capital fluminense.

Opera Mundi: Que semelhanças vê entre o Brasil e os Estados Unidos em relação ao tema racial e à repressão policial?

Ashley Yates: Saint Louis, de onde venho, é um lugar muito segregado entre brancos e negros. Eu ouvi que Brasil também é assim, que há racismo. Aqui mataram cinco garotos em um carro e eu li na internet que a polícia ficou ao redor, não socorrendo depois de atirar, mas olhando a comunidade reclamando para fazer algo. E assim foi em Ferguson, eles deixaram Mike Brown na rua por 4 horas e meia. Não só o mataram, mas o deixaram na rua como se fosse um cachorro, como se uma vida negra não importasse, como se não fosse um humano.

OM: Por que a morte de Michael Brown teve tanta repercussão?

AY: As pessoas da vizinhança começaram a sair de suas casas e a chamar outras. Sabiam que alguma coisa estava errada, que algo estava acontecendo. Na cidade de Saint Louis, há muita pobreza, o sistema escolar é muito ruim, especialmente para as pessoas negras, o índice de encarceramento é muito alto. Sempre somos assediados pela polícia, eles vêm nos violentam e matam. Quando se mata alguém numa cidade tão tensa, acontece esse tipo de revolta.

Nos Estados Unidos, já havia casos como o assassinato de Trayvon Martin em 2012, em que muitas pessoas ficaram furiosas. Na cidade de Saint Loius, nós sabíamos que, se houvesse um caso desses, as pessoas seriam capazes de se organizar.  O caso de Mike Brown fez com que as pessoas dissessem “já basta”, que esse seria o último caso, e decidiram agir.

OM: Como a mídia cobriu o tema e qual a importância da Internet para difundir informações?

AY: No primeiro momento, quando mataram Mike Brown, nem mesmo disseram seu nome, atuando como se fosse um cachorro. A mídia disse apenas “é um homem”. Ele tinha 17 anos, eu não sei quem é homem ou mulher aos 17 anos. Era uma criança, um jovem. Eles diziam que sua família era pobre e que mereceu isso. 

Depois disso, durante os protestos nos reprimiram jogando gás lacrimogêneo. Transmitiam na TV ao vivo, diziam que tínhamos armas, mas não era verdade. E mostramos na internet que não era nada disso, colocamos vídeos mostrando que as pessoas eram pacíficas, tinham suas mãos levantadas, que havia crianças lá. Então fomos capazes de mostrar que o que os meios de comunicação diziam era uma mentira e que nós estávamos dizendo a verdade. Mas isso só foi possível por causa da internet, porque a mídia não estava nos ajudando.

OM: Seria diferente se Mike Brown fosse branco?

AY: Sim. Você nunca vai ver nos Estados Unidos um branco sendo morto pela polícia e deixado na rua por quatro horas e meia. Isso é o que costuma acontecer desde tempos da escravidão. Como nos linchamentos, em que penduravam o pescoço dos escravos numa árvore e os deixavam lá, para que todos pudessem ver e dizer “isso é o que acontece com pessoas negras”. Parece um linchamento de hoje, só que não o penduraram numa árvore, o deixaram morto na rua.

Você não vê isso acontecer com uma pessoa branca porque se considera que eles têm dignidade, suas vidas importam e nunca serão deixados na rua. Então seria diferente porque isso nunca aconteceria.

OM: Qual a importância da campanha #BlackLivesMatter?

AY: É imensa. #BlackLivesMatter significa que todas as pessoas importam: homem, mulher, crianças, pobres, ricos, educados, não educados. Não importa de onde você vem, se você é uma pessoa, sua vida tem valor.

Dizer que as vidas negras importam não quer dizer que outras vidas não importam. Nós sabemos que geralmente as vidas negras são as que têm menos valor. Se nós dizemos que a vida que tem menos valor importa, então todas as vidas importam.

Temos uma cor diferente, por isso somos vistos de outra maneira. A campanha #BlackLivesMatter mostra isso para todos, que vidas as negras importam, que nós temos dignidade. As palavras escolhidas são muito importantes porque no fundo estão dizendo: “parem de nos assassinar”.

OM: E é preciso que toda sociedade norte-americana tenha consciência...

AY: Atualmente, a sociedade norte-americana está muito irritada com os muçulmanos, no que chamamos de islamofobia. A maioria dos muçulmanos tem pele escura. Essa é uma nova maneira de odiar pessoas que não são como você.

Quando dissemos que vidas negras importam, isso inclui os muçulmanos. Também estamos combatendo a islamofobia. Sabemos que os muçulmanos estão sendo associados ao terrorismo e enfrentando perseguição. Recentemente tivemos um tiroteio na Califórnia e disseram “os muçulmanos fizeram isso”, então agora todos odeiam os muçulmanos.

Mas, quando um homem branco matou dez pessoas em Shelton (Oregon), ninguém disse “os cristãos fizeram isso”, ninguém disse “as pessoas brancas são más”.  Quando alguém de pele escura faz algo, culpam a todos nós; quando alguém branco faz algo de ruim, apenas ele é culpado. O que estamos dizendo é que se isso segue acontecendo, todos temos que nos levantar juntos, porque todas as vidas importam.

OM: A campanha #BlackLivesMatter consegue influenciar de alguma maneira nas plataformas das pré-campanhas presidenciais que estão acontecendo nos Estados Unidos?

AY: É difícil, pois eles tentam nos ignorar. É por isso que nós protestamos, porque quando milhares de pessoas saem às ruas, você não pode ignorá-las, fechar os olhos e dizer que não está vendo. Essa luta é difícil, mas temos feito alguns avanços, como, por exemplo, na proposta de reforma na justiça criminal, presente em algumas campanhas, pois a maioria das pessoas presas não devia estar lá. Alguns estarão na cadeia por 30 anos por crimes menores como pequeno porte de drogas como maconha.

O que acontece é que os políticos apoiam a polícia e dizem “eles são boas pessoas”. Fica parecendo que nós somos pessoas más. Dizem que temos que apoiar nossa polícia porque ela nos mantém seguros. E nós dizemos que a polícia não nos mantém seguros.

É difícil caminhar juntos nisso, mas estamos trabalhando nesse sentido, as pessoas estão vendo que, quanto mais barulho fizermos, quanto mais gritarmos, quanto mais falarmos sobre violência, as outras pessoas não podem nos ignorar e vão entendendo que polícia pode não ser segura. E então se perguntar: como podemos estar seguros? Isso exige uma mudança de pensamento, e mudar a mentalidade das pessoas é um processo lento, mas estamos avançando.

OM: O que Brasil pode aprender da experiência americana?

AY: Que a polícia não mantém as pessoas seguras. Ninguém se sente seguro com a polícia em seu redor. Ninguém se sente mais seguro com alguém com uma arma perto de você, que pode atirar e te matar.

Tragédias como a de Ferguson fazem as pessoas se sentirem revoltadas e sem segurança, faz com que a vizinhança condene a ação policial, faz repensar sobre como a polícia deveria ser, qual a quantidade de polícia que precisamos, ou mesmo se realmente precisamos da polícia.

Acho que também serve se estamos realmente articulados, porque tentam nos separar, entre brancos e negros, pobres e ricos e o #BlackLivesMatter está mostrando aos Estados Unidos que todos somos humanos, fazendo aprender como dialogar uns com os outros, como levar as coisas sendo diferentes, como estar juntos numa mesma ideia. Não acho que seja o caso do Brasil aprender conosco, mas de compartilharmos um com o outro nossas experiências.

*Título PG

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CONTAS DE MULTIPLICAR



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

À partida para as eleições de ontem em Espanha, havia apenas um resultado garantido: o fim do bipartidarismo. À exceção desta certeza, todas as configurações e alianças eram possíveis, num cenário em que nem todos os quatro candidatos esclareceram que casamentos pós-eleitorais admitem. O PP foi, como indicavam as últimas sondagens, o mais votado e vencedor da noite, mas a leitura final dos resultados poderá ser demorada. À semelhança do que aconteceu em Portugal, a formação do Governo está dependente de negociações.

O Podemos confirmou a sua força, mas também o movimento Cidadãos obteve um resultado histórico. A grande questão é perceber a qual irá o PP pedir a mão. Mas não entram apenas novas formações no Parlamento, como cai a tradição de o partido mais votado se bastar a si próprio.

Foi um ano de intensas mudanças pela Europa fora. Entre a explosão de partidos à Esquerda, com expoente máximo na Grécia, e o crescimento assustador da extrema-direita (que, apesar de não conseguir eleitos, teve há uma semana um resultado recorde em França), assistimos à implosão dos tradicionais partidos europeus do bloco central.

Fatores para esta crise dos partidos haverá vários. Da recessão económica a múltiplos escândalos de corrupção, do cansaço perante velhas receitas à entrada em cena de desafios cada vez mais radicais e globais, como o terrorismo e a pressão dos fluxos migratórios. Falta confiança nos decisores políticos. Sobra a sensação de que é necessário mudar e criar novos modelos de ação com mais espaço para a participação de quem vota.

Alguns dos novos fenómenos eleitorais que têm vindo a crescer pela Europa resultam da contraposição desgastada entre Esquerda e Direita, da fratura entre eleitos e eleitores. Nem sempre têm soluções ou modelos credíveis de governação, mas sabem fazer um diagnóstico que coincide com o dos cidadãos, na sensação de desencanto com os que há tantos anos nos governam.

Falta de qualidades de quem ocupa os lugares de poder, carreirismo, fechamento na vida partidária: as principais razões para a queda dos partidos estão dentro deles mesmos. A emergência de novos movimentos e correntes só pode significar que a democracia funciona e que os eleitores são capazes de exigir que se vá mais longe. Mais opções enriquecem, nunca o contrário. A democracia multiplica-se, não se divide.

Espanha. “UM PAÍS DIFÍCIL DE GOVERNAR”. JORNAIS ESPANHÓIS DE OLHO EM PORTUGAL



A ida do eleitorado espanhol às urnas resultou, como se esperava, numa soma de dúvidas. Só há uma certeza: o bipartidarismo está “morto e enterrado” e os partidos vão ter de negociar, possivelmente “à portuguesa”

a será o que era”. Os espanhóis acordaram com a “sombra da ingovernabilidade” a pairar sobre as suas cabeças e os jornais do país vizinho refletem esse estado de espírito. Há um aspeto comum: têm os olhos postos em Portugal e nos inéditos acordos à esquerda promovidos por António Costa depois das últimas eleições legislativas, numa altura em que se desenha o fim do bipartidarismo que tem marcado toda a História da democracia espanhola.

Rajoy ganhou, mas não se sabe o quê; Sánchez ganhou em relação às sondagens, mas registou o pior resultado de sempre do PSOE; o Podemos superou-se, deixando Pablo Iglesias no centro das decisões; e Albert Rivera, do Ciudadanos, conquistou menos eleitores do que o esperado mas pode ainda ser uma peça importante nos acordos pós-eleitorais.

O “El País” fala da nova composição parlamentar como “um puzzle com mais peças do que antes, difíceis de encaixar por serem incompatíveis”. Embora noticie “a sombra da ingovernabilidade”, o editorial deste diário é o mais otimista, destacando a necessidade de “negociar com espírito construtivo” e “retomar a via da negociação para resolver os problemas do país”, “depois de quatro anos em que o diálogo político esteve ausente”. E “esta é a melhor maneira” de colmatar essa ausência”, defende o matutino.

“PSOE ESTARIA A COMETER SUICÍDIO”

“Uma vitória insuficiente, um país difícil de governar”: esta é a descrição que o “El Mundo” faz no rescaldo das eleições. No editorial desta segunda-feira, o jornal defende que este é um resultado “agridoce” para Rajoy, que diz ter “ganho em condições adversas”. De acordo com o “El Mundo“, “seria desejável que o Ciudadanos apoiasse Rajoy como primeiro-ministro”, uma vez que o matutino não hesita em classificar um possível acordo à esquerda como “uma amálgama de formações heterogéneas, condenada de início ao fracasso e difícil de justificar perante o eleitorado”.

O jornal vai mais longe e assegura que, a encabeçar um acordo semelhante ao assinado em Portugal, “o PSOE estaria a cometer suicídio”. Fica no ar a hipótese de uma “repetição” da ida às urnas, se ninguém conseguir formar uma solução governativa.

“UM PACTO À PORTUGUESA”

Já o “La Razón” segue a mesma linha, defendendo que a oposição espanhola “capitalizou eleitoralmente quatro anos de esforço e de políticas reformistas que marcaram o caminho para a recuperação económica”. No editorial, o jornal refere que “o objetivo [dos partidos de esquerda] é tirar o PP do poder, a qualquer preço”, destacando que uma fórmula semelhante àquela encontrada por António Costa é “instável e oportunista”.

O jornal adianta ainda que os bons resultados registados pelo Podemos podem fazer com que o partido passe de ser “um perigo para uma salvação” para os socialistas, que assegura só poderem aspirar a governar tendo em vista “um pacto à portuguesa”.

UMA “PROFUNDA MUDANÇA POLÍTICA”

O diário “La Vanguardia” destaca “a profunda mudança política” que o eleitorado espanhol mostrou desejar, tendo como resultado “uma situação muito complexa em que a aritmética não basta”. O jornal prevê que os passos seguintes para a formação de Governo tragam uma suavização do discurso dos novos partidos, afirmando que a hipótese de acordo entre PP e PSOE é desejada pelas forças internacionais mas “nada faz prever” que se concretize.

“PREÇO PODE SER A INGOVERNABILIDADE”

Por seu lado, o ABC é claro: “o xadrez político mudou, mas o preço pode ser a ingovernabilidade”, num cenário em que “os pactos mais prováveis não são suficientes”. O jornal, que afirma que o líder socialista registou uma “queda demolidora” e não conseguiu superar a herança dos seus antecessores, destaca, no entanto, que o facto de o PSOE se ter mantido como a principal força de esquerda “evita a sombra do PASOK grego”.

