segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

BOOMERANG GEOESTRATÉGICO



 Martinho Júnior, Luanda

1 – O derrube do bombardeiro SU-24 da Rússia no Iraque, obrigou finalmente a Rússia, na sua intervenção na Síria, a subir a fasquia dum ambiente táctico para um ambiente geo estratégico, de forma que toda a resposta da coligação norte-americana fosse esgrimida sem remissão contra a parede, com riscos de, com a força do impacto na parede, se esfarelar em todas as direcções, algo que não podiam esperar a qualquer nível de observação os “think tank” do “ocidente”.

O Presidente Putin, desequilibrou a balança a seu favor no Oriente Médio, com sua inteligente manobra política e diplomática a quente sobre os acontecimentos, uma manobra que foi acompanhada por provas objectivas contra o jogo de Erdogan, recolhidas dos ambientes operativos da região, onde a superioridade militar e de inteligência russa se foi evidenciando, pelo que os Estados Unidos dão sinais de não ter outra alternativa senão entender-se com a Rússia em relação à Síria, indiciando estarem tentados a abandonar à sua sorte Erdogan, também por causa de insustentáveis pressões europeias no quadro da NATO.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan cometeu o maior erro de avaliação geo estratégica de sua vida política ao decidir-se pelo derrube do bombardeiro russo que estava a operar contra o auto proclamado Estado Islâmico no noroeste da Síria e não possuía defesas para fazer face à ameaça de caças inimigos ao nível dos F-16.
  
2 – Todas as provas que a Rússia foi acumulando face à contínua decifragem dos acontecimentos, permitem concluir que a Turquia, ao aceitar tornar-se na base logística que permite a sustentação do EI, é na verdade, com o actual governo de Erdogan, a assumpção do próprio Estado Islâmico, comparável ao governo da Irmandade Muçulmana no Egipto, chegando ao extremo de trair a linha de orientação republicana do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk.

Assim sendo cai por terra toda a campanha visando derrubar o Presidente síro Bashar al-Assad, uma campanha que servia a Erdgan, como às monarquías arábicas (Arábia Saudita e Qatar) e ao Paquistão, para manipular a frente terrorista instalada no Médio Oriente, fundamentalmente o DAESH e a Al Nushra e para garantir a campanha de propaganda que encobria suas verdadeiras intenções.


Erdogan está desmascarado como um autêntico chefe-de-fila do DAESH e como tal toda a propaganda contra o Presidente sírio torna-se num “bluff”, deixando o “ocidente” a braços com o doloroso dilema de, ao sustentá-lo, continuar tácitamente na senda da perversa manipulação que constitui o DAESH e a Frente Al Nushra, quando todo o conluio já está desmascarado.


3 – A NATO está sob efeito traumático do “boomerang” da geo estratégia russa que está a tirar todo o partido do desmascaramento do clã do “infeliz” Erdogan.

Neste momento ele está a vegetar embaraçado na sua fulminada capacidade de decisão: a Turquia nestes termos torna-se incapaz de ser enquadrada na solução dos problemas porque é afinal uma peça fundamental do terrorismo jihadista, ou seja, nestes termos assume-se como factor vital do próprio Estado Islâmico.

O seu jogo operativo no Iraque fica também automáticamente desmascarado e inútil, não havendo mais argumentação que a salve, a não ser o da retirada imediata e incondicional de suas forças do territorio iraquiano.

Por outro lado, se a operação ao nível táctico da Rússia na Síria já eclipsara o efeito propagandístico do exercício “Trident Juncture 2015”, a passagem da resposta russa ao nível geo estratégico, inibindo os próprios Estados Unidos, obriga os estados europeus membros da NATO a rever todas as suas opções face aos riscos que se levantam (extensão do jihadismo a toda a Europa e invasão de refugiados “catapultados” propositadamente pela Turquia, que se escusa à filtragem dos jihadistas que devassam impunemente seu território).

As intervenções francesa e britânica só serão exequíveis se estiverem de acordó com a Rússia reconhecendo ao mesmo tempo que Bashar alAssad é parte da solução e não do problema, no ámbito do respeito de não ingerência que o “ocidente” tanto deve à Síria como deveu antes ao Iraque, à Líbia e a um sem número de outros…

Ou procuram com a Rússia uma opção honrosa e airosa (com o reconhecimento de Bashar al-Assad), ou estão perdidos com Erdogan que os está a “afundá-los” face à carga negativa do Estado Islâmico.

4 – No que diz respeto ao golpe que o projecto do oleoducto “Turkish Stream” sofreu, a União Europeia pode finalmente ser conduzida a rever outras opções, para além das que foram construídas entre a Rússia e a Alemanha no Báltico.

A hipótese do “South Stream” vir a ser reequacionado (circundando a sul a Ucrânia via Mar Negro) é agora maior, dependendo do grau de “acertos” dos Estados Unidos com a Rússia, que com uma economía muito mais diversificada que o “ocidente” supunha, faz com que o Presidente Putin“espere sentado” no rescaldo do “efeito boomerang” provocado por Erdogan num momento tão crítico para a União Europeia.

É sintomático que os aviões británicos tenham tanta dificuldade em operar contra o Estado Islâmico a partir de Chipre, é sintomático que a força-tarefa que a França deslocou com o porta-aviões Charles de Gaulle se viu obrigada a trocar o Mediterrâneo Oriental pelo Golfo Pérsico para poder actuar, como é sintomática a preferência do Iraque pela aviação russa, ao invés da aviação norte-americana…

O “boomerang” geo estratégico que Erdogan provocou, faz ruir como um baralho de cartas toda a geo estratégia “occidental” e por isso não seria de admirar que em nome da moderna Turquia republicana fundada por Mustafa Kemal Ataturk, as Forças Armadas Turcas se vissem compelidas mais que nunca a apear um Erdogan terrorista, como aconteceu com o Morsi da Irmandade Muçulmana no Egipto!

Os Estados Unidos, ao afirmarem agora a sua reaproximação à Rússia ao mesmo tempo que consideram que Bashar al-Assad é parte da solução e não do problema, podem favorecer mais um golpe militar desta feita na Turquia, à imagem e semelhança do jogo que fez no Egipto.

A cabeça terrorista de Erdogan está a prémio e pode ser servida de bandeja, vítima do “efeito boomerang” que o próprio criou… aceitam-se apostas em relação ao seu tempo de vida enquanto entidade política activa e ele como o seu clã começam a correr o risco de resvalar por seu próprio pé para um triste fim.

Fotos: O desmascaramento do terrorista Erdogan enquanto parte do “efeito boomerang” por si próprio criado: quem semeia ventos, corre sempre o risco de colher tempestades. (CLICAR NAS FOTOS PARA AMPLIAR)


PROBLEMAS DA NIGÉRIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

A Nigéria encontra-se afundada num imenso mar de problemas de diversa ordem, económica, social, política e militar e que, logicamente, está a preocupar os países vizinhos.

Atingida fortemente pela crise provocada  pelo abaixamento contínuo do preço do petróleo, a Nigéria reduziu em cerca de 200 mil barris por dia a sua produção de crude, quando comparada com os valores apresentados em Novembro de 2014. 

Com esta descida, a Nigéria deixou-se ultrapassar por Angola como primeiro produtor de petróleo do continente africano, uma situação que já levou o ministro do Estado e dos Recursos Petrolíferos, Emmanuel Ibe Kachikwu, a dizer que o seu país tem que alterar os seus processos de trabalho de modo a recuperar rapidamente a posição agora perdida. 

Mas este é apenas um dos muitos problemas com que se está a deparar o novo Governo nigeriano, empossado há cerca de um mês pelo presidente Muhammadu Buhari, que se vê agora a braços com uma série de situações que ameaçam, fortemente, a sua estabilidade interna, seja do ponto de vista social ou político. 

O grupo Boko Haram, que chegou a parecer estar quase neutralizado, voltou a reaparecer em cena desencadeando uma série de acções que semearam a morte e o terror na região nordeste do país, quase logo a seguir ao ataque que as forças governamentais efectuaram contra o Movimento Islâmico, uma organização  xiita. 

A situação é de tal forma grave que alguns países vizinhos decidiram, discretamente, aceitar ajuda militar externa para evitarem males maiores e assim defender as suas populações. 

Os Camarões, por exemplo, foram os menos discretos e abriram já as suas fronteiras para a entrada de militares estrangeiros, norte-americanos e britânicos, que passarão a ocupar algumas posições de protecção a zonas consideradas “mais sensíveis”. 

Depois de durante quase um ano norte-americanos e britânicos terem trabalhado com os Camarões e a Nigéria no fornecimento de informações e na formação de técnicos capazes de preparar a luta contra o terrorismo, a partir de agora a sua presença passará a ser mais “acutilante” e, por isso, mais visível. 

Esta decisão do Governo dos Camarões deve-se ao agravamento da situação no interior da Nigéria e ao receio de que este país não seja capaz de evitar a expansão da actividade terrorista para lá das suas fronteiras. 

Recentemente, um tribunal nigeriano anunciou a anulação da pena de morte de 66 soldados que se terão recusado a combater os terroristas alegando, para isso, “convicções religiosas”. 

De acordo com o mesmo tribunal, essas penas foram transformadas em sentenças de dez anos de prisão, tendo essa revisão judicial sido feita a pedido do general Tukur Buratai, o homem que o presidente Buhari encarregou de coordenar todo o combate contra o Boko Haram. 

Neste momento, a Justiça  nigeriana está a analisar mais 600 processos que envolvem militares que teriam desertado dos seus postos quando se aperceberam da aproximação dos terroristas.  Um dos grandes problemas com que se depara a chefia militar nigeriana no combate ao Boko Haram é que a maioria dos efectivos professa a religião muçulmana, a mesma dos terroristas. E tem sido com base na religião que o grupo tem conseguido mobilizar efectivos e convencê-los a lutar por um poder que dificilmente podem atingir. 

Mas os actuais problemas da Nigéria não se ficam apenas a dever à crise do petróleo e ao fanatismo do Boko Haram, uma vez que outros existem que, se não forem anulados, podem, a muito breve prazo, atingir proporções bastante graves. 

Um desses problemas é o reacender da questão do Biafra, por via da acção do movimento separatista que dá pelo nome de “Povo do Biafra” e que chegou já a ter uma rádio ao seu serviço. Há menos de uma semana o antigo director dessa rádio e assumido líder do movimento, Nnamdi Kanu, foi libertado por um tribunal de Abuja, tendo a notícia sido recebida com grande entusiasmo por alguns dos seus seguidores. 

No apogeu desse entusiasmo, alguns dos seus apoiantes chegaram a organizar algumas manifestações de apoio, tendo numa delas, realizada em Onitsha, havido violentos confrontos com a polícia, dos quais resultaram a morte de três pessoas. 

Numa altura em que a Nigéria está determinada  a  lutar contra as suas fraquezas, tendo o Presidente Buhari aberto várias frentes de combate no sentido de moralizar a função pública através de um feroz combate à corrupção, a questão da instabilidade ganha uma dimensão alarmante e que pode deitar tudo a perder. 

Alguns apoiantes do Presidente atribuem o reacender da questão do Biafra e alguns apelos discretos à desmobilização na luta contra o terrorismo a uma manobra orquestrada por forças que não estão interessadas em que a situação mude. 

Embora não o tenha dito de forma directa, o próprio Presidente, num recente discurso fez alguma ligação entre estes problemas e a “herança” que recebeu do antecessor, Goodluck Jonathan, a quem não se cansa de atribuir responsabilidades pelo que não foi feito, durante demasiados anos, no combate à corrupção e ao Boko Haram. 

Na verdade a dimensão de um país como a Nigéria e a sua importância para o progresso de todo o continente africano obrigam a que a sua situação interna seja seguida com a devida atenção, de modo a que aquilo que por lá se vier a passar não contagie os países vizinhos. 

À cautela, os Camarões já decidiram actuar, abrindo as suas portas à ajuda militar externa, uma decisão relativamente perigosa, porque pode comportar compromissos que, mais tarde, se podem mesmo voltar contra os seus interesses políticos. 

Mas os outros vizinhos da Nigéria que seguem atentamente o que se passa no país, estão certamente preocupados por saberem que sentirão os efeitos do que lá acontecer, sejam eles positivos ou negativos.

Angola. A NULIDADE DOS CONTRATOS DE ISABEL DOS SANTOS



Rui Verde*

A bilionária Isabel dos Santos tem a sua fortuna dependente do poder do pai

Qual é, neste momento, o assunto mais im­portante em Angola?

A resposta imediata será o julgamento – ou a farsa que envolve o suposto julgamento – dos 15 + 2. Mas, em­bora este seja um as­sunto importante para os jovens, que foram abusivamente encar­cerados, para as suas famílias e para todos os defensores dos direitos fundamentais e da de­mocracia, na verdade, e infelizmente, não é o as­sunto mais importante em Angola.

Até certo ponto, é pos­sível imaginar que o processo dos 15 + 2 con­stitui uma manobra de diversão levados a cabo pelos espertos dirigen­tes, formados na es­cola marxista-leninista, e que por isso sabem não haver nada melhor do que uma nuvem de fumo bem espessa para distrair os incautos. En­quanto se vê a peça de teatro mal encenada no tribunal, perde-se o fio à realidade. Os dirigen­tes devem pensar, tal como Maria Antonieta, rainha de França, que para acalmar a popu­lação bastará distribuir uns bolos ou, melhor, umas cervejas como é de costume.

Ora, o assunto mais im­portante em Angola é o estrondoso despiste económico-financeiro do Estado ligado às aventuras bilionárias da filha princesa. Todos os dias chegam relatos de falta de liquidez, de dificuldades de liqui­dez, ao mesmo tempo que todos os dias chegam relatos do lago de riqueza em que Isabel dos Santos se banha. Trata-se de duas re­alidades não compag­ináveis e que constitu­em o maior problema angolano e de todos os parceiros internacion­ais que tenham relações com Angola. De resto, as duas realidades estão intimamente ligadas.

Vários especialistas jurídicos a nível inter­nacional já se aperce­beram de que a situ­ação jurídica de quem faz contratos com Isabel dos Santos pode ser muito periclitante. Veja-se o presente caso da EFACEC. Se se com­provar que a interven­ção que o presidente pai teve no negócio, ao facultar fundos à filha, constitui uma vio­lação da lei, seja da lei constitucional, seja da lei administrativa ou mesmo da lei criminal, isso quer dizer que os contratos assinados por Isabel dos Santos não têm validade completa, uma vez que o seu ob­jecto pode ser em parte contrário à lei e à or­dem pública, como de­terminam os números 1 e 2 do artigo 280.º do Código Civil.

Um contrato de com­pra e venda tem como objecto determinada coisa ou direito e é fon­te de duas obrigações: a obrigação de entre­gar a coisa ou direito e a obrigação de pagar o preço. Em termos doutrinários, este con­trato tem dois objec­tos: a coisa ou direito transaccionada e o din­heiro para pagamento. Portanto, se se verificar alguma origem ilícita do dinheiro utilizado no contrato – sobretudo tendo em conta que Isabel dos Santos é uma PEP («Pessoa Exposta Politicamente»), o que tem óbvias implicações na ordem pública inter­nacional e obriga à to­mada de medidas cau­telares mais intensas que o habitual –, então poder-se-ão consid­erar nulos os contratos que esta subscreve e em que paga determi­nada quantia eventual­mente com dinheiro proveniente de fontes não lícitas.

Se os contratos são nulos, então po­dem ser revogados a qualquer momento, devendo ser devolvi­do tudo o que tiver sido prestado.

Este é o ponto es­sencial a anotar para a segurança jurídica dos contratos que es­tão a ser efectuados: podem ser inválidos, e um dia tudo pode voltar ao zero.

Em bom português: os contratos assina­dos por Isabel dos Santos podem não valer nada.

*Doutor em Direito

Folha 8 digital


Angola. PAPAI ENTREGA À FILHA PLANO METROPOLITANO DE LUANDA



A antiga nomenklatura angolana do tempo do PT, partido único, detentora de todas as rédeas do poder político e de todos os outros que este controlava, reapareceu em grande à tona d’água no passado dia 14.12 nas suas vestes de 1992.

Vestes de único partido a exercer o poder em Angola, MPLA, isto é, metamorfoseada em establishment de fachada democrática à moda ocidental, mas controlando, com os seus apparatchiks disfarçados em empresários, tudo quanto é ferramenta de um poder absoluto, abrangendo tudo, desde a liderança política, passando pelas mídia, finanças, comércio, indústria, e instituições, sejam de que origem forem.

O objectivo da referida aparição em público era tirar mais um coelho da cartola do “governo” e apresentar ao povo de Angola o novo Plano Director Geral Metropolitano de Luanda (PDGML) por intermédio do apparatchik ministro de Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, ladeado pela princesa Isabel dos Santos, filha de papai e dona da empresa Urbinveste, a qual, como que por acaso, ganhou o concurso público para abocanhar esta monumental empreitada, de muitos biliões de dólares, que se vai prolongar ao longo de 15 anos, portanto até ao ano de 2030.

Segundo consta oficialmente, “o PDGML é um projecto que começou em 2009, com um concurso público realizado pelo Governo Provincial de Luanda, na tentativa de criar para a capital uma proposta com soluções de desenvolvimento e de crescimento integrado (…) e fundamenta-se em três pilares, designadamente, “cidade habitável”, “nossa cidade bonita” e “cidade internacional”, revelou a Angola e ao mundo a directora-geral da Urbinveste, empresa de Isabel dos Santos, filha de papai.

Biliões outra vez em mão presidencial

Mais uma vez o que vemos é uma Isabel dos Santos, agora, na Urbinvest a aparecer à frente de um plano de desenvolvimento de 15 anos de Luanda, para abocanhar mais biliões de dólares do Estado, com base no tráfico de influência, como se fosse a única a ter direito a figurar, sem concurso, na linha da frente de todos concursos.

