A
nomeação da empresária angolana Isabel dos Santos, filha do Presidente de
Angola, para a administração da Sonangol "é absolutamente chocante" e
constitui "um esquema" para manter o branqueamento de capitais, disse
hoje a eurodeputada portuguesa Ana Gomes.
Contactada
telefonicamente pela agência Lusa, a dirigente socialista disse a partir de
Munique (Alemanha) que a decisão de José Eduardo dos Santos nomear a filha como
administradora não executiva da Sonangol "não é inocente" e, acima de
tudo, "não é desligado do que se passa em Portugal".
"Havia
muita gente a dizer que isto estava a ser preparado, que estava na calha, e que
era espectável. Mas, mesmo assim, não deixa de ser absolutamente chocante. Esta
medida, da parte do presidente, mostra que, em Angola, não há mais nenhuma
pretensão de democracia", sublinhou a eurodeputada socialista.
"A
filha (Isabel dos Santos) controla a Sonangol e o filho (José Filomeno dos
Santos) controla o Fundo Soberano e obviamente que isto não é inocente e não é
desligado do que se passa em Portugal. Dá à senhora Isabel dos Santos um
controlo, não apenas sobre a Sonangol, mas sobre as participações da Sonangol
no exterior, e designadamente em Portugal, no BCP. É um esquema para manter os
esquemas de branqueamento de capitais", acrescentou.
Ana
Gomes indicou que vários países europeus recusam que Isabel dos Santos abra uma
conta bancária, defendendo que o mesmo deveria acontecer em Portugal.
"Estamos
a falar de uma óbvia 'pepe', pessoa politicamente exposta, nos termos das
diretivas do branqueamento de capitais, e devia haver um dever diligente por
parte das autoridades bancárias e de supervisão portuguesas, como do Banco de
Portugal e da CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), que até aqui
não houve, porque senão não seria hoje acionista de principais bancos
nacionais", referiu.
Para
Ana Gomes, os riscos para Portugal "estão à vista", lembrando que a
Sonangol pode condicionar empresas em que é acionista, como o Millennium BCP ou
a Galp.
"É
sabido que a Sonangol tem 18% do BCP. Sem ser diretamente, através da Sonangol,
ela (Isabel dos Santos) pode controlar e é evidente que isso é instrumentado
pelos esquemas de branqueamento de capitais", sustentou.
"Suponho
que se está, infelizmente, a assistir a um estertor do atual regime político em
Angola, do atual poder, porque é isso que isto demonstra. Só espero que isso
não tenha consequências mais devastadoras e violentas para o povo angolano, que
está a sofrer tanto, e por todos aqueles que estão em Angola, inclusivamente os
portugueses", concluiu.
JSD
// PJA – Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário