terça-feira, 5 de abril de 2016

A MÁFIA? QUEM FOI QUE FALOU EM MÁFIA?



Bom dia. Expresso Curto para quem consegue ler entre-linhas e usar a massa encefálica. Exercício matinal que trazemos há tempos do Expresso para o PG quase todas as manhãs. Nas últimas 5 ou 6 manhãs não aconteceu por não termos publicado uma única linha neste que é o seu PG online, últimamente incerto por motivos internos.

Nestes dias passados e ainda hoje o tema são os Documentos do Panamá. Falam, falam, revelam, revelam. chinfrineira, chinfrineira... Nada que já não se soubesse. Novidade? Alguns nomes. Pouco mais. Sabemos há mais de um século que a Suíça é abrigo de grandes ladrões. Os seus bancos são assim como as casas dos gangues criminosos que furtam, furtam, roubam, roubam e têm por prémio a impunidade. Depois há aqueles que querem fugir aos impostos nos países onde os devem pagar. Outro roubo. A Suíça foi quem deu o pontapé de saída para abrigar criminosos. A Suiça e a sua falta de transparência financeira. E é na Europa, a Suíça.

Políticos, governantes, grandes empresários, grandes multinacionais, jogadores de futebol, barões da droga, de arte roubada que carrega milhões em notas verdes... A Máfia Global em ação. E que eles fazem o que fazem já sabemos há tanto tempo. E agora a chinfrineira. Querem resolver o assunto? Não querem. Se quisessem já o tinham resolvido. Ele resolve-se na ONU por ser um crime global. Mas qual quê. Os políticos são as muletas e os veículos desses criminosos, os políticos são os criminosos. Os esconderijos dos mafiosos estão mais ou menos identificados (ver mapa) e percebemos que acontecem por imensos países de todo o mundo. É um problema para resolver na ONU com as componentes necessárias das entidades mundiais adstritas aos crimes económicos e à economia na generalidade. Acontece que os EUA são os donos da ONU. Maiores ladrões que eles não existe.

Bom dia. Acompanhe a novela panamiana mas pense por si e tenha presente que no Panamá acontece somente a gota de água do imenso oceano que é a pirataria mafiosa que representa os 1% dos mais ricos do mundo. Não se esqueça que os governos estão comprados e rendidos a esses. Afinal os políticos, certos políticos, em que você vota são tão criminosos quanto os que usam aqueles paraísos fiscais onde refundem o produto dos roubos. Tudo vai ficar na mesma apesar do trabalho notável dos jornalistas que levantaram um pouco da ponta do véu de crimes económicos. Quem pode, pode. Se quiser substitua o "p" por um "f". A máfia em questão anda a poder-nos de toda a maneira e feitio. E assim vai continuar. Em Portugal também. E você vota neles e até os defende, armado em otário... ou otária.

E então não é que o Passos Coelho se mantém líder do partido neoliberal PSD, reeleito no congresso do passado fim-de-semana. E a Maria Luís Albuquerque eleita para vice do Passos, e deputada, e destacada sujeita contratada por uma gestora britânica, como dizem: "A ex-ministra das Finanças vai tornar-se diretora não-executiva de uma financeira de Londres, a Arrow Global. A mesma empresa que tem como clientes o Santander, o Banif, o BCP, entre outros." A máfia? Quem é que falou em máfia? A senhora até é deputada, além de vice-presidente do PSD e sabe-se lá o que mais. A máfia? Quem foi que falou em máfia?

PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Cristina Peres – Expresso

Eu conheço uma pessoa que conhece uma pessoa que conhece uma pessoa…

Roubo o título ao início do texto em que Pedro Santos Guerreiro explica o que são os Panama Papers, essa avalanche de documentos que contam como o mundo é subterraneamente comandado a partir de empresas offshore. Leiaaqui como avança esta trama, que começou a ser revelada no domingo passado e que parte da mais gigantesca fuga de informações até agora. A origem é a Mossack Fonseca, uma firma de advogados panamiana cujos documentos foram há um ano entregues ao jornal de Munique Süddeutsche Zeitung. Ninguém sabe quem é a fonte que entregou 2.6 terabytes de informações - um total de 11,5 milhões documentos. O Expresso e a TVI, em Portugal, e cerca de 300 jornalistas das 106 publicações que constituem o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) estão há todos estes meses a analisar os documentos. São estes investigadores que ditam o ritmo a que as informações serão reveladas, o que depende do avanço das “histórias” que vão lançando com base nos documentos. A Mossack era conhecida por criar empresas financeiras offshore e o interesse destes documentos consiste na revelação de quem são e eram os seus clientes. Veja aqui uma introdução esclarecedora em vídeo. O jornal i chama-lhe hoje em manchete: A Lavandaria do Panamá, novo filme de Pedro Almodovar com Putin da Rússia, Assad da Síria, José Botelho de Angola, Sigmundur da Islândia, Jackie Chan de Hong Kong, Messi de Barcelona, Pilar de Bourbon de Espanha, Poroshenko da Ucrânia, Mohammed VI de Marrocos e 34 portugueses como atores secundários.

O Expresso, como os outros meios de comunicação envolvidos na investigação, tem acesso a esta base de dados com informação encriptada. “O Expresso envolveu-se na análise dos documentos desde o verão do ano passado e até este domingo ninguém soube” de nada, contou o diretor à SIC. Todos os jornais da rede podem publicar uma série de artigos que vão sendo libertados sujeitos a critérios jornalísticos e editoriais que inclui não revelar nomes de pessoas envolvidas descontextualizados. “O nome de Vladimir Putin nunca está citado nos documentos da Mossack Fonseca, chegou-se a ele por investigação jornalística”, esclareceu Pedro Santos Guerreiro. O Guardian tem opinião sobre isso. Leia aqui outra opinião no Público.

O material cobre um período de quase 40 anos, de 1977 até dezembro de 2015. Mostra como é que empresas com sede em paraísos fiscais estavam alegadamente a ser usadas para suposta lavagem de dinheiro, negócios de armas e de droga e evasão fiscal.

Há portugueses citados entre os nomes revelados. A investigação já tem um ano, mas está no início.

O horror da cena internacional das fraudes fiscais tem um nome: Wolfgang Schäuble. Os Panama Papers serviram que nem luva ao pedido insistente do homem das finanças dos democratas-cristãos alemães em Berlim: mais controlo fiscal. Com as revelações dos Panama Papers, esta é a oportunidade para a reentrada em força na agenda política da luta contra a evasão fiscal insistentemente exigida pela Alemanha na Europa e agora seguida, na Alemanha, pelo SPD, Verdes e A Esquerda. Que o Governo federal se colocasse na vanguarda da luta contra a evasão fiscal ao fim de 24 horas do início da revelação dos milhões de documentos expostos não é de espantar. E isto apesar de haver vários nomes alemães envolvidos nas revelações do diário Süddeutsche Zeitung com o CIJI.

É fácil prever que vão rolar cabeças e a primeira poderá ser a do primeiro-ministro islandês, Sigmundur David Gunnlaugsson. A pressão popular foi imediata e 124 mil pessoas (em 300 mil habitantes) assinaram uma petição para que o chefe de Governo se demita. O Kremlin chama aos Panama Papers “Putinfobia” e nega. Petro Poroshenko, o Presidente da Ucrânia, está igualmente em perigo de ser destituído. E não irá ficar por aqui. Há dezenas de chefes de Estado envolvidos, mais de 200 mil empresas offshore com ramificações e 500 bancos ter criado milhares de empresas, a maior parte delas na Europa.

As redes sociais fervilham de entusiasmo e desconfiança perante o desfecho do escândalo. Há quem agradeça aos jornalistas sublinhando o risco que correm, há quem denuncie a ausência de empresas e de personalidades norte-americanas nas listas reveladas, como é o caso do dailypakistan.com.pk. Leia aqui a opinião do diretor do Expresso. E leia aqui para o que que serve a democracia segundo Henrique Monteiro. Já agora, confira aqui a reação da Mossack Fonseca.

OUTRAS NOTÍCIAS

Os primeiros migrantes foram ontem deportados da Grécia para a Turquia, segundo o acordo entre a União Europeia e a Turquia. Os 202 migrantes eram na sua maioria paquistaneses e partiram Lesbos e Kios, já tendo chegado a Dikili, no oeste da Turquia.

Há três dias que crescem de tom os confrontos entre a Arménia e o Azerbaijão sobre a região disputada de Nagorno-Karabach. Um conflito revisitado que pode escalar para uma guerra de larga escala.