Na justificativa de isenção e transparência, que nunca existiu, a bilionária do papai, José Eduardo dos Santos, Presidente da República, que faz do Estado propriedade privada, a filha Isabel dos Santos, diz ter feito mais de 2 mil reuniões com vários extractos da sociedade e em consultas com grande número de técnicos, assim como com muitas associações de profissionais de engenharia e arquitectura.

Disse mas tem noção que muitas destas reuniões foram uma autêntica mentira e farsa.

O problema que se apresenta neste ponto importante da empreitada é que se constata que muitos profissionais já vieram desmentir isso mesmo e dizer que eles nem sequer foram ouvidos e que os que foram chamados para consulta profissional foram os peritos estrangeiros contratados para a empreitada futura.

Perante este cenário desolador para o empresariado angolano, algumas perguntas delicadas e sem resposta se levantam:

Primeiro, como é que o MPLA e JES ousam fazer um plano de 15 anos sem falar com os outros partidos?

Têm a certeza de que vão ganhar as próximas três eleições?

Têm confiança absoluta na sua máquina de fraude?

Dos Santos tinha necessidade de humilhar desta forma o povo dizendo que nos projectos bilionários é a sua família quem mais ordena?

Isabel tinha necessidade disso, com os biliões que já tem?

Não lhe chegam o que arrecadou com base no tráfico de influencias?

E depois desta pouca-vergonha de adjudicação de obra, com vencedor consagrado antes do concurso, foi confrangedor ver todo um “governo”, os apparatchicks ajoelhados aos pés da princesa Isabel e todos no beija-mão.

Folha 8

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Brasil. ATORES DO GOLPISMO



A mídia oposicionista é outro ator importante do golpe, ela recorta a realidade sem mostrar que a gênese da corrupção na Petrobras está no governo FHC.

Jeferson Miola – Carta Maior

Nesta conjuntura vertiginosa, os acontecimentos se sucedem freneticamente. A dinâmica política confirma o lema de uma emissora nacional de rádio e televisão – “em 20 minutos, tudo pode mudar”.

As certezas e vitórias cantadas por cada lado do espectro político ao fim de cada dia – pela oposição golpista ou pelo campo democrático-constitucional de resistência ao golpe –, se evaporam durante as madrugadas. E assim os dias amanhecem com novas incertezas e com os cenários de disputa em aberto.  

Não há evidências de que essa conjuntura instável, imprevisível e cheia de lances dramáticos, se altere nos próximos meses. 

Neste cenário de “instabilidade constante”, o aspecto de maior previsibilidade é o comportamento dos atores golpistas mais proeminentes: movidos por um ódio irascível e obsessivo contra o PT, eles são dotados de uma capacidade impressionante de armar traquinagens e vigarices. 

A lista desses atores começa, naturalmente, por Eduardo Cunha. O Presidente da Câmara dos Deputados tem uma conduta que dificulta a precisão diagnóstica, embora apresente uma sintomatologia compatível com a de um gângster psicopata. Ele nega com um descaramento assombroso a existência de contas bancárias na Suíça, abastecidas com dinheiro sujo da corrupção na Petrobrás. A Polícia Federal descobriu que este malandro, pródigo em truques regimentais, curiosamente usa um táxi como disfarce para transportar a si mesmo – e sabe-se lá para carregar quais ilicitudes mais. 

O Mimi-Michel Temer é outro personagem especial. Vice-presidente “Decorativo” da República, na hora decisiva demonstrou que aquela fama de constitucionalista, ostentada numa postura nobiliárquica, não passa de pura empáfia: calou ante a manobra inconstitucional de Cunha, que admitiu a denúncia de impeachment sem causa determinada – ou melhor, sem nenhuma causa. Invocando uma falsa neutralidade, Temer adota atitude olímpica frente às seguidas estripulias golpistas e ilegais de Eduardo Cunha. 
Como presidente do PMDB, arquitetou as tramóias partidárias na Câmara dos Deputados para conspirar e derrubar a presidente Dilma, articulando a substituição do líder da bancada partidária e indicando peemedebistas de oposição para a Comissão Especial do Impeachment. Mimi-Michel quer ocupar a cadeira presidencial de Dilma a qualquer preço, nem que para isso tenha de sacar a máscara de democrata e constitucionalista.

Gilmar Mendes, outro ator importante do golpismo, só é ministro da Suprema Corte por uma questão acidental. Fosse outro o país, menos tolerante com canalhices escondidas numa toga, ele já teria sofrido um processo de impeachment, porque não reúne as condições de serenidade, razoabilidade e isenção indispensáveis para o cargo. Em lugar do embasamento jurídico, apela ao proselitismo tucano-reacionário. Na sessão do STF que anulou o rito do impeachment manipulado por Cunha, Gilmar abandonou a hermenêutica e partiu para ataques ao governo, citando inclusive um artigo do seu líder no Senado, o Senador José Serra! Certa feita, seu então colega de STF, Joaquim Barbosa, acusou Gilmar de ter capangas. Verdade ou não, o fato é que, pelas posições assumidas, o ministro Dias Toffoli se candidata a este título tão vergonhoso.

O PSDB, que há muitos anos se juntou à velhacaria política do Brasil, ataca em todos os flancos. FHC, o conspirador-chefe, rege a orquestra de interesses heterogêneos onde se movem Alckmin, Aécio e Serra – todos unidos na estratégia golpista, porém separados quanto à tática e ao timing do golpe. É uma trajetória lastimável do PSDB; um partido que abandonou tristemente sua tradição de defensor da democracia, lapidada na luta contra a ditadura.

A mídia oposicionista é outro ator importante da dinâmica do golpe, senão o mais importante. É ela que cimenta a narrativa dos acontecimentos a partir da estratégia inteligentemente formulada pelo condomínio jurídico-policial-midiático de oposição. Esta mídia hegemônica recorta e seleciona a realidade, tornando palavra proibida qualquer menção à gênese da corrupção na Petrobrás, que data do período do governo FHC. No vale-tudo do golpe, assassina a verdade e a imparcialidade, em nome da sanha odiosa contra o PT, Lula, Dilma e o povo pobre.

