O
Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afirmou que a Renamo (Resistência
Nacional Moçambicana) é um partido sem hierarquia, considerando que a falta de
organização na maior força política de oposição em Moçambique compromete o
processo negocial.
"A
Renamo é uma organização onde não há uma hierarquia sequenciada. Muitas vezes
não se sabe quem manda e quem não manda", afirmou Filipe Nyusi, falando no
domingo em conferência de imprensa, no fim da 26.ª Cimeira de Chefes de Estado
e de Governo da União Africana, que decorreu em Adis Abeba, capital da Etiópia,
citado hoje pela Agência de Informação de Moçambique.
Destacando
que a falta de organização na estrutura do maior partido de oposição em Moçambique
dificulta o processo negocial, interrompido há meses, Nyusi disse que o país
não pode continuar "refém de um grupo de pessoas".
Para
Filipe Nyusi, a falta de organização no partido liderado por Afonso Dhlakama
confunde alguns dos seus membros, fazendo-lhes acreditar que ocupam posições
privilegiadas.
"Há
muito paralelismo [na Renamo] e isso muitas das vezes cria desconfianças dentro
da própria organização e é perigoso", salientou o chefe de Estado
moçambicano, sublinhando, no entanto, que o Governo moçambicano tudo está fazer
para a manutenção do diálogo, condição para o alcance da paz no país.
"O
povo tem que ter o país em crescimento", acrescentou, reiterando a sua
disponibilidade para o "diálogo franco".
Moçambique
vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo,
Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do
país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
O
líder da Renamo não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua
residência na Beira, centro do país, foi invadida pela polícia, que desarmou e
deteve, por algumas horas, a sua guarda.
Nos
pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter
voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam
a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das
forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.
A
Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder há 40 anos] e a
Renamo têm vindo a acusar-se mutuamente de rapto e assassínio dos seus
dirigentes.
No
dia 20 de janeiro, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado
por desconhecidos no bairro da Ponta Gea, na Beira, província de Sofala, centro
de Moçambique e o seu guarda-costas morreu no local.
Na
semana passada, a polícia moçambicana acusou a Renamo de ter protagonizado dois
ataques em menos de quatro dias, um ao posto policial do povoado de Zero, na
Zambézia, centro do país, e outro ao povoado de Saute, distrito de Chigubo, na
província de Gaza, sul de Moçambique, que resultou na morte de um tratorista em
serviço.
Em
declarações à Lusa, o porta-voz da Renamo, António Muchanga, negou as
acusações, considerando que há um plano da Frelimo para "manchar a
imagem" do seu partido.
A
Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e
da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há
vários meses.
O
Presidente moçambicano tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com
o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a
conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição
para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e
que só negociará depois de tomar o poder no centro e norte do país.
EYAC
(HB/AYAC/PMA) // APN - Lusa
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