sábado, 30 de janeiro de 2016

Angola. SOMOS COVARDES, SOMOS TODOS COBARDES



Hoje, não tenho moral para preencher esta coluna. Me desculpem. Admito a condição de cobarde!

William Tonet*

Mas gostaria, se tivesse de ser, como a maioria dos políticos da oposição, eternos submissos e cúmplices, das “borradas” opressoras do regime actual, que desgoverna o país, covarde!

Talvez a dicotomia entre as duas palavras, enquanto substantivos comuns ou adjectivos não seja muita, melhor, não é nenhuma, salvo de covarde, aparentemente, ser mais chique, devido a origem francesa: couard.

OS POLÍTICOS SÃO COBARDES! OS DE PODER COVARDES!

Os da oposição, de Angola, neste momento, não se distinguem daqueles que têm enveredado por uma política de DITADURA, pese a “constituição jessiana”, textualizar o termo democracia, que, na prática, não passa disso mesmo, um sofisma, ou como diria o político português, Almeida Santos, um pedaço de papel, referindo-se aos Acordos de Alvor. Um vazio. Um nada, quanto a sua aplicabilidade, na vida do cidadão.

Daí a cobardia.

O país caminha para uma crise de dimensões imprevisíveis, com o desemprego a aumentar, todos os dias, com o fecho de fábricas e serviços, devido a falta de divisas, no sistema bancário, para as operações de aquisição de material e bens de reposição, minguando os stocks, reduz o emprego e a porta da rua, para o empregado, com uma Lei Geral de Trabalho, do tipo colonial, é a opção fácil.

E o que faz a oposição e os patriotas?

ACOBARDAM-SE!

Pese a crise, o país, assiste à fuga contínua de capital, liderada pela clique do poder, num montante semanal, a rondar os cerca de 380 milhões de dólares…

E a oposição e os patriotas, o que fazem?

ACOBARDAM-SE!

Assiste-se ao aumento vertiginoso do custo de vida, com a subida das propinas escolares, aumento do preço dos livros, das batas e uniformes, dos principais produtos alimentares, do combustível, para os geradores (maioria das casas não tem energia eléctrica da rede), e viaturas…

E o que faz a oposição e os patriotas?

ACOBARDAM-SE!

Mais grave, com a actual política discriminatória do sistema bancário, o regime lançou um sério recado aos filhos da classe intermédia e pobre: analfabetismo geral. O alto custo das propinas nas universidades públicas e privadas, quando os salários dos trabalhadores, estão baixos, obrigarão a uma tomada de opção dos encarregados de educação; ou a comida ou o estudo, logicamente prevalecerá a primeira.

Os que mantém os filhos no exterior, com a dificuldade no envio de remessas financeiras mensais, só uma opção lhes restará o regresso dos filhos, ficando a formação blindada aos filhos dos ricos e do poder…

E o que faz a oposição e os patriotas?

ACOBARDAM-SE!

Estando a justiça partidarizada e a Polícia instrumentalizada, fecha-se o pacote de uma urdida cabala, provocatória contra o povo e, na ausência de políticos ousados, comprometidos verdadeiramente, com as liberdades, a democracia e o sofrimento do povo, o poder poderá cair na rua, mais dia menos dia, com consequências imprevisíveis, face ao volume de balas nos arsenais do regime, sedentas de sangue inocente…

E o que faz a oposição e os patriotas?

ACOBARDAM-SE!

As tropas policiais, de fiscalização e militares continuam a roubar e a assassinar os ambulantes, diariamente, bem como as zungueiras, violentando-as na sua acção, que visa, contornar o desemprego dos maridos e filhos, bem como a fome que invade a maioria dos lares. Os jovens são presos injustamente, por quererem combater o analfabetismo, quanto a ditadura…

E o que faz a oposição e os patriotas?

ACOBARDAM-SE!

