Cristina
Azevedo – Jornal de Notícias, opinião
Vem
aí o Europeu de futebol e eu gosto. É que sempre teremos uns dias em que
poderemos gritar o nosso amor, o nosso entusiasmo por este país, sem ter de dar
explicações.
Não
sei se a Seleção é suficientemente boa, se há motivos para pensar que temos
condições de competir com os melhores, de chegar ao fim. Mas confesso que me
sabe fantasticamente bem poder torcer pelo meu país de forma emotiva e até
irracional. Confortada pelo coro dos meus concidadãos, alegremente e sempre com
aquela ponta de esperança de avançar de jogo em jogo, um pouco por sorte e
outro pouco (às vezes mesmo poucochinho) por trabalho e empenho.
E
este ano vai ser um alívio. Ainda por cima porque a Seleção é chefiada por um
homem normal, que desdramatiza, que é sereno, o verdadeiro anti-herói que
mostra que afinal é possível unir em vez de dividir.
Bendito
Europeu! Vai saber-nos bem. É que na vida real, todos nos esforçamos muitíssimo
mas começamos a época balnear sem sossego, com a sensação de que temos uma boia
ao pescoço que a qualquer momento pode furar.
E,
nesta matéria, não ajuda este suspense a que a Europa nos sujeita, o susto
reprimido que os britânicos nos impõem ou o pavor declarado da imparável ascensão
de Trump.
Temos
de nos concentrar e perceber que a margem de manobra é estreita e os passos em
falso muito caros. Temos de fazer como nos ensina Fernando Santos. Dar tudo sem
perder a noção de que a vida continua, respeitar os adversários sem lhes dar
mais importância do que a que merecem, conviver com as manifestações (prós e
contra) sem as deixar condicionar as decisões, conhecer o recursos e
otimizá-los sem esquecer que são limitados e têm uma história.
Não
é isto que encontramos na nossa vida pública e na análise que sobre a mesma
produzimos. Tudo são sequestros ideológicos, suicídios políticos,
condicionamentos partidários. Tudo carece de reforma, estrutural e fraturante.
Tudo tem de começar do princípio, mesmo que o princípio já o tenha sido vezes
sem conta.
Pode
ser que a serenidade do nosso selecionador nos contagie e que para lá do
resultado que conseguirmos nos ensine que o processo de conquista não é
milagroso nem repentino mas antes incremental e realista, muito dependente das
outras equipas e sujeito a erros de arbitragem mas, ainda assim, essencialmente
assente no nosso trabalho miudinho, diário e, quase sempre, pouco espetacular.
Só que é assim que, muitas vezes, também se fazem os campeões. Portugal, olé!
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