O vice-presidente queniano, William Ruto, está a partir de agora à espera da decisão de Haia: vai ou não ser condenado por crimes contra a humanidade, perseguição e deportação alegadamente cometidos na sequência das eleições de 2007, onde morreram 1.200 pessoas. O caso no TPI tem conhecido revezes. Será desta?

Dilma Rousseff está na barra e a sua defesa chama “golpe” ao pedido de destituição da Presidente. Veja aqui como tratam o caso o DN, o Estadão e não perca 2:39 de humor dos Porta dos Fundos:Delação.

Depois dos ataques de Bruxelas, já se reiniciaram os voos a partir do aeroporto de Zaventem. Nada é como dantes, e na tenda gigante só entra quem tem voo marcado e prova na mão.

Banif, audição do Governador do Banco de Portugal. A Isabel Vicente e o João Silvestre explicam como é que o Orçamento de 2014 já tinha €1.500 mil milhões para resolução do Banif.

FRASES

“Acreditar em direitos dos presos na situação em que me encontro foi uma manifesta ingenuidade”, Luaty Beirão, Público

“Estou inibido de escrever, pois sei que a qualquer altura se baixa uma ordem para virem virar tudo de cangalhas e levam-me todos os papéis”, idem, ibidem

“A saúde é um domínio em que eu penso que é fácil chegar a um consenso nacional”, Marcelo Rebelo de Sousa, Jornal i a propósito do pacto de saúde nacional

“A ganância dos super-ricos está ligada à falta de consciência no setor financeiro. Ambos prejudicam a confiança no Estado de direito”, Sigmar Gabriel, vice-chanceler e ministro alemão da Economia citado pelo Negócios

“‘Impeachment’ seria um erro histórico”, José Eduardo Cardozo, ministro da Advocacia Geral da União e defensor da Presidente Dilma Rousseff nessa categoria, citado pelo DN

O QUE ANDO A LER

Em contra-ciclo, o aniversário ou Tarde, Adília Lopescomemorado, no sábado passado, pela Companhia Nacional de Bailado ao final do dia no Teatro Camões levou-me a eleger um poema para lhe dedicar (tal como o fizeram os outros convidados). Escolhi“Portugal Futuro”, de Ruy Belo, do livro de 1973 “País possível” (Assírio e Alvim, edição de 2016, prefácio de Nuno Júdice). Fiquei desde então a lê-lo e a relê-lo, incluindo nessa repetição a memória do fantástico espetáculo que o Teatro da Cornucópia levou à cena a partir do texto “A Margem da Alegria” em 1996. Se não viu ou não se lembra, deixo-lhe aqui a referência da gravação pelas melhores vozes dos melhores atores: António Fonseca, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Luísa Cruz, Manuela de Freitas, Márcia Breia e a voz gravada de Rui Cintra… Lembro-me de ter escrito no Expresso um texto encantado sobre o espetáculo cujo título era “Quase Nada”. Luís Miguel Cintra escrevia no programa “Este espetáculo não é bem um espetáculo. Chamem-lhe antes celebração”. Foi há 20 anos e a verdade é que então como agora, é preciso saber muito para fazer tão pouco e deixar Ruy Belo intacto. Acrescentando-lhe “só” a atualidade da voz e do corpo dos atores. Portugal Futuro: O portugal futuro é um país/ aonde o puro pássaro é possível/ e sobre o leito negro do asfalto da estrada/ as profundas crianças desenharão a giz/ esse peixe da infância que vem na enxurrada/ e me parece que se chama sável/ Mas desenhem elas o que desenharem/ é essa a forma do meu país/ e chamem elas o que lhe chamarem/ portugal será e lá serei feliz/ Poderá ser pequeno como este/ ter a oeste o mar e a espanha a leste/ tudo nele será novo desde os ramos à raiz/ À sombra dos plátanos as crianças dançarão/ e na avenida que houver à beira-mar/ pode o tempo mudar será verão/ Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz/ mas isso era o passado e podia ser duro/ edificar sobre ele o portugal futuro.

E por hoje é tudo. A revelação segue dentro de momentos no Expresso Online. Às 18h faz-se o balanço do dia no Expresso Diário. Fique atento, fique ligado, o momento é para isso.

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