Políticos e intelectuais, como Isaías Samakuva, Abel Chivukuvuku, Ngola Kabangu, Sidiangani Mbimbi, Eduardo Kuangana, Filomeno Vieira Lopes, Marcolino Moco, Lopo do Nascimento e outros, ao invés de lerem os sinais dos tempos, abraçando políticas de contestação parlamentar e de rua, denunciando as arbitrariedades do regime, fecham-se nos casulos, acreditando que sozinhos, cada um com a sua piroga, conseguirá virar o submarino 40, da ditadura e corrupção. Deles os eleitores, não esperam a contínua frustração, face a uma política de veludo, mas um projecto de cidadania nacional, capaz de unir o comprometimento e sonho dos cidadãos, através de uma CDM – COLIGAÇÃO DEMOCRÁTICA DE MUDANÇA-, cujo símbolo, seria um coração, significando o amor, pelo povo, amor pela liberdade, amor pela independência, amor pela terra, amor pela justiça, amor pela igualdade, amor pela democracia, enfim, AMOR POR ANGOLA, que uniria todos, com os recursos de cada partido, de cada ONG, de cada democrata, de cada cidadão discriminado.

Uma coligação cidadã, capaz de resgatar a esperança popular dos angolanos.

Não conseguindo vislumbrar um cenário, que não seja de guerra, onde mais derramamento de sangue inocente, será eminente, eu me considero COBARDE!

*Folha 8, em Aqui Falo Eu

O LIVRE DIREITO À MANIFESTAÇÃO ESTÁ EM RISCO NO BRASIL



Artistas, professores universitários, ativistas e militantes sociais alertam: 'o livre direito à manifestação está em grande risco hoje no Brasil'.

Tatiana Carlotti – Carta Maior

Em repúdio aos sucessivos e truculentos episódios de repressão policial contra manifestantes nas ruas, eles lançam o Mani-f-esta livre!, denunciando ameaças em curso e propondo uma série garantias ao livre exercício da manifestação popular.

“O manifesto pretende expressar a voz da esquerda das ruas”, afirma o sociólogo Jean Tible, um dos signatários do documento. “Partindo da perspectiva de que o cidadão faz política no seu cotidiano, e não apenas no momento das eleições, nós colocamos em debate essa situação absurda, na qual as pessoas que reivindicam determinadas pautas acabam sendo reprimidas de uma forma totalmente violenta e antidemocrática”, explica.

Segundo o sociólogo, existe um consenso no atual momento político do país: “só teremos mais conquistas sociais e mais igualdade a partir da luta e das manifestações populares. A democracia das ruas é decisiva neste sentido”. Em contrapartida, “qualquer pessoa que faça uma manifestação, em qualquer lugar, vai se deparar com uma repressão desproporcional”.  

Entre os pontos defendidos pelo Manifesto está a proibição do uso de armas (letais ou menos letais) durante os atos populares. Além do livre exercício do trabalho de jornalistas, advogados, primeiros socorros e defensores legais durante as manifestações. “Defendemos o direito de cada cidadão de lutar sem correr o risco de “perder um olho, de sair com uma perna queimada. As pessoas estão sendo alvejadas por estarem lutando democraticamente”, denuncia Tible.

Repressão cotidiana

Além da denúncia da repressão policial contra os manifestantes, como os violentos episódios registrados na capital paulista, na última semana, durante o quinto ato público organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), o Mani-f-esta livre! repudia a cotidiana repressão das instituições policiais contra os cidadãos nas periferias e nos centros urbanos, nas florestas e no campo.

Tible destaca que uma das propostas apresentadas pelo Manifesto é, justamente, a reforma da polícia e a desmilitarização da Polícia Militar. “A violência da PM é cotidiana nas periferias e no campo. O número de mortes dos povos indígenas é altíssimo. A questão é ´como não ficamos chocados com o grau de violência produzida a todo momento?´”.

O documento defende, também, o fim imediato da criminalização dos movimentos sociais, posicionando-se contrário à Lei Antiterrorismo, em tramitação no Congresso Nacional; e contra qualquer uso da lei de organizações criminosas para enquadrar manifestantes.

Lei Antiterrorismo é um grande perigo

Destinado a tipificar o crime de terrorismo no país, o projeto de Lei Antiterrorismo, apresentado ao Congresso pelos ministérios da Justiça e da Fazenda, em junho de 2015. Frente à subjetividade do conceito de “terrorismo”, ele abre brechas na legislação brasileira para a criminalização de organizações e movimentos sociais no país.

