Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
Para
mim, que sou comunista, o dia 24 de janeiro foi um dia mau. Porque a
Presidência da República vai manter-se nas mãos da Direita por, pelo menos,
mais cinco anos! E porque Edgar Silva, o candidato apoiado pelo meu partido,
não atingiu, sequer, os 4% das preferências dos eleitores. Foi, por isso, uma
noite difícil (até porque o Edgar, cuja candidatura constituiu uma inovação de
percurso e linguagem, não o merecia, pelo trabalho que desenvolveu).
Bem
sei que, para os comunistas, as eleições não são um fim em si, mas sim uma fase
de um processo de transformação social que se faz em mais locais do que nas
urnas. Bem sei que, para além dos votos, as campanhas eleitorais valem pelos
contactos e pelas sementes que se deixam. Bem sei que não são estes resultados
eleitorais adversos que me farão abandonar o posto e deixar a luta. Mas,
caramba, sou de carne e osso e, portanto, estes resultados foram um forte murro
no estômago!
E,
tal como aconteceu nas legislativas de 4 de outubro (embora, aí, a CDU tenha
tido um reforço das suas posições - o que acontece continuamente desde 2005),
fica-se com um sentimento amargo. É que foi o PCP que, durante esses quatro
anos de Governo PSD/CDS, mais se bateu e mobilizou contra as desgraçadas
políticas que tanto desgraçaram os portugueses e o país. E foi, objetivamente,
o PCP que inovou na sequência das legislativas quando afirmou que "o PS só
não será Governo se não quiser", dando origem ao afastamento da Direita do
Governo. Por isso, os resultados eleitorais, desculpem a franqueza, soam a
injustiça.
Assim,
e estando de acordo com as razões objetivas "externas" que foram
apontadas pelo meu partido e que levaram a este (mau) resultado eleitoral, acho
que nós, comunistas, temos também de analisar as causas "internas".
Ou seja, aquelas que dependem, apenas, da nossa atuação e que têm dificultado a
passagem da nossa mensagem. Não fechando, naturalmente, para debate, e fazendo
o mesmo nos locais certos, mas procurando debatê-lo de uma forma ampla,
auscultando todos e, designadamente, os milhares de novos militantes que têm,
naturalmente, novas ideias e energias.
É
dentro desta linha de pensamento que procuro, também, conversar com pessoas que
não são militantes do PCP. Onde há gente que reconhece que o PCP é fundamental
- e por isso está genuinamente preocupada. Mas onde também há gente que procura
fazer crer que os maus resultados eleitorais (em contraposição aos de Marisa
Matias/BE) se devem a uma posição mais "crítica" face ao Governo do
PS. Procurando, desse modo, levar a "água ao seu moinho" e, com uma
única cajadada, preservar políticas de direita e descaraterizar o PCP - que se
suicidará se desbaratar o seu legado histórico de coerência e legitimar essas
políticas.
Do
mesmo modo, aqueles que, pela milésima vez, procuram ver nestes resultados
eleitorais o fim do PCP, é melhor esperarem sentados. A vida dá muitas voltas.
E, tal como Marisa Matias (que cumprimento pelo excelente resultado eleitoral)
é hoje "bestial", há ano e meio era uma "besta", quando
encabeçou a lista do BE ao Parlamento Europeu que passou de três para apenas um
deputado...
* Engenheiro
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