Martinho Júnior, Luanda
1
– O derrube do bombardeiro SU-24 da Rússia no Iraque, obrigou finalmente a
Rússia, na sua intervenção na Síria, a subir a fasquia dum ambiente táctico
para um ambiente geo estratégico, de forma que toda a resposta da coligação
norte-americana fosse esgrimida sem remissão contra a parede, com riscos de,
com a força do impacto na parede, se esfarelar em todas as direcções, algo que
não podiam esperar a qualquer nível de observação os “think tank” do “ocidente”.
O
Presidente Putin, desequilibrou a balança a seu favor no Oriente Médio, com sua
inteligente manobra política e diplomática a quente sobre os acontecimentos,
uma manobra que foi acompanhada por provas objectivas contra o jogo de Erdogan,
recolhidas dos ambientes operativos da região, onde a superioridade militar e
de inteligência russa se foi evidenciando, pelo que os Estados Unidos dão
sinais de não ter outra alternativa senão entender-se com a Rússia em relação à
Síria, indiciando estarem tentados a abandonar à sua sorte Erdogan, também por
causa de insustentáveis pressões europeias no quadro da NATO.
O
Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan cometeu o maior erro de avaliação
geo estratégica de sua vida política ao decidir-se pelo derrube do bombardeiro
russo que estava a operar contra o auto proclamado Estado Islâmico no noroeste
da Síria e não possuía defesas para fazer face à ameaça de caças inimigos ao
nível dos F-16.
2
– Todas as provas que a Rússia foi acumulando face à contínua decifragem dos
acontecimentos, permitem concluir que a Turquia, ao aceitar tornar-se na base
logística que permite a sustentação do EI, é na verdade, com o actual governo
de Erdogan, a assumpção do próprio Estado Islâmico, comparável ao governo da
Irmandade Muçulmana no Egipto, chegando ao extremo de trair a linha de
orientação republicana do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk.
Assim
sendo cai por terra toda a campanha visando derrubar o Presidente síro Bashar
al-Assad, uma campanha que servia a Erdgan, como às monarquías arábicas (Arábia
Saudita e Qatar) e ao Paquistão, para manipular a frente terrorista instalada
no Médio Oriente, fundamentalmente o DAESH e a Al Nushra e para garantir a
campanha de propaganda que encobria suas verdadeiras intenções.
Erdogan
está desmascarado como um autêntico chefe-de-fila do DAESH e como tal toda a
propaganda contra o Presidente sírio torna-se num “bluff”, deixando o “ocidente” a
braços com o doloroso dilema de, ao sustentá-lo, continuar tácitamente na senda
da perversa manipulação que constitui o DAESH e a Frente Al Nushra, quando todo
o conluio já está desmascarado.
3
– A NATO está sob efeito traumático do “boomerang” da geo estratégia
russa que está a tirar todo o partido do desmascaramento do clã do “infeliz” Erdogan.
Neste
momento ele está a vegetar embaraçado na sua fulminada capacidade de decisão: a
Turquia nestes termos torna-se incapaz de ser enquadrada na solução dos
problemas porque é afinal uma peça fundamental do terrorismo jihadista, ou
seja, nestes termos assume-se como factor vital do próprio Estado Islâmico.
O
seu jogo operativo no Iraque fica também automáticamente desmascarado e inútil,
não havendo mais argumentação que a salve, a não ser o da retirada imediata e
incondicional de suas forças do territorio iraquiano.
Por
outro lado, se a operação ao nível táctico da Rússia na Síria já eclipsara o
efeito propagandístico do exercício “Trident Juncture 2015”, a passagem da
resposta russa ao nível geo estratégico, inibindo os próprios Estados Unidos,
obriga os estados europeus membros da NATO a rever todas as suas opções face
aos riscos que se levantam (extensão do jihadismo a toda a Europa e invasão de
refugiados “catapultados” propositadamente pela Turquia, que se
escusa à filtragem dos jihadistas que devassam impunemente seu território).
As
intervenções francesa e britânica só serão exequíveis se estiverem de acordó
com a Rússia reconhecendo ao mesmo tempo que Bashar alAssad é parte da solução
e não do problema, no ámbito do respeito de não ingerência que o “ocidente” tanto
deve à Síria como deveu antes ao Iraque, à Líbia e a um sem número de outros…
Ou
procuram com a Rússia uma opção honrosa e airosa (com o reconhecimento de
Bashar al-Assad), ou estão perdidos com Erdogan que os está a “afundá-los” face
à carga negativa do Estado Islâmico.
4
– No que diz respeto ao golpe que o projecto do oleoducto “Turkish Stream” sofreu,
a União Europeia pode finalmente ser conduzida a rever outras opções, para além
das que foram construídas entre a Rússia e a Alemanha no Báltico.

É
sintomático que os aviões británicos tenham tanta dificuldade em operar contra
o Estado Islâmico a partir de Chipre, é sintomático que a força-tarefa que a
França deslocou com o porta-aviões Charles de Gaulle se viu obrigada a trocar o
Mediterrâneo Oriental pelo Golfo Pérsico para poder actuar, como é sintomática
a preferência do Iraque pela aviação russa, ao invés da aviação
norte-americana…
O “boomerang” geo
estratégico que Erdogan provocou, faz ruir como um baralho de cartas toda a geo
estratégia “occidental” e por isso não seria de admirar que em nome
da moderna Turquia republicana fundada por Mustafa Kemal Ataturk, as Forças
Armadas Turcas se vissem compelidas mais que nunca a apear um Erdogan
terrorista, como aconteceu com o Morsi da Irmandade Muçulmana no Egipto!
Os
Estados Unidos, ao afirmarem agora a sua reaproximação à Rússia ao mesmo tempo
que consideram que Bashar al-Assad é parte da solução e não do problema, podem
favorecer mais um golpe militar desta feita na Turquia, à imagem e semelhança
do jogo que fez no Egipto.
A
cabeça terrorista de Erdogan está a prémio e pode ser servida de bandeja,
vítima do “efeito boomerang” que o próprio criou… aceitam-se apostas
em relação ao seu tempo de vida enquanto entidade política activa e ele como o
seu clã começam a correr o risco de resvalar por seu próprio pé para um triste
fim.
Fotos: O
desmascaramento do terrorista Erdogan enquanto parte do “efeito boomerang” por
si próprio criado: quem semeia ventos, corre sempre o risco de colher
tempestades. (CLICAR NAS FOTOS PARA AMPLIAR)