Para o jornal, resta uma certeza: “O verdadeiro vencedor das eleições foi o caos, o bloqueio, a ingovernabilidade e a Espanha politicamente invertebrada”.
Na foto: O Podemos de Pablo Iglesias foi apontado como o principal vencedor de umas eleições que deixaram tudo em aberto / Fernando Villar

Expresso

Portugal. O “ENTERTAINER”



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Basta fazer uma viagem pelas redes sociais para ver a forma como as mesmas abordam a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. As gentes de esquerda recordam o seu passado. E falam da carta que escreveu ao seu padrinho Marcello Caetano, onde, ao mesmo tempo que parece desculpar-se pelo acompanhamento do Congresso da Oposição Democrática de Aveiro, "bufa" as atividades desenvolvidas, particularmente pelo "PC" e elogia o presidente do Conselho por um discurso que este fez e que, diz Marcelo, "caiu muito bem em vários setores da opinião pública", dado que teve o mérito de se "antecipar ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais" (falando da fantochada eleitoral de 1973 promovida pela ditadura!). Numa altura em que Marcelo já não era um imberbe, mas sim um adulto. Licenciado, casado e com 25 anos de vida.

Outros recordam um passado mais recente. Daquele que foi quase fundador do PPD, membro de várias das suas direções, deputado, autarca e mesmo presidente do partido entre 1996 e 1999. Apoiante de relevo da candidatura de Cavaco Silva a presidente da República e por este premiado/nomeado como membro do Conselho de Estado.

Outros ainda colocam em causa o seu caráter, dizendo que, oportunisticamente, procura passar uma esponja sobre o seu passado e percurso, de forma a penetrar no eleitorado da Esquerda - dado que, nas legislativas de há apenas dois meses, a Direita (ou seja, os partidos que lhe declararam o apoio - o PSD e o CDS) apenas recolheram 37% dos votos, o que manifestamente é insuficiente para a sua eleição. Comparando esta atitude com aquela que Cavaco teve em 1995, quando quis tanto que os eleitores esquecessem que ele era o antigo primeiro-ministro em queda, que até se negou a que a sua fotografia e o seu nome surgissem no apoio ao seu sucessor e fiel amigo Fernando Nogueira.

As gentes da Direita dividem-se entre os seus indefetíveis e aqueles que não o gramam. Sendo que estes, designadamente os do CDS, não esquecem a birra e as traições entre Marcelo e Portas que levaram a que a coligação PSD/CDS então anunciada não chegasse a ver a luz do dia... Outros, designadamente do PSD, não lhe perdoam o facto de ser aquilo que efetivamente Passos Coelho dele pensa: um "protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou [n]um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político" (in moção apresentada por Passos Coelho, no início de 2015, ao Congresso do PSD).

Pela minha parte, e não sendo insensível a todos estes argumentos, acrescento outro que me anda a preocupar: é que tenho saudades das animadas e divertidas prestações de Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos, ao jantar. Que faziam esquecer as desilusões da bola ou potenciavam a alegria que esta nos dava... Pelo que não me consigo imaginar muito mais tempo sem a sua presença. E tremo, de angústia, imaginando que pode ser substituído, nesse papel, por Marques Mendes, mais Zandinga que Marcelo, mas que, sem dúvida, fica a anos-luz do seu brilho e animação.

Por isso, para além de todas as razões racionais, estou disposto a dar o meu nome para uma causa: queremos Marcelo de volta à TVI! Porque prefiro um bom "entertainer" a um mau presidente da República!...

Portugal. Banif: PCP RECUSA USO DE “RECURSOS PÚBLICOS PARA INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS”



Jorge Pires falou em nome do PCP sobre a solução encontrada para o Banif.

O PCP emitiu no seu site um comunicado sobre a resolução do Banif e venda do negócio ao Santander Portugal, na qual manifesta a sua oposição à “canalização de recursos públicos para instituições bancárias”.

Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central, anunciou ainda que o PCP vai pedir na Assembleia da República uma comissão de inquérito sobre o caso.

O Partido Comunista acusa o Governo PSD e o CDS de terem sido “diretamente responsáveis pela perda de 825 milhões de euros”, por terem injetado 1.100 milhões de euros no Banif, dos quais apenas 275 milhões foram recuperados.

Jorge Pires diz que o antigo Governo não garantiu “mínimo acompanhamento da instituição […], permitindo que um banco detido em mais de 60% pelo Estado fosse integralmente controlado por outros interesses”.

“Passos Coelho justificou a operação como um bom negócio para o Estado, mentindo sobre a operação que correspondeu, na verdade, a uma ajuda pública a fundo perdido a um banco privado com pesados custos para o interesse público”, pode ler-se.

“A situação demonstra que um efetivo controlo público da banca é absolutamente necessário”, acrescentou o partido liderado por Jerónimo de Sousa, uma opinião em linha com a do Partido Socialista.

Notícias ao Minuto

Portugal. BANIF: "PASSOS E PORTAS FORAM RESPONSÁVEIS POR UM ATO CRIMINOSO”



A deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, comentou esta manhã a venda do Banif ao Santander Totta por um valor de 150 milhões de euros.

"Desde que surgiram os primeiros problemas do Banif, o Bloco de Esquerda esteve sempre contra a injeção de dinheiros públicos e defendeu como prioridades a proteção do dinheiro dos depositantes, a rede dos bancos nas regiões autónomas e as poupanças dos emigrantes", garante a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua. 

Para a bloquista, "os ativos bons do Banif deveriam ter sido agregados e mantidos num controlo público. Os ativos tóxicos deveriam ter sido concentrados num banco mau, em vez de ser uma nova condenação sobre os contribuintes, os custos desta operação deveriam em primeiro lugar ser assumidos pelos acionistas e pelos grandes financiadores do Banif". 

Esta é uma operação que poderá ter um custo elevado para os contribuintes. Sendo que o Fundo de Resolução vai investir 489 milhões de euros e o Estado vai contribuir com 1.766 milhões, o que perfaz uma injeção de capital de pelo menos 2.255 milhões de euros.

"Enquanto o governo da Direita com a colaboração ativa das instituições europeias se preocupava unicamente em encenar a famosa saída limpa, a real situação do Banif era ocultada até se tornar insustentável", afirma. 

"Há responsabilidades que são óbvias. Com a sua negligência Passos e Portas agravaram radicalmente as perdas para os contribuintes, decidindo nada fazer e ocultar o problema para depois das eleições. Cometeram um crime contra os interesses do Estado e do país", frisa, apontando o dedo a "Passos e Portas, os responsáveis por um ato criminoso contra os interesses financeiros do país com a sua negligência, em nome de um puro interesse eleitoralista e política". 

A bloquista não deixa de apontar a atuação do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. "O Banco de Portugal não esteve à altura das suas funções. Consideramos que Carlos Costa não tem as mínimas condições para se manter na sua posição", indica. 

"Tomaremos a iniciativa de propor uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do Banif. O Bloco está ainda preocupado com as consequências da decisão do PS, que não só implica despedimentos como um prejuízo imposto aos contribuintes", adianta, assegurando que "os contribuintes não podem continuar a ser a garantia que na banca privada a má gestão é um crime que compensa".

Notícias ao Minuto

Portugal. GALAMBA CRITICA COMENTÁRIO DE PORTAS, “O CHARLATÃO DAS PENSÕES”



João Galamba comentou este domingo, através do seu perfil de Facebook, as afirmações feitas por Paulo Portas à margem do congresso do CDS-PP na Madeira.

Paulo Portas, presidente do CDS-PP, participa no congresso do partido na Madeira e falou das pensões para acusar o governo de demagogia, indicando pela primeira vez as pensões mais baixas vão ser penalizadas.

“Portas, o charlatão das pensões. O ex-provedor dos pensionistas (e dos pescadores e dos agricultores e dos ex-combatentes), depois de presidir a vários anos de aumento da pobreza dos idosos, tem o descaramento de criticar o partido que mais fez descer a pobreza dos idosos em Portugal”, criticou João Galamba, no seu perfil da rede social Facebook.

O socialista escreve que “Portas volta a ignorar que a prestação para combater a pobreza dos idosos é o CSI, e não as pensões mínimas”.

João Galamba esclarece, ainda, que o PS “para além de repor CSI a valores de 2010, atualiza todas as pensões até 628 euros”, lembrando que o “PSD e CDS só atualizaram as pensões mínimas com carreiras contributivas inferiores a 15 anos”.

Notícias ao Minuto

REBALDARIA Á PORTUGUESA: A FORÇA DE PODEREM ROUBAR… IMPUNEMENTE



À força de uns quantos pacóvios acreditarem em Cavacos, Passos, Portas e outra gentalha que se apoderou dos cargos políticos estratégicos que permitem defender e proteger os interesses da alta finança é que os portugueses andam a pagar o que não gastaram. Dinheiro de que nem lhe viram a cor. Apesar disso os pacóvios voltaram ao local do crime e nas últimas eleições isso viu-se. Os salafrários do costume tiveram uma votação que só não lhes permitiu voltar a governarem os interesses da alta finança, dos políticos, empresários e banqueiros ladrões porque houve eleitores e vontades suficientes para que se constituísse uma maioria de esquerda no parlamento que apoia o governo PS. Caso contrário o esbulho, a mentira, os vigaristas, continuariam a governarem-se e às suas seitas. Tudo com o aval interessado de Cavaco Silva, que é um dos deles. O Padrinho. Aquele assim se finará.

Decerto que todos que aqui chegaram a esta parte da prosa já perceberam do que trata: Banif. Depois do BPN, do BES e de mais uns quantos da banca recheada de gestores e banqueiros vigaristas que não se cansam de roubar os contribuintes portugueses. Tudo isso porque anteriormente compraram muitos partidos políticos, muitos políticos e toda a corja de bandidos que se instalaram em elites vampirescas que sugam os recursos de Portugal e dos portugueses. O conluio, a cumplicidade, é enorme. Criminosa.

