A
União Europeia, consciente de que Angola é um país… pobre e que, por isso, não
tem meios para acudir às necessidades do seu Povo (e os muitos meios que tem
são para sustentar o clã presidencial) vai atribuir 1,3 milhões de euros para
apoiar mais de 190 mil pessoas, sobretudo crianças, de comunidades afectadas
pela seca das províncias do Cunene e da Huíla.
Em
nota de imprensa, a União Europeia refere que a verba, a ser aplicada pela
organização não-governamental Visão Mundial e o departamento nacional de nutrição
do Ministério da Saúde de Angola, visa reduzir a mortalidade e morbilidade
infantil causada pela desnutrição.
Com
o referido valor vai ser proporcionado, durante um ano, a assistência
nutricional a crianças com sintomas de malnutrição aguda ou moderada,
nomeadamente menores de cinco anos.
A
intervenção vai também permitir um aumento da capacidade de resistência das
populações rurais, bem como do seu conhecimento das melhores práticas para a
prevenção e tratamento da desnutrição infantil no futuro.
A
União Europeia considera “alarmante” a situação de insegurança alimentar que
enfrenta o sul de Angola, há alguns anos devido à falta de chuvas,
particularmente as províncias do Cunene e da Huíla.
O
apoio financeiro visa igualmente adquirir e distribuir alimentos terapêuticos e
suplementares para os centros de nutrição, além das sessões de formação para o
pessoal sobre a identificação e tratamento de crianças malnutridas.
Essa
intervenção de emergência, adianta ainda a nota, vai ser complementada com
actividades de desenvolvimento previstas no 11º Fundo Europeu de
Desenvolvimento, o maior instrumento de cooperação e financiamento da União
Europeia em Angola, que se prolonga até 2020.
Com
um financiamento total de 195 milhões de euros para intervenções nos sectores
da agricultura, água e saneamento e educação superior, a União Europeia
pretende apoiar o Governo angolano no reforço da segurança alimentar e
nutricional em Angola, dentro da sua estratégia global para acabar com a
desnutrição infantil crónica mundial.
É
fartar vilanagem
Perto
de 28 milhões de pessoas da CPLP são desnutridas, sendo Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau e Timor-Leste os países mais problemáticos, com 44%, 37%, 31% e
23% da taxa de desnutrição, respectivamente. E, como se sabe, com excepção de
Angola, todos os outros países referidos são ricos, muito ricos…
“Não
basta aprovar leis e estratégias. É preciso ir ao cerne do problema. É preciso
produzirmos comida suficiente para alimentar os nossos povos”, dizia em 2012 a
directora da organização moçambicana Mulher Género e Desenvolvimento (MuGeDe),
Saquina Mucavele, falando em nome da Rede de Organizações para a Soberania
Alimentar (ROSA).
Tinha
e tem razão. Mas, é claro, é preciso dar tempo ao tempo e compreender que no
caso de Angola, por exemplo, o MPLA só está no poder desde 1975, que o país só
está em paz total há 14anos, e que o presidente da República só está no cargo –
sem nunca ter sido nominalmente eleito – desde 1979.
Ora,
para que deixem de existir cerca de 70% de pobres em Angola é preciso que o
MPLA se mantenha no poder aí durante mais uns 30 anos.
Saquina
Mucavele disse também que a segurança alimentar e nutricional depende, em larga
medida, de investimentos na agricultura, particularmente nos países pobres,
onde a produção de alimentos ainda é muito baixa, apelando aos governos para
alocarem mais investimentos para a produção de comida.
Essa
recomendação, como é óbvio, não tinha nem tem cabimento em Angola. As
preocupações do regime estão viradas para outras latitudes. Aliás, o Povo pode
muito bem alimentar-se da mandioca que encontre nas lavras ou de farelo.
Por
sua vez a Coordenadora da Organização Mundial da Agricultura e Alimentação
(FAO) para o direito à Alimentação, Bárbara Ekwall, disse na mesma altura que a
questão que se coloca é que a produção mundial de comida aumentou nos últimos
anos mas, paradoxalmente, há cada vez mais pessoas padecendo de fome.
Angola
é um dos países lusófonos com a maior taxa de mortalidade infantil e materna e
de gravidez na adolescência, segundo as Nações Unidas.
Importante
é a riqueza de Isabel dos Santos
Mas
o que é que isso importa? Importante é saber de facto que a filha do
presidente, Isabel dos Santos, soma e segue, mesmo quando se sabe que o regime
é um dos mais corruptos do mundo. Ou será por isso mesmo?
