quinta-feira, 17 de março de 2016

88 ANOS, 2 MESES E 5 DIAS DEPOIS…



Martinho Júnior, Luanda 

1 – A 21 E 22 de Março de 2016, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama e sua esposa, visitarão oficialmente Cuba, 88 anos, 2 meses e 5 dias dum seu antecessor ter feito o mesmo, a 16 de Janeiro de 1928, o Presidente John Calvin Coolidge, Jr.!

Será muito difícil encontrar um exemplo similar de tão largo afastamento entre as entidades mais representativas de estados vizinhos e tão próximos, em tempo e num quadro de relações bilaterais, o que é sintomático do abismo que foi transposto entre as duas épocas tão distintas: em 1928 o neo colonialismo era uma triste realidade para Cuba, com um regime ditatorial, em 2016, em plena democracia participativa, Cuba tem vindo a trilhar um caminho de independência, de inquestionável soberania, de dignidade, de solidariedade, de internacionalismo e de muitos êxitos em prol do homem, sobretudo por via da educação e da saúde, apesar dos impactos capitalistas neo liberais que se expandem por todo o mundo, em especial a partir das administrações de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de sua contemporânea neo conservadora Margaret Thatcher, na Grã Bretanha!

2 – Em 1928, os Estados Unidos avançavam com o expansionismo para as primeiras experiências imperiais e neo coloniais (formação das “repúblicas bananas”), perante uma Cuba avassalada e cujas entidades mais representativas se haviam tornado autênticos agentes, a ponto do General Gerardo Machado ter falecido em exílio dourado e estar sepultado em Miami Beach, na Florida (Caballero Rivero Woodlawn Park North Cemetery and Mausoleum)!...

O General Gerardo Machado Morales, admirador de Mussolini, de Primo de Rivera, do Marechal Hindenburg e advogado da intervenção, ingerência e contínua manipulação norte-americana em Cuba, ganhou ironicamente as eleições a 1 de Janeiro de 1924 com promessas de realizar políticas nacionalistas com base em melhorias de carácter social assentes em três pilares: “água, caminhos e escolas”…

Ele assumiu a Presidência a 20 de Maio do mesmo ano e no fim do mandato constitucional forçou a sua reeleição procurando alterar para esse efeito o teor da Constituição de 1901, uma experiência que acabaria mal, pois seria derrubado por um golpe político-militar a 12 de Agosto de 1933.

O seu exercício em nome da burguesia crioula e dos interesses norte-americanos caracterizou-se pela repressão, tendo nesse período de terror ditatorial mandado assassinar entre muitos outros, o revolucionário cubano Júlio António Mella, a 19 de Janeiro de 1929, na cidade do México (onde Mella se encontrava refugiado).

Gerardo Machado Morales, “o Mussolini tropical”, realizou enquanto mandatário cubano duas viagens aos Estados Unidos, a segunda para convidar o Presidente John Calvin Coolidge, Jr. a representar o seu país na VIª Conferência Panamericana, que ocorreu entre 18 de Janeiro e 20 de Fevereiro de 1920.

3 – A actual aproximação bilateral que irá possibilitar a visita do Presidente Barack Hussein Obama a 20 e 21 de Março de 2016 a Cuba, ocorre após um longo período de hostilidade, bloqueio e pressões de toda a ordem sobre Cuba, onde a Revolução Socialista tem sido submetida a mais de cinco décadas de sacrifícios e enormes desafios, sem jamais abdicar de sua militância anti-imperialista.

As transformações em Cuba assumiram um carácter sócio-cultural, que tocaram profundamente a sociedade, as instituições e as realizações que se foram proliferando de acordo com os programas levados a cabo, tendo sempre o homem e o ambiente como prioridades e merecendo todas as atenções.

 A democracia participativa (democracia directa) é um dos seus frutos e tem-se assumido cada vez mais em estreita identidade popular, no quadro da orientação socialista; todos os cubanos por via desse sistema, têm a oportunidade de fazer parte da gestão da coisa pública conforme à Constituição de 2002, desde as 15 províncias e os 169 municípios (mais o município especial da Ilha da Juventude), que compõem a divisão administrativa do país:

“El 10 de junio del 2002, el pueblo de Cuba, en un proceso plebiscitario popular sin precedentes, puesto de manifiesto tanto en la Asamblea Extraordinaria de las direcciones nacionales de las organizaciones de masas; como en actos y marchas realizados el día 12 del propio mes de junio a todo lo largo y ancho del país, en los que participaron más de nueve millones de personas y para la firma pública y voluntaria de 8 198 237 electores durante los días 15, 16 y 17 de ese mismo mes ratificaron el contenido socialista de esta Constitución en respuesta a las manifestaciones injerencistas y ofensivas del Presidente de los Estados Unidos de América, e interesaron de la Asamblea Nacional del Poder Popular reformarla, para dejar expresamente consignado el carácter irrevocable del socialismo y del sistema político y social revolucionario por ella diseñado, así como que las relaciones económicas, diplomáticas y políticas con otro Estado no pueden ser negociadas bajo agresión, amenaza o coerción de una potencia extranjera, ante lo cual el órgano supremo de poder del Estado, en sesión extraordinaria, convocada al efecto, adoptó por unanimidad el Acuerdo No. V-74, por el que se aprobó la Ley de Reforma Constitucional el 26 de junio del 2002.”

Com o homem e o ambiente como prioridades, Cuba elevou os padrões de educação e de saúde a níveis extraordinários para um país sujeito a agressões, sabotagens e a um impiedoso bloqueio, imposto década após década e vulnerabilizando a aplicação dos mais elementares direitos humanos que socorrem a humanidade, um bloqueio anualmente condenado pela esmagadora maioria dos membros da Assembleia Geral da ONU, que ainda não terminou!

A cultura revolucionária ganhou identidade com o povo cubano e as experiências solidárias, internacionalistas e de apoio nos momentos mais críticos aos países e estados mais pobres da terra fortaleceram sua dignidade, capacidade de resistência e entendimento sobre todos os fenómenos sociais à escala global, mas sobretudo na América Latina, nas Caraíbas e em África.

Em África a revolução Cubana elevou a fasquia do internacionalismo e da solidariedade, durante mais de três décadas, a ponto de ser um factor muito importante no reforço da luta contra o colonialismo, o “apartheid” e todas as suas sequelas.

Para Angola, a “Operação Carlota” continua até nossos dias, sobretudo no apoio inestimável por via da educação e da saúde, tal como acontece aliás em relação a muitos outros países.

4 – Nada há de comum entre a situação humana de 1928 e a de 2016 em Cuba, pelo que o prestígio internacional das realizações cubanas perante desafios tão persistentes e incomuns, estão a transbordar dos países do “Terceiro Mundo”, onde Cuba é considerada exemplo e “farol de vanguarda”, para os níveis dos entendimentos com a União Europeia e com os próprios Estados Unidos da América, a ponto de Cuba ser território de paz que possibilitou as conversações da mais longa guerra de guerrilhas actual (na Colômbia), ou o encontro singular entre as Igrejas Católica e Ortodoxa Russa, um processo que esteve interrompido de há séculos!

A sociedade cubana com a Revolução criou muitos anticorpos em relação ao capitalismo neo liberal, até por que Cuba tem sido o laboratório mais à mão para as experiências de desestabilização por parte dos Estados Unidos pelo que as autoridades cubanas têm tido um excepcional cuidado com os relacionamentos bilaterais; por exemplo, as conversações com a União Europeia, que tiveram há pouco mais um impulso, estão a ser feitas de há pelo menos dois anos a esta parte.

Cuba conhece por outro lado que para além do quadro socialista que lhe assiste, a confrontação entre sua democracia directa e participativa com o quadro das democracias representativas que agora se decidiram por melhores relacionamentos para com o país, vai-se continuar a pôr e um dos indícios claros é “a promoção democrática” que a própria administração de Barack Hussein Obama tem feito ultimamente, na expectativa de transformações de sua conveniência, ou seja, da conveniência daqueles que não perderam a pista do exercício de domínio da hegemonia unipolar sobre o resto da humanidade!

Perante a visita próxima do democrata Barack Hussein Obama “em fim de estação”, Cuba mantém um exercício saudável de independência, de soberania, de clarividência e de dignidade, que nada, mesmo nada, tem a ver com a sangrenta vassalagem de completa submissão, como a que ocorria em 1928!

Fotos:
- “Acorazado USS Texas entrando a La Habana, con el presidente Coolidge a bordo, en enero de 1928”(http://www.diariodecuba.com/cuba/1455870457_20322.html);
- Os Presidentes John Calvin Coolidge Jr e Gerardo Machado Morales com suas respectivas esposas, durante a visita do primeiro a Cuba, a 16 de Janeiro de 1928 (ibidem); 
- O Comandante Raul de Castro face a face a Barack Hussein Obama: identidades distintas que buscam relacionamentos possíveis entre dois países vizinhos que se obrigam a pontes de entendimento que de há mais de 50 anos não puderam cultivar.

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