“Banif, a força de acreditar” – tem por slogan publicitário. Acreditar que é sempre possível roubar os portugueses com total impunidade. Eventualmente com uns quantos “incómodos” – como é o caso do Salgado do BES, a quem o juiz Alexandre aliviou as medidas de coação para poupar na despesa de Salgado ficar com um polícia à porta para guardar o banqueiro mau, apesar de ele sair de casa, da sua sumptuosa e vasta propriedade pela porta dos fundos. Que prendas oferecerá o Menino Jesus ao juiz Carlos Alexandre agora pelo Natal? E aos outros, àqueles outros que nem sabemos com exatidão quem são. É a recompensa por serem tão bonzinhos nesta antecâmara da boa-vontade natalícia. Tocam os sinos? Ou será o vil metal a tilintar? Metal não é, e o papel não tilinta.

Ena, onde isto já vai! Assim dava para ainda fazer um livrinho. Parou! Resta dizer que confio piamente na justiça e nos seus operadores. Não se riam, cuidado com o cieiro.

O Banif. Neste Expresso Curto é Ricardo Costa, o diretor, quem lavra as laudas informáticas. Vamos deparar com algo quase inédito: Ricardo Costa indeciso sobre como abrir a peça. Se com o Banif, se com as eleições em Espanha, em que o PP de Rajoy foi atirado para morder o pó e a trampa que tem foi na governação da crise que deu luz verde aos ladrões para também roubarem os espanhóis. Pois. “És una mierda. Estói quedado.” Disse Rajoy quando se apercebeu da falta de confiança com que os eleitores espanhóis o premiaram. Assim como ao bipartidarismo, ao “arco da governação” que tem engordado muitos ladrões, muitos bandidos que se alojam nos partidos políticos para saciarem os seus instintos criminosos, roubando aos pobres para dar aos ricos e guardarem também vantagens para eles próprios, familiares e amigos.

Bem, mas Ricardo Costa decidiu-se. Pelo menos escreveu sobre quase tudo. A indecisão foi temporária. Só enquanto as teclas não desemperravam – vítimas das sujeiras que caem desde os céus de Belém, do Caldas e da Lapa. Para não dizer de outros locais. Do Estoril, casa de Dias Loureiro, por exemplo. O tal ministro querido da vitória, perdão, de Cavaco. BPN, pois claro!

Siga para bingo. Ricardo Coração do Expresso é Curto mas não é grosso. Homem inteligente que por contenções compreensivas nunca diz tudo. Ao contrário, por aqui, no PG, há alguns desbocados. Feitios.

Bom dia. Cuidado com a carteira, o relógio, o telemóvel – se ainda isso tiver, se acaso o governo anterior não lhe roubou esses bens pessoais e essenciais. Comer e casa é como o outro: “vive-se bem sem comer, sem casa, sem emprego. Não sejam piegas.”, diriam Passos-Portas-Cavaco. Pois.

Isto está uma rebaldaria. É a força de poderem roubar… impunemente!

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Costa – Expresso

Onde é que eu já vi isto? Um vencedor que não governa e um banco que nos sai muito caro

Por onde começar o Expresso Curto? Por umas eleições espanholas que acabaram com o bipartidarismo e deixaram o vencedor sem aparentes condições para governar? Ou por um Banco de que o Estado português tem 60% do capital desde 2013 e que foi sendo empurrado com a barriga até ser vendido à pressa com uma perda imediata para os contribuintes de €700 milhões e mais €1,7 mil milhões potenciais a caminho?

O primeiro assunto é fundamental porque nos é próximo, porque lança incerteza sobre uma das maiores economias da União Europeia e porque pode abrir caminho, pela primeira vez em 40 anos de democracia, a um governo que não é liderado por quem ganhou as eleições, mas por uma coligação alternativa ou por um acordo parlamentar liderado pelo segundo partido mais votado (PSOE), que, por acaso, até teve o seu pior resultado de sempre.

Depois da Dinamarca e de Portugal, seria o terceiro governo europeu nascido em 2015 que não incluía o partido mais votado. E convém não esquecer que já é assim no Luxemburgo, na Bélgica e na Letónia. A vitória do PP é inequívoca, com 123 deputados, mas a queda brutal (vinha de 186 lugares) e a enorme subida da esquerda (PSOE+Podemos) tornam a investidura de Mariano Rajoy quase impossível, num pesadelo para o centro-direita muito parecido com o que se abateu sobre PSD e CDS em outubro.

A política de alianças alternativas ao vencedor é muito habitual em Espanha em governos autonómicos. Mas essa prática nunca foi usada a nível nacional. Com o novo parlamento, isso parece inevitável, embora seja preciso recorrer aos partidos mais pequenos.

Só um número, para percebermos como esta eleição é histórica: dois partidos que não existiam há 4 anos conseguiram 109 deputados! O Podemos – equivalente ao Bloco de Esquerda - alcançou uns fabulosos 69 lugares e o Ciudadanos, de centro-direita anti-PP, conseguiu 40 assentos. O resultado do Ciudadanos ficou muito aquém do projetado em sondagens, mas foi suficiente para baralhar tudo.

O El País tem ótimos gráficos aqui que mostram bem a dimensão da mudança, o El Mundo faz uma ótima simulação de todas as coligações e acordos possíveis num parlamento muito fragmentado e El Español tem um excelente artigo sobre os caminhos que o Rei pode seguirpara que se consiga formar governo. Não sei se o Rei Filipe estava preparado para este cenário, mas vai ter um dos maiores testes da democracia espanhola em muitas décadas.

Enquanto os espanhóis fazem contas aos deputados, nós fazemos contas a mais um banco que nos ia sair barato e que, afinal, fica por uma fortuna. Para os mais distraídos, convém lembrar que o Banif era tecnicamente do Estado desde 2013, quando o Tesouro teve que acudir ao banco com cerca de €700 milhões e ficou com 60% do capital. Além disso ainda emprestou cerca de €125 milhões convertíveis em capital, que nunca foram devolvidos.

O problema foi sendo inexplicavelmente adiado até que nos aproximamos do dia 1 de janeiro de 2016, em que Bruxelas passa a ternovas regras para a resolução bancária, nomeadamente com perdas diretas para os depositantes. E então era assim: ou Portugal e o Banif eram cobaias num resgate estilo Chipre ou vendiam a coisa depressa e à melhor oferta. E é assim que, hoje, todos os clientes do Banif acordaram como clientes do Santander, que comprou a parte boa do banco por €150 milhões, num negócio fechado em contrarrelógio no fim de semana.

E é tudo? Não, porque nestas coisas há sempre mais qualquer coisa.Nesta parte é melhor estar sentado: é que o Estado tem que disponibilizar €1,7 mil milhões para salvar a atividade do banco e o Fundo de Resolução (ou seja, o sistema bancário) cerca de €500 milhões. São €2,2 mil milhões para um banco que já estava na esfera do Estado desde 2013…

O primeiro-ministro fez uma declaração ao país perto da meia-noite, sobre esta “solução dolorosa e catastrófica”, que pode custar aos contribuintes €2,4 mil milhões: 700 agora e 1,7 mil potenciais.

Perante uma conta calada destas, a política acelerou. PS, PCP e Bloco vão avançar com uma comissão parlamentar de inquérito em que os bombos da festa vão ser Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa. Há, obviamente, muitos argumentos para se defenderem estão preparados para isso. Mas a gestão do dossiê do Banif, tal como o do Novo Banco, em função do calendário eleitoral é relativamente difícil de disfarçar.

Cada um que decida pela sua cabeça, mas a coisa será mais ou menos assim: vai ser uma tourada parlamentar, o duelo Mariana Mortágua vs. Maria Luís Albuquerque vai ser um dos melhores momentos televisivos de 2016, o CDS vai demarcar-se do PSD e atacar Carlos Costa, PCP e Bloco vão surfar a onda anti-bancos e o PS vai desmontar a teoria da saída limpa, defendendo que o Banif e o Novo Banco foram atirados para debaixo do tapete quando a troika tinha disponíveis para banca portuguesa €12 mil milhões e o anterior governo só usou metade.

Enquanto tudo isto acontece, nós pagamos a conta e ficamos sentados à espera da fatura do Novo Banco. Talvez em 2017 eu consiga escrever um Expresso Curto sem notícias destas…

OUTRAS NOTÍCIAS

Como a primeira parte foi excecionalmente longa, hoje esta secção é bem mais enxuta.

Começo por uma notícia de última hora: a FIFA acaba de anunciar que Joseph Blatter e Michel Platini são banidos oito anos de qualquer atividade ligada ao futebol. Mão pesada para os dois homens mais importantes da modalidade nos últimos anos.

A Índia está em convulsão por causa da libertação dos mais jovem dos violadores que participou num brutal crime que provocou a morte de uma jovem num autocarro em Nova Dehli. O país tem uma legislação muito ligeira para crimes sexuais.

Na China ainda há 91 desaparecidos, depois de um aluimento de terras e lixo ter provocado a destruição de 33 edifícios em Shenzhen

Na Eslovénia, os eleitores rejeitaram em referendo o casamento homossexual. O parlamento tinha aprovado uma lei a permitir o casamento e a adoção por casais do mesmo sexo, mas ontem 63,3% dos eleitores que participaram no referendo disseram não.

