Em
entrevista exclusiva ao Folha 8, Jean Claude Nzita, porta-voz da FLEC/FAC, fala
da realidade actual, da repressão imposta pelo regime de Eduardo dos Santos e
das aspirações do povo de Cabinda. Arrasa a posição portuguesa (“Portugal é
agora uma colónia sem escrúpulos”) e diz que a CPLP “é uma organização
politicamente impotente”.
Orlando
Castro* - Folha 8
Como
vê a actual situação de Cabinda, nomeadamente quanto aos direitos e garantias
dos cidadãos?
Angola
priva o povo de Cabinda do seu direito à autodeterminação. Privando o povo de
Cabinda a este direito exerce uma pressão em todos outros direitos fundamentais
que se traduz na violência e na detenção aleatória de defensores dos Direitos
Humanos e num exercício permanente do atrofiamento de um povo através de
políticas de medo e repressão. A prisão de Marcos Mavungo é uma prova deste
exercício da ditadura neocolonial de Angola.
Vê
alguma abertura para negociações por parte do Governo de Eduardo dos Santos?
Sim.
Muitas aberturas totalmente fechadas que se combatem entre si e que apenas
defendem interesses pessoais. A FLEC/FAC confronta-se com o problema de
existirem demasiados representantes de Angola para negociar vontades
unilaterais. Todos defendem os interesses de Angola e enriquecem com isso, mas
poucos defendem os interesses de Cabinda. A vontade negocial de Angola sobre
Cabinda é a mesma que Portugal teve para negociar a vontade legítima dos
angolanos em 1961.
E
os partidos da Oposição, nomeadamente UNITA e CASA-CE, como se têm comportado?
Mantém contactos com eles?
Existem
iniciativas angolanas que defendem uma abordagem política sobre Cabinda
diferente do MPLA. Apesar de algumas boas vontades, as intenções afrouxam com o
fim das campanhas eleitorais. A paz em Cabinda não deve ser negociada num
patamar partidário apenas angolano, mas num âmbito internacional porque Cabinda
não é um problema interno de Angola mas uma questão de Direito Internacional e
de uma descolonização inacabada.
“Portugal
é agora uma colónia sem escrúpulos”
O
que esperam da comunidade internacional, sobretudo de Portugal e da própria
CPLP?
Portugal
e a CPLP são dois actores distintos. Portugal é hoje um país fraco com
dirigentes pouco corajosos. De país colonizador Portugal é agora uma colónia
sem escrúpulos. Mas acreditamos na vontade de muitos portugueses que estão
empenhados numa solução justa e corajosa para Cabinda. A CPLP tem demonstrado
ser uma organização politicamente impotente que nunca irá trazer uma solução
para Cabinda. A FLEC/FAC sempre requereu à Comunidade Internacional que seja
mediadora no conflito em Cabinda e que não esteja subjugada ao petróleo
angolano.
Nesta
altura quantos militares a FLEC/FAC tem? E que tipo de armamento? Em que zonas
estão mais activos?
A
FLEC/FAC é um movimento que nasceu na Nação cabindesa e está presente onde
vivem os cabindas.
“A
FLEC/FAC sempre defendeu o pluralismo e a democracia”
Porque
razão não existe uma união entre as diferentes forças de Cabinda, nomeadamente
no estrangeiro?
A
FLEC/FAC sempre defendeu o pluralismo e o multipartidarismo. A diferença de
ideias e de visões existe e deve existir em qualquer família. A FLEC/FAC não
pretende impor uma ditadura das ideias que atrofia um povo tal como é o MPLA em
Angola. A missão da FLEC/FAC é a libertação e defesa do povo de Cabinda, mas
também dar ao povo de Cabinda o direito de pensar diferente. Enquanto existem
ideias diferentes na união, existe liberdade e democracia.
Para
a FLEC/FAC o objectivo é conseguir um estatuto de autonomia para Cabinda, ou
pensam mesmo na independência?
Cabinda
reclama pela independência antes de a FLEC ter sido criada. A FLEC/FAC luta
pela libertação de Cabinda e pelo direito do povo de Cabinda decidir o que
pretende para o seu futuro político, por isso a FLEC/FAC defende o direito à
autodeterminação do povo de Cabinda. A posição da FLEC/FAC será o que o povo de
Cabinda decidir.
A
FLEC/FAC fala da via militar como resposta ao silêncio de Luanda. Isso quer
dizer exactamente o quê?
Luanda
impõe a Cabinda uma opressão armada, a FLEC/FAC responde a Luanda com a luta
armada. Luanda oprime Cabinda pela força, a FLEC/FAC defende legitimamente o
povo de Cabinda pela força.
*Subdiretor
do Folha 8
Leia
mais em Folha 8
Sem comentários:
Enviar um comentário