Aliás,
muitos dos angolanos que raramente sabem o que é uma refeição, poderão
certamente alimentar-se com o facto de a filha do presidente vitalício ser
também dona dos antigos colonizadores.
O
investimento público e o aumento da produção de petróleo vai permitir a Angola,
ou seja ao regime, ou seja ao clã Eduardo dos Santos, que continue, com ou sem
crise, a aumentar o seu enorme pecúlio.
Os
pobres também vão aumentar, mas esses não contam para as análises das impolutas
instituições internacionais nem para as estatísticas dos países que têm
relações submissas com Angola. O que conta é, agora e sempre, o poder económico
de Angola.
Tudo,
é claro, graças ao ouro negro. De facto, o petróleo representa mais de 50% do
Produto Interno Bruto de Angola, 80% das receitas estatais e mais de 90% das
exportações.
É
claro que, segundo a bitola gerada pelo Ocidente, há bons e maus ditadores.
Muammar Kadhafi passou a ser mau e Eduardo dos Santos continua a ser bom.
Amanhã se verá.
Portugal
continua de cócoras perante o regime de Luanda, tal como estava em relação a
Muammar Kadhafi que, citando o ex-primeiro-ministro José Sócrates, era “um
líder carismático”. Talvez um dia se chegue à conclusão que, afinal, Eduardo
dos Santos também é um ditador. Não sabemos, contudo, se alguma vez alguém o
vai dizer. Tudo porque, de dia para dia, o clã do presidente angolano torna-se
dono das ocidentais praias lusitanas.
Alguém
ainda se recorda, por exemplo, que em Março de 2009, no Palácio de Belém, em
Lisboa, só dois jornalistas de cada país tiveram direito a colocar perguntas a
Cavaco Silva e a Eduardo dos Santos?
Recordam-se
que um deles, certamente no cumprimento da sua profissão mas, é claro, à
revelia das regras dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos dos
jornalistas, questionou Cavaco Silva sobre esse eufemismo a que se chama
democracia em Angola?
Recordam-se
que Cavaco Silva se limitou a… não responder?
Recordam-se
que no dia 3 de Setembro de 2008, quando o mesmo Cavaco Silva falava na Polónia
a propósito das eleições em Angola, disse o óbvio (uma das suas
especialidades): “Desejo que as eleições ocorram com toda a paz, sem qualquer
perturbação, justas e livres como costumam dizer as Nações Unidas nos processos
eleitorais”?
Recordam-se
que, nessa altura, como sempre, Cavaco Silva nada disse sobre o facto de quatro
órgãos de comunicação social portuguesa – SIC, Expresso, Público e Visão –
terem sido impedidos de entrar em Angola para cobrir as eleições que foram tudo
menos justas e livres?
Afinal,
hoje, Cavaco Silva, embora mais comedido, continua a pensar da mesma forma que
José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas e António Costa, para quem Angola
nunca esteve tão bem, mesmo tendo 70% dos angolanos na miséria.
De
facto, os portugueses só estão mal informados sobre o que se passa em Angola
porque querem, ou porque têm interesses eventualmente legítimos mas pouco
ortodoxos e muito menos humanitários.
Custa
a crer, mas é verdade que os políticos, os empresários e os (supostos)
jornalistas portugueses (há, é claro, excepções) fazem um esforço tremendo (se
calhar bem remunerado) para procurar legitimar o que se passa de mais errado
com as autoridades angolanas, as tais que estão no poder desde 1975.
Alguém,
pergunta-se, ouviu Cavaco Silva recordar que 70% da população angolana é
afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais
alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Não, ninguém pergunta
até porque ele não responde.
Alguém
o ouviu recordar que apenas 38% da população tem acesso a água potável e
somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém
o ouviu recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a
serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?
Alguém
o ouviu recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos
postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das
instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém
o ouviu recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente
entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e
jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?
Alguém
alguma vez o ouvirá dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má
nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os
cinco anos?
Alguém
alguma vez o ouvirá dizer que a dependência sócio-económica a favores,
privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
Alguém
alguma vez o ouvirá dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido
por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do
erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população?
Alguém
alguma vez o ouvirá dizer que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao
capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às
licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de
famílias ligadas ao regime no poder?
Não.
O silêncio (ou cobardia) são de ouro para todos aqueles que existem para se
servir e não para servir. E esse silêncio dará, obviamente, direito a ser
convidado para passar férias na casa flutuante de Isabel dos Santos, a filha do
presidente vitalício.
Folha
8
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