Na curiosa democracia venezuelana, os funcionários da fábrica local da Pepsi foram finalmente libertados, depois de terem sido detidos na sexta-feira por, segundo o governo, terem parado de produzir Pepsi Cola para prejudicar a economia local. A empresa desmente as acusações e garante que fábrica deixou de operar por falta de matérias-primas.

No futebol nacional, a jornada de ontem mexeu com a classificação. O Sporting teve a primeira derrota da época na visita ao União da Madeira e entregou o primeiro lugar ao Porto, que já não passava a noite de ano novo no primeiro lugar desde 2011.

Sporting e Porto defrontam-se na próxima jornada dia 2 de janeiro, num jogo que permite aos jornais desportivos usarem com propriedade um adjetivo que tanto acarinham e que ganha outra força em pleno inverno: escaldante.

Os jogadores do Benfica tiveram que ouvir assobios enquanto tentavam ultrapassar o Rio Ave, mas ganharam com folga (3-1). Segundo os desportivos houve três penáltis por assinalar, o que dará para encher uns vinte programas de análise desportiva. Afinal, o que é o Banif ao pé de três grandes penalidades por assinalar na Luz?

No futebol internacional, o Bayern de Munique anunciou que o treinador Guardiola deixa o clube no final do ano. São más notícias para alguns treinadores que andam em apuros e que, de repente, veem Mourinho e Guardiola no mercado e prontos a ser contratados.

A conta de Instagram de Isabel dos Santos (Isabel_santos_angola) deu ontem muito que falar, com uma foto da empresária ao lado deNicki Minaj ontem em Luanda. A cantora tinha sido muito pressionada a cancelar o concerto por causa do julgamento de Luaty Beirão e de outros ativistas, mas fez uma grande atuação no Estádio dos Coqueiros, para gáudio do público e da organização da Unitel (telecom controlada por Isabel dos Santos). A Blitz conta tudo aqui.

FRASES

“A venda do Banif ao Santander tem um custo muito elevado para os contribuintes”. António Costa, primeiro-ministro, na comunicação ao país feita ontem à noite

“Quem ganha eleições deve formar governo e eu vou tentar formar governo porque Espanha necessita de um governo estável”.Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha e líder do Partido Popular

“Não estávamos à espera disto. Empatar já não era bom, perder foi pior”. Jorge Jesus, treinador do Sporting, ao ver escapar-lhe o primeiro lugar

O QUE EU ANDO A LER

O final do ano é tempo de balanços. Nos últimos dias vários jornais e revistas têm dado espaço às suas escolhas. Pode ler aqui as dos críticos do Expresso (artigo disponível neste link) ou o Top 10 do suplemento cultural dos nossos colegas do caderno ípsilon, do Público.

No Público o pódio é ocupado por Assim Começa o Mal, de Javier Marías, História do Novo Nome, de Elena Ferrante, e A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard Flanagan. Metade do top é ocupado por portugueses: Gonçalo M. Tavares, António Lobo Antunes, Mário Cláudio, Teresa Veiga e Alexandre Andrade.

No Expresso não optámos por um top único, mas por listas dos vários críticos. Muitos dos livros e autores acima citados reaparecem nas nossas escolhas, bem como a nota de 2015 ter sido o ano em assistimos à perda de um dos nossos maiores poetas do séc. XX, Herberto Helder, e de um dos mais originais e coerentes editores nacionais, Vítor Silva Tavares, da & etc.

Uma nota destacada nas escolhas foi a importância das reedições. Alguns dos grandes acontecimentos editoriais estiveram mesmo nesse campo. Relevo dois autores de que gosto muito: primeiro, José Cardoso Pires, que viu finalmente a sua obra ser reeditada na Relógio D’Água. Cardoso Pires é um escritor notável, com uma mão cheia de grandes livros e que, pouco a pouco, foi desaparecendo das nossas livrarias. Aproveitem agora.

Outra escolha pessoal reeditado este ano: Saul Bellow, o príncipe dos escritores judeus norte-americanos, republicado por cá na Quetzal. Que me desculpem os fãs de Roth, mas Bellow é o melhor de todos e não vai ser fácil destroná-lo.

Se quiserem acabar o ano com um livro de Bellow e outro Cardoso Pires na cabeceira ficam em boas mãos para entrar em 2016. Enquanto não pegam em livros, já sabem, é só estarem atentos aoExpresso Online, onde não vai faltar informação, análise e opinião sobre o Banif, Espanha e tudo o mais que acontecer. Ao fim da tarde trazemos o Expresso Diário, com tudo isto bem enquadrado e nova ronda de opinião e notícias em primeira mão. E como o mundo não para de girar, o Expresso Curto volta amanhã de manhã.

Bom dia, bom trabalho e boas compras de natal e não se esqueça que, se alguém lhe perguntar o que fez no fim de semana, pode sempre dizer: “ontem vendi um banco…”

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