O RACISMO NORTE-AMERICANO E AS SEMELHANÇAS COM O BRASIL



Se um negro erra, culpam a todos os outros; quando é um branco, é caso isolado, diz ativista dos EUA

Vitor Taveira, Rio de Janeiro – Opera Mundi* - entrevista

Para Ashley Yates, articuladora do #BlackLivesMatter, o que aconteceu com Michael Brown em Ferguson fez com que os moradores negros da cidade dissessem “já chega” para violência policial

No ano passado, a morte do jovem negro Michael Brown, depois de diversos disparos feitos por um policial branco, causou uma onda de protestos em Ferguson, na periferia de Saint Louis (Missouri), nos Estados Unidos. As manifestações promoveram o debate sobre racismo e violência policial e ajudaram a impulsionar a campanha #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam).

Convidada para um debate sobre juventude e segurança pública no evento Emergências, realizado no Rio de Janeiro no começo de dezembro, a ativista Ashley Yates, que participou dos protestos de Ferguson e é articuladora da #BlackLivesMatter, convidou os participantes a fechar os olhos por um instante e imaginar uma local e situação em que se sentissem seguros. Após abrir os olhos, provocou: “alguém aqui imaginou policiais neste lugar seguro?”.

Ativa nas redes sociais como Twitter e Instagram, com a alcunha de Brown Blaze, Yates conversou com Opera Mundi na capital fluminense.

Opera Mundi: Que semelhanças vê entre o Brasil e os Estados Unidos em relação ao tema racial e à repressão policial?

Ashley Yates: Saint Louis, de onde venho, é um lugar muito segregado entre brancos e negros. Eu ouvi que Brasil também é assim, que há racismo. Aqui mataram cinco garotos em um carro e eu li na internet que a polícia ficou ao redor, não socorrendo depois de atirar, mas olhando a comunidade reclamando para fazer algo. E assim foi em Ferguson, eles deixaram Mike Brown na rua por 4 horas e meia. Não só o mataram, mas o deixaram na rua como se fosse um cachorro, como se uma vida negra não importasse, como se não fosse um humano.

OM: Por que a morte de Michael Brown teve tanta repercussão?

AY: As pessoas da vizinhança começaram a sair de suas casas e a chamar outras. Sabiam que alguma coisa estava errada, que algo estava acontecendo. Na cidade de Saint Louis, há muita pobreza, o sistema escolar é muito ruim, especialmente para as pessoas negras, o índice de encarceramento é muito alto. Sempre somos assediados pela polícia, eles vêm nos violentam e matam. Quando se mata alguém numa cidade tão tensa, acontece esse tipo de revolta.

Nos Estados Unidos, já havia casos como o assassinato de Trayvon Martin em 2012, em que muitas pessoas ficaram furiosas. Na cidade de Saint Loius, nós sabíamos que, se houvesse um caso desses, as pessoas seriam capazes de se organizar.  O caso de Mike Brown fez com que as pessoas dissessem “já basta”, que esse seria o último caso, e decidiram agir.

OM: Como a mídia cobriu o tema e qual a importância da Internet para difundir informações?

AY: No primeiro momento, quando mataram Mike Brown, nem mesmo disseram seu nome, atuando como se fosse um cachorro. A mídia disse apenas “é um homem”. Ele tinha 17 anos, eu não sei quem é homem ou mulher aos 17 anos. Era uma criança, um jovem. Eles diziam que sua família era pobre e que mereceu isso. 

Depois disso, durante os protestos nos reprimiram jogando gás lacrimogêneo. Transmitiam na TV ao vivo, diziam que tínhamos armas, mas não era verdade. E mostramos na internet que não era nada disso, colocamos vídeos mostrando que as pessoas eram pacíficas, tinham suas mãos levantadas, que havia crianças lá. Então fomos capazes de mostrar que o que os meios de comunicação diziam era uma mentira e que nós estávamos dizendo a verdade. Mas isso só foi possível por causa da internet, porque a mídia não estava nos ajudando.

OM: Seria diferente se Mike Brown fosse branco?

AY: Sim. Você nunca vai ver nos Estados Unidos um branco sendo morto pela polícia e deixado na rua por quatro horas e meia. Isso é o que costuma acontecer desde tempos da escravidão. Como nos linchamentos, em que penduravam o pescoço dos escravos numa árvore e os deixavam lá, para que todos pudessem ver e dizer “isso é o que acontece com pessoas negras”. Parece um linchamento de hoje, só que não o penduraram numa árvore, o deixaram morto na rua.

Você não vê isso acontecer com uma pessoa branca porque se considera que eles têm dignidade, suas vidas importam e nunca serão deixados na rua. Então seria diferente porque isso nunca aconteceria.

OM: Qual a importância da campanha #BlackLivesMatter?

AY: É imensa. #BlackLivesMatter significa que todas as pessoas importam: homem, mulher, crianças, pobres, ricos, educados, não educados. Não importa de onde você vem, se você é uma pessoa, sua vida tem valor.

Dizer que as vidas negras importam não quer dizer que outras vidas não importam. Nós sabemos que geralmente as vidas negras são as que têm menos valor. Se nós dizemos que a vida que tem menos valor importa, então todas as vidas importam.

Temos uma cor diferente, por isso somos vistos de outra maneira. A campanha #BlackLivesMatter mostra isso para todos, que vidas as negras importam, que nós temos dignidade. As palavras escolhidas são muito importantes porque no fundo estão dizendo: “parem de nos assassinar”.

OM: E é preciso que toda sociedade norte-americana tenha consciência...

AY: Atualmente, a sociedade norte-americana está muito irritada com os muçulmanos, no que chamamos de islamofobia. A maioria dos muçulmanos tem pele escura. Essa é uma nova maneira de odiar pessoas que não são como você.

Quando dissemos que vidas negras importam, isso inclui os muçulmanos. Também estamos combatendo a islamofobia. Sabemos que os muçulmanos estão sendo associados ao terrorismo e enfrentando perseguição. Recentemente tivemos um tiroteio na Califórnia e disseram “os muçulmanos fizeram isso”, então agora todos odeiam os muçulmanos.

Mas, quando um homem branco matou dez pessoas em Shelton (Oregon), ninguém disse “os cristãos fizeram isso”, ninguém disse “as pessoas brancas são más”.  Quando alguém de pele escura faz algo, culpam a todos nós; quando alguém branco faz algo de ruim, apenas ele é culpado. O que estamos dizendo é que se isso segue acontecendo, todos temos que nos levantar juntos, porque todas as vidas importam.

OM: A campanha #BlackLivesMatter consegue influenciar de alguma maneira nas plataformas das pré-campanhas presidenciais que estão acontecendo nos Estados Unidos?

AY: É difícil, pois eles tentam nos ignorar. É por isso que nós protestamos, porque quando milhares de pessoas saem às ruas, você não pode ignorá-las, fechar os olhos e dizer que não está vendo. Essa luta é difícil, mas temos feito alguns avanços, como, por exemplo, na proposta de reforma na justiça criminal, presente em algumas campanhas, pois a maioria das pessoas presas não devia estar lá. Alguns estarão na cadeia por 30 anos por crimes menores como pequeno porte de drogas como maconha.

O que acontece é que os políticos apoiam a polícia e dizem “eles são boas pessoas”. Fica parecendo que nós somos pessoas más. Dizem que temos que apoiar nossa polícia porque ela nos mantém seguros. E nós dizemos que a polícia não nos mantém seguros.

É difícil caminhar juntos nisso, mas estamos trabalhando nesse sentido, as pessoas estão vendo que, quanto mais barulho fizermos, quanto mais gritarmos, quanto mais falarmos sobre violência, as outras pessoas não podem nos ignorar e vão entendendo que polícia pode não ser segura. E então se perguntar: como podemos estar seguros? Isso exige uma mudança de pensamento, e mudar a mentalidade das pessoas é um processo lento, mas estamos avançando.

OM: O que Brasil pode aprender da experiência americana?

AY: Que a polícia não mantém as pessoas seguras. Ninguém se sente seguro com a polícia em seu redor. Ninguém se sente mais seguro com alguém com uma arma perto de você, que pode atirar e te matar.

Tragédias como a de Ferguson fazem as pessoas se sentirem revoltadas e sem segurança, faz com que a vizinhança condene a ação policial, faz repensar sobre como a polícia deveria ser, qual a quantidade de polícia que precisamos, ou mesmo se realmente precisamos da polícia.

Acho que também serve se estamos realmente articulados, porque tentam nos separar, entre brancos e negros, pobres e ricos e o #BlackLivesMatter está mostrando aos Estados Unidos que todos somos humanos, fazendo aprender como dialogar uns com os outros, como levar as coisas sendo diferentes, como estar juntos numa mesma ideia. Não acho que seja o caso do Brasil aprender conosco, mas de compartilharmos um com o outro nossas experiências.

*Título PG

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CONTAS DE MULTIPLICAR



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

À partida para as eleições de ontem em Espanha, havia apenas um resultado garantido: o fim do bipartidarismo. À exceção desta certeza, todas as configurações e alianças eram possíveis, num cenário em que nem todos os quatro candidatos esclareceram que casamentos pós-eleitorais admitem. O PP foi, como indicavam as últimas sondagens, o mais votado e vencedor da noite, mas a leitura final dos resultados poderá ser demorada. À semelhança do que aconteceu em Portugal, a formação do Governo está dependente de negociações.

O Podemos confirmou a sua força, mas também o movimento Cidadãos obteve um resultado histórico. A grande questão é perceber a qual irá o PP pedir a mão. Mas não entram apenas novas formações no Parlamento, como cai a tradição de o partido mais votado se bastar a si próprio.

Foi um ano de intensas mudanças pela Europa fora. Entre a explosão de partidos à Esquerda, com expoente máximo na Grécia, e o crescimento assustador da extrema-direita (que, apesar de não conseguir eleitos, teve há uma semana um resultado recorde em França), assistimos à implosão dos tradicionais partidos europeus do bloco central.

Fatores para esta crise dos partidos haverá vários. Da recessão económica a múltiplos escândalos de corrupção, do cansaço perante velhas receitas à entrada em cena de desafios cada vez mais radicais e globais, como o terrorismo e a pressão dos fluxos migratórios. Falta confiança nos decisores políticos. Sobra a sensação de que é necessário mudar e criar novos modelos de ação com mais espaço para a participação de quem vota.

Alguns dos novos fenómenos eleitorais que têm vindo a crescer pela Europa resultam da contraposição desgastada entre Esquerda e Direita, da fratura entre eleitos e eleitores. Nem sempre têm soluções ou modelos credíveis de governação, mas sabem fazer um diagnóstico que coincide com o dos cidadãos, na sensação de desencanto com os que há tantos anos nos governam.

Falta de qualidades de quem ocupa os lugares de poder, carreirismo, fechamento na vida partidária: as principais razões para a queda dos partidos estão dentro deles mesmos. A emergência de novos movimentos e correntes só pode significar que a democracia funciona e que os eleitores são capazes de exigir que se vá mais longe. Mais opções enriquecem, nunca o contrário. A democracia multiplica-se, não se divide.

Espanha. “UM PAÍS DIFÍCIL DE GOVERNAR”. JORNAIS ESPANHÓIS DE OLHO EM PORTUGAL



A ida do eleitorado espanhol às urnas resultou, como se esperava, numa soma de dúvidas. Só há uma certeza: o bipartidarismo está “morto e enterrado” e os partidos vão ter de negociar, possivelmente “à portuguesa”

a será o que era”. Os espanhóis acordaram com a “sombra da ingovernabilidade” a pairar sobre as suas cabeças e os jornais do país vizinho refletem esse estado de espírito. Há um aspeto comum: têm os olhos postos em Portugal e nos inéditos acordos à esquerda promovidos por António Costa depois das últimas eleições legislativas, numa altura em que se desenha o fim do bipartidarismo que tem marcado toda a História da democracia espanhola.

Rajoy ganhou, mas não se sabe o quê; Sánchez ganhou em relação às sondagens, mas registou o pior resultado de sempre do PSOE; o Podemos superou-se, deixando Pablo Iglesias no centro das decisões; e Albert Rivera, do Ciudadanos, conquistou menos eleitores do que o esperado mas pode ainda ser uma peça importante nos acordos pós-eleitorais.

O “El País” fala da nova composição parlamentar como “um puzzle com mais peças do que antes, difíceis de encaixar por serem incompatíveis”. Embora noticie “a sombra da ingovernabilidade”, o editorial deste diário é o mais otimista, destacando a necessidade de “negociar com espírito construtivo” e “retomar a via da negociação para resolver os problemas do país”, “depois de quatro anos em que o diálogo político esteve ausente”. E “esta é a melhor maneira” de colmatar essa ausência”, defende o matutino.

“PSOE ESTARIA A COMETER SUICÍDIO”

“Uma vitória insuficiente, um país difícil de governar”: esta é a descrição que o “El Mundo” faz no rescaldo das eleições. No editorial desta segunda-feira, o jornal defende que este é um resultado “agridoce” para Rajoy, que diz ter “ganho em condições adversas”. De acordo com o “El Mundo“, “seria desejável que o Ciudadanos apoiasse Rajoy como primeiro-ministro”, uma vez que o matutino não hesita em classificar um possível acordo à esquerda como “uma amálgama de formações heterogéneas, condenada de início ao fracasso e difícil de justificar perante o eleitorado”.

O jornal vai mais longe e assegura que, a encabeçar um acordo semelhante ao assinado em Portugal, “o PSOE estaria a cometer suicídio”. Fica no ar a hipótese de uma “repetição” da ida às urnas, se ninguém conseguir formar uma solução governativa.

“UM PACTO À PORTUGUESA”

Já o “La Razón” segue a mesma linha, defendendo que a oposição espanhola “capitalizou eleitoralmente quatro anos de esforço e de políticas reformistas que marcaram o caminho para a recuperação económica”. No editorial, o jornal refere que “o objetivo [dos partidos de esquerda] é tirar o PP do poder, a qualquer preço”, destacando que uma fórmula semelhante àquela encontrada por António Costa é “instável e oportunista”.

O jornal adianta ainda que os bons resultados registados pelo Podemos podem fazer com que o partido passe de ser “um perigo para uma salvação” para os socialistas, que assegura só poderem aspirar a governar tendo em vista “um pacto à portuguesa”.

UMA “PROFUNDA MUDANÇA POLÍTICA”

O diário “La Vanguardia” destaca “a profunda mudança política” que o eleitorado espanhol mostrou desejar, tendo como resultado “uma situação muito complexa em que a aritmética não basta”. O jornal prevê que os passos seguintes para a formação de Governo tragam uma suavização do discurso dos novos partidos, afirmando que a hipótese de acordo entre PP e PSOE é desejada pelas forças internacionais mas “nada faz prever” que se concretize.

“PREÇO PODE SER A INGOVERNABILIDADE”

Por seu lado, o ABC é claro: “o xadrez político mudou, mas o preço pode ser a ingovernabilidade”, num cenário em que “os pactos mais prováveis não são suficientes”. O jornal, que afirma que o líder socialista registou uma “queda demolidora” e não conseguiu superar a herança dos seus antecessores, destaca, no entanto, que o facto de o PSOE se ter mantido como a principal força de esquerda “evita a sombra do PASOK grego”.

Para o jornal, resta uma certeza: “O verdadeiro vencedor das eleições foi o caos, o bloqueio, a ingovernabilidade e a Espanha politicamente invertebrada”.
Na foto: O Podemos de Pablo Iglesias foi apontado como o principal vencedor de umas eleições que deixaram tudo em aberto / Fernando Villar

Expresso

Portugal. O “ENTERTAINER”



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Basta fazer uma viagem pelas redes sociais para ver a forma como as mesmas abordam a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. As gentes de esquerda recordam o seu passado. E falam da carta que escreveu ao seu padrinho Marcello Caetano, onde, ao mesmo tempo que parece desculpar-se pelo acompanhamento do Congresso da Oposição Democrática de Aveiro, "bufa" as atividades desenvolvidas, particularmente pelo "PC" e elogia o presidente do Conselho por um discurso que este fez e que, diz Marcelo, "caiu muito bem em vários setores da opinião pública", dado que teve o mérito de se "antecipar ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais" (falando da fantochada eleitoral de 1973 promovida pela ditadura!). Numa altura em que Marcelo já não era um imberbe, mas sim um adulto. Licenciado, casado e com 25 anos de vida.

Outros recordam um passado mais recente. Daquele que foi quase fundador do PPD, membro de várias das suas direções, deputado, autarca e mesmo presidente do partido entre 1996 e 1999. Apoiante de relevo da candidatura de Cavaco Silva a presidente da República e por este premiado/nomeado como membro do Conselho de Estado.

Outros ainda colocam em causa o seu caráter, dizendo que, oportunisticamente, procura passar uma esponja sobre o seu passado e percurso, de forma a penetrar no eleitorado da Esquerda - dado que, nas legislativas de há apenas dois meses, a Direita (ou seja, os partidos que lhe declararam o apoio - o PSD e o CDS) apenas recolheram 37% dos votos, o que manifestamente é insuficiente para a sua eleição. Comparando esta atitude com aquela que Cavaco teve em 1995, quando quis tanto que os eleitores esquecessem que ele era o antigo primeiro-ministro em queda, que até se negou a que a sua fotografia e o seu nome surgissem no apoio ao seu sucessor e fiel amigo Fernando Nogueira.

As gentes da Direita dividem-se entre os seus indefetíveis e aqueles que não o gramam. Sendo que estes, designadamente os do CDS, não esquecem a birra e as traições entre Marcelo e Portas que levaram a que a coligação PSD/CDS então anunciada não chegasse a ver a luz do dia... Outros, designadamente do PSD, não lhe perdoam o facto de ser aquilo que efetivamente Passos Coelho dele pensa: um "protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou [n]um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político" (in moção apresentada por Passos Coelho, no início de 2015, ao Congresso do PSD).

Pela minha parte, e não sendo insensível a todos estes argumentos, acrescento outro que me anda a preocupar: é que tenho saudades das animadas e divertidas prestações de Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos, ao jantar. Que faziam esquecer as desilusões da bola ou potenciavam a alegria que esta nos dava... Pelo que não me consigo imaginar muito mais tempo sem a sua presença. E tremo, de angústia, imaginando que pode ser substituído, nesse papel, por Marques Mendes, mais Zandinga que Marcelo, mas que, sem dúvida, fica a anos-luz do seu brilho e animação.

Por isso, para além de todas as razões racionais, estou disposto a dar o meu nome para uma causa: queremos Marcelo de volta à TVI! Porque prefiro um bom "entertainer" a um mau presidente da República!...

Portugal. Banif: PCP RECUSA USO DE “RECURSOS PÚBLICOS PARA INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS”



Jorge Pires falou em nome do PCP sobre a solução encontrada para o Banif.

O PCP emitiu no seu site um comunicado sobre a resolução do Banif e venda do negócio ao Santander Portugal, na qual manifesta a sua oposição à “canalização de recursos públicos para instituições bancárias”.

Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central, anunciou ainda que o PCP vai pedir na Assembleia da República uma comissão de inquérito sobre o caso.

O Partido Comunista acusa o Governo PSD e o CDS de terem sido “diretamente responsáveis pela perda de 825 milhões de euros”, por terem injetado 1.100 milhões de euros no Banif, dos quais apenas 275 milhões foram recuperados.

Jorge Pires diz que o antigo Governo não garantiu “mínimo acompanhamento da instituição […], permitindo que um banco detido em mais de 60% pelo Estado fosse integralmente controlado por outros interesses”.

“Passos Coelho justificou a operação como um bom negócio para o Estado, mentindo sobre a operação que correspondeu, na verdade, a uma ajuda pública a fundo perdido a um banco privado com pesados custos para o interesse público”, pode ler-se.

“A situação demonstra que um efetivo controlo público da banca é absolutamente necessário”, acrescentou o partido liderado por Jerónimo de Sousa, uma opinião em linha com a do Partido Socialista.

Notícias ao Minuto

Portugal. BANIF: "PASSOS E PORTAS FORAM RESPONSÁVEIS POR UM ATO CRIMINOSO”



A deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, comentou esta manhã a venda do Banif ao Santander Totta por um valor de 150 milhões de euros.

"Desde que surgiram os primeiros problemas do Banif, o Bloco de Esquerda esteve sempre contra a injeção de dinheiros públicos e defendeu como prioridades a proteção do dinheiro dos depositantes, a rede dos bancos nas regiões autónomas e as poupanças dos emigrantes", garante a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua. 

Para a bloquista, "os ativos bons do Banif deveriam ter sido agregados e mantidos num controlo público. Os ativos tóxicos deveriam ter sido concentrados num banco mau, em vez de ser uma nova condenação sobre os contribuintes, os custos desta operação deveriam em primeiro lugar ser assumidos pelos acionistas e pelos grandes financiadores do Banif". 

Esta é uma operação que poderá ter um custo elevado para os contribuintes. Sendo que o Fundo de Resolução vai investir 489 milhões de euros e o Estado vai contribuir com 1.766 milhões, o que perfaz uma injeção de capital de pelo menos 2.255 milhões de euros.

"Enquanto o governo da Direita com a colaboração ativa das instituições europeias se preocupava unicamente em encenar a famosa saída limpa, a real situação do Banif era ocultada até se tornar insustentável", afirma. 

"Há responsabilidades que são óbvias. Com a sua negligência Passos e Portas agravaram radicalmente as perdas para os contribuintes, decidindo nada fazer e ocultar o problema para depois das eleições. Cometeram um crime contra os interesses do Estado e do país", frisa, apontando o dedo a "Passos e Portas, os responsáveis por um ato criminoso contra os interesses financeiros do país com a sua negligência, em nome de um puro interesse eleitoralista e política". 

A bloquista não deixa de apontar a atuação do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. "O Banco de Portugal não esteve à altura das suas funções. Consideramos que Carlos Costa não tem as mínimas condições para se manter na sua posição", indica. 

"Tomaremos a iniciativa de propor uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do Banif. O Bloco está ainda preocupado com as consequências da decisão do PS, que não só implica despedimentos como um prejuízo imposto aos contribuintes", adianta, assegurando que "os contribuintes não podem continuar a ser a garantia que na banca privada a má gestão é um crime que compensa".

Notícias ao Minuto

Portugal. GALAMBA CRITICA COMENTÁRIO DE PORTAS, “O CHARLATÃO DAS PENSÕES”



João Galamba comentou este domingo, através do seu perfil de Facebook, as afirmações feitas por Paulo Portas à margem do congresso do CDS-PP na Madeira.

Paulo Portas, presidente do CDS-PP, participa no congresso do partido na Madeira e falou das pensões para acusar o governo de demagogia, indicando pela primeira vez as pensões mais baixas vão ser penalizadas.

“Portas, o charlatão das pensões. O ex-provedor dos pensionistas (e dos pescadores e dos agricultores e dos ex-combatentes), depois de presidir a vários anos de aumento da pobreza dos idosos, tem o descaramento de criticar o partido que mais fez descer a pobreza dos idosos em Portugal”, criticou João Galamba, no seu perfil da rede social Facebook.

O socialista escreve que “Portas volta a ignorar que a prestação para combater a pobreza dos idosos é o CSI, e não as pensões mínimas”.

João Galamba esclarece, ainda, que o PS “para além de repor CSI a valores de 2010, atualiza todas as pensões até 628 euros”, lembrando que o “PSD e CDS só atualizaram as pensões mínimas com carreiras contributivas inferiores a 15 anos”.

Notícias ao Minuto

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