O
professor Christoph Kohl, um profundo conhecedor da Guiné-Bissau e pesquisador
na "Fundação alemã de Estudos da Paz e de Mediação de Conflitos",
falou com a DW sobre as principais razões da instabilidade naquele PALOP.
DW
África: Quais os principais fatores que contribuem para a instabilidade
política na Guiné-Bissau?
Dr.
Christoph Kohl (CK): Diria que o maior fator de instabilidade são as lutas
entre diferentes redes, entre políticos e militares. Trata-se de redes baseadas
em vários interesses. Hoje dependem de um determinado político, e amanhã podem
ser compostas por outros políticos...
DW
África: E o que pode dizer sobre o fator étnico?
CK: Sempre
houve tentativas de mobilização étnica. Olhemos, por exemplo, para o caso Kumba
Yalá, que durante toda a sua vida política tentou mobilizar os eleitores de uma
maneira ‘étnica’, dirigindo-se aos balantas. Mais recentemente há que referir o
caso de Braima Camará, do maior partido, o PAIGC, que tenta mobilizar
guineenses oriundos da zona leste do país, nomeadamente mandingas e fulas. Mas
eu diria que até agora a mobilização étnica não teve grande sucesso.
DW
África: Mais de 40 anos depois da independência o colonialismo e também a luta
contra o colonialismo ainda estão muito presentes na mente dos guineenses. Isso
também é um fator de instabilidade?
CK: Sim,
claro. O colonialismo ainda tem um papel muito importante na Guiné-Bissau.
Quando os portugueses saíram da Guiné-Bissau praticamente não havia pessoas com
formação superior e até agora esse facto tem repercussões muito importantes na
Guiné-Bissau.
DW
África: Falando com os jovens guineenses ouvimos muitas vezes frases como ‘Quem
nos liberta dos nossos libertadores’. Muitos jovens querem uma maior
emancipação perante os militares que fizeram a luta de libertação...
CK: Sim.
Eu também ouvi essas frases, sobretudo da boca das camadas bem educadas. Os
jovens de 20, 30 anos querem um país mais avançado, um país democrático. A
juventude pensa que ela mesma poderia governar o país de uma maneira muito
melhor.
DW
África: Alguns observadores dizem que a Guiné-Bissau é um ‘failed state’, um
Estado falhado. Que consequências terá isso para o funcionamento da sociedade
da Guiné-Bissau?
CK: Eu
não gosto muito do conceito de ‘failed state’, porque, ao contrário de outros
países, a Guiné-Bissau também tem desenvolvimentos bastante positivos. É claro
que o Estado é relativamente fraco, mas, por outro lado, a sociedade civil da
Guiné-Bissau é bastante forte. Os guineenses têm uma idéia muito vincada de
pertença a uma nação, à sua nação. Identificam-se com o seu país, e isso
contribui para que essa nação não tenha caído completamente, como outros
países.
DW
África: Que solução vê para o atual impasse político na Guiné-Bissau?
CK: Durante
o governo de Domingos Simões Pereira a Guiné-Bissau parecia estar a enveredar
pelo bom caminho. Agora, com a intervenção do Presidente, José Mário Vaz, o
desenvolvimento tornou-se mais complicado. No meu entender é necessário que a
comunidade internacional tente influenciar, de uma maneira construtiva, os
desenvolvimentos políticos na Guiné-Bissau. É necessário que a comunidade
internacional mantenha uma postura positiva, para que o país possa regressar a
um Governo mais estável. A União Europeia e sobretudo Portugal deveriam
contribuir de forma mais ativa para a estabilidade na Guiné-Bissau, juntamente
com as Nações Unidas.
DW
África: Existe o perigo da Guiné-Bissau ser utilizada não só por redes
internacionais de narcotráfico como também por redes de terroristas islamistas
e jihadistas?
CK: Sim,
sobretudo no interior do país existem jovens que estiveram na Arábia Saudita
para fazer formações religiosas e esses jovens tentam espalhar as suas visões
mais conservadoras do islão. Mas até agora a sociedade guineense ainda resistiu
a essas tentativas de interpretar o islão de uma maneira mais conservadora, ou
seja a versão “wahhabita” do islão. Mas é possível que isso possa mudar no
futuro próximo. Mas neste momento não vejo que o islamismo esteja a ocupar um
papel decisivo na vida política do país.
António
Cascais – Deutsche Welle
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