Mesmo assim, o projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados, com a garantia de que lei não se aplicaria “à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, como objetivo de defender direitos, garantias e liberdades”.  

No Senado Federal, porém, o artigo que mantinha essa garantia foi retirado do texto original. As penas ficaram mais duras: 16 a 24 anos de reclusão para quem for enquadrado no crime de terrorismo; 24 a 30 anos caso o ato resultar em morte; e reclusão de 10 a 16 anos para quem recrutar, aliciar, organizar ou aparelhar pessoas para atos de terrorismo.

O projeto aguarda nova votação no plenário da Câmara.

“Essa lei é um grande perigo para as lutas a médio e longo prazo. Quem vai às ruas já está desfavorável diante do uso indiscriminado das forças de repressão, isso [Lei Antiterrorismo] pode aguçar mais ainda”, avalia o sociólogo. Citando as manifestações populares no Egito, nos Estados Unidos e na Argentina, Tible destaca que nos últimos anos “houve um levante de uma multidão mundo afora e, ao mesmo tempo, as leis e forças policiais em vários países se aguçaram”.

Longe das polarizações, aponta o sociólogo, o manifesto visa congregar as sensibilidades da esquerda brasileira para essas questões que dizem respeito ao livre direito de manifestação no país. Entre seus 500 signatários, conta Tible, estão “desde anarquistas a representantes de uma esquerda mais moderada”.

“Há também um peso bastante significativo do pessoal da cultura. Cineastas, músicos, pessoal do teatro, tanto que a lista é encabeçada pelo José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina”, complementa.

Confiram a íntegra do manifesto e cliquem aqui para a assiná-lo: Mani-f-esta livre!

“Está em grande risco hoje no Brasil um direito elementar e fundante dos direitos humanos, que define a qualidade e vitalidade das nossas democracias: o livre direito à manifestação.

Demonstrações diárias de uma inaceitável repressão: bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, gás de pimenta, balas de borracha e de chumbo assim como cercamentos são convocadas pelas instituições policiais, nas periferias e nos centros, nas florestas e no campo, usadas contra os cidadãos comuns, justamente aquelas e aqueles que estão lutando contra as cercas.

Em 13 de junho de 2013, uma certa editoria paulista (a folha) clamava por "retomar as ruas", isto é, tirar os manifestantes dela para que o fluxo "normal" dos carros motorizados e individuais retomasse a paisagem urbana. Nesse mesmo dia, a infeliz e brutal repressão à manifestação chamada pelo MPL virou o jogo na opinião pública. Desde então está em plena disputa a ocupação das ruas por manifestantes.

É nas ruas que os direitos são epicamente conquistados, desde o direito ao voto, o de realizar greves ou a abolição da escravidão. E é nas ruas que arrancaremos o combate às desigualdades, a reforma das polícias, o fim do extermínio da juventude negra, do etnocídio dos povos indígenas e do encarceramento em massa - e assim será também com o direito a um transporte público de qualidade, democrático e com o pleno direito às nossas cidades.

Por isso, defendemos:

- o livre exercício do trabalho de jornalistas, advogados, primeiros socorros e defensores legais nas manifestações;
- proibição do uso de armas (letais e menos letais) pelas forças policiais nas manifestações;
- reforma das polícias (com a desmilitarização da PM);
- o rechaço à lei anti-terrorismo, pelo seu caráter anti-democrático, e ao uso da lei de organizações criminosas para enquadrar manifestantes;
- o fim imediato da criminalização das lutas e dos movimentos sociais;
- o debate democrático sobre políticas públicas e a construção de decisões, sobretudo a respeito do transporte público."

Créditos da foto: Mídia Ninja

ABRIU A CAÇA AOS JOVENS NEGROS NO BRASIL. POLÍCIAS PODEM MATAR IMPUNEMENTE!




No “País Tropical”, no Brasil, polícias e outros racistas caçam negros e matam-nos como querem sem terem de prestar contas à justiça. Para esses racistas assassinos a impunidade é certa.

O que vai ser abordado a seguir é a imagem horrível do Brasil, casos que no dia-a-dia são acontecimento comum: andarem a assassinar pessoas só pelo seu tom de pele. Também pelo seu tom de pele é fácil terem por prémio a impunidade.

Parece que existe um pacto entre os assassinos executores e os superiores hierárquicos, cúmplices consentâneos que reservam a impunidade para os os “caçadores” (entenda-se criminosos) que incide sobre a caça a jovens afrobrasileiros. Até parece que querem extinguir os negros no Brasil. Loucura, desumanidade, racismo puro e duro que nem sequer envergonha os governos e outras altas instâncias alcandoradas no setor da justiça.

Mais um caso, entre tantos, que trazemos aqui ao PG em repescagem da revista Black Brasil. O que pode ler a seguir é motivo bastante para qualquer brasileiro se envergonhar e exigir justiça, mas a maioria parece que nem está nessa, nessa atitude. Caso para terem vergonha se não estivessem desprovidos desse e de outros sentimentos comuns à humanidade.

Redação PG / MM

PM Mata Estudante Negro Com Tiro Nas Costas E Diz Que Disparo Foi Causado Por Escorregão

“Não tenho dúvida. Ele veio para matar meu filho”, disse Ivani, a mãe de Allan, 17 anos, encontrada pela reportagem à porta de sua casa, chorando

Imagens da câmera de segurança instalada em uma casa do Jardim São João,periferia de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo), gravaram o momento da morte do estudante Allan Vasileski, de 17 anos, atingido com um tiro de pistola .40 disparado por um policial militar. O caso aconteceu na última sexta-feira (22/01).

O responsável pelo tiro é o soldado Melquíades Nascimento Dias, de 37 anos. Ao ser interrogado pela Polícia Civil, o militar afirmou que sua arma disparou e acertou as costas de Allan quando ele corria atrás do adolescente e “caiu bruscamente no chão, pois escorregou no piso molhado e acidentado” de uma viela.

As imagens mostram o momento em que Allan e um amigo, também adolescente, surgem correndo pela rua Raul Guerra. Ao se aproximar de um carro Fiat Palio Weekend, Allan tenta dizer algo para um homem que carrega uma criança, mas ele desaba no chão e bate a parte de trás da cabeça.

Na sequência, o soldado Nascimento, do 32º Batalhão da PM, surge nas imagens. Ele está com sua arma em punho. Ao ver Allan desabar, o homem com a criança se afasta e busca abrigo na frente do Palio. É quando o PM Nascimento chega até Allan, o vira, puxa sua blusa e percebe o ferimento do tiro nas costas do jovem.

O relógio da câmera marca 19h31 quando os primeiros moradores da rua Raul Guerra, logo após o barulho do tiro da .40 do PM Nascimento, começam a cercar o militar e imploram para que ele não deixe Allan morrer.

O PM Nascimento, segundo moradores do Jardim São João ouvidos pela reportagem, tentou, em um primeiro momento, dizer algo para incriminar Allan pela sua morte, mas foi logo repreendido pelos vizinhos do jovem, que viram quando ele apenas fugia da abordagem do militar.

Uma mulher que tentou ajudar Allan foi afastada pelo PM Nascimento ao mesmo tempo em que um menino, com uma camisa de time de futebol vermelha e também amigo do estudante, entra em desespero e coloca as mãos na cabeça ao vê-lo agonizando. Nesse momento, as imagens da câmera já não captam mais nenhum movimento de Allan.

Somente às 19h33, o também policial militar Edwilson Moreira Andrade de Sousa, 35 anos, companheiro de patrulhamento do soldado Nascimento, aparece nas imagens. É possível ver quando Nascimento se aproxima de Andrade e fala algo em seu ouvido.

Trinta segundos após chegar ao local onde Allan está caído, o PM Andrade volta para a mesma viela onde estava antes e deixa Nascimento sozinho. É quando uma vizinha do jovem se ajoelha perto de seu corpo e um morador começa a fazer imagens do militar com um telefone celular. O PM diz que Allan foi o culpado pelo tiro, mas logo os moradores o contestam.

De acordo com a mãe de Allan, Ivani Regina Vasileski, o jovem que acompanhava seu filho no momento da perseguição, e que também aparece nas imagens da câmera de segurança, contou que o PM fazia mira na direção dos dois jovens enquanto os perseguia.

PM liberado

Depois de ouvir as versões do PM Nascimento, de seu companheiro de patrulhamento e de mais dois PMs — também do 32º Batalhão e que nem estavam no Jardim São João quando Allan foi baleado —, o delegado Lourival Zacarias Noronha, da Polícia Civil, resolveu libertar o militar, enquadrado por homicídio culposo (sem intenção de matar).

Os PMs Nascimento e Andrade disseram ter ido ao Jardim São João, no início da noite de 22 de janeiro, após receberem denúncia de que um foragido da Justiça estava no bairro. Ao avistarem o grupo de jovens que conversava com Allan, os PMs tentaram abordá-los, mas o grupo se dispersou.

O PM Andrade disse também que dois homens, cada um em uma motocicleta, foram alcançados por ele no momento da abordagem ao grupo de jovens, mas que não anotou nenhuma informação sobre ambos porque ouviu o barulho de tiro vindo da direção para a qual o militar Nascimento tinha corrido e resolveu ajudá-lo.

O rapaz que acompanhava Allan no momento em que o jovem correu do PM Nascimento não foi encontrado para ser interrogado pela Polícia Civil.

Sem explicar o motivo de sua conclusão, já que o PM Nascimento não afirmou em nenhum momento que Allan tentou roubá-lo, o delegado Lourival Noronha fez a seguinte afirmação no registro da morte do estudante: “Vale ressaltar também a apresentação espontânea [do PM Nascimento]. A parte comunicou de pronto a polícia acerca dos fatos, viabilizando o socorro ao agressor lesionado, comparecendo e prestando as informações devidas nesta unidade policial, bem como exibindo sua arma de fogo, utilizada no revide contra o roubador”.

A Secretaria da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmim (PSDB), que tem à frente Alexandre de Moraes, informou, por meio de nota oficial, que o PM Nascimento está “recolhido disciplinarmente no 32º Batalhão”. Isso significa que ele ficará cinco dias no batalhão onde trabalha, sem poder ir para casa.

Ainda segundo a Segurança Pública, a Polícia Civil instaurou inquérito policial para investigar a morte de Allan e a Corregedoria da PM (órgão fiscalizador) acompanha o caso.



SER AFRO NO BRASIL: EXOTISMO DESPROPOSITADO OU AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA?



Natália de Santana Revi* - Afropress, opinião

Há no imaginário do Brasil que se acha europeu, mas que nunca o será, um grande pavor ao exotismo cultural, à forma como ele pode ser objeto do olhar curioso, fascinado e avaliador do estrangeiro, particularmente do hemisfério norte, quando o mundo quer apenas que o Brasil seja simplesmente BRASILEIRO dentro da sua rica diversidade cultural.

Esse pavor resulta, como o demonstram estudos pós-coloniais, da conotação negativa associada ao exotismo, presente na estratégia discursiva colonial que o ligava negativamente ao mito do bom selvagem, ao outro ameaçador ou ao outro visto meramente como objeto de desejo.

Vem este artigo na sequência do editorial da Afropress com o título "O racialismo não é saída, é cilada". Nele o editor desanca nos afrodescendentes que assumem suas origens ancestrais e a afirmam nas mais variadas formas, vendo-os como sujeitos de um "exotismo despropositado e folclórico".

Não vejo exotismo como algo de despropositado ou folclorizado na afirmação da componente AFRO no Brasil. O próprio termo folclórico, do qual o editor nítidamente se distancia, é apresentado de forma negativa, como se tratasse de algo inferior e baforento e não de narrativa positiva de significativa parte da cultura de um povo.

No Brasil não é narrado negativamente como exotismo e folclore a afirmação da eurodescendência manifestada em festas e eventos comemorativos de ancestralidades européias e feita cotidianamente no uso de expressões como "papai é português", "mamãe é italiana", vovô é "alemão", "vovó é francesa", "bisa era inglesa", "trisa era holandesa", e por aí a fora.

Foi precisamente o preservar da africanidade nas suas mais diversas expressões culturais que permitiu ao negro brasileiro resistir às marcas da escravidão, ao extermínio pelo embranquecimento e se diferenciar no contexto da brasilidade, se tornando em seu componente de identidade cultural mais vibrante.

É precisamente devido à conscientização da nossa diferença, em sequência de lutas vindas desde o primeiro rebelde escravizado que pisou o Brasil, que hoje estamos assumindo descomplexadamente as nossas origens afro e forçando para políticas de ações afirmativas inclusivas da plenitude de nossa cidadania.

Ser afrodescendente ou afro-brasileiro é uma condição de identidade cultural que não nega nossa brasilidade mas sim a valoriza, uma conscientização política de nossas origens, não uma opção.

Penso ter sido essa conscientização que esteve na origem da criação de AFROPRESS (não afro qualquer coisa!). Uma nação multirracial e multicultural como Brasil, apenas se fortalece se cada um tiver orgulho de suas raízes e as souber elevar, afirmar. 

O discurso de negação ou de diminuição da raça, como categoria social que existe, é perigoso e mais perigoso ele se torna quando, vindo de próprias lideranças negras porque abre espaço para o aprofundar do racismo e de intolerâncias como as que atingem cada vez mais as religiões de matriz africana.

Por fim, vejo como enganoso o debate sobre racialização. Confundir conscientização e afirmação da cor/raça, expressas em políticas afirmativas progressistas para corrigir erros históricos, com racialização é como confundir conscientização e afirmação de gênero com o discurso feminazi.

O foco do debate deve continuar centrado de forma crescente e permanente no RACISMO. Desviar o mesmo para a armadilha do discurso racialista é dar argumentos de mão beijada aos que, confundindo o conceito científico da não existência de raças, ou se aproveitando dele, apontam apenas o fator classe e negam a existência do racismo como outra das contradições fundamentais da sociedade capitalista brasileira, talvez a mais desumana.

* É escritora, produtora cultural, bailarina popular, mestranda pela Universidade de Londres

** Colaboração de Alberto Castro para PG

Brasil. TRABALHADOR NEGRO GANHA APENAS 59% DE NÃO NEGRO, DIZ BGE



Afropress, com informações da Uol Economia

S. Paulo – Trabalhadores negros (pretos e pardos) no Brasil ganham, em média, apenas 59,2% dos rendimentos dos trabalhadores não negros. É o que aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No caso das mulheres – alvos da discriminação de gênero – elas ganham, em média, 75,4% do rendimento dos homens.

Tanto no caso de negros quanto das mulheres, a situação apresentou leve melhora em relação a 2003, quando a Pesquisa começou a ser feita. Na época, o rendimento dos negros não chegava a atingir nem a metade dos brancos – era 48,4%. A diferença de salário entre brancos e negros/pardos diminuiu em 2015. Ainda assim, os trabalhadores negros ganharam, em média, 59,2% do rendimento dos brancos no ano passado.

Apesar de negativo, o resultado mostra um avanço em relação a 2003. A situação das mulheres no mercado de trabalho apresentou uma pequena melhora em relação ao levantamento feito em 2014, quando ganhavam em média 74,2% do salário dos homens.

Na população em geral, houve queda da renda: a média em 2015 foi de R$ 2.265,09, queda de 3,7% em relação a 2014. Foi a primeira baixa desde 2004, por conta do efeito da crise econômica que está sendo repassada para os mais pobres.

A pesquisa do IBGE é baseada nos dados das regiões metropolitanas de Recife, Belo Horizonte, S. Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Segundo o IBGE todas as regiões tiveram perda de rendimento dos trabalhadores, com destaque para Belo Horizonte (-4,6%), Rio de Janeiro (-4%) e S. Paulo (-4%).

A média de pessoas desempregadas no passado foi de 1,7 milhão, 42,5% maior que a do ano anterior: 1,2 milhão.

*Colaboração de Alberto Castro para PG

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