Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Lembra-se
deste título? Provavelmente, já o leu e lê-lo-á mais vezes independente-mente
da batalha que os estivadores levarem a cabo. A estiva foi e será uma profissão
de risco. O número de vezes que iremos ler este título depende das condições de
trabalho que conseguirem garantir.
Costumo
explicar o que se disputa nos portos a partir de uma realidade que todos
podemos perceber mais facilmente. Imagine-se acrobata. Na sua atuação depende
da força dos braços de um colega que o agarra depois de se lançar no ar em
acrobacias de encantar. Agora imagine que a administração do circo, para
aumentar o seu lucro, pretende despedir o seu colega e trocá-lo por alguém com
quem nunca ensaiou e até que nunca fez acrobacias. A luta de um e outro
acrobata é comum. Pela sua dignidade e pela sua vida.
A
resposta da Administração do Porto de Lisboa à greve dos seus trabalhadores
surgiu como o castigo do negreiro. Diziam-nos que a greve às horas
extraordinárias estaria a provocar o bloqueio dos portos e, por isso, avançavam
para o despedimento coletivo - queira o leitor imaginar uma greve sem
consequências na atividade laboral. Inaceitável e revelador do caráter da sua
gestão. Perceba-se que quem desencadeia um despedimento coletivo nestas
condições entende os trabalhadores como formigas de uma engrenagem. A
substituição das formigas deve ser agilizada e de baixo custo. A cadeia de
produção não pode parar.
Entretanto,
os trabalhadores do porto de Lisboa venceram uma batalha, mas não a guerra. A
administração que encara as relações do trabalho de uma forma feudal mantém-se
e não se prevê que adoce a sua verve persecutória. Apesar do inquestionável
interesse público da gestão dos portos, o negócio continua a ser privado. E por
mais inacreditável que possa parecer, o acordo encontrado apenas abrange o
Porto de Lisboa. Em todos os outros portos de Portugal mantêm-se as condições
de trabalho precárias e desumanas, nalguns casos acordadas entre patrões e
sindicatos colaboracionistas criados para o efeito.
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