segunda-feira, 14 de março de 2016

MANIFESTAÇÃO NO BRASIL É TENTATIVA DE GOLPE PARLAMENTAR - Boaventura Sousa Santos



O sociólogo Boaventura Sousa Santos considerou hoje que as manifestações de domingo, que juntaram centenas de milhar pessoas contra o governo de Dilma Roussef, constitui "uma destabilização perigosa e configura um golpe parlamentar".

"O que estamos a assistir no Brasil é uma destabilização perigosa que não está a acontecer apenas no Brasil, mas que tem no Brasil uma violência muito especial e que no meu entender neste momento configura um golpe parlamentar", adiantou o sociólogo à agência Lusa, salientando que a intenção é provocar a saída de Dilma Roussef do governo.

No entender de Boaventura Sousa Santos, e de acordo com a constituição brasileira, Dilma Roussef só pode ser impedida de governar "se cometer um ato criminoso durante o seu mandato e, até agora isso não aconteceu".

De acordo com o responsável, na origem dos protestos está a "inconformidade das forças da oposição por terem perdido as eleições, facto que não aceitaram democraticamente".

"50 anos depois do golpe militar de 1964 em que houve uma forte intervenção estrangeira na destabilização do Brasil, eu suspeito que neste momento voltamos (...) a ter a ajuda de uma intervenção estrangeira, que está também presente na Argentina e Venezuela, refiro-me à interferência dos Estados Unidos", disse.

Na opinião de Boaventura Sousa Santos, os Estado Unidos "têm mostrado interesse em que a presidente Dilma deixe de estar à frente do Governo por razões que não têm nada a ver com a questão das politicas públicas, mas com as grandes reservas de petróleo do mar profundo não terem sido privatizadas".

Lusa, em RTP

PARA ONDE VAI O BRASIL?



Natália de Santana Revi – Afropress, opinião

O Brasil está vivendo um momento sócio-político interessante para ser estudado e devidamente analisado.

Um país extremamente desigual onde meritocracia virou regra, como se todos tivessem direito às mesmas oportunidades.

Onde pobre virou sinônimo de vagabundo.

Onde programa social, para ajudar os miseráveis, virou sinônimo de estímulo ao comodismo.

Onde cota racial é visto como racismo ao reverso, se isso existe.

Onde um único negro que chega ao Supremo é visto como regra geral, cada um pode "chegar lá".

Onde afirmar afrobrasilidade é negar brasilidade.

Onde direitos trabalhistas dado às empregadas domésticas é visto como uma ameaça à elite acostumada com servidão dos tempos de colônia.

Onde aeroporto, para as elites está muito popular, virou rodoviária.

Onde filhinho de papai se acha no direito de chamar Chico Buarque de merda.

Onde nordestino ainda é visto como a escória do Brasil.

Onde o Congresso Nacional virou palanque de igreja evangélica.

Onde traficante vira evangélico e fecha Terreiros.

Onde seguidor de religiões de matriz africana levam pedrada na cabeça.

Onde professor apanha e aluno não tem direito à educação de qualidade.

Onde Direitos Humanos é "direito dos manos".

Onde muitos pensam que a maioridade penal vai acabar com a violência crônica no Brasil.

Onde o médico não quer trabalhar no SUS ou ir à áreas remotas, mas quer impedir quem vem de Cuba para suprir a demanda.

Onde ser a favor do casamento gay é ser contra a "tradicional família".

Onde ser estuprada ainda é culpa da mulher.

Onde certos políticos não aprendem a perder.

Onde um Lobão é o rei dos coxinhas.

Onde um único partido virou o único corrupto da história do Brasil.

Onde o presidente que mais trouxe mudanças sociais e promoveu inclusão no país é o maior vilão da história e quase que tem de pedir perdão por não ter diploma universitário.

Onde, onde vais parar meu Brasil?

Brasil. LULA E A AVENIDA PAULISTA: REPACTUAÇÃO OU GOLPE?



De diferentes ângulos da economia e da democracia emergem avisos de saturação. É hora de renegociar o desenvolvimento. O resto é arrocho. Ou golpe.

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

Duas tentativas seguidas de prender Lula em um intervalo de menos de uma semana (Moro, em 04-03; Conserino, em 10-03).

Invasão de uma plenária do PT no sindicato dos metalúrgicos de Diadema nesta 6ª feira, 11/03, por destacamento da PM fortemente armado.

Ataques com pichações nas sedes da UNE e do PCdoB.

Ataques a sites progressistas, tirando-os do ar, a exemplo do que ocorreu com a página de Carta Maior e do site Vermelho.org (do PCdoB) desde a madrugada deste domingo estendendo-se ao longo de quase todo o dia.


Editoriais de órgãos de imprensa, a exemplo do Estadão, mimetizando o ‘Basta’ do Correio da Manhã, de 31 de março de 1964.

Engajamento de entidades empresariais convocando marchas pelo golpe nas grandes capitais do país neste domingo…

Manifestação monstro da classe média  na Paulista, ocupada, segundo o Datafolha, por 77% de brancos c/ curso superior, sendo 37% c/ renda acima de 10 salários, incluindo-se 12% de empresários e apenas  5% de jovens com idade entre 21 e 25 anos, o que depõe contra a liderança de Kim Catupiry...

Um clima predominante de ‘que se vayan todos’, o bordão da Argentina em 2001, transbordou do fermento golpista inoculado diuturnamente na opinião pública pela mídia e o conservadorismo e revelou a meleca produzida pela associação Moro & mídia.

A massa assim sovada voltou-se contra todos, inclusive os pseudo savonarolas que pretendiam lidera-la. Alckmin e Aécio xingados de filho da puta, ladrão etc tentaram faturar o ato e foram escorraçados da Paulista. Serra ficou nas ruas laterais e fugiu depressa...

O relógio da história apertou o passo no Brasil.

Os ponteiros apontam para um golpe, tenha isso a forma que tiver.

Moro ou Conserino, não importa o quão patético seja um e bonapartista se avoque o outro: as disputas entre facções e centuriões para saber quem arrebatará o troféu do butim – a cabeça de Lula e o mandato de Dilma-- não mudam a qualidade do enredo.

Ingressamos em um período em que os fatos caminham à frente das ideias.

De diferentes ângulos da economia e da democracia emergem avisos de saturação estrutural.

Um ciclo de desenvolvimento se esgotou; outro precisa ser construído. Quem o conduzirá: a democracia ou um regime de força?

O desgaste intrínseco a essa transição foi catalisado e propositalmente radicalizado pela ação de um conservadorismo inconsolável com a derrota de 2014 . Mas em certa medida também pelas hesitações, recuos e equívocos de subestimação do governo diante da travessia que se desenhava

O conjunto acelerou o passo da história e conduziu ao impasse em que chegamos.

Massas de interesses antagônicos transbordam agora pelos anteparos que separam a democracia de uma regressão autoritária.

A indivisa conjunção entre justiça e política nas ações da Lava Jato –com um Bonaparte incensado pela mídia-- reflete essa dissolução, reafirmada nas palavras de ordem trazidas às ruas e nas manchetes sulforosos deste domingo de março, 52 anos depois daquele de 1964.

Vive-se a antessala de uma nova ruptura, decorrente da incapacidade da democracia brasileira para inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento.

A questão do desenvolvimento volta assim, a exemplo de 1954, a ser encarada como uma questão de polícia.

Um segmento influente da sociedade –a classe média branca da Paulista, deliberadamente entorpecido pela emissão conservadora e pelos interesses que ela representa, quer ordem. Ou o que isso realmente significa: privilégio e segurança, oferecidos por quem puder dar.

Em 64 quem se ofereceu foi a farda e o choque elétrico.

As respostas progressistas que insistirem em ter como referência o Brasil pactuado nas urnas de outubro de 2014 serão engolidas pelas trincas dessa fissura em expansão.

Aquele Brasil não existe mais; embora os desafios sejam qualitativamente os mesmos –a quantidade mudou a qualidade: as respostas terão que ser repactuadas, se não pelo golpe (opção à Paulista), por uma reordenação negociada.

Não é fácil: trata-se de  recuperar a credibilidade da democracia como mediadora confiável e competente da sorte da sociedade e do destino do seu desenvolvimento.

Há pouco tempo e não se pode errar. É preciso falar uma língua inteligível, com uma mensagem encorajadora e coesa. Esse é um requisito para começar o jogo:  redesenhar a organização atomizada do campo progressista e aglutinar direções ainda desprovidas de um comitê coordenador que se expresse de forma crível e acessível.
Mas, sobretudo faze-lo a tempo de agir.

O timming é um dos protagonistas decisivos da crise. O que hoje reverteria um golpe amanhã já pode ser obsoleto.

Os que ainda hesitam devem pesar o custo de sua autopreservação na balança da história.
A troca do sectarismo por uma frente ampla progressista mudaria a correlação de forças nas ruas.

Um comando unificado ampliaria a margem de manobra para repactuar as bases do desenvolvimento, sem retrocesso democrático.

Egos e xiliques de quem se acha fadado à posteridade devem ser contidos: trata-se do futuro da nação; de décadas talvez.

Afogar-se abraçado a esquematismos escravizantes  será  a punição da história à inação radical.

Disputar a sorte do país com o golpe, porém, não significa iludir a sociedade com a hipótese de  consensos entre interesses antagônicos.

Ao contrário, trata-se de resgatar o papel pedagógico da democracia como mediadora dos conflitos do desenvolvimento. Ou isso, ou a lógica do ‘que se vayam todos’predominará e um Bonaparte –fardado ou na versão ‘o Mercado’, vencerá.

Quando nenhum dos lados do conflito social dispõe de força e consentimento para impor a sua hegemonia, a alternativa ao limbo corrosivo consiste em trazer as pendências para uma mesa de repactuação da sociedade.

Apesar do alarido massacrante da mídia e da Paulista por soluções autoritárias, ainda é disso que se trata.

Estamos falando de metas, salvaguardas e concessões politicamente negociadas em grandes câmaras setoriais, com lideranças, partidos, sindicatos e movimentos; que preservem direitos e hierarquizem conquistas; que fixem compromissos para preços e salários; para o emprego e o investimento; para o juro e o equilíbrio fiscal; para a produtividade e o PIB; que estabeleçam parâmetros de curto, médio e longo prazo para a retomado do investimento, do crédito e da infraestrutura, socializando macrodecisões, de modo a assegurar um fôlego persistente à demanda agregada que alimenta o crescimento.

Estamos falando em retirar a sociedade brasileira da areia movediça em que se encontra e para a qual não há alternativa na ‘ciência econômica’ vendida pelos charlatões do mercado.

Ninguém tem tanto interesse nisso quanto as famílias assalariadas e os milhões de brasileiros pobres que avançaram pela primeira vez da soleira da porta para ingressar no mercado e na cidadania a partir de 2003.

A economia brasileira não tem problemas insolúveis.

Ao contrário, dispõe de alavancas potenciais –mercado interno, pré-sal, agronegócio e fronteira de infraestrutura —para assegurar uma reordenação bem sucedida de ciclo de crescimento.

Esta não ocorrerá, porém, espontaneamente ou pelo livre curso do mercado.

É necessário um novo arcabouço político à altura das tarefas postas pela transição em curso.
Duas ilusões devem ser afastadas nesse percurso.

Uma delas manifestou-se com força na avenida Paulista e em outros pontos do país neste domingo, que alguns querem transformar em um divisor de água superior aos 54,5 milhões de votos recebidos por Dilma em 2014.

Ou seja, a ilusão de que um novo 1964 pode ‘salvar o Brasil’.

Ainda que um pedaço da mídia e das elites  propugnem  o inaceitável como uma questão de ‘botar gente na rua’, o fato é que inexistem as condições históricas para repetir um ciclo de expansão ancorado no arrocho instituído após o golpe de 1964.

Da mesma forma, os desafios latejantes do país hoje não serão equacionados por uma nova onda de privatizações ‘redentoras’, como querem alguns expoentes do simplismo entreguista –a exemplo de Serra com o pré-sal.

Em 1964, a transição rural/urbana impulsionada pela ditadura militar criou uma irrepetível válvula de escape para o regime e para as contradições violentas de uma sociedade que já  não cabia mais no seu desenho elitista.

A modernização conservadora do campo implementada pelos militares a ferro e fogo deslocou cerca de 30 milhões de pessoas do campo para as periferias dos grandes centros urbanos em duas décadas.

Nenhum país rico concluiu essa transição em tão curto espaço de tempo. A ditadura ganhou um trunfo não desprezível de mobilidade social para os miseráveis, que amorteceu as tensões de sua política excludente. Mas gerou um custo brutal, ainda não liquidado: semeou periferias conflagradas e cidades sem cidadania, nem infraestrutura por todo o país.

Hoje o Brasil figura como a nação mais urbanizada entre os gigantes do planeta, com 85% da população nas cidades.

As periferias estão saturadas; as cidades rugem por melhores condições de vida; a carência de serviços de saúde, educação, transporte e lazer catalisa a agenda do passo seguinte da nossa história.

O conjunto requer uma dinâmica de gastos fiscais e de ação democrática do Estado incompatível com um regime semelhante ao que usou o êxodo rural dos anos 60 para ‘modernizar’ e a tortura para calar.

Hoje não há fronteira geográfica ‘virgem’ para amortecer a panela de pressão no interior do espaço urbano’. E tampouco no campo: a luta pela reforma agrária agora terá que reinventar-se em torno da agroecologia para simultaneamente produzir alimentos e cidadania e preservar os recursos que formam a base da vida na terra. É ainda mais complexa que a mera realocação de excedentes populacionais. Requer Estado e democracia com amplo debate social.

Uma ditadura de bolsonaros ou moros não tem a sofisticação que esse passo da história exige

Erra  mais quem imaginar que  esse estirão pode ser resolvido com a mera entrega do que sobrou do patrimônio público –a exemplo do que seria o programa de um governo do PSDB, tolamente martelado pelo colunismo econômico rastaquera.

Privatizações, na verdade, concentram ainda mais a renda; definham adicionalmente o já enfraquecido poder indutor do Estado. Aprofundam o oposto do que o país mais precisa hoje.

A fronteira que resta a desbravar é a do desenvolvimento inclusivo – que também requer um modelo distinto daquele seguido nos últimos 12 anos, esgotado.

A conjunção favorável de cotações recordes de commodities, farta liquidez internacional e forte expansão do comércio, e câmbio valorizado, não ressurgirá tão cedo.

Ela favoreceu um entroncamento de intensa circulação de capitais na economia brasileira –parte especulativo-- que viabilizou a redistribuição de um pedaço do fluxo novo dessa riqueza na forma de ganhos reais de salários, políticas sociais emancipadoras, pleno emprego, crédito ao consumo e maiores oportunidades à juventude.

O Brasil mudou para melhor mas a travessia ficou inconclusa e manca: imaginou-se tragicamente que as gôndolas dos supermercados irradiariam mudanças automáticas na correlação de forças, sem o necessário engajamento do novo protagonista social.

Hoje, o fluxo novo de riqueza capaz de favorecer a conclusão do processo  nessa mesma direção é o pré-sal.

A classe média da Paulista não sabe porque não é informada pelos seus colunistas de estimação.

Mas é no fundo do mar que se encontra a brecha histórica capaz de conduzi-la a viver um dia em uma sociedade mais segura, um país educado e convergente --sem que para isso seja preciso uma revolução sangrenta, ou um novo golpe de Estado.

Se o regime de partilha não for revogado, como quer Serra, no médio e longo o Brasil terá condições de assegurar aos seus 204 milhões de habitantes um padrão digno de saúde pública e uma educação gratuita de boa qualidade, ademais de dispor de um derradeiro impulso industrializante para sanar seu hiato de alta tecnologia, empregos de qualidade e competitividade internacional.

As urgências do presente, porém, não podem esperar pelo fluxo incremental da riqueza de longo prazo que esse horizonte promissor assegura – e isso não é pouco em termos de margem de manobra numa repactuação. Mas o fato é que a mitigação imediata da travessia inconclusa  terá que ser contemplada pela taxação da ‘riqueza velha’: o patrimônio já sedimentado no alto da pirâmide de renda.

Os alvo são as grandes fortunas, os bancos, os dividendos, os lucros financeiros, as remessas e demais ganhos de capitais.

Há opção a isso: o caos de um novo golpe.

A reedição de um novo ‘1964’ exigiria uma octanagem fascista drasticamente superior à original, para prover o aparelho de Estado do poder de coerção capaz de devolver a pasta de dente ao tubo.

Ou seja, comprimir o ensaio de mobilidade social do ciclo petista de volta aos becos e barracos de periferias desprovidas de presente e de futuro.

E é sob esse pano de fundo que –apesar do novo degrau conservador escavado neste domingo--  a participação de Lula em um ministério do governo Dilma mantém a sua pertinente atualidade.

Não se trata de blindar o ex-presidente da matilha que o enxerga como troféu de caça da grande obra morista.

Mas de blindar a nação de aventuras nefastas. E, sobretudo, de devolver à negociação democrática o papel de parteira do novo ciclo de crescimento com universalização de direitos que o caldeirão brasileiro requer.

Para isso é preciso mobilizar as forças e interesses que, a contrapelo do fervor golpista, enxergam os riscos –mas também as oportunidades— da encruzilhada atual.

Lula pode ser a peça-chave na construção desse pacto, desde que à frente de um ministério que prefigure a pluralismo capaz de devolver à sociedade  o comando do seu destino. 

Nunca é demais recordar, era assim que Celso Furtado descrevia o sentido profundo da palavra desenvolvimento, indissociável –no seu entender-- de democracia, soberania, engajamento e justiça social.

O resto é arrocho, recessão ou golpe –por mais que as transmissões edulcoradas mitifiquem o que se passou nesse domingo na Paulista.Essa é a escolha que país terá que fazer nos dias que rugem.
 
A ver.
  

Brasil. OS DERROTADOS NAS URNAS QUEREM GANHAR PELO PODER E NÃO PELO DIREITO



A política deles não é feita de projetos políticos, é algo mais perverso: a vontade de destruir Lula, de liquidar o PT e colocá-lo contra o povo.

Leonardo Boff* - Carta Maior

No emaranhado das discussões atuais relativas à corrupção importa desocultar o que está oculto e que passa desapercebido aos olhos pouco críticos. O que está oculto? É a vontade persistente dos grupos dominantes que não aceitam a ascensão das massas populares aos bens mínimos da cidadania e que querem mantê-las onde sempre foram mantidas: na margem, como exército de reserva para seu serviço barato.

A investigação jurídico-policial dos crimes na Petrobrás que envolve grandes empreiteiras e o PT envolve também muitos outros partidos, o  PPS, o PMDB e o PSDB, beneficiados com subsídios e propinas para suas campanhas. Por que ela  é conduzida de forma a se centrar unicamente nos membros do PT? O objetivo principal parece não ser a condenação  dos malfeitos, que obviamente devem ser investigados, julgados e punidos. Mas o PT não está sozinho nesse imbróglio. A maioria dos grandes partidos estão metidos nele. Qual deles não recebeu milhões da Petrobrás e das empreiteiras para suas campanhas? Por que o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sergio Moro não os investiga já que pretende limpar o pais? Algum desses candidatos vendeu sua casa de campo, seu sítio ou algum bem para financiar sua campanha milionária? Financiaram-se pelo caixa 2 ilegal mas tido como prática corrente na nossa democracia  de baixíssima intensidade. 

É ingênuo e enganador pensar que estas instâncias, inclusive os vários níveis da justiça nos seus mais altos escalões não venham imbuídos de intenções e de ideologia. Que nos digam os clássicos da ideologia como Jürgen Habermas e Michel Foucault que demonstraram não haver nenhum espaço social imune a interesses e por isso ao discurso da ideologia  e que não seja movido por algum propósito. É próprio do discurso ocultador dos golpistas enfatizarem a completa independências destas instâncias e seu caráter de imparcialidade.  A realidade do passado e do presente revela bem outra coisa. 

Um determinado propósito ideológico dos vários órgãos de poder vinculados ao poder  policial, jurídico e das supremas cortes articulados com meios de comunicação privados de âmbito nacional, de reconhecido caráter conservador, quando não reacionário e antipopular, serviria de laço de ligação entre todos com a intenção de garantirem certo tipo de ordem que  sempre os beneficiou e que agora com o PT e aliados  foi posta em xeque.   

Por que a tentativa sistemática de desmontar a figura de Lula, levado sob vara para depor na PF, depois de tê-lo feito antes por três vezes?  É a vontade perversa de destruí-lo como referência para todos aqueles  que veem nele o político vindo dos fundões de nosso país, sobrevivente da fome e que, finalmente, com seu carisma, galgou o centro do poder. Ele conferiu a coisa mais importante para uma pessoa: sua dignidade. O povo sempre era  tido pelos donos do poder como  Jeca-Tatu, plebe ignara e rebotalho. Sofrido, cansou de ver frustrada sua esperança de melhorias mínimas. A conciliação entre as classes, tônica de nossa sociedade política, sempre foi para aplainar o caminho dos grupos poderosos e negar benefícios ao povo. Com o PT houve uma inflexão neste lógica excludente.

Agora vem à tona o mesmo propósito das classes que não aceitaram que, um dia, foram apeadas do poder. Querem voltar a qualquer custo. Dão-se conta de que, pela via eleitoral não o conseguirão, por causa da mediocridade de seus líderes e por falta de qualquer projeto que devolva esperança ao  povo, súcubos que são do poder imperial globalizado. Querem consegui-lo manipulando as leis, suscitando ódio e intolerância como nunca houve nesta proporção na nossa história. É a luta de classes, sim. Esse tema não é passado. Não é invenção. É um dado de realidade. Basta ver o que se diz nas mídias sociais. Parece que a boca do inferno se abriu para o palavrão, para a falta de respeito, pela vontade de satanizar o outro.

A política não é feita de confronto de ideias, de  projetos políticos e de leituras diferentes de nossa situação de crise que não só nossa mas do mundo. É algo mais perverso: é a vontade de destruir Lula, de liquidar o PT e colocá-lo contra o povo. Temem que Lula volte paracompletar as políticas que foram boas para as grandes maiorias e que lhe deram consciência e dignidade. O que os donos do poder mais temem é um povo que pensa. Querem-no ignorante para poder dominá-lo ideológica e politicamente e assim se garantir no privilégio.

Mas não o conseguirão. São tão obtusos e sem criatividade em sua fome de poder que usam as mesmas táticas de 1954 contra Vargas ou de 1964 contra Jango. Tratava-se sempre de deter os reclamos do povo por mais direitos, o que implicava a redução dos privilégios e uma melhora da democracia. Mas os tempos são outros. Não vão prosperar pois já há um acúmulo de consciência e de pressão popular que os levará à irrisão, não obstante seus porta-vozes midiáticos, verdadeiros “rola-bosta” que recolhem o que acham de ruim para continuarem a mentir, a distorcer, a inventar cenários dramáticos para desfalcar a esperança popular  e assim alcançar seu retorno com a força e não com direito democrático.  Porém “no,  no pasaran”...

*Leonardo Boff, não é filiado ao PT mas interessado nos destinos dos mais sofridos de nosso pátria que o PT ajudou a tirar da miséria.

Créditos da foto: Agência Brasil

Brasil. CARTA ABERTA AO JUIZ MORO



Como a dita grande imprensa, notoriamente aquela que opera pela deposição do governo Dilma, sabe de todas as ações com antecedência?

Prezado Juiz Sérgio Moro,

À delicada situação política e econômica vivida pelo Brasil acrescenta-se agora uma espiral de  insegurança jurídica, conforme a percepção de um leque ecumênico de respeitáveis vozes do Direito, a exemplo de Marco Aurélio Mello, Fábio Konder Comparato e Celso Bandeira de Mello.

Os acontecimentos da última sexta-feira, 4 de março, envolvendo um ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e um nebuloso convite para depor, ameaçam empurrar essa percepção de insegurança para uma situação de fato, de consequências imprevisíveis num ambiente político por si só já polarizado e de crispação ascendente das ruas.

Manifestações previstas para esta semana impõem a autoridades de diferentes esferas, e sobretudo às envolvidas diretamente nos processos que dividem a opinião pública, uma postura serena, responsável e equidistante. 

Nesse sentido, faz-se necessário um esclarecimento límpido e transparente, de quem de direito, sobre a condução das investigações em curso, envolvendo o ex-presidente Lula.

Listamos abaixo algumas questões que têm sido objeto de polêmica em relação ao episódio da última sexta-feira, e cujo esclarecimento certamente contribuiria para desanuviar o debate democrático da indesejável opacidade acrescida pelo componente jurídico.

Somente o senhor pode dar essa contribuição e recusa-la, desde já, será igualmente entendido como uma resposta.

1) - Juiz Moro, a investigação que envolve o ex-Presidente Lula, está tramitando em Segredo de Justiça?

2) - Se sim, como é possível que vários veículos de comunicação já soubessem que a diligência iria ocorrer e nos mínimos detalhes?

Tanto isso é verdade, que o diário 'Folha de SP', fez matéria (edição do dia 05/03/2016)  jactando-se de que sua equipe já se encontrava em frente ao prédio onde reside o ex-presidente, por volta das 5:15 hs da manhã do dia 04/03. A Polícia Federal chegou às 5:40 hs.

3) - Consta, ademais, que o deputado Jair Bolsonaro, igualmente contemplado com o dom da paranormalidade que acomete certas redações, já se encontrava logo cedo diante da Polícia Federal de Curitiba, acompanhado de um grupo de fogueteiros, aguardando a chegada de Lula, conduzido desde SP.

Pode o senhor esclarecer esse fenômeno?

4) - Alega o Ministério Público Federal  que houve vazamento da operação e que investigações vão apurar as responsabilidades. Sustenta-se, inclusive, que esse vazamento teria possibilitado a retirada de documentos do Instituto Lula.

5) - Ora, se a Folha de São Paulo sabia, se helicópteros de veículos da mídia monopolista sobrevoavam o local muito cedo, se Bolsonaro sabia, se um repórter da Época, um dos videntes mais assanhados do que se passará na Lava Jato, postou mensagem cifrada em seu Twitter às 2 da madrugada do dia 04/03 antecipando a operação;  cumpre pedir-lhe que se esclareça:

Afinal, de onde se vaza, quem vaza, com que objetivo se vaza?

6) - Se o senhor reiterar que a investigação é sigilosa, bem aí o povo brasileiro tem o direito de saber e o senhor tem o dever de informar:

Como a Globo, neste domingo, dia 6 de março, veiculou reportagem de cerca de 15 minutos com trechos do relatório dos agentes que conduziram a operação envolvendo o ex-presidente Lula?

7) - Parece incontornável admitir-se que se o processo estava em segredo de justiça, não está mais.

8) - Aquilo que tem sido contumaz nas investigações da Lava Jato parece ter se repetido no caso da investigação em curso do ex-Presidente Lula também.

Ou seja, a dita grande imprensa, notoriamente aquela que opera pela deposição do governo Dilma, sabe de todas as ações com antecedência que precede a própria ciência dos investigados, ademais de escarnecer dos profissionais do Direito, humilhados no acesso aos autos, apenas e tão somente  através dos trechos filtrados pelas redações de confiança da Polícia Federal.

É tamanha a desordem jurídica neste caso que o bordão "Exclusivo: dados reservados da Lava Jato" já se tornou quase uma editoria fixa na mídia embarcada nas investigações.

Perguntamos: se isso não gera insegurança jurídica, o que mais gera?

9) - Para o bem do país, para que todos possam se sentir iguais perante a lei, como deveria ser a norma, solicitamos o que já deveria ter sido providenciado como salvaguarda da isenção jurídica diante das sombras que envolvem a sua atuação na Lava Jato:

a) -  a publicação de todas as informações constantes da investigação indigitada, no site da Justiça Federal, do Ministério Público e da Policia Federal de Curitiba/Paraná, onde especialmente conste:

b) -  o requerimento do Ministério Público Federal;

c) -  o despacho na íntegra que V. Exa., Juiz Moro, prolatou, determinando as diligências levadas a efeito no dia 4 de março de 2016;

d) - o mandado expedido por ordem de V.Exa,  bem como a íntegra do relatório dos agentes que cumpriram a referida ordem judicial no dia 04 de março, na residência  do ex-presidente Lula e nos demais locais que foram também objeto da determinação por esse Juízo.

Vossa Excelência merece de todos os brasileiros o devido respeito como autoridade constituída. A Constituição e as leis brasileiras assim o determinam, portanto, de antemão, declaramos que prestar esses esclarecimentos não é uma concessão, tampouco uma rendição.

Apenas é um direito do POVO BRASILEIRO, afinal é para ele que os Poderes Constituídos devem obediência.

Fórum21: Idéias Para o Avanço Social – em Carta Maior

MARCOS DUM CAMINHO LONGO EM COMUM



  
1 – Perante uma série de entidades convidadas, entre elas o MPLA, a Organização da Mulher Angolana, a Organização dos Pioneiros Angolanos, a Associação de Amizade Angola – Cuba, a Associação Tchiweka de Documentação, a Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos(LASP) e a Associação da Comunidade dos Cubanos Residentes em Angola, a Embaixada de Cuba em Luanda pela primeira vez deu a conhecer o programa das principais actividades de homenagem e recordação de datas históricas previsto para o corrente ano de 2016.

Em anos anteriores e praticamente desde a sua instalação há pouco mais de 40 anos que a Embaixada de Cuba vinha assinalando marcos históricos comuns a Cuba e Angola, traços da epopeia de libertação de África do colonialismo e do “apartheid”, mas é a primeira vez que é feito um programa conforme os termos do presente, algo que de facto se fazia sentir como necessário, tendo em conta que as actividades são preenchidas em diversos locais históricos no imenso espaço angolano e haver sempre muitos angolanos desejosos de participar.

O programa para 2016 será aberto na Província do Kwanza Sul e encerrado na mesma Província:

- Homenagem aos heróis da Batalha do Sumbe, em Março; 
- Homenagem aos heróis da Batalha do Cuito Cuanavale, em Março; 
- Celebração do 26 de Julho, Dia da Rebeldia Nacional de Cuba (assalto ao quartel Moncada); 
- Homenagem aos heróis da Batalha de Cangamba, em Agosto; 
- Aniversário do Comandante em Chefe, com exposição fotográfica “Fidel é Fidel”, por ocasião do 90º aniversário do Comandante em Chefe, em Agosto; 
- Celebração do 41º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Angola e Cuba (com caminhada pela Marginal de Luanda), em Novembro; 
- Acto no Hengo, Ebo, por ocasião do 41º aniversário da morte do Comandante Raúl Diaz Arguelles, em Dezembro.

2 – O programa salienta alguns marcos comuns, mas é evidente que não haverá mês algum sem que haja muito e muito mais para se lembrar, se tivermos em consideração que particularmente desde a epopeia da Operação Carlota que no meu entender se prolonga até aos nossos dias por via dos esforços na luta contra o subdesenvolvimento em Angola, (principalmente no que à educação, à saúde e à construção diz respeito), há imensas realizações e pequenas-grandes vitórias que são referências para os dois povos irmãos.

O exemplo do internacionalismo e da solidariedade cubana, foi por outro lado e além do mais alentador para que da parte não só dos países socialistas, mas também de outros países da Europa (incluindo Portugal) e de África, nas décadas de setenta e oitenta, muitos outros viessem dar o seu contributo inestimável a Angola, nos momentos mais decisivos do parto e da afirmação da independência.

3 – Inclui o programa deste ano para Março uma Homenagem aos heróis da Batalha do Sumbe que ocorreu a 24/25 de Março de 1984.

Os batalhões 517, 513, 360 e duas colunas regionais das FALA fortemente armados atacaram então a capital Provincial, vindo a encontrar resistência em torno do Palácio do Governo Provincial (tomado o resto da cidade) por parte de militares e civis angolanos e cubanos (este pertencentes às brigadas civis que compunham contingentes vocacionados para a educação e a construção, além duns poucos assessores cubanos do MINSE).

Por parte daqueles que defendiam o Sumbe em fidelidade à República Popular de Angola, morreram 97 combatentes, entre eles 7 internacionalistas civis cubanos.

Junto à Catedral do Sumbe está erguido um singelo monumento em homenagem aos defensores, onde se realizam todos os anos as cerimónias de homenagem que juntam angolanos e cubanos.

Os batalhões 517, 513, 360 e duas colunas regionais derivaram após terem sido rechaçados, em direcção aos Dembos, onde viriam a sofrer copiosa derrota por parte das unidades das FAPLA e da LCB do MINSE, cujo comando havia sido instalado na barragem das Mabubas, próximo de Caxito.

Acantonados na antiga fazenda Raínha Santa, pertencente à família de Amílcar Augusto de Oliveira Dias (detido, julgado e condenado no processo 105/83 por tráfico ilícito de diamantes), entre os rios Quiúlo, Gangueje e Menoege afluentes da margem direita do Zenza, as forças invasoras seriam derrotadas, destacando-se o camarada Tuaxicana que na Iª luta de libertação fora comandante do Destacamento Deolinda da Zona C da Iª Região Militar do MPLA e um dos membros das colunas que o MPLA providenciara em socorro dassa Região.

O camarada Tuaxicana morreu durante os combates, numa altura em que estava integrado nas forças da Luta Contra Bandidos do MINSE, sob comando do camarada capitão Kito…

O plano desses batalhões das FALA correspondia a operações secretas dos organismos de inteligência ao serviço do “apartheid” (BOSS/NIS), que infiltraram previamente em Angola o Amílcar Augusto de Oliveira Dias com o fito de reactivar nos locais da fazenda Raínha Santa o sistema de apoio e de logística das forças invasoras que na rota para os Dembos haviam atacado previamente o Sumbe.

Detectado em Luanda ele acabaria por ser detido no âmbito do processo 105/83…

Muitos dos combatentes das FAPLA e do LCB que participaram nos combates encontram-se ainda vivos, inclusive o camarada capitão Kito e todos eles fazem parte do que tenho referido como“MPLA das catacumbas”…

O camarada capitão Kito, tal como o camarada capitão António Carlos morto em combate no Huambo a 9 de Julho de 1984, tornaram-se militantes do MPLA em Assembleias presididas pelo camarada Lúcio Lara, durante o Movimento de Rectificação no âmbito da organização do MPLA – Partido do Trabalho…
  
4 – Para que se tenha a noção da polarização do campo português em relação a Angola o rapto dos cooperantes portugueses no Sumbe, a 24 de Março de 1984 é esclarecedor.

A professora portuguesa Dora Martins da Fonte e seu esposo António Luis Correia, que davam aulas no Instituto Nacional de Petróleo no âmbito da Cooperação Portuguesa, foram raptados a 24 de Março de 1984, durante a noite do ataque ao Sumbe e levados sob escolta armada para a Jamba.

A camarada Dora Fonte escreveu a propósito o livro “O Rapto”, uma autêntica radiografia da tenebrosa organização às ordens de Savimbi, um dos “freedom fighters” da era de Ronald Reagan, tal qual os “contras” na Nicarágua e dos “mujahidin” como Bin Laden no Afeganistão…

Sobre seu livro escrevi no Facebook: "Li o livro e acho que ele acaba por ser um testemunho do carácter do Savimbi e de sua organização, uma contribuição para uma verdadeira radiografia duma sangrenta sequela que revertia da monstruosidade do colonialismo e do apartheid e um dia se dispôs a dominar em Angola, ainda que se tivesse de somalizar Angola!... A Dora Fonte faz cair por terra a imagem de freedom fighter criada por Ronald Reagan, assim como todo o tipo de propaganda que envolvia e de que se servia o monstro, tal como seus apoiantes e promotores, d'aquém e d'além mar!”…
  
5 – Creio que aqueles que foram raptados no Sumbe a 24 de Março de 1984, foram deliberadamente votados ao ostracismo por parte das autoridades portuguesas, que não se importaram com o prolongamento avulso do seu sofrimento e cativeiro, acabando por colaborar na lavagem de imagem de Savimbi em relação aos acontecimentos:
  
- Primeiro a Embaixada portuguesa em Luanda não os terá avisado como lhe competia dos riscos que corria o Sumbe em ser atacado, muito embora os serviços de inteligência portugueses da época tivessem bons relacionamentos com os similares ao serviço do “apartheid” (pode-se constatar a título de exemplo a “Operação Kubango” que teve seu curso de contrapropaganda no Expresso, em Agosto de 1982: o Adido Militar Sul Africano em Lisboa, Comodoro Jacobus Everhardus Luouw viria a ser condecorado mais tarde pelo Presidente Cavaco Silva)…
  
- Segundo o tempo de espera na Jamba até serem finalmente libertados e a cortina de fumo em termos de contra propaganda no sentido de desresponsabilizar Savimbi pelo rapto, tiveram fortes cumplicidades portuguesas, tanto a nível governamental, quanto a nível do Partido Socialista Português (com o clã Soares à cabeça)…
  
- Terceiro, o marido da actual Eurodeputada do Partido Socialista Português, Ana Maria Rosa Martins Gomes (Ana Gomes), António Manuel Canastreiro Franco (que viria a ser Cônsul-Geral de Portugal em Luanda entre 29 de Março de 1986 e 20 de Julho de 1990) era Secretário do Conselho de Estado, por despacho do Presidente da República, em 10 de Maio de 1983 e até 29 de Março de 1986, enquanto ela mesmo era (entre 1 de Julho de 1982 e 28 de Fevereiro de 1986) Consultora Diplomática do Presidente Ramalho Eanes!... “felizes coincidências” que garantiriam um futuro acasalamento entre ambos!...
  
Nos anos de 1983 a 1991, os países ocidentais apoiavam Pretória e Portugal não era excepção, cuidando por o fazer de forma tão encoberta quanto o possível.
  
Algumas Embaixadas dos países da NATO possuíam “estafetas diplomáticas” que de Luanda se dirigiam a Maputo e aí, com ou sem Acordo de NKomati (que foi assinado em Março de 1984), trocavam de passaporte diplomático para seguir de Maputo para Pretória, a fim de fazerem os discretos enlaces de conveniência…
  
Muitas malas diplomáticas de representações de países da NATO em Luanda (e a de Portugal em Benguela), passavam por Pretória!...
  
6 – Logo a seguir ao ataque de 24 e 25 de Março de 1984 ao Sumbe, cumpri com a missão de no âmbito do rescaldo contribuir para elaborar os novos planos de defesa da capital do Kwanza Sul, junto do camarada capitão Carlos Silva (que passaria a ser Delegado Provincial do MINSE), tirando partido das quotas de nível mais elevadas no local, onde se instalariam forças-tarefa com armamento e dispositivos apropriados.
  
Enquanto os angolanos e os cubanos se empenhavam na luta pela causa angolana contra o“apartheid” e suas sequelas ao nível de Savimbi, uma parte importante das autoridades portuguesas e de outros países da NATO com Embaixadas abertas em Luanda por via dos seus serviços de inteligência operavam na sombra a favor de Savimbi e dos Botha!
  
Não foi de estranhar que o choque neo liberal instrumentalizando Savimbi por via da “guerra dos diamantes de sangue” (integrando os dispositivos da “Iª Guerra Mundial Afrivcana”) fosse preparado desde 1986...
  
A 24 de Março de 1986 o MINSE seria severamente “reestruturado” (preparando-se o fim do Partido do Trabalho e o fim das gloriosas FAPLA) e os oficiais que fizeram o enfrentamento ao tráfico ilícito de diamantes, onde apareceram tantos sinais de actividade de serviços de inteligência da NATO, do “apartheid” e dos sionistas de Israel em Angola, foram detidos, acusados, julgados e condenados a prisão maior (processo 76/86), sob a alucinante acusação de “golpe de estado sem efusão de sangue”, um “golpe” cujo chefe jamais viria a ser conhecido, até hoje!...
  
Por ainda “feliz coincidência” António Manuel Canastreiro Franco viria a ser Cônsul-Geral de Portugal em Luanda entre 29 de Março de 1986 e 20 de Julho de 1990 e de seguida adjunto do Chefe da Missão Temporária de Portugal junto das Estruturas do Processo de Paz em
Angola e do representante junto da Comissão Conjunta Político-Militar, em 21 de Agosto de 1991…
  
Instalado o choque neo liberal entre 1992 e 2002, a terapia de choque por via neo liberal em Angola seguiu-se e ainda está em curso com “novos contornos” que em relação à antítese da manipulação passam também pela Eurodeputada do Partido Socialista Português que dá pelo nome de Ana Maria Rosa Martins Gomes (Ana Gomes)… explorando o êxito num “mano a mano” com estirpes como a de Rafael Marques de Morais, um mercenário ao serviço do National Endowment for Democacy!...

O “arquivo Mitrokhin” tem a partir de Luanda um reverso e por isso a saga comum Angola – Cuba, dois povos, duas nações e dois estados tão empenhados na paz e tão irmanados nos seus destinos libertários face aos impactos neo liberais, merece especial relevância na celebração deste 25 de Março de 2016 no Sumbe!

BLAIR MULTIMILIONÁRIO POR UMA MENTIRA. LULA CRUXIFICADO POR LUTA CONTRA POBREZA



Alberto Castro*, Londres

O muito honorável Tony Blair, o mesmo que juntamente com George Bush foi responsável pela morte de milhares de inocentes por causa de uma mentira e colocou o mundo na confusão que hoje vemos, virou multimilionário só em conferências e consultoria a governos estrangeiros. Na América Latina, por exemplo, é principescamente pago para aconselhar o governo da Colômbia em projeto de mineração orçado em 2 bilhões de libras esterlinas. Os britânicos pouco se importam com a forma como se tornou multimilionário e como usa seus milhões. Choca muito mais a ação dele na guerra do Iraque para o qual muitos pedem que responda criminalmente.  Blair estudou em Oxford, uma das mais prestigiadas universidades do mundo.

No Brasil, Lula, tirou milhões da pobreza, fez como nenhum outro presidente na história do Brasil uma política de inclusão social e colocou o país como player respeitado no mundo. É crucificado pela origem humilde, por não ter diploma universitário, como se de nada valessem as competências adquiridas ao longo dos anos de sindicalismo e de política ao mais alto nível na maior das universidades: a da vida. Foi o político mais popular do planeta, algo que deveria ser motivo de orgulho para os brasileiros. É um dos políticos mais requisitados e mais bem pagos do mundo em conferências e consultoria e joga toda sua influência em favor de empresas brasileiras no estrangeiro que, por sua vez, geram empregos para milhares dentro e fora do Brasil.

Se cometeu ilícitos, alguns tão bizarros que só mesmo em países de mentalidade tacanha é notícia na grande mídia, deve pagar. Mas ser crucificado da forma como está sendo, só mesmo em um país da região de maiores desigualdades no planeta, desigualdades fruto de elites retrógradas, mesquinhas e preconceituosas até a medula com classe, raça e gênero.


A PAX SÍRIA



Rui Peralta, Luanda 

O “cessar de hostilidades”, nascido do plano proposto pela Rússia e USA e acordado pelo governo e oposição sírias, marca a primeira vez que a comunidade internacional consegue uma pausa no conflito sírio e cria condições, eventualmente, para que a ONU possa liderar a nova ronda de conversações que levem ao término do conflito. As tréguas temporárias não são aplicáveis ao Estado Islâmico (ISIL) e não abrangem a al-Nusra, afiliada na al-Qaeda (AQ). O governo sírio, seus aliados (milícias curdas e Hezbollah) e a Rússia já o afirmaram e avisaram que as acções contra esses grupos iriam prosseguir, o que deixa os grupos moderados da oposição síria apreensivos, pois temem que estas acções sejam utilizadas, também, contra eles.

A guerra na síria originou a morte de mais de 250 mil pessoas e cerca de 11 milhões de refugiados e o actual cessar-fogo pode, efectivamente, constituir o início de conversações que permitam conduzir, paulatinamente, á resolução do conflito, levando governo e oposição a um acordo de Paz. Claro que para a Frente al-Nusra estes números pouco interessam (e ainda menos para o ISIL) por isso ninguém ficou admirado quando os representantes da AQ na Síria apelaram a uma escalada dos combates através da intensificação dos ataques às forças governamentais.

A ajuda humanitária internacional tem, apesar da incerteza das tréguas e dos ataques da al-Nusra e do ISIL, condições para estar no terreno e estender a sua acção no território sírio. Este é um aspecto urgente e premente e há que criar condições para que a ajuda humanitária tenha maior autonomia e esteja menos dependente das negociações politicas, algo que não é muito difícil e que pode ser efectuado com o acordo da maior parte dos agentes em conflito. O actual momento de tréguas pode permitir avanços para acordos mais alargados que conduzam a cessar-fogo efectivo, criando condições que permitirão o acordo de Paz.

O governo sírio, graças ao apoio de Moscovo, recuperou território, principalmente nas províncias de Alepo e de Latakia, antes do actual plano de tréguas vigorar. A 26 de Janeiro as forças governamentais, com o suporte da força aérea russa, conquistaram o controlo da cidade de Sheik Miskin. A 5 de Fevereiro capturam a cidade de Atman, fundamental para o controlo da estrada internacional que liga Damasco a Daraa – uma estrada que liga a Síria á Jordânia - e reforçou as posições governamentais em Dael e Abtaa.

A 16 do mesmo mês, a oposição juntou 12 facções e inicia uma contra-ofensiva, conseguindo manter o controlo sobre Tall Qarin, na região do chamado Triangulo da Morte, na fronteira com a Jordânia e esperava conseguir dispersar as forças governamentais, impedindo-as de controlar cidades próximas a Daraa. A 21 de Fevereiro as facções oposicionistas consideram terminada a primeira fase da contra-ofensiva. As 12 facções não conseguiram readquirir controlo em Tell Garehb e Tell Kroum, na fronteira jordana e a segunda fase da contra-ofensiva nunca chegou a iniciar-se.

Os avanços das forças governamentais sírias levaram às actuais tréguas que são colocadas em risco se os Estados estrangeiros continuarem a enviar armas para os grupos oposicionistas Mas nem sauditas nem turcos ouvem os avisos do governo sírio e da Rússia. A Arábia Saudita, que suporta forças oposicionistas sunitas, já demonstrou disponibilidade de enviar forças para combater o ISIL, enquanto a Turquia, outra componente anti-Assad, tem o mesmo objectivo no terreno. A aliança suportada pelos turcos e sauditas afirma respeitar as tréguas, mas alguns dos seus grupos receiam estar incluídos nas listas de alvos russos e do governo sírio.

Quanto às milícias curdas, concordam com o plano de tréguas mas reservam-se o direito de responder se forem atacadas. A luta entre as milícias curdas (YPG) e o ISIL continua em Raqqa, onde os curdos têm obtido significativos avanços.

Mas a problemática síria encontra-se, ainda, longe da resolução. As conturbações internas que se fizeram sentir, pacificamente, em 2011, através de uma vaga de protestos generalizados que não foram tidos em conta, devidamente, pelo governo sírio e pelo partido Baas, degeneraram em conflitos mais violentos e a agudização do conflito levou a uma situação de guerra civil, aproveitada pelos USA e seus aliados, NATO e Estados do Gofo. Esse aproveitamento, no entanto, tem uma raiz anterior ao descontentamento da população síria e remonta ao ano de 2009, quando o governo de Bashar al-Assad nega a passagem pelo território sírio, de um gasoduto que ligaria o Qatar á Europa e que atravessaria a Arábia Saudita, Jordânia, Síria e Turquia. A campanha contra o presidente sírio inicia-se de imediato nesse ano, lançada pelos serviços secretos norte-americanos e nada tem a ver com os protestos de 2011, a não ser no aproveitamento que os USA e seus aliados fizeram após a agudização do conflito.

Após rejeitar a sua participação no projecto, o governo sírio iniciou as negociações com o Irão para construir um gasoduto alternativo que transportaria o gaz do Irão até ao Líbano, transformando o Irão num dos maiores fornecedores de gaz e favorecendo a posição síria. Para impedir que isso acontecesse a CIA transferiu 6 milhões de USD para a cadeia informativa BARADA, financiando uma campanha de contra-informação iniciada por esta cadeia em toda a região. A cadeia elaborou uma série de reportagens onde se apelava á luta contra o governo sírio, ainda no ano de 2009. Esta campanha não obteve resultados e quando os protestos se iniciaram, em 2011, as revindicações dos manifestantes (trabalhadores, estudantes, professores e sectores da classe média, desconfortáveis com as medidas económicas do governo e com a corrupção que reinava no país) não iam no sentido da campanha de contra-informação dos USA, que apelavam á luta violenta e ao “derrube do regime, por todos os meios”.

O agudizar do conflito interno levou os USA e aliados a movimentarem a sua máquina financeira e logística para equipar os grupos que constituiriam a oposição armada ao governo sírio. Segundo o Washington Post o programa de financiamento dos USA custa cerca de mil milhões de USD por ano ao erário público norte-americano (15 avos do orçamento da CIA). Foram treinados e armados cerca de 10 mil combatentes durante os últimos 5 anos e grande parte do financiamento dos USA é utilizado na formação, constituição de redes logísticas, de redes de informação e recolha de dados e nos campos de treino localizados na Jordânia, sendo o restante financiado pela Arábia Saudita e Estados do Golfo.

Este programa será reduzido este ano, por decisão do Congresso norte-americano, em 20%. Estas reduções fazem parte de um projecto preliminar mais vasto, que abrangerá todas as operações da CIA e da NSA (National Security Agency) que será submetido á Camara de Representantes, provavelmente ainda no presente mês de Março.

Em Fevereiro de 2015 foi, também, assinado um acordo entre os USA e a Turquia para treinar e equipar forças da oposição síria (da chamada “operação moderada”) em solo turco e no mês de Abril de 2015, chegaram á Turquia 40 efectivos dos marines norte-americanos para levar a efeito o treinamento destes grupos. Nenhum destes programas cessou e não foram sequer abordados nas negociações que conduziram às actuais tréguas, o que leva a considerar, atendendo ao facto de que os grupos oposicionistas apenas chegaram a acordo devido às derrotas sofridas no terreno, que as actuais tréguas não sejam mais do que um balão do oxigénio para estes grupos.

Que a Síria necessita de Paz, isso é por demais evidente. Que essa Paz apenas pode ser conquistada após a derrota do fascismo islâmico do Daesh, é algo que todos estão de acordo. Agora, que a Paz seja uma pretensão do Ocidente e dos seus aliados do Golfo e da Turquia…
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Saunders, Paul J. Russia's Syria dilemma http://www.al-monitor.com
al-Haj, Mustafa  Will the Syrian truce survive? http://www.al-monitor.com
al-Haj, Mustafa Is Syrian regime's seizure of Sheikh Miskin a tipping point? http://www.al-monitor.com
Rozen, Laura US, Russia reach partial Syria truce deal http://www.al-monitor.com
Mille, Greg and DeYoung, Karen Secret CIA effort in Syria faces large funding cut Washington Post 